sábado, 21 de dezembro de 2019

CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO MORANGO ORGÂNICO



CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS
Pode parar aí! Se o leitor veio direto a este item desta publicação, sem tomar conhecimento dos itens anteriores, não precisa continuar a leitura porque o leitor não está preparado para ser um produtor de morango orgânico!
É importante lembrar que a agricultura orgânica utiliza técnicas que buscam o equilíbrio ecológico da propriedade e assim fazer o controle de pragas e doenças. A pura e simples substituição de agrotóxicos por produtos naturais ou pelo controle biológico não permite a ninguém dizer que esteja produzindo produtos orgânicos, apesar de estar atendendo à legislação brasileira para a produção orgânica.
Neste manual, o controle de pragas e doenças começa quando o agricultor é informado sobre a existência da Legislação Brasileira de Orgânicos. 
O regulamento técnico para os sistemas orgânicos de produção animal e vegetal está legalmente estabelecido em duas instruções normativas, as IN 46/2011 e IN 17/2014, ambas do Ministério da Agricultura. E repetindo, fique atento às atualizações dessas instruções normativas pelo site do órgão (www.agricultura.gov.br).
O anexo V da IN 17/2014 do MAPA contém a lista positiva com as substâncias ativas e práticas permitidas para o manejo, controle de pragas e doenças nos vegetais e tratamento pós-colheita nos sistemas orgânicos de produção. Somente as substâncias ativas e práticas relacionadas nesse documento podem ser utilizadas para a produção orgânica!
Na presente apostila, o controle de pragas e doenças também é feito quando os agricultores são
orientados a identificar a janela de produção do morango de sua propriedade e quando abordamos a questão de aptidão do agricultor para o cultivo.
Na agricultura orgânica, a produção de morangos é realizada no melhor momento para o desenvolvimento da cultura, ao invés da melhor condição para o desenvolvimento de pragas e doenças. Na figura 11, os autores resumem a maioria das práticas, muitas delas já citadas anteriormente, que devem ser empregadas como forma de evitar a entrada de doenças, suas ocorrências e, caso venham a acontecer, o que fazer para reduzir suas taxas de desenvolvimento.
O controle químico que as normas permitem utilizar são as calda bordalesa, calda sulfocálcica, entre outras. Além disso, podemos ainda utilizar agentes biológicos (como os trichodermas), fertilizantes indutores de resistência como fosfitos, aminoácidos, extratos de algas, matéria orgânica rica em ácidos húmicos e fúlvicos etc.
Figura 11 -Práticas de manejo na cultura do morango.

O controle de pragas e doenças também é considerado na implantação da cerca viva para quebra do vento, no Plano de Manejo Orgânico, na importância da análise do solo para recomendação da calagem, rochagem e aplicação do composto orgânico, na análise foliar na primeira florada para adequação da adubação de cobertura e da adubação verde e todas as demais práticas e tratos culturais, visando à obtenção de um solo quimicamente equilibrado e biologicamente ativo.
Para conhecimento, na Tabela 4 são descritas algumas das principais doenças e pragas que ocorrem na cultura do morango, bem como as condições que favorecem o seu desenvolvimento e medidas preventivas.
A primeira medida preventiva é o uso de mudas sadias. Como a irrigação por aspersão contribui para a dispersão de “sementes” de doenças foliares, o sistema por gotejamento é o mais recomendado. 
controle da umidade do solo também é outro fator importante, portanto devem ser utilizados aparelhos para monitorar a quantidade de água no solo, indicando o momento e o volume da irrigação.
O conhecimento dos sinais iniciais das doenças e pragas também é muito importante para que as medidas sejam tomadas em tempo hábil.
O “vermelhão” é um sintoma muito comum quando o morango tem suas raízes atacadas por uma série de fungos, em especial o Pestalotiopsis longisetula, que tem causado ataques severos, inviabilizando muitas lavoura. O “vermelhão” é marcado pelo menor desenvolvimento da muda e, posteriormente, a cor avermelhada nas folhas mais velhas, lembrado deficiências de fósforo.


A seguir, trataremos do controle de pragas e doenças, para quando nada do que já foi tratado nesta apostila tenha surtido efeito ou para o caso de ocorrência de algum “acidente de percurso” ou um imprevisto que nos obrigue a prevenir para garantir o sucesso econômico do cultivo do morango orgânico. Em outras palavras, iremos apresentar as muletas para viabilizar a produção orgânica!

O USO DE CALDA BORDALESA DEVE SER FEITO COM CUIDADO POIS O COBRE SE ACUMULA NO SOLO E SEU USO EXCESSIVO PODE MATAR AS MINHOCAS.

8.1 - DOENÇAS RADICULARES
Um dos imprevistos no cultivo a campo é a chuva fora de época. Nessa situação, a aplicação da calda bordalesa a 1% (1 kg de sulfato de cobre, 1 kg de cal hidratado ou cal virgem, acrescido em 100 l de água) é recomendada desde que autorizado pelos órgãos de certificação. Essa autorização é necessária porque o cobre pode se acumular no solo, além do fato de que o uso excessivo da calda bordalesa pode matar as minhocas. Em razão disso, a Legislação Brasileira de Orgânicos limita o uso de cobre a 6 kg/ha ano, nas aplicações para controle de doenças.
A concentração da calda bordalesa pode variar de 0,3% a 1,0% para o controle da antracnose,
pestalocia, micosferela e demais doenças fúngicas, devendo ser usada, exclusivamente, antes da floração. 
O produtor deve começar a aplicação com concentrações mais baixas e ir aumentando aos poucos, em função da umidade.
A concentração acima de 1% inibe o crescimento da planta. Após a floração, devem ser aplicados biofertilizantes como protetores, que funcionam bem para a mancha de micosferela.
A aplicação de biofertilizantes nas folhas, além do efeito nutricional para a planta, tem
importante ação sobre o controle de doenças.
Os microorganismos presentes nesses produtos formam uma camada protetora nas folhas, impedindo ou dificultando que bactérias e fungos causadores de doenças consigam penetrar nelas e se desenvolverem.

