A colheita do morango orgânico começa cerca de 60 a 70 dias após o transplante das mudas. Nas condições brasileiras, esse trabalho ainda é realizado manualmente.
A cultura do morangueiro proporciona de duas a três colheitas semanais nos períodos de temperaturas mais elevadas. Nos períodos de temperaturas amenas, temos de uma a duas colheitas por semana.
Para o mercado “in natura”, os frutos devem ser colhidos quando apresentarem “3/4 de maturidade”
Por serem delicados e pouco resistentes, isso garantirá que os frutos cheguem aos mercados consumidores em condições de consumo, com aroma característico, baixa acidez e adstringência.
Frutos colhidos maduros só servem para a indústria/processamento ou para a venda direta ao consumidor.
Figura 12. Cultivo de morango no início da colheita.
No estado de São Paulo, as estimativas de mão de obra para conduzir um hectare de morango são de 6 a 8 pessoas fixas e 2 a 8 pessoas adicionais no período de pico da colheita. Nesse estado, o pico da colheita ocorre entre os meses de agosto e setembro.
Os frutos do morangueiro requerem muitos cuidados na colheita e embalagem para o comércio “in natura”. Por exemplo, não se deve misturar frutos com diferentes graus de maturação em uma mesma embalagem. Para os pontos de venda, os frutos são acondicionados em cumbucas plásticas com capacidade para cerca de 300 g, que são transportadas em caixas de papelão, onde comportam quatro cumbucas cada.
Constituído por cerca de 90% de água, os frutos têm conservação pós-colheita delicada. O ideal é mantê-los em locais refrigerados, com temperatura entre 2 a 5oC e 80% de umidade relativa do ar. A produtividade esperada é de 600 g por planta.
Pode parar aí! Se o leitor veio direto a este item desta publicação, sem tomar conhecimento dos itens anteriores, não precisa continuar a leitura porque o leitor não está preparado para ser um produtor de morango orgânico!
É importante lembrar que a agricultura orgânica utiliza técnicas que buscam o equilíbrio ecológico da propriedade e assim fazer o controle de pragas e doenças. A pura e simples substituição de agrotóxicos por produtos naturais ou pelo controle biológico não permite a ninguém dizer que esteja produzindo produtos orgânicos, apesar de estar atendendo à legislação brasileira para a produção orgânica.
Neste manual, o controle de pragas e doenças começa quando o agricultor é informado sobre a existência da Legislação Brasileira de Orgânicos.
O regulamento técnico para os sistemas orgânicos de produção animal e vegetal está legalmente estabelecido em duas instruções normativas, as IN 46/2011 e IN 17/2014, ambas do Ministério da Agricultura. E repetindo, fique atento às atualizações dessas instruções normativas pelo site do órgão (www.agricultura.gov.br).
O anexo V da IN 17/2014 do MAPA contém a lista positiva com as substâncias ativas e práticas permitidas para o manejo, controle de pragas e doenças nos vegetais e tratamento pós-colheita nos sistemas orgânicos de produção. Somente as substâncias ativas e práticas relacionadas nesse documento podem ser utilizadas para a produção orgânica!
Na presente apostila, o controle de pragas e doenças também é feito quando os agricultores são
orientados a identificar a janela de produção do morango de sua propriedade e quando abordamos a questão de aptidão do agricultor para o cultivo.
Na agricultura orgânica, a produção de morangos é realizada no melhor momento para o desenvolvimento da cultura, ao invés da melhor condição para o desenvolvimento de pragas e doenças. Na figura 11, os autores resumem a maioria das práticas, muitas delas já citadas anteriormente, que devem ser empregadas como forma de evitar a entrada de doenças, suas ocorrências e, caso venham a acontecer, o que fazer para reduzir suas taxas de desenvolvimento.
O controle químico que as normas permitem utilizar são as calda bordalesa, calda sulfocálcica, entre outras. Além disso, podemos ainda utilizar agentes biológicos (como os trichodermas), fertilizantes indutores de resistência como fosfitos, aminoácidos, extratos de algas, matéria orgânica rica em ácidos húmicos e fúlvicos etc.
Figura 11 -Práticas de manejo na cultura do morango.
O controle de pragas e doenças também é considerado na implantação da cerca viva para quebra do vento, no Plano de Manejo Orgânico, na importância da análise do solo para recomendação da calagem, rochagem e aplicação do composto orgânico, na análise foliar na primeira florada para adequação da adubação de cobertura e da adubação verde e todas as demais práticas e tratos culturais, visando à obtenção de um solo quimicamente equilibrado e biologicamente ativo.
Para conhecimento, na Tabela 4 são descritas algumas das principais doenças e pragas que ocorrem na cultura do morango, bem como as condições que favorecem o seu desenvolvimento e medidas preventivas.
A primeira medida preventiva é o uso de mudas sadias. Como a irrigação por aspersão contribui para a dispersão de “sementes” de doenças foliares, o sistema por gotejamento é o mais recomendado.
O controle da umidade do solo também é outro fator importante, portanto devem ser utilizados aparelhos para monitorar a quantidade de água no solo, indicando o momento e o volume da irrigação.
O conhecimento dos sinais iniciais das doenças e pragas também é muito importante para que as medidas sejam tomadas em tempo hábil.
O “vermelhão” é um sintoma muito comum quando o morango tem suas raízes atacadas por uma série de fungos, em especial o Pestalotiopsis longisetula, que tem causado ataques severos, inviabilizando muitas lavoura. O “vermelhão” é marcado pelo menor desenvolvimento da muda e, posteriormente, a cor avermelhada nas folhas mais velhas, lembrado deficiências de fósforo.
