7 - TRATOS CULTURAIS
7.1 - PREPARO DOS CANTEIROS
Após o preparo da área, como já foi ressaltado anteriormente (correção química, adubação verde, etc.), os canteiros devem ser erguidos com 30 a 40 cm de altura, para que se tenha uma boa drenagem e minimize o desconforto na operação de colheita.
Eles podem ser estreitos, com 1 ou 2 linhas de plantio, ou normal, com 3 ou 4 linhas de plantio.
Deve-se ressaltar que para se levantar esses canteiros para o plantio do morango, é necessário ter um terreno apropriado.
Assim que levantados, os canteiros devem ser protegidos com cobertura morta ou plástica (mulching) para evitar o seu rebaixamento pela erosão (Figura 8).
Figura 8 - Canteiro de cultivo de morango orgânico com diferentes tipos de cobertura.
7.2 - CULTIVARES RECOMENDADAS
O morangueiro é uma planta que apresenta resposta ao fotoperíodo, e suas cultivares são divididas em dois grupos: espécies de dias curtos, que são estimuladas a florescerem quando o número de horas de luz for menor que 13 horas; e de dias neutro, as quais não apresentam essa exigência quanto ao número de horas, mas só florescem quando a temperatura noturna é inferior a 20º C.
As cultivares mais recomendadas para o cultivo orgânico são: Oso Grande e Camarosa, de dias curtos; Albion, Sandreas, Aromas, de dias neutros. Estas três últimas ainda precisam de estudos adicionais para uma recomendação mais efetiva.
A PRESENÇA DE ABELHAS É FUNDAMENTAL PARA A POLINIZAÇÃO E PARA A PRODUÇÃO DE MORANGOS MAIORES E SEM DEFORMAÇÕES
É importante destacar que o morangueiro depende da presença de abelhas (jataí, europa e arapua) para a polinização e, consequentemente, para a produção de morangos maiores e sem deformações. Isso é fundamental para a cultivar Oso Grande. Garantir a presença de abelhas sem ferrão em cultivo protegido de morango também é fundamental para o sucesso do cultivo.
7.3 - ESPAÇAMENTO ENTRE PLANTAS
O espaçamento depende do tamanho da planta e da largura do canteiro. No sistema orgânico, recomenda-se um espaçamento tal que, após o máximo desenvolvimento da planta, ainda exista espaço entre elas para um melhor arejamento, desfavorecendo assim o desenvolvimento de doenças foliares e do fruto.
Geralmente, o espaçamento no cultivo orgânico é menor em comparacão ao cultivo convencional devido ao menor desenvolvimento das plantas. O uso de um gabarito com o espaçamento 25x25 cm (93 mil plantas por hectare) a 30x30 cm (77 mil plantas por hectare) auxilia no alinhamento das plantas.
O plantio em espaçamentos maiores ou menores deve ser norteado pela fertilidade do solo e pela cultivar que está sendo plantada.
7.4 - PREPARO DAS MUDAS
A legislação brasileira preconiza que sejam usadas mudas produzidas em sistema orgânico. Na falta delas, poderão ser utilizadas mudas provenientes de viveiros convencionais, dando preferência àquelas que não tenham sido tratadas com agrotóxico (IN Mapa nº17, de 20 de junho de 2014, artigo 100, parágrafo 1º).
Desde 2016, cabe ao MAPA publicar anualmente uma lista positiva elaborada pela Comissão de Produção Orgânica - CPOrg de cada estado, informando as variedades e cultivares que só poderão ser usadas sementes/mudas orgânicas.
As mudas podem ser de raiz nua ou formadas em bandejas e/ou envasadas.
As mudas de raiz nua são adquiridas de viveiros de campo, e vêm normalmente ligadas pelo cipó em rolos. Antes do plantio, o agricultor deve fazer um toalete, ou seja, retirar as folhas velhas e danificadas, estolões, rebentos e excesso de folhas (o ideal é ficar com 4 a 5 folhas) e raízes (de 7 a 10 cm), individualizando a muda. Nessa etapa, as folhas e raízes devem ser examinadas com bastante critério, descartando as mudas que apresentarem focos de doenças.
