quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Caracteristicas funcionais da Amora Preta


A amora-preta in natura é altamente nutritiva (Figura 1). Faz parte de sua composição a água (em torno de 85%), proteína (1,5%), fibras (entre 3,5 e 4,7%), cinzas (entre 0,19 e 0,47%), lipídeos (entre 0,03 e 0,08%), carboidratos (entre 6 e 13%), ainda apresenta conteúdos consideráveis (em mg/100g) de cálcio (32); fósforo (21); potássio (196); magnésio (20); ferro (0,57); selênio (0,60); vitamina C (21); e menores quantidades de vitamina A, vitamina E, folato, tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, vitaminas B-6 e B-12; ácidos graxos saturados; ácidos graxos monosaturados; ácidos graxos polinsaturados, no entanto, tem apenas 52 calorias em 100 gramas.
Crédito: Luis E. C. Antunes
Figura 1. Frutos de amoreira-preta.
Fazem parte da composição de açúcares encontrados em amora-preta, a glicose, a frutose, a sucrose, a maltose e a galactose. Ainda, os ácidos orgânicos encontrados são o málico, cítrico, fosfórico, isocítrico e quínico. A acidez total de amora-preta pode variar de 1 a 4% e o pH de 2 a 4. Já a variação dos sólidos solúveis tem uma grande amplitude, de 7,5 a 16,1% (Reyes-Carmona et al., 2005).

Fitoquímicos

Os compostos secundários, ou fitoquímicos, encontrados naturalmente em plantas, atuam positivamente sobre a saúde humana, com diversas evidências científicas para os grupos dos ácidos fenólicos, antocianinas, proantocianidinas e outros flavonóides, sendo que muitos compostos destes grupos são encontrados em amora-preta.
A variação de compostos fenólicos totais em amora-preta é de 261,95 a 929,62 mg equivalente de ácido gálico/100 g de amostra fresca, sendo que, o grupo de fenólicos ácidos está entre 0,19 e 258,90 mg/100g, flavonóides 2,50 e 387,48 mg/100 g, e antocianinas 12,70 a 197,34 mg/100 g (Sellappan et al., 2002). Na identificação dos compostos fenólicos na amora-preta foram encontrado os ácidos fenólicos como gálico, hidroxibenzóico, cafeico, cumárico, ferúlico e elágico e seus derivados e, também, os flavonóides como catequina, epicatequina, miricetina, quercetina e kaempferol (Sellappan et al., 2002).
As antocianinas variam em sua concentração de acordo com o estágio de maturação das frutas, sendo que seu conteúdo aumenta de 74,7 mg equivalente de cianidina-3-glicosídeo/100 g peso fresco em frutos ainda verdes para 317 mg/100 g peso fresco em frutos sobremaduros. Esta variação é mínima para o conteúdo de compostos fenólicos totais e atividade antioxidante (Siriwoharn et al., 2004). A variação entre cultivares pode ser bem acentuada indo de 12,70 a 197,34 mg/100g (Sellappan et al., 2002). As antocianinas identificadas em amora-preta são cianidina-3-glicosídeo (em torno de 80%) (Serraino et al., 2003), cianidina-3-arabinosídeo, cianidina-3-galactosídeo, malvidina-3-glicosídeo, pelargonidina-3-glicosídeo, cianidina-3-xilosídeo, cianidina-3-rutinosídeo, cianidina-malonoil -glicosídeo (Fan-Chiang e Wrolstad, 2005), cianidina-dioxaloil-glicosídeo, peonidina-3-glicosídeo (Seeram et al., 2006) e malvidina-acetilglicosídeo (Reyes-Carmona et al., 2005). Tendo como base os valores encontrados na literatura sobre antocianinas e a grande variação entre os diferentes materiais genéticos, existe um grande potencial na produção de amora-preta visando a sua utilização como corante natural na indústria alimentícia e de medicamentos. 
A amora-preta ainda apresenta altas concentrações de carotenóides (μg/100 g) como luteína (270,1), zeaxantina (29,0), β-criptoxanthina (30,1), α-Caroteno (9,2) e β-caroteno (101,4) (Marinova e Ribarova, 2007).

Amora-Preta e Prevenção de Doenças

Através dos estudos epidemiológicos aumentam-se as evidências de que o consumo de frutas e hortaliças está correlacionado à prevenção de doenças crônicas, dentre elas o câncer e as doenças cardiovasculares, sendo que o maior benefício desta dieta rica em frutas e hortaliças é, provavelmente, o aumento no consumo de compostos antioxidantes.