BIOFERTILIZANTES APLICADOS NAS FOLHAS NUTREM A PLANTA E PROTEGEM CONTRA DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS E BACTÉRIAS.

Para o controle de outras doenças radiculares, tais como as murchas de Fusarium, Rhizoctonia e Verticillium, temos à disposição um fungo já mencionado, o Trichoderma, encontrado naturalmente em solos com alto teor de matéria orgânica.
Há no mercado diversos produtos comerciais à base de Trichoderma, mas nem todos têm a mesma eficiência para o controle de cada doença, uma vez que, no controle biológico, a interação entre os microrganismos é específica.
O fato é que o produtor pode utilizar com vantagem o Trichoderma no transplante, e em qualquer fase seguinte, caso apareça alguma dessas doenças radiculares, sempre com aplicações no solo.
O Trichoderma tem uma ação direta no combate a esses patógenos pela competição por espaço, e indireta como estimulador do enraizamento, ou seja, estimula a planta a emitir raízes novas, favorecendo sua sobrevivência.

8.2 - CONTROLE DE ÁCARO RAJADO

Para controle do ácaro rajado, o mais eficiente é o uso de controle biológico, com o uso do ácaro
predador Neoseiuluscalifornicus, que tem notável capacidade de se alimentar de outros ácaros, como o ácaro rajado, assim como de ovos, ninfas, larvas e adultos de outros ácaros.
Recomenda-se que a liberação do ácaro predador ocorra no início da infestação do ácaro praga, com a liberação de pelo menos 20.000 ácaros predadores por hectare. As liberações são feitas diretamente sobre as folhas da cultura com o produto comercial.

O CONTROLE BIOLÓGICO É O MEIO MAIS EFICIENTE PARA CONTROLAR O ÁCARO RAJADO.

Quando a infestação está elevada, já com teias, deve-se fazer o controle com fungos (boveria + metarrizium) ou outro produto para reduzir a população. Antes desse controle, deve-se fazer uma pulverização com detergente (coco ou neutro, 2,5ml/L) para eliminar as teias, deixando a praga desprotegida e, em seguida, aplicar o ácaro predador.
Produtos à base de sílica, também podem ser utilizados para o controle do ácaro, pois endurecem a folha e com isso dificulta a alimentação do ácaro praga. No entanto, a sílica deve ser usada com moderação, pois reduz o desenvolvimento da planta. 
O óleo de Neem deve ser evitado no controle de pragas no cultivo do morangueiro orgânico, embora seja um potente inseticida para o controle do ácaro rajado, por exemplo. Infelizmente, esse produto é um inseticida não seletivo, ou seja, mata tanto as pragas quanto os insetos que realizam o controle biológico no cultivo orgânico, como o ácaro predador. Recomenda-se, portanto, que o óleo de Neem seja usado com moderação e na dosagem indicada pelo fabricante, e somente nas reboleiras onde a população de ácaro rajado estiver muito alta, e seja evitada a aplicação na área total, para evitar o seu desequilibro.

8.3 - CONTROLE DE INSETOS

No cultivo orgânico de morango podemos ainda utilizar placas ou faixas adesivas coloridas para o monitoramento e controle de insetos. A cor amarela é sabidamente atrativa para alguns insetos, como por exemplo: pulgões, mosca branca e mosca da larva minadora (bicho mineiro, Liriomyza), assim como a cor azul é atrativa para o trips. Vale ressaltar que a ocorrência de pulgões é um sinal de desequilíbrio nutricional (excesso de nitrogênio). Por isso, reveja a adubação feita ou que esteja sendo feita na cultura.
Além da placa ou faixa adesiva na cor amarela, os pulgões podem ser controlados com o polvilhamento de cinzas, na fase inicial da infestação, ou por meio da pulverização de cinza e cal, cada um na concentração de 2% (20 g por litro de água).
Outros preparados repelentes também são eficientes, como as caldas de pimenta e alho, e o chá de arruda, isso sem falar no uso do Neem.
A calda sulfocálcica (2 kg de enxofre + 1 kg de cal virgem para preparar 10 litros da calda) é outra importante ferramenta no controle de pragas no cultivo do morango orgânico. Na concentração de 0,5%, a calda sulfocálcica controla o trips, que ataca as flores e causam danos no receptáculo floral, levando à formação de frutos deformados.

8.4 - CONTROLE DE NEMATOIDES

Para o controle de nematoides, em especial dos formadores de galha em solos onde o teor de matéria orgânica ainda é baixo (inferior a 20 g/dm3) e a rotação com adubos verde ainda não esteja fazendo esse controle, existem alguns fungos comerciais eficientes. Tanto o Trichoderma harzianum quanto o Paecilomyces lilacinus atuam no controle de nematoides. Via de regra esses agentes de controle biológico são aplicados no momento do transplante.
Para informações adicionais sobre os produtos para controle biológico, sugere-se consultar o site dos fabricantes desses produtos.
Onde são abordados, em detalhes, vários aspectos relevantes para o planejamento da produção de morango, além de diversas técnicas que se aplicam à produção orgânica.



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