A seguir, trataremos do controle de pragas e doenças, para quando nada do que já foi tratado nesta apostila tenha surtido efeito ou para o caso de ocorrência de algum “acidente de percurso” ou um imprevisto que nos obrigue a prevenir para garantir o sucesso econômico do cultivo do morango orgânico. Em outras palavras, iremos apresentar as muletas para viabilizar a produção orgânica!
O USO DE CALDA BORDALESA DEVE SER FEITO COM CUIDADO POIS O COBRE SE ACUMULA NO SOLO E SEU USO EXCESSIVO PODE MATAR AS MINHOCAS.
8.1 - DOENÇAS RADICULARES
Um dos imprevistos no cultivo a campo é a chuva fora de época. Nessa situação, a aplicação da calda bordalesa a 1% (1 kg de sulfato de cobre, 1 kg de cal hidratado ou cal virgem, acrescido em 100 l de água) é recomendada desde que autorizado pelos órgãos de certificação. Essa autorização é necessária porque o cobre pode se acumular no solo, além do fato de que o uso excessivo da calda bordalesa pode matar as minhocas. Em razão disso, a Legislação Brasileira de Orgânicos limita o uso de cobre a 6 kg/ha ano, nas aplicações para controle de doenças.
A concentração da calda bordalesa pode variar de 0,3% a 1,0% para o controle da antracnose,
pestalocia, micosferela e demais doenças fúngicas, devendo ser usada, exclusivamente, antes da floração.
O produtor deve começar a aplicação com concentrações mais baixas e ir aumentando aos poucos, em função da umidade.
A concentração acima de 1% inibe o crescimento da planta. Após a floração, devem ser aplicados biofertilizantes como protetores, que funcionam bem para a mancha de micosferela.
A aplicação de biofertilizantes nas folhas, além do efeito nutricional para a planta, tem
importante ação sobre o controle de doenças.
Os microorganismos presentes nesses produtos formam uma camada protetora nas folhas, impedindo ou dificultando que bactérias e fungos causadores de doenças consigam penetrar nelas e se desenvolverem.
BIOFERTILIZANTES APLICADOS NAS FOLHAS NUTREM A PLANTA E PROTEGEM CONTRA DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS E BACTÉRIAS.
Para o controle de outras doenças radiculares, tais como as murchas de Fusarium, Rhizoctonia e Verticillium, temos à disposição um fungo já mencionado, o Trichoderma, encontrado naturalmente em solos com alto teor de matéria orgânica.
Há no mercado diversos produtos comerciais à base de Trichoderma, mas nem todos têm a mesma eficiência para o controle de cada doença, uma vez que, no controle biológico, a interação entre os microrganismos é específica.
O fato é que o produtor pode utilizar com vantagem o Trichoderma no transplante, e em qualquer fase seguinte, caso apareça alguma dessas doenças radiculares, sempre com aplicações no solo.
O Trichoderma tem uma ação direta no combate a esses patógenos pela competição por espaço, e indireta como estimulador do enraizamento, ou seja, estimula a planta a emitir raízes novas, favorecendo sua sobrevivência.
8.2 - CONTROLE DE ÁCARO RAJADO
Para controle do ácaro rajado, o mais eficiente é o uso de controle biológico, com o uso do ácaro
predador Neoseiuluscalifornicus, que tem notável capacidade de se alimentar de outros ácaros, como o ácaro rajado, assim como de ovos, ninfas, larvas e adultos de outros ácaros.
Recomenda-se que a liberação do ácaro predador ocorra no início da infestação do ácaro praga, com a liberação de pelo menos 20.000 ácaros predadores por hectare. As liberações são feitas diretamente sobre as folhas da cultura com o produto comercial.
O CONTROLE BIOLÓGICO É O MEIO MAIS EFICIENTE PARA CONTROLAR O ÁCARO RAJADO.
Quando a infestação está elevada, já com teias, deve-se fazer o controle com fungos (boveria + metarrizium) ou outro produto para reduzir a população. Antes desse controle, deve-se fazer uma pulverização com detergente (coco ou neutro, 2,5ml/L) para eliminar as teias, deixando a praga desprotegida e, em seguida, aplicar o ácaro predador.
Produtos à base de sílica, também podem ser utilizados para o controle do ácaro, pois endurecem a folha e com isso dificulta a alimentação do ácaro praga. No entanto, a sílica deve ser usada com moderação, pois reduz o desenvolvimento da planta.
O óleo de Neem deve ser evitado no controle de pragas no cultivo do morangueiro orgânico, embora seja um potente inseticida para o controle do ácaro rajado, por exemplo. Infelizmente, esse produto é um inseticida não seletivo, ou seja, mata tanto as pragas quanto os insetos que realizam o controle biológico no cultivo orgânico, como o ácaro predador. Recomenda-se, portanto, que o óleo de Neem seja usado com moderação e na dosagem indicada pelo fabricante, e somente nas reboleiras onde a população de ácaro rajado estiver muito alta, e seja evitada a aplicação na área total, para evitar o seu desequilibro.
8.3 - CONTROLE DE INSETOS
No cultivo orgânico de morango podemos ainda utilizar placas ou faixas adesivas coloridas para o monitoramento e controle de insetos. A cor amarela é sabidamente atrativa para alguns insetos, como por exemplo: pulgões, mosca branca e mosca da larva minadora (bicho mineiro, Liriomyza), assim como a cor azul é atrativa para o trips. Vale ressaltar que a ocorrência de pulgões é um sinal de desequilíbrio nutricional (excesso de nitrogênio). Por isso, reveja a adubação feita ou que esteja sendo feita na cultura.