Estudos In Vitro

A amora-preta apresenta atividade antioxidante contra os radicais superoxide (O2•-), peróxido de hidrogênio (H2O2), hidroxila (OH•), oxigênio singleto (O2) (Wang e Jiao, 2000). Os valores para atividade antioxidante variam de acordo com o método utilizado. Em estudos in vitro, extratos de amora-preta apresentam efeito antioxidante como “scavenger” do radical peroxinitrito, protegendo estas células de disfunções e falhas vasculares induzidas por este radical (Serraino et al., 2003). 
Extratos de amora-preta têm efeito anti-mutagênico (Tate et al., 2006) e anti-carcinogênico para as linhagens humanas de câncer de útero, câncer de cólon (Lazze et al., 2004), câncer oral, câncer de mama, câncer de próstata (Seeram et al., 2006), câncer de pulmão (Ding et al., 2006). Ainda, extratos de amora-preta podem prevenir a formação de metastase (Tate et al., 2004). Em muitos casos o efeito anti-carcinogênico ocorre devido ao efeito anti-inflamatório dos extratos de amora-preta.

Estudos In Vivo

A capacidade antioxidante do plasma aumenta em 30% após a ingestão de suco contendo amora-preta (Netzel et al., 2002). O efeito antioxidante demonstrado in vivo é de grande importância para incentivar o consumo destas frutas.
Em ratos, antocianinas proveniente da amora-preta são capazes de reduziu o número e o tamanho de tumores (câncer de pele) não malignos e malignos, induzidos quimicamente na pele destes animais. Estes compostos inibiram a migração e invasão do câncer (Ding et al., 2006).

Distribuição das Antocianinas Provenientes de Amora-Preta nos tecidos de Animais.

Os compostos presentes nos extratos de amora-preta são absorvidos, metabolizados e distribuídos nos tecidos de quem se alimenta destas frutas. Estudos mostram que antocianinas são rapidamente absorvidas pelo intestino delgado, e após, são metabolizadas e excretadas na bile e urina na forma intacta, metiladas e/ou glicuronizadas (Talavéra et al., 2004). Em ratos, estes compostos podem ser encontrados nos tecidos do estômago, jejuno, figado, rins, cérebro e plasma (Talavéra et al., 2005). Em pessoas, estes compostos são encontrados na urina, tanto na forma intacta, quanto em alguns metabolitos metilados, glicuronizados, sulfoconjugados, e aglícones (Felgines et al., 2005).

Processamento e propriedades funcionais

O processamento das frutas da amoreira-preta é uma forma de agregar valor ao produto, melhorando a renda dos fruticultores, sendo a sua transformação em produtos elaborados como geléias, sucos, iogurtes, sorvetes as formas mais usadas. Após o processamento, há dúvidas quanto à manutenção das características funcionais originais.
O impacto do processamento sobre as propriedades funcionais da amora-preta ainda está sendo estudado. No entanto, sabe-se que frutas e hortaliças respondem de forma diferenciada ao processo de transformação. O processamento, de forma geral, reduz o teor inicial de antocianinas. Quando a amora-preta é transformada em geléia a perda de antocianinas é em média de 8,8% em relação aos valores encontrados na polpa. O armazenamento dos vidros de geléias resulta em perda de 32% dos valores de antocianinas nos primeiros 40 dias e reduz mais 11% nos 50 dias subseqüentes. Os teores de antocianinas totais obtidos na geléia variaram de 98,58 mg/100 g a 170,66 mg/100 g, o que caracteriza este produto como um alimento rico em compostos fenólicos (Mota, 2006).

Considerações 

Observa-se que uma das grandes descobertas é o uso potencial da amora-preta para fins outros que não apenas suas funções nutricionais. Esta fruta, em conjunto com um estilo de vida saudável, incluindo dieta equilibrada e exercícios físicos, pode prevenir alguns tipos de doenças crônicas não-transmissíveis. Ainda, alguns compostos encontrados nesta fruta, como as antocianinas, podem ser utilizados na indústria alimentícia como corante natural, já que a tendência é banir os corantes artificiais. Também, após a purificação de alguns fitoquímicos encontrados em amora-preta, como o ácido elágico ou as antocianinas por exemplo, estes compostos purificados podem ser apresentados na forma medicinal (cápsulas, comprimidos, pó,...) e vendidos como nutracêuticos. 
A amora-preta é uma fruta com grande potencial, no entanto, ainda precisa ser estudada, principalmente, o seu comportamento nas condições locais, já que a maioria dos resultados, tanto para composição fitoquímica, quanto na prevenção e combate de doenças, provém da literatura internacional.










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