Após certificar-se da qualidade das mudas, é importante separá-las por tamanho. Normalmente, elas são classificadas em pequenas, médias e grandes antes de irem para a hidratação, onde permanecem até o momento do plantio.
O plantio separado por tamanho promove uma padronização no canteiro, que facilitará as atividades posteriores.
As mudas formadas em bandejas ou envasadas são mais fáceis de serem manuseadas na hora do plantio.
Entretanto, deve-se avaliar a sua sanidade, plantando somente as sadias. A classificação e padronização por tamanho também é recomendada para a mudas de bandejas ou envasadas.
Viveiristas certificados produzem mudas orgânicas de morango, mas o agricultor também pode produzir as suas próprias mudas. Nesse caso, o agricultor deve selecionar as plantas matrizes ao final do período de colheita e plantá-las em uma nova área.
O espaçamento no matrizeiro deve ser de 1,0 x 1,0 m. O plantio da matrizes deve ocorrer em setembro, a planta emitirá os estolões (cipós) de dezembro até meados de março, quando normalmente ocorre o arranquio. Em um matrizeiro bem conduzido, a expectativa é formar de 75 a 200 mudas por metro quadrado.
7.5 - PLANTIO DAS MUDAS
O plantio das mudas de morango orgânico deve ser realizado em uma gleba protegida por cerca viva ou quebra-vento, onde tenha sido feita, previamente, a correção química e biológica do solo, por meio da calagem, rochagem, fosfatagem e cultivo de adubos verdes.
Nos canteiros previamente preparados, a presença do mulching plástico ou de uma cobertura morta não é obrigatória no momento do plantio, pois tal prática cultural pode ser realizada pré ou pós-plantio. O que é obrigatório, nessa fase, é a irrigação pré-plantio, que auxilia no pegamento das mudas em seu local de plantio definitivo, especialmente no caso das mudas de raiz nua.
CLASSIFICAR AS MUDAS EM PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES E O PLANTIO SEPARADO POR TAMANHO PROMOVEM PADRONIZAÇÃO DO CANTEIRO E FACILITA TRABALHO FUTURO.
Para o plantio, deve-se segurar a muda posicionando os dedos ao redor da coroa, com uma mão e abrir o berço com os dedos da outra mão. Em seguida, posicionar a muda no solo, na altura do colo, cobrindo com terra somente as raízes, de forma que a gema apical fique bem acima do solo. Esse detalhe no plantio do morangueiro é muito importante para o sucesso da lavoura. Finalmente, a terra em volta da muda deve ser compactada.
As mudas de bandejas ou envasadas sofrem um stress menor no plantio, mas deve-se observar a
profundidade de plantio.
Ocorrendo falhas no plantio, pode-se realizar o replantio dessas mudas, de uma até duas vezes,
dentro de um período de 25 dias do plantio inicia
EXCESSO DE IRRIGAÇÃO AUMENTA OS CUSTOS DE PRODUÇÃO E FAVORECE O
SURGIMENTO DE DOENÇAS.
7.6 - IRRIGAÇÃO
O manejo da irrigação é muito importante porque, geralmente, o agricultor aplica muito mais água do que a cultura necessita. Além de aumentar o custo do cultivo, esse excesso pode favorecer o surgimento de doenças, principalmente nas raízes e nos frutos, como o mofo cinzento. Adicionalmente, a aplicação de lâminas excessivas de água carrega o nitrogênio e potássio para a camada mais profunda do solo, impedindo que as raízes aproveitem esses
nutrientes.
Recomenda-se que a irrigação pós-plantio seja realizada, de preferência, no dia seguinte. Isso
evitará que as folhas fiquem em contato com o solo ou grudadas no mulching plástico.
Na primeira semana após o transplante das mudas, a irrigação, geralmente por aspersão, deve ser diária para o pegamento das mudas de raízes nua. Após e esse pegamento, o ideal é que a cultura passe a ser irrigada por gotejamento. Deve-se ressaltar que o sistema de irrigação por aspersão favorece a dispersão das “sementes” de doenças da parte aérea, o que não ocorre no gotejamento
É fundamental que o agricultor saiba que o período crítico de irrigação ocorre justamente até o
pegamento das mudas e que a maior demanda por umidade na cultura ocorre na formação dos botões, floração e frutificação. O excesso de umidade na planta também dificulta a polinização.