Além da placa ou faixa adesiva na cor amarela, os pulgões podem ser controlados com o polvilhamento de cinzas, na fase inicial da infestação, ou por meio da pulverização de cinza e cal, cada um na concentração de 2% (20 g por litro de água).
Outros preparados repelentes também são eficientes, como as caldas de pimenta e alho, e o chá de arruda, isso sem falar no uso do Neem.
A calda sulfocálcica (2 kg de enxofre + 1 kg de cal virgem para preparar 10 litros da calda) é outra importante ferramenta no controle de pragas no cultivo do morango orgânico. Na concentração de 0,5%, a calda sulfocálcica controla o trips, que ataca as flores e causam danos no receptáculo floral, levando à formação de frutos deformados.
8.4 - CONTROLE DE NEMATOIDES
Para o controle de nematoides, em especial dos formadores de galha em solos onde o teor de matéria orgânica ainda é baixo (inferior a 20 g/dm3) e a rotação com adubos verde ainda não esteja fazendo esse controle, existem alguns fungos comerciais eficientes. Tanto o Trichoderma harzianum quanto o Paecilomyces lilacinus atuam no controle de nematoides. Via de regra esses agentes de controle biológico são aplicados no momento do transplante.
Para informações adicionais sobre os produtos para controle biológico, sugere-se consultar o site dos fabricantes desses produtos.
Onde são abordados, em detalhes, vários aspectos relevantes para o planejamento da produção de morango, além de diversas técnicas que se aplicam à produção orgânica.
Após o preparo da área, como já foi ressaltado anteriormente (correção química, adubação verde, etc.), os canteiros devem ser erguidos com 30 a 40 cm de altura, para que se tenha uma boa drenagem e minimize o desconforto na operação de colheita.
Eles podem ser estreitos, com 1 ou 2 linhas de plantio, ou normal, com 3 ou 4 linhas de plantio.
Deve-se ressaltar que para se levantar esses canteiros para o plantio do morango, é necessário ter um terreno apropriado.
Assim que levantados, os canteiros devem ser protegidos com cobertura morta ou plástica (mulching) para evitar o seu rebaixamento pela erosão (Figura 8).
Figura 8 - Canteiro de cultivo de morango orgânico com diferentes tipos de cobertura.
7.2 - CULTIVARES RECOMENDADAS
O morangueiro é uma planta que apresenta resposta ao fotoperíodo, e suas cultivares são divididas em dois grupos: espécies de dias curtos, que são estimuladas a florescerem quando o número de horas de luz for menor que 13 horas; e de dias neutro, as quais não apresentam essa exigência quanto ao número de horas, mas só florescem quando a temperatura noturna é inferior a 20º C.
As cultivares mais recomendadas para o cultivo orgânico são: Oso Grande e Camarosa, de dias curtos; Albion, Sandreas, Aromas, de dias neutros. Estas três últimas ainda precisam de estudos adicionais para uma recomendação mais efetiva.
A PRESENÇA DE ABELHAS É FUNDAMENTAL PARA A POLINIZAÇÃO E PARA A PRODUÇÃO DE MORANGOS MAIORES E SEM DEFORMAÇÕES
É importante destacar que o morangueiro depende da presença de abelhas (jataí, europa e arapua) para a polinização e, consequentemente, para a produção de morangos maiores e sem deformações. Isso é fundamental para a cultivar Oso Grande. Garantir a presença de abelhas sem ferrão em cultivo protegido de morango também é fundamental para o sucesso do cultivo.
7.3 - ESPAÇAMENTO ENTRE PLANTAS
O espaçamento depende do tamanho da planta e da largura do canteiro. No sistema orgânico, recomenda-se um espaçamento tal que, após o máximo desenvolvimento da planta, ainda exista espaço entre elas para um melhor arejamento, desfavorecendo assim o desenvolvimento de doenças foliares e do fruto.
Geralmente, o espaçamento no cultivo orgânico é menor em comparacão ao cultivo convencional devido ao menor desenvolvimento das plantas. O uso de um gabarito com o espaçamento 25x25 cm (93 mil plantas por hectare) a 30x30 cm (77 mil plantas por hectare) auxilia no alinhamento das plantas.
O plantio em espaçamentos maiores ou menores deve ser norteado pela fertilidade do solo e pela cultivar que está sendo plantada.
7.4 - PREPARO DAS MUDAS
A legislação brasileira preconiza que sejam usadas mudas produzidas em sistema orgânico. Na falta delas, poderão ser utilizadas mudas provenientes de viveiros convencionais, dando preferência àquelas que não tenham sido tratadas com agrotóxico (IN Mapa nº17, de 20 de junho de 2014, artigo 100, parágrafo 1º).
Desde 2016, cabe ao MAPA publicar anualmente uma lista positiva elaborada pela Comissão de Produção Orgânica - CPOrg de cada estado, informando as variedades e cultivares que só poderão ser usadas sementes/mudas orgânicas.
As mudas podem ser de raiz nua ou formadas em bandejas e/ou envasadas.
As mudas de raiz nua são adquiridas de viveiros de campo, e vêm normalmente ligadas pelo cipó em rolos. Antes do plantio, o agricultor deve fazer um toalete, ou seja, retirar as folhas velhas e danificadas, estolões, rebentos e excesso de folhas (o ideal é ficar com 4 a 5 folhas) e raízes (de 7 a 10 cm), individualizando a muda. Nessa etapa, as folhas e raízes devem ser examinadas com bastante critério, descartando as mudas que apresentarem focos de doenças.
