O pessegueiro desenvolve-se bem em solos profundos, permeáveis e bem drenados. As raízes necessitam de boa aeração para realizarem, adequadamente, suas atividades metabólicas. Por essa razão, boa drenagem é um dos principais aspectos a serem considerados ao escolher-se a área para instalação do pomar. Quando o subsolo é impermeável, geralmente por apresentar argilas expansivas (VERTISSOLO), pequena profundidade efetiva (NEOSSOLO LITÓLICO) ou mal drenagem (GLEISSOLO, ORGANOSSOLO, PLANOSSOLO, PLINTOSSOLO) as plantas podem, inicialmente, desenvolver-se bem, mas apresentarão problemas em estádios mais avançados, principalmente em anos secos ou chuvosos, tornando-se fracas, decadentes e, finalmente, morrendo. Áreas com subsolo impermeável, nas quais a água permaneça por mais de uma semana após chuvas pesadas, não são recomendadas para o cultivo dessa espécie. O acúmulo de água tem efeito drástico sobre a planta, principalmente no início da brotação e durante a estação de crescimento. Da mesma forma, durante o período de dormência, as raízes não toleram solos com déficit de oxigênio, causado por excesso de água durante períodos muito longos. Outro aspecto a ser observado, ao avaliar-se a aptidão do solo, é o nível das águas freáticas. Não é recomendado o plantio em solos onde esse nível permaneça a menos de 25 cm da superfície por mais de uma semana. Pontos úmidos, próximos às canhadas ou em partes mais baixas, devem ser drenados.
Quanto à textura, têm-se, como ideais, solos de textura média, com equilíbrio entre as frações de areia, silte e argila. A argila deve situar-se em torno de 20% a 35%. Quando presente em grandes quantidades, dependendo do tipo, dificulta a permeabilidade e torna os solos difíceis de serem trabalhados. Há, entretanto, uma exceção, quando os solos, embora com teores elevados de argila (até 70% a 75%), são profundos e têm boa estrutura física, apresentando-se com boa drenagem interna.
Um solo que permita o crescimento das raízes até um metro de profundidade propicia a formação de árvores maiores, mais produtivas e de maior longevidade.
O pH mais favorável situa-se ao redor de 6,0, mas o pessegueiro tolera solos dentro de uma faixa mais ampla. Os melhores índices de produtividade, entretanto, têm sido obtidos com valor próximo ao preconizado.
A presença de matéria orgânica exerce importância considerável, por manter a disponibilidade dos nutrientes, melhorar a estrutura do solo e aumentar a infiltração da água no solo.
A fertilidade do solo é, relativamente, menos importante que as suas características físicas. Convém, sempre, lembrar que a fertilidade pode ser corrigida, enquanto as características físicas dificilmente podem ser modificadas.
Recomenda-se não plantar em solos erodidos, ou em locais onde, anteriormente, tenha sido cultivado o pessegueiro: os compostos tóxicos emanados pelas raízes das plantas do cultivo anterior impedem o crescimento ou causam a morte das plantas novas.
O clima possui forte influência sobre a cultura do pessegueiro, sendo importante na definição das potencialidades de cultivo das regiões. Ele interage com os demais componentes do meio natural, em particular com o solo, a variedade e as técnicas de cultivo aplicadas à cultura.
Devem-se considerar três conceitos para diferenciar escalas climáticas (Carbonneau, 1984), de interesse em culturas:
Macroclima, ou clima regional, que corresponde ao clima médio ocorrente num território relativamente vasto, exigindo, para sua caracterização, dados de um conjunto de postos meteorológicos; em zonas com relevo acentuado os dados macroclimáticos possuem um valor apenas relativo, especialmente em matéria agrícola. Inversamente, um mesmo macroclima poderá englobar áreas de planície muito extensas.
Mesoclima, ou clima local, que corresponde a uma situação particular do macroclima. Normalmente é possível caracterizar um mesoclima através dos dados de uma estação meteorológica, permitindo avaliar as possibilidades para o cultivo do pessegueiro. A superfície abrangida por um mesoclima pode ser muito variável mas, normalmente, trata-se de áreas relativamente pequenas, podendo fazer referência a situações bastante particulares do ponto de vista de exposição, declividade ou altitude, por exemplo. Muitas vezes o termo topoclima é utilizado para designar um mesoclima, onde a orografia constitui um dos critérios principais de caracterização climática, como por exemplo, o clima de um vale ou de uma encosta de montanha.
Microclima, que corresponde às condições climáticas de uma superfície realmente pequena. Pode-se considerar dois tipos de microclima: microclima natural - que corresponde a superfícies da ordem de 10 e 100 m; e microclima da planta - o qual é caracterizado por variáveis climáticas medidas por aparelhos instalados na própria planta. O termo genérico bioclima é utilizado para essa escala, que visa o estudo do meio natural e das técnicas de cultivo.
