sábado, 6 de agosto de 2016

Nutrição e adubação da Amoreira Preta



Importância dos nutrientes



As plantas manifestam sintomas de deficiência de um ou mais nutrientes somente sob extremas condições edáficas. As deficiências são capazes de reduzir o crescimento, a produção e a qualidade das frutas, bem como tornar as plantas mais suscetíveis às doenças. Quando se encontra em fase bem adiantada, uma deficiência nutricional é difícil de ser diagnosticada visualmente. Algumas sintomatologias podem ser facilmente confundidas com outras causadas por viroses e por outros patógenos ou mesmo por distúrbios abióticos, como por exemplo, herbicidas. Além disso, raramente um problema nutricional é causado somente por um nutriente. Por exemplo, quando o pH do solo é muito elevado, podem aparecer sintomas de carências devido ao ferro, ao manganês ou ao zinco. Ao contrário, quando o mesmo estiver muito baixo, o fósforo torna-se indisponível e o alumínio e o manganês podem se tornar tóxicos. Assim, uma diagnose confiável é difícil de ser feita somente pela observação visual da sintomatologia.
Um programa de adubação para a amoreira-preta não deve estar baseado somente na sintomatologia foliar e na aparência das plantas, já que a ocorrência de sintomas carenciais indica a existência de uma severa restrição no fornecimento de nutrientes estando, tanto o crescimento das plantas, quanto a produção e a qualidade dos frutos, seriamente comprometidos. A análise de solo realizada antes do plantio pode orientar os produtores quanto à necessidade de nutrientes e de calagem. Em pomares instalados, a análise foliar é a ferramenta mais indicada para se determinar a necessidade de nutrientes. Existem poucas informações sobre a prática de adubação e a resposta da aplicação de nutrientes na amoreira-preta.


Nitrogênio

O nitrogênio é constituinte de vários compostos orgânicos, como aminoácidos, proteínas e ácidos nucléicos. O estado nutricional das plantas com referência a este elemento é visualmente determinado por meio da avaliação do crescimento das plantas e da coloração das folhas. A deficiência é caracterizada pela presença de internós curtos, folhas pequenas e por uma prematura queda de folhas. Na planta, o nitrogênio é móvel, de modo que os sintomas foliares de deficiência (clorose ou amarelecimento) surgem primeiro nas folhas mais velhas. Se a carência for severa, eventualmente pode ocorrer necrose das folhas ou de parte delas.
A toxidez de nitrogênio é rara, caracterizando-se pelo excessivo vigor das plantas, internós longos, folhas com coloração verde escuro, pequena produção com frutas de baixa qualidade.


Fósforo

Se o pH do solo se situar na faixa recomendada para a cultura, raramente se observa deficiência de fósforo. As plantas com este problema apresentam o crescimento retardado. A sintomatologia carencial se estabelece primeiramente nas folhas mais velhas, as quais podem apresentar uma coloração verde-escuro, com áreas vermelhas ou pretas. As folhas mais velhas podem cair prematuramente. O crescimento do sistema radicular é reduzido, a produção de frutos é pequena e de baixa qualidade. Ao contrário, o excesso de fósforo pode induzir deficiência de zinco, de ferro e de cobre.


Potássio

A amoreira-preta necessita de grandes quantidades de potássio. Como a necessidade é maior durante a frutificação, sua carência é mais comum de ocorrer em anos de altas produções, em solos ácidos, em períodos de seca, em solos alagados ou muito úmidos, em solos arenosos, orgânicos ou calcários. Inicialmente, ocorre uma redução da taxa de crescimento das plantas, com a ocorrência de clorose ou de necrose nas folhas, aparecendo mais tarde. Os sintomas se caracterizam por clorose e necrose marginal ou na extremidade das folhas. Ao mesmo tempo, também podem se apresentar recurvadas e murcharem facilmente.


Magnésio

A deficiência de magnésio é mais comum de ocorrer em solos arenosos, ácidos com baixo teor de magnésio ou com conteúdos elevados de potássio.
Como este nutriente é móvel na planta, a sintomatologia aparece, inicialmente, nas folhas mais velhas. Caracteriza-se por clorose internerval e, em casos extremos estas áreas ficam necróticas. Os sintomas podem ser confundidos com aqueles causados por viroses. As folhas com sintomas de deficiência deste nutriente podem cair prematuramente no outono.