Após certificar-se da qualidade das mudas, é importante separá-las por tamanho. Normalmente, elas são classificadas em pequenas, médias e grandes antes de irem para a hidratação, onde permanecem até o momento do plantio.
O plantio separado por tamanho promove uma padronização no canteiro, que facilitará as atividades posteriores.
As mudas formadas em bandejas ou envasadas são mais fáceis de serem manuseadas na hora do plantio.
Entretanto, deve-se avaliar a sua sanidade, plantando somente as sadias. A classificação e padronização por tamanho também é recomendada para a mudas de bandejas ou envasadas.
Viveiristas certificados produzem mudas orgânicas de morango, mas o agricultor também pode produzir as suas próprias mudas. Nesse caso, o agricultor deve selecionar as plantas matrizes ao final do período de colheita e plantá-las em uma nova área.
O espaçamento no matrizeiro deve ser de 1,0 x 1,0 m. O plantio da matrizes deve ocorrer em setembro, a planta emitirá os estolões (cipós) de dezembro até meados de março, quando normalmente ocorre o arranquio. Em um matrizeiro bem conduzido, a expectativa é formar de 75 a 200 mudas por metro quadrado.
7.5 - PLANTIO DAS MUDAS
O plantio das mudas de morango orgânico deve ser realizado em uma gleba protegida por cerca viva ou quebra-vento, onde tenha sido feita, previamente, a correção química e biológica do solo, por meio da calagem, rochagem, fosfatagem e cultivo de adubos verdes.
Nos canteiros previamente preparados, a presença do mulching plástico ou de uma cobertura morta não é obrigatória no momento do plantio, pois tal prática cultural pode ser realizada pré ou pós-plantio. O que é obrigatório, nessa fase, é a irrigação pré-plantio, que auxilia no pegamento das mudas em seu local de plantio definitivo, especialmente no caso das mudas de raiz nua.
CLASSIFICAR AS MUDAS EM PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES E O PLANTIO SEPARADO POR TAMANHO PROMOVEM PADRONIZAÇÃO DO CANTEIRO E FACILITA TRABALHO FUTURO.
Para o plantio, deve-se segurar a muda posicionando os dedos ao redor da coroa, com uma mão e abrir o berço com os dedos da outra mão. Em seguida, posicionar a muda no solo, na altura do colo, cobrindo com terra somente as raízes, de forma que a gema apical fique bem acima do solo. Esse detalhe no plantio do morangueiro é muito importante para o sucesso da lavoura. Finalmente, a terra em volta da muda deve ser compactada.
As mudas de bandejas ou envasadas sofrem um stress menor no plantio, mas deve-se observar a
profundidade de plantio.
Ocorrendo falhas no plantio, pode-se realizar o replantio dessas mudas, de uma até duas vezes,
dentro de um período de 25 dias do plantio inicia
EXCESSO DE IRRIGAÇÃO AUMENTA OS CUSTOS DE PRODUÇÃO E FAVORECE O
SURGIMENTO DE DOENÇAS.
7.6 - IRRIGAÇÃO
O manejo da irrigação é muito importante porque, geralmente, o agricultor aplica muito mais água do que a cultura necessita. Além de aumentar o custo do cultivo, esse excesso pode favorecer o surgimento de doenças, principalmente nas raízes e nos frutos, como o mofo cinzento. Adicionalmente, a aplicação de lâminas excessivas de água carrega o nitrogênio e potássio para a camada mais profunda do solo, impedindo que as raízes aproveitem esses
nutrientes.
Recomenda-se que a irrigação pós-plantio seja realizada, de preferência, no dia seguinte. Isso
evitará que as folhas fiquem em contato com o solo ou grudadas no mulching plástico.
Na primeira semana após o transplante das mudas, a irrigação, geralmente por aspersão, deve ser diária para o pegamento das mudas de raízes nua. Após e esse pegamento, o ideal é que a cultura passe a ser irrigada por gotejamento. Deve-se ressaltar que o sistema de irrigação por aspersão favorece a dispersão das “sementes” de doenças da parte aérea, o que não ocorre no gotejamento
É fundamental que o agricultor saiba que o período crítico de irrigação ocorre justamente até o
pegamento das mudas e que a maior demanda por umidade na cultura ocorre na formação dos botões, floração e frutificação. O excesso de umidade na planta também dificulta a polinização.
Na prática, o manejo da irrigação pode ser realizado pela observação do morangueiro nas primeiras horas do dia. Se existirem gotículas de água nas bordas das folhas, isso indica que a umidade do solo está próxima da capacidade de campo, que é o teor de umidade ideal para o morangueiro.
Tecnicamente, a recomendação é utilizar o tensiômetro (Figura 9) a 15 cm de profundidade associado com o balanço hídrico da área.
APÓS PEGAMENTO DA MUDA, O IDEAL É QUE A IRRIGAÇÃO SEJA POR GOTEJAMENTO, PARA EVITAR A DISPERSÃO DE DOENÇAS DA PARTE AÉREA.
Figura 9 - Bateria de tensiômetros utilizados no monitoramento da umidade e lixiviação de nutrientes no solo em cultivo orgânico de morango em Ibiúna/SP.
7.7 - CONTROLE DE PLANTAS ESPONTÂNEAS
Quem um dia poderia afirmar que o bom e velho mato seria um importante aliado no controle de pragas? Pois saibam que issa informação é verdadeira!