A influência do clima, considerando os principais elementos meteorológicos e fatores geográficos do mesmo sobre a cultura do pessegueiro, é descrita a seguir, em particular nas escalas macro e mesoclimáticas.
Elementos meteorológicos do clima
Temperatura: A temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a cultura do pessegueiro, variáveis em função das diferentes fases do ciclo vegetativo ou de repouso da planta.
Temperaturas de inverno: as temperaturas de inverno são importantes para a fase de repouso do pessegueiro, conhecida como dormência. As temperaturas nessa fase são decisivas para completar a formação das gemas vegetativas e floríferas, bem como para o estímulo à planta para iniciar o ciclo vegetativo. Nessa fase, utiliza-se como indicador térmico o número de horas de frio abaixo de 7,2 ºC ocorrido no período. É importante observar que cada cultivar apresenta uma necessidade de frio invernal, podendo variar de pouco exigentes a exigentes. Boa parte das cultivares necessitam de 600 a 1000 horas, enquanto que outras exigem menos de 100 horas. Pelas características climáticas da Serra Gaúcha, algumas cultivares e alguns anos podem apresentar problemas de florescimento e brotação desuniformes e insuficientes (erratismo).
Temperaturas de primavera: um sério risco ao cultivo do pessegueiro na Serra Gaúcha está na possibilidade de ocorrências de geadas no final do inverno, bem como daquelas mais tardias já na primavera. Os riscos ocorrem a partir da planta ter iniciado o inchamento das gemas, na floração ou na primeira fase de desenvolvimento do fruto.
Temperaturas de verão: os melhores padrões de qualidade do pêssego (concentração de açúcar e coloração adequada), são encontrados em áreas de temperaturas de verão, em particular no período de pré-colheita, relativamente altas, sem serem excessivas, combinadas com temperaturas amenas à noite.
Insolação e Radiação Solar: A insolação e a radiação solar são fatores climáticos importantes nos processos de desenvolvimento e maturação dos frutos.
Ambos os fatores são maiores no período de verão, pelo fato dos dias serem mais longos e pela menor freqüência de chuvas e menor número de dias encobertos. A insolação também está atrelada às coordenadas geográficas pois, em latitudes maiores, os dias de verão são maiores e, consequentemente, maior o período de radiação solar e maior o potencial de insolação.
A coloração e o tamanho são fatores determinantes da qualidade dos frutos de caroço, sendo também influenciados pela radiação solar. São características que o consumidor leva em consideração no momento da escolha do produto. Diversas técnicas culturais são empregadas para melhorar essas características, tais como: raleio manual ou químico, incisão anelar de ramos, poda verde e aplicações de fitorreguladores. Algumas dessas técnicas facilitam o desenvolvimento dos frutos e a penetração da radiação no dossel.
Dentre os índices de qualidade de fruta influenciados por luz, destacam-se o tamanho da fruta, a firmeza, a concentração de sólidos solúveis, a acidez e a cor da epiderme.
Normalmente a quantidade da luz interceptada pela fruta está em função da posição desta na copa. O tamanho das árvores, espaçamento, orientação da fila, forma da copa e tipo de sistema adotado influencia na distribuição da luz no interior das plantas. Frutas que recebem pouca luz desenvolvem maior intensidade de cor amarela, diminuindo assim a cor vermelha. Aumentando a exposição da fruta individual ao sol, há um aumento da absorbância de luz através da fruta, podendo aumentar a coloração vermelha.
Outros fatores que afetam a coloração dos frutos são a temperatura e o nível de umidade durante o último período de desenvolvimento da fruta. Geralmente, o tamanho final e a produção de cor vermelha serão afetadas negativamente pela falta de umidade no solo.
Pluviometria: A demanda hídrica do pessegueiro é variável em função das diferentes fases do ciclo vegetativo da planta. Durante o desenvolvimento das plantas, não somente a quantidade de chuvas, mas a intensidade e o número de dias ou de horas em que ela ocorre são determinantes. Ainda, deve-se ter em conta eventuais perdas por escorrimento superficial ou percolação. Durante a primavera, as chuvas são importantes para o desenvolvimento da planta, porém podem favorecer o desenvolvimento de algumas doenças fúngicas da parte aérea.
O volume total de chuvas no Rio Grande do Sul é satisfatório, mas grande parte do Estado apresenta chuvas intermitentes, com grande irregularidade de distribuição ao longo do ano e, principalmente, entre os anos. Nos anos em que chove menos, em particular na metade sul do estado, os produtores podem ser descapitalizados pela baixa produção e pela obtenção de um produto de menor valor, com baixa qualidade, peso e diâmetro de frutos. Embora existam outros fatores climáticos e pedológicos que interferem no rendimento de frutos, a seca sempre foi o maior causador de frustração de safras no Brasil e no Mundo.
A maior parte dos pomares de frutíferas no Rio Grande do