Amostragem do solo

A coleta de amostras representativas é fundamental para a correta avaliação do pH do solo e da necessidade de fertilizantes. Para a sua obtenção é necessária a coleta de várias subamostras, em diversos pontos de uma mesma área homogênea.
O primeiro passo para se proceder a amostragem do solo consiste em dividir a área em porções homogêneas, considerando-se o tipo de solo, a topografia, a textura, a cor, o grau de erosão, a profundidade, a cobertura vegetal, a drenagem, entre outros aspectos. No entanto, se uma área for homogênea quanto a todos os fatores acima citados, existindo, entretanto, uma porção já adubada ou que já tenha sido aplicado calcário, esta deverá ser amostrada em separado. A área abrangida por cada amostra é função da homogeneidade do solo. Normalmente, o número de subamostras se situa ao redor de 10 a 15.
Na tomada de amostra pelo sistema de amostragem composta, cada área deve ser toda percorrida, caminhando-se em ziguezague e coletando-se, ao acaso, subamostras, que após são reunidas. Após homogeneizada, retira-se cerca de 500g de solo para serem enviadas ao laboratório. Os procedimentos de amostragem do solo são os recomendados pela Comissão de Fertilidade do Solo – RS/SC.
As amostras de solo podem ser coletadas em qualquer época do ano. No entanto, para que o produtor tenha conhecimento do pH do solo, da necessidade de calcário e de fertilizantes, em tempo hábil, a coleta deverá ser realizada, no mínimo, quatro meses antes do plantio das mudas.


Recomendações de calagem e da adubação fosfatada e potássica de pré-plantio


Calagem 

Antes da instalação do pomar, aplicar o calcário na quantidade indicada pelo índice SMP para elevar o pH em água do solo a 5,5. O calcário deve ser uniformemente distribuído na instalação do pomar e incorporado até 20 cm de profundidade, no mínimo três meses antes da instalação do pomar. Utilizar, preferentemente, calcário dolomítico. 


Adubação de pré-plantio e de manutenção

Antes da instalação do pomar, a análise de solo é o único método de diagnose disponível para se estimar as necessidades de fósforo (P) e de potássio (K). As quantidades necessárias de P e de K são determinadas na mesma amostra de solo usada para se avaliar o pH .
Os adubos fosfatados e potássicos, usados antes do plantio, devem ser aplicados em toda a área, por ocasião da instalação do pomar, preferentemente a lanço, e incorporados na camada arável.
Como é recomendada a calagem para pH 5,5, pode ser usado fosfato natural como fonte de P.
A interpretação dos teores de P e de K extraíveis, adotada pela Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solo e de Tecido Vegetal - ROLAS - RS e SC é apresentada, respectivamente, nas tabelas 1 e 2. Os valores de P e K extraíveis do solo são interpretados em cinco faixas. Com relação ao P extraível, foram estabelecidas cinco classes de solos, conforme o teor de argila do solo (Tabela 1). Para o K extraível foram estabelecidas três classes de solos, conforme o valor da CTC (capacidade de troca de cátions a pH 7) (Tabela 2).




Tabela 1: Interpretação dos resultados de análise de solo para fósforo “extraível” (Mehlich) para os solos e condições do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Interpretação do teor de P (mg/dm³) no soloClasses de solos conforme o teor de argila¹
12345
Muito Baixo≤ 2≤ 3≤ 4≤ 6≤ 8
Baixo2,1- 43,1- 64,1- 86,1- 128,0- 16
Médio4,1- 66,1- 98,1- 1212,1- 1816,1- 24
Alto6,1- 129,1- 1812,1- 2418,1- 3624,1- 48
Muito Alto> 12> 18> 24> 36> 48

¹Classes de argila: 1= > 55%, 2= 41-55%, 3= 26-40%, 4= 11-25%, 5= 10% 


Tabela 2: Interpretação dos resultados de análise de solo para potássio “extraível” (Mehlich) para os solos e condições do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Interpretação do teor de K (mg/dm³) no soloCTCph7,comlc/dm³
< 55 - 15> 15
mg K/dm³
Muito Baixo≤ 15≤ 20≤ 40
Baixo16 - 3021 - 4041 - 60
Médio31 - 4541 - 6061 - 80
Alto46 - 9061 - 12081 - 160
Muito Alto> 90> 120>160



As quantidades de fertilizantes fosfatados e potássicos recomendadas na adubação de pré-plantio e de manutenção para a cultura da amoreira-preta constam da Tabela 3.

As adubações de manutenção com fósforo e com potássio devem ser feitas em agosto, antes da brotação e da floração.