Na fase jovem, os insetos predadores se alimentam do pólen produzido pelas flores das plantas espontâneas, em especial o mentruz ou mastruço (Coronopus didymus), que é rasteiro, desenvolve-se bem no inverno, e é fonte de alimento para o ácaro predador. Por causa disso, é importante ter flores durante o tempo todo dentro da gleba com cultivo de morango orgânico.
O controle de plantas espontâneas deve ser feito somente sobre os canteiros, com ferramentas ou manualmente, evitando a competição com a cultura. Nessa etapa, o produtor deve ter cuidado para não causar ferimentos nas plantas. Após a cobertura com plástico ou outro material, o controle passa a ser somente manual.
7.8 - COBERTURA OU FORRAÇÃO DO CANTEIRO
A cobertura ou forração dos canteiros ocorre por volta de 35 a 40 dias, quando o plantio é realizado com mudas de raiz nua, ou de 5 a 10 dias, para mudas envasadas.
Antes da forração, deve ser feita uma limpeza das plantas espontâneas e da planta em si, retirando as folhas velhas e com doenças, as quais devem ser colocadas em um saco e levadas para uma composteira longe da lavoura.
Na cobertura dos canteiros com mulching plástico, essa operação deve ser feita, de preferência, pela manhã ou em dias frescos (Figura 10 A). O plástico precisa ser esticado sobre os canteiros e mudas, fixando suas laterais nas bordas dos canteiros com lascas de bambu verde (1 cm de largura por 25 a 30 cm de comprimento). Com essas lascas de bambu, deve-se fazer um arco em forma de “U”, colocálo na borda do canteiro, prendendo o plástico. Na ausência do bambu, também podem ser utilizados pedaços de arame para prender a lona plástica na borda do canteiro (Figuras 10 B e 10 C).
Em seguida, com o tato, identifique o local da muda e, com auxilio de um material cortante (lâmina de aço, faca), fazer um corte em cruz com tamanho suficiente para puxar a muda para fora. Nunca se deve enterrar a beirada do plástico, pois isso dificultará sua remoção total ao final do cultivo, além de qualquer manutenção no sistema de irrigação por gotejamento.
A COBERTURA OU FORRAÇÃO DOS CANTEIROS DEVE SER FEITO POR VOLTA DOS 35 E 40 DIAS, COM OS CANTEIROS LIMPOS DE PLANTAS ESPONTÂNEAS, AS PLANTAS LIVRES DE FOLHAS VELHAS E DOENTES, E EM DIAS FRESCOS.
Figura 10.A – Momento de instalação do mulching plástico, 35 dias após o transplante.
10.B – Fixação da rafia com arame.
10.C – Detalhe do arame utilizado na fixação do mulching plástico.
Para facilitar a entrada de água, no sistema por aspersão, e a colocação de adubo de cobertura, deve-se fazer furos redondos no plástico entre as plantas, com cerca de 5 cm de diâmetro, que também servem para evitar os rasgos causados pelo vento. Os furos podem ser feitos com um cano ou bambu, com a ponta bem afiada. Caso seja utilizado material do tipo ráfia, os cortes devem ser feitos com o auxílio de um material cortante aquecido, que sela o corte e evita o desfiamento.
SOLOS RICOS EM MATÉRIA ORGÂNICA E COM UMIDADE ADEQUADA PERMITEM QUE A PRÓPRIA ATIVIDADE MICROBIANA SEJA CAPAZ DE FORNECER O NITROGÊNIO NECESSÁRIO À PLANTA.
7.9 - ADUBAÇÃO DE COBERTURA
No item “Calagem, rochagem e aplicação de composto orgânico” tratamos basicamente da correção do solo para o plantio do morango, ou seja, da chamada adubação de plantio.
O mesmo Bokashi aeróbico apresentado naquela oportunidade pode ser aplicado em cobertura, antes da colocação do plástico de forração, se o produtor observar que o desenvolvimento das plantas não está conforme o esperado. Nesse momento ou então na primeira florada, é necessário fazer uma análise foliar para orientar as adubações de cobertura futuras e, com isso, explorar o máximo da capacidade produtiva da cultivar.
A legislação orgânica brasileira, por meio do Regulamento Técnico de Produção Animal e Vegetal em vigor, a IN MAPA 17/2014 (consulte sempre o Ministério da Agricultura sobre possíveis atualizações), apresenta uma lista positiva com inúmeros produtos possíveis de serem usados na adubação de cobertura.
Entendemos que o agricultor gostaria de encontrar aqui uma recomendação sobre a quantidade de composto orgânico ou de esterco de galinha compostado para ser utilizado em cobertura, mas isso não é fazer agricultura orgânica. Isso seria apenas fazer a substituição de insumos! Como o excesso de nitrogênio na cultura estimula o aparecimento de pragas (ácaro rajado) e de doenças (antracnose, micosferela, vermelhão), o agricultor deve oferecer este e os demais nutrientes na medida certa, sem excessos e sem deixar faltá-los.
MORANGO: CULTURA EXIGENTE EM NUTRIENTES PRINCIPAMENTE NA FASE DE PRODUÇÃO DE FRUTOS.
Neste momento, o uso de biofertilizantes líquidos aplicados via foliar desempenha um papel importante, bem como o manejo adequado da irrigação.