Na prática, o manejo da irrigação pode ser realizado pela observação do morangueiro nas primeiras horas do dia. Se existirem gotículas de água nas bordas das folhas, isso indica que a umidade do solo está próxima da capacidade de campo, que é o teor de umidade ideal para o morangueiro.
Tecnicamente, a recomendação é utilizar o tensiômetro (Figura 9) a 15 cm de profundidade associado com o balanço hídrico da área.
APÓS PEGAMENTO DA MUDA, O IDEAL É QUE A IRRIGAÇÃO SEJA POR GOTEJAMENTO, PARA EVITAR A DISPERSÃO DE DOENÇAS DA PARTE AÉREA.
Figura 9 - Bateria de tensiômetros utilizados no monitoramento da umidade e lixiviação de nutrientes no solo em cultivo orgânico de morango em Ibiúna/SP.
7.7 - CONTROLE DE PLANTAS ESPONTÂNEAS
Quem um dia poderia afirmar que o bom e velho mato seria um importante aliado no controle de pragas? Pois saibam que issa informação é verdadeira!
Na fase jovem, os insetos predadores se alimentam do pólen produzido pelas flores das plantas espontâneas, em especial o mentruz ou mastruço (Coronopus didymus), que é rasteiro, desenvolve-se bem no inverno, e é fonte de alimento para o ácaro predador. Por causa disso, é importante ter flores durante o tempo todo dentro da gleba com cultivo de morango orgânico.
O controle de plantas espontâneas deve ser feito somente sobre os canteiros, com ferramentas ou manualmente, evitando a competição com a cultura. Nessa etapa, o produtor deve ter cuidado para não causar ferimentos nas plantas. Após a cobertura com plástico ou outro material, o controle passa a ser somente manual.
7.8 - COBERTURA OU FORRAÇÃO DO CANTEIRO
A cobertura ou forração dos canteiros ocorre por volta de 35 a 40 dias, quando o plantio é realizado com mudas de raiz nua, ou de 5 a 10 dias, para mudas envasadas.
Antes da forração, deve ser feita uma limpeza das plantas espontâneas e da planta em si, retirando as folhas velhas e com doenças, as quais devem ser colocadas em um saco e levadas para uma composteira longe da lavoura.
Na cobertura dos canteiros com mulching plástico, essa operação deve ser feita, de preferência, pela manhã ou em dias frescos (Figura 10 A). O plástico precisa ser esticado sobre os canteiros e mudas, fixando suas laterais nas bordas dos canteiros com lascas de bambu verde (1 cm de largura por 25 a 30 cm de comprimento). Com essas lascas de bambu, deve-se fazer um arco em forma de “U”, colocálo na borda do canteiro, prendendo o plástico. Na ausência do bambu, também podem ser utilizados pedaços de arame para prender a lona plástica na borda do canteiro (Figuras 10 B e 10 C).
Em seguida, com o tato, identifique o local da muda e, com auxilio de um material cortante (lâmina de aço, faca), fazer um corte em cruz com tamanho suficiente para puxar a muda para fora. Nunca se deve enterrar a beirada do plástico, pois isso dificultará sua remoção total ao final do cultivo, além de qualquer manutenção no sistema de irrigação por gotejamento.
A COBERTURA OU FORRAÇÃO DOS CANTEIROS DEVE SER FEITO POR VOLTA DOS 35 E 40 DIAS, COM OS CANTEIROS LIMPOS DE PLANTAS ESPONTÂNEAS, AS PLANTAS LIVRES DE FOLHAS VELHAS E DOENTES, E EM DIAS FRESCOS.
Figura 10.A – Momento de instalação do mulching plástico, 35 dias após o transplante.
10.B – Fixação da rafia com arame.
10.C – Detalhe do arame utilizado na fixação do mulching plástico.