Tabela 3: Recomendações de adubação fosfatada e potássica de pré-plantio e de manutenção):
 Interpretação do teor
de P ou K no solo
Pré-plantio (kg/ha)
Manutenção (g/planta/ano)
P2O5
K2O
P2O5
K2O
Muito Baixo
150
90
15
10
Baixo
100
75
10
10
Médio
50
60
10
5
Alto
25
30
5
5
Muito Alto
0
0
0
0





Adubação nitrogenada de manutenção

Usar, preferencialmente, o sulfato de amônio como fonte de nitrogênio. Isso se deve à necessidade de enxofre da cultura, como também, devido ao fato da amoreira-preta requerer solos com pH baixo (5,5), onde a resposta das plantas à esta fonte de N é melhor. O fertilizante deve ser colocado ao redor das plantas, distanciado cerca de 15 cm das mesmas. No primeiro ano, não aplicar nitrogênio devido ao risco de queimar as gemas vegetativas.


Tabela 4: Recomendação de adubação nitrogenada de manutenção.
Teor de matéria orgânica
no solo (%)

Doses de nitrogênio (g N/planta)

Primavera
Pós-colheita
≤ 2,5
15
15
2,6 – 3,5
10
10
> 3,6 – 4,5
5
5
> 4,5
0
0





Adubação orgânica

Aplicar, anualmente, a lanço, 10 t/ha de cama de aviário ou 30 t/ha de esterco de gado, o qual deve ser aplicado e incorporado superficialmente ao solo no final do inverno.

Análise foliar

Metodologia de coleta de amostras

Pela análise foliar é possível diagnosticar com precisão problemas nutricionais, os quais são difíceis de serem identificados pela análise de solo ou pela observação das plantas. Como a análise foliar é um método preventivo, os produtores dispõem de ferramentas para identificar e corrigir problemas nutricionais ocultos, antes que o crescimento das plantas e a produção de frutos sejam comprometidos.
Coletar a sexta folha totalmente expandida com o pedicelo, contada a partir do ápice. Devem ser coletadas dos ramos do ano anterior, na segunda quinzena de janeiro. Cada amostra deve ser constituída de folhas da mesma cultivar. A amostra deve ser constituída de 80 a 100 folhas. Em pomares com mais de 100 plantas, porém homogêneas, deve-se coletar quatro folhas por planta em 25 plantas distribuídas aleatoriamente e representativas da área. Cada amostra relaciona-se a uma condição nutricional. Assim, folhas com sintomas de deficiência nutricional não devem ser misturadas com folhas sadias. As folhas que compõem a amostra devem estar livres de doenças e de danos causados por insetos e não devem entrar em contato com embalagens usadas de defensivos, fertilizantes, etc. A amostra deve ser acondicionada em saco de papel comum perfurado e enviada ao laboratório o mais rapidamente possível.
Caso o tempo previsto para a chegada da amostra ao laboratório seja superior a dois dias, sugere-se fazer uma prévia secagem ao sol, sem retirar as folhas do saco, até que elas se tornem quebradiças.
Se a análise foliar for realizada com o objetivo de esclarecer um problema nutricional, devem ser colhidas duas amostras, em qualquer época do ciclo vegetativo, sendo uma de plantas que iniciem a manifestar os sintomas e, uma segunda de plantas aparentemente sadias.

Interpretação dos teores foliares de macro e de micronutrientes

A interpretação dos teores foliares de macro e de micronutrientes para a amoreira-preta é feita segundo os valores apresentados na Tabela 5 e 6.


Tabela 5: Interpretação dos teores de macronutrientes para a amoreira-preta.
Interpretação
Macronutrientes (%)
N
P
K
Ca
Mg
Insuficiente
  1. <1 b="">
<0 b="">
<1 b="">
<0 b="">
<0 b="">
Abaixo do normal
1,75 – 2,19
0,20 – 0,25
1,00 – 1,24
0,50 – 0,59
0,25 – 0,29
Normal
2,20 – 3,00
0,26 – 0,45
1,25 – 3,00
0,60 – 2,50
0,30 – 1,00
Acima do normal
3,01 – 3,50
0,46 – 0,65
3,01- 4,00
2,51 – 3,00
1,01 – 2,00
Excesso
>3,50
>0,65
>4,00
>3,00
>2,00




Tabela 6: Interpretação dos teores de micronutrientes para a amoreira-preta.
 Interpretação
Micronutrientes (mg/kg)
B
Cu
Fe
Mn
Zn
Insuficiente
<25 font="">
< 3
<30 font="">
<20 font="">
<12 font="">
Abaixo do normal
25 – 29
3 – 5
30 – 49
20 – 49
12 – 14
Normal
33 – 80
6 – 25
50 – 150
50 – 300
15 – 50
Acima do normal
81 – 100
26 – 100
151 – 250
301 – 1000
51 – 300
Excesso
>100
>100
>250
>1000
>300













Nenhum comentário:

Postar um comentário