A correta manutenção da umidade do solo permite que a atividade microbiana disponibilize o nitrogênio presente na matéria orgânica do solo. Em solo com matéria orgânica acima de 25 g/dm3, a sua atividade microbiana, por si só, é capaz de fornecer o nitrogênio que o morango precisa. Por outro lado, em solos com teores de matéria orgânica abaixo de 20 g/dm3, contar só com a aplicação de biofertilizantes líquidos não será suficiente para suprir a demanda de nitrogênio. Nessas condições, a aplicação de compostos orgânicos em cobertura é necessária e a quantidade a ser aplicada será determinada pela resposta da planta e pela possibilidade de parcelamento dessa aplicação durante o ciclo da cultura.
A cultura de morango é muito exigente em nutrientes, principalmente na fase de produção de frutos, quando normalmente ocorrem a maior absorção e exportação de nutrientes via frutos.
Assim, a análise foliar deve ser feita sempre que notar que a cultura não está correspondendo ao esperado e, com isso, utilizar os adubos foliares para remediar a situação, como por exemplo, o supermagro (vide Anexo 1).
Vale lembrar que o melhor cenário para o cultivo do morango orgânico é aquele em que tais problemas não ocorrem. Para tanto, o produtor deve investir no preparo da área caso ela não esteja com uma boa fertilidade.
É preferível investir na correção do solo, com o plantio de adubo verde ou outra cultura menos exigente, a implantar a cultura de morangueiros e ter uma série de problemas com doenças e/ ou uma baixa produtividade!
Encontrada a janela de produção do
morango orgânico na propriedade e assumindo que o agricultor tenha aptidão para
esse cultivo, o próximo passo é construir as cercas vivas que formam barreiras físicas
na propriedade e têm diversas funções no manejo agroecológico (Figura 3),
assim como fazer a análise do solo e sua correção.
Figura
3 -Vista de uma propriedade com diferentes tipos de cercas vivas (Fonte: Tom
Ribeiro/CATI).
6.1 -
CONSTRUÇÃO DE CERCA VIVA OU QUEBRA VENTO
Onde houver vizinhos
convencionais, a primeira função da cerca viva é
proteger o cultivo orgânico da deriva da aplicação
terrestre de agrotóxicos. Em muitos locais, conseguimos
com sucesso reduzir ou eliminar a área de
sacrifício no cultivo orgânico, ou seja, aquela faixa em
que o cultivo é conduzido dentro dos princípios
orgânicos, mas a fruta é colhida e comercializada como
convencional em razão da presença de vizinhos
convencionais.
Em lugares onde há
pulverização aérea de agrotóxico, a cerca viva por si só não
é eficiente para barrar a deriva desse tipo de
aplicação. Portanto, para garantir a produção orgânica, temos
de aliar uma “faixa de sacrifício” no cultivo.
A função mais conhecida
das cercas vivas é a de quebrar o vento, prova
disso é que são popularmente chamadas de quebra-vento.
Para essa função, a(s) uma aliada no controle de pragas e doenças, caso esteja protegendo todos os lados da
gleba.
Para que o quebra-vento funcione
adequadamente, é fundamental que ele sempre permita a
passagem de um pouco de vento. Em outras palavras,
não deve impedir a passagem de todo o vento.
É importante observar que quando o
quebra-vento impede completamente a passagem do
vento, cria uma zona de menor pressão atrás de si,
fazendo com que o vento provoque sérios danos
no interior da gleba. Vale destacar que uma boa
cerca viva consegue proteger uma faixa de 3 a 10
vezes a sua altura.
Finalmente, ao implantar as cercas
vivas em sua propriedade, com um bom
planejamento, o agricultor pode vir a ter uma poupança
dentro de 10 ou 15 anos, caso considere o
plantio de espécies que possam fornecer madeira, seja para
lenha ou para fins mais nobres (moveleiro).
Nesse caso, não se esqueça de procurar o órgão
ambiental de seu município ou regional para registrar o
plantio e o plano de manejo dessas árvores. Esse
cuidado é fundamental para permitir que no
momento programado, as árvores possam ser
cortadas legalmente.
6.2 -
AMOSTRAGEM, COLETA E ENVIO DE SOLO PARA ANÁLISE QUÍMICA
A análise química do solo
da gleba onde o agricultor irá plantar o morangueiro
orgânico é um passo importante para conhecer a
disponibilidade de nutrientes naturais do
solo e, assim, realizar uma adubação conforme a
necessidade das plantas, evitando o excesso de
adubação, ou pior, a adubação desequilibrada
Para obter uma amostragem correta do
solo na propriedade, o primeiro passo é
identificar suas possíveis diferenças nas glebas, seja
pela cor, seja pelo uso anterior que as áreas tiveram
(cultura anual, pomar, pasto ou pousio). É
importante fazer um croqui da propriedade,
identificando cada uma das glebas.
Em
seguida, o produtor deve escolher uma ferramenta
para fazer a coleta do solo (Figura 4). Pode
ser usado um trado, um enxadão ou até mesmo uma
pá reta (vanga). O importante é limpar o local de
amostragem para evitar que folhas ou gravetos
superficiais sejam encaminhados com a amostra a
ser enviada ao laboratório e que, de cada local
amostrado, seja coletado o mesmovolume de solo.
Figura
4 - Amostragem de solo realizada com um trado
(Fonte: Tom Ribeiro/CATI).
A amostra de solo que será encaminhada
ao laboratório deve ser composta por
várias amostragens de uma mesma gleba (Figura 5). Para
tanto, devemos caminhar em zique-zague pela gleba e
fazer a coleta do solo em cerca de 15 pontos
distintos. O material colhido deve ser colocado em um balde
ou saco plástico limpo.