Para facilitar a entrada de água, no sistema por aspersão, e a colocação de adubo de cobertura, deve-se fazer furos redondos no plástico entre as plantas, com cerca de 5 cm de diâmetro, que também servem para evitar os rasgos causados pelo vento. Os furos podem ser feitos com um cano ou bambu, com a ponta bem afiada. Caso seja utilizado material do tipo ráfia, os cortes devem ser feitos com o auxílio de um material cortante aquecido, que sela o corte e evita o desfiamento.
SOLOS RICOS EM MATÉRIA ORGÂNICA E COM UMIDADE ADEQUADA PERMITEM QUE A PRÓPRIA ATIVIDADE MICROBIANA SEJA CAPAZ DE FORNECER O NITROGÊNIO NECESSÁRIO À PLANTA.
7.9 - ADUBAÇÃO DE COBERTURA
No item “Calagem, rochagem e aplicação de composto orgânico” tratamos basicamente da correção do solo para o plantio do morango, ou seja, da chamada adubação de plantio.
O mesmo Bokashi aeróbico apresentado naquela oportunidade pode ser aplicado em cobertura, antes da colocação do plástico de forração, se o produtor observar que o desenvolvimento das plantas não está conforme o esperado. Nesse momento ou então na primeira florada, é necessário fazer uma análise foliar para orientar as adubações de cobertura futuras e, com isso, explorar o máximo da capacidade produtiva da cultivar.
A legislação orgânica brasileira, por meio do Regulamento Técnico de Produção Animal e Vegetal em vigor, a IN MAPA 17/2014 (consulte sempre o Ministério da Agricultura sobre possíveis atualizações), apresenta uma lista positiva com inúmeros produtos possíveis de serem usados na adubação de cobertura.
Entendemos que o agricultor gostaria de encontrar aqui uma recomendação sobre a quantidade de composto orgânico ou de esterco de galinha compostado para ser utilizado em cobertura, mas isso não é fazer agricultura orgânica. Isso seria apenas fazer a substituição de insumos! Como o excesso de nitrogênio na cultura estimula o aparecimento de pragas (ácaro rajado) e de doenças (antracnose, micosferela, vermelhão), o agricultor deve oferecer este e os demais nutrientes na medida certa, sem excessos e sem deixar faltá-los.
MORANGO: CULTURA EXIGENTE EM NUTRIENTES PRINCIPAMENTE NA FASE DE PRODUÇÃO DE FRUTOS.
Neste momento, o uso de biofertilizantes líquidos aplicados via foliar desempenha um papel importante, bem como o manejo adequado da irrigação.
A correta manutenção da umidade do solo permite que a atividade microbiana disponibilize o nitrogênio presente na matéria orgânica do solo. Em solo com matéria orgânica acima de 25 g/dm3, a sua atividade microbiana, por si só, é capaz de fornecer o nitrogênio que o morango precisa. Por outro lado, em solos com teores de matéria orgânica abaixo de 20 g/dm3, contar só com a aplicação de biofertilizantes líquidos não será suficiente para suprir a demanda de nitrogênio. Nessas condições, a aplicação de compostos orgânicos em cobertura é necessária e a quantidade a ser aplicada será determinada pela resposta da planta e pela possibilidade de parcelamento dessa aplicação durante o ciclo da cultura.
A cultura de morango é muito exigente em nutrientes, principalmente na fase de produção de frutos, quando normalmente ocorrem a maior absorção e exportação de nutrientes via frutos.
Assim, a análise foliar deve ser feita sempre que notar que a cultura não está correspondendo ao esperado e, com isso, utilizar os adubos foliares para remediar a situação, como por exemplo, o supermagro (vide Anexo 1).
Vale lembrar que o melhor cenário para o cultivo do morango orgânico é aquele em que tais problemas não ocorrem. Para tanto, o produtor deve investir no preparo da área caso ela não esteja com uma boa fertilidade.
É preferível investir na correção do solo, com o plantio de adubo verde ou outra cultura menos exigente, a implantar a cultura de morangueiros e ter uma série de problemas com doenças e/ ou uma baixa produtividade!
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