Concluída a coleta, todo esse material
deve ser levado para um local limpo e coberto.
Recomenda-se que ele seja esparramado sobre um
jornal, em local ventilado,
deixando-o secar por
alguns dias.
Para facilitar a secagem, revolva o solo de
vez em quando e quebre os torrões maiores. O ideal é
peneirá-lo com uma peneira para areia grossa.
Depois de secas e bem misturadas as 15
coletas de uma gleba, identifique um saco
plástico com o nome da propriedade e do proprietário, o
nome ou número da gleba e a data de coleta.
Na
sequência, encaminhe apenas 400 a 500g do solo coletado da
gleba para um laboratório de análise de solo.
O
ideal é pedir uma análise completa, com macro e
micronutrientes.
O resultado deve estar pronto em cerca
de 30 dias.
Ao receber o resultado, consulte um
engenheiro agrônomo que tenha, preferencialmente,
formação em agricultura
orgânica.
Figura
5 - Esquema de caminhada em zique-zague, em duas glebas de uma propriedade, para
coleta de amostras de solo para análise química (Fonte: Tom Ribeiro/CATI).
6.3 - A
CORREÇÃO DO SOLO E A ADUBAÇÃO VERDE
Com o resultado da análise
de solo em mãos, busque a ajuda de um engenheiro agrônomo para que possa interpretá-lo e recomendar
as correções necessárias para o cultivo do morango orgânico.
Se houver a necessidade de
corrigir a acidez do solo, ou acrescentar cálcio e magnésio, essa correção pode ser feita por meio da
calagem, que é a aplicação do calcário no solo, a qual pode ser realizada
manual ou mecanicamente. Note-se que
a dosagem recomendada pelo engenheiro agrônomo é para corrigir a camada superficial de 20 cm de
solo.
O calcário aplicado e incorporado
ao solo irá começar a corrigi-lo mais rápido ou mais lentamente, dependendo da umidade do
solo e do poder de reação do calcário (PRNT - Poder Relativo de Neutralização Total). Em geral,
recomenda-se um intervalo de pelo menos 30 dias entre a aplicação e o plantio
da cultura subsequente.
Após a correção química do solo, o
plantio da adubação verde é altamente recomendado
para o cultivo de morango orgânico, sem
descartar o pousio vegetado com plantas espontâneas
(Figura 6) como uma alternativa econômica para o
agricultor, desde que atendida às necessidades de
correção do local de cultivo para o morango.
Figura
6 - Área em pousio vegetado com plantas espontâneas
para fins de adubação verde. (Fonte: Tom Ribeiro/CATI).
A escolha
da espécie a ser plantada como adubação verde deve
levar em conta a época de cultivo, já
que existem espécies para cultivo nos meses mais frios ou quentes do ano. Devemos
levar em consideração também a presença ou
não de nematoides na gleba em que pretendemos
cultivar o morango orgânico. Também há de se
considerar a necessidade da geração de renda para o
agricultor nessa gleba e a disponibilidade de
sementes dos adubos verdes, mas fundamentalmente
não se esquecer de considerar as exigências
do morango.
O Boletim Técnico CATI nº 249, da
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral do governo do Estado de
São Paulo, é a publicação que contém informações
mais atualizadas sobre adubação verde no estado
de São Paulo. Consultar as informações
ali
contidas ajudará o produtor a selecionar a espécie de adubo
verde mais adequada a ser plantada para cada época
do ano.
Ainda
tratando da adubação verde, é importante mencionar
que as crotalárias são plantas que, se manejadas
corretamente, vão disponibilizar no solo uma grande
quantidade de nitrogênio, pois quando se
associam a bactérias capazes de fixar o nitrogênio atmosférico,
disponibilizam até 450 kg de nitrogênio por
hectare ao ano. Se for plantada apenas crotalária
como adubação verde antes do plantio do
morango, poderemos criar condições perfeitas para o excesso de nitrogênio,
resultando em uma planta de
morango desequilibrada nutricionalmente e
suscetível a pragas e doenças. Por isso, é interessante
fazer um consórcio com alguma gramínea,
como milho, milheto ou braquiária.
Deve-se
ressaltar que para ter o desejado manejo da
população de nematoides no solo, o manejo da crotalária
precisa ser correto, ou seja, ela deve ser cortada
ao atingir o máximo florescimento.
6.4- PREPARO DO SOLO PARA O PLANTIO DO MORANGO
6.4.1 - CALAGEM, ROCHAGEM E APLICAÇÃO DE COMPOSTO ORGÂNICO
O
resultado da análise de solo deve ser interpretado com
base agroecológica. Para tanto, o engenheiro agrônomo
deverá utilizar o método de “Equilíbrio de
Bases”, mais precisamente o “Método Albrecht” de
correção da fertilidade dos solos, proposto pelo Prof.
Dr. Willian Albrecht, na década de 1950, então chefe
do Departamento de Solos da Universidade construída
ano a ano, de forma que o cálcio no solo represente
55 a 65% da capacidade de troca de cátion (CTC) do
solo, o magnésio represente de 10 a 15% da CTC, e o
potássio de 3 a 5% da CTC.
Áreas em
que o solo precise de grandes quantidades de
calcário (acima de 2 t/ha), a calagem deve ser previ ta
para o período de conversão da propriedade.
A
aplicação de grande volume de calcário, anualmente,
promove um brusco desequilibro no pH do solo,
além da necessidade de revolvê-lo para a incorporação
do calcário. Isso acaba desfavorecendo o
estabelecimento de microrganismos benéficos no solo, como
o Trichoderma e
Micorrizas, que auxiliam no
controle biológico de doenças do solo e na nutrição
do morangueiro.
Em áreas
onde a fertilidade do solo já esteja equilibrada,
a aplicação de calcário não deve ultrapassar
os 800 kg/ha ano. Até essa quantidade, o cálcio
presente no calcário servirá para estimular a vida
microbiana do solo.
Ainda
considerando o método de “Equilíbrio de Bases”,
devemos ajustar a necessidade de magnésio no solo
porque, quando intensamente cultivado, tende a
ter uma quantidade maior de magnésio do que a
necessária decorrente da aplicação de calcário
dolomítico ao longo de anos.
Portanto, não se esqueça
de verificar e ajustar a concentração de magnésio
em função do “Equilíbrio de Bases”.
O potássio
também é ajustado pelo “Equilíbrio de Bases”,
sendo que uma das formas de adicioná-lo ao solo é
por meio da rochagem. O ideal é aplicar a rocha
potássica antes do plantio do adubo verde.
Vale
comentar que, atualmente, há no mercado rochas
potássicas sendo comercializadas por grandes mineradoras
mas um fator limitante é o valor do frete do
produto, o qual acaba inviabilizando o seu uso quando
a propriedade encontra-se distante da mineradora.
Assim sendo, devemos procurar outras fontes de
potássio no próprio município como, por exemplo,
as cinzas de caldeiras, olarias e até mesmo
de
pizzarias. O importante é que essas cinzas sejam oriundas
de madeira não tratada.
Para o
preparo do solo, também é indicada a que nada mais é do que a aplicação de uma rocha
rica em fósforo, também conhecida por fosfato
natural. No cultivo do morango orgânico, o ideal é
que a concentração de fósforo no solo seja de 60
miligramas por decímetro cúbico (mg/dm3).
Outro
importante ingrediente para a produção do morango
orgânico é o pó de rocha, por ser fonte de todos os
minerais, inclusive dos micronutrientes. Na ausência
dele, procure pela farinha de peixe, outra importante
fonte de micronutrientes, principalmente se for
preparada a partir do pescado marinho.
O composto
orgânico, produzido preferencialmente na composteira
da própria propriedade (Figura 7), deve ser utilizado
como fonte de matéria orgânica e minerais.
Figura 7 -Pilha de compostagem com
resíduos orgânicos (Fonte: Tom Ribeiro/CATI).
Para solos
pobres em matéria orgânica (abaixo de 25 g/dm3)
é imprescindível o uso da adubação
verde. Para solos ricos em matéria orgânica ou quando essa concentração tenha sido
elevada com o manejo de culturas (teor acima de 25 g/dm3), em especial da adubação verde,
deve-se reduzir o uso de fontes ricas em nitrogênio no plantio. Neste caso, o nitrogênio
que o morango necessita será fornecido pela mineralização da matéria orgânica do solo e
suplementado, conforme a necessidade, por meio da adubação de cobertura com Bokashi
(Tabela 2), farelo de mamona ou outra fonte orgânica de nitrogênio.
TABELA 2. INGREDIENTES UTILIZADOS E RESPECTIVAS QUANTIDADES PARA O PREPARO DE BOKASHI AERÓBICO PELA UNIDADE DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM AGRICULTURA
ECOLÓGICA DE SÃO
ROQUE/SP.
Modo de
preparo: Esquente em uma vasilha aproximadamente
metade da água (8 l) para preparar o
mingau. Quando estiver fervendo, acrescente
0,5 kg de uma fonte de amido (pode ser
farinha de mandioca ou milho) e deixe
cozinhar por alguns minutos. Retire a vasilha
do fogo e deixe esfriar. Enquanto esfria o
mingau, em um local coberto, misture os
demais ingredientes. Depois de misturar
os ingredientes, esparrame o monte.
Quando o
mingau estiver frio, acrescente o melaço ou
açúcar mascavo, mexa e adicione o restante
da água. Na sequência, coloque o mingau no
monte esparramado e, aos poucos, misture
tudo várias vezes. Por fim, peneire essa
mistura para quebrar qualquer bola de umidade.
Amontoe novamente e não deixe a temperatura
no monte ultrapassar 60 a 65oC.
Em
aproximadamente uma semana, o Bokashi aeróbico
estará pronto para uso.
O composto
orgânico e o Bokashi são importantes
na recolonização do solo pelos microrganismos
benéficos.
Com o
intuito de obter um solo equilibrado para o cultivo de morango orgânico, a
concentração de
micronutrientes
(Tabela 3) disponível no solo deve ser de:
TABELA 3 - CONCENTRAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NO SOLO PARA O PLANTIO DE MORANGO ORGÂNICO
Para
conhecer as características do solo de sua propriedade e saber o quanto de cada nutriente
é necessário acrescentar para manter o solo equilibrado, a análise química do
solo dos macro
e micronutrientes é fundamental.
A análise
foliar é uma ferramenta interessante para o monitoramento da nutrição do morangueiro,
desde que as escalas utilizadas estejam calibradas para o cultivo agroecológico e para a
cultivar que foi plantada.
Para saber
quais fontes de fertilizantes são permitidas na agricultura orgânica, consulte o Anexo
III da IN Mapa 17/2014 (www.agricultura.gov.br/arq_editor/IN-17.pdf) ou o Regulamento
Técnico para Sistemas Orgânicos de Produção que estiver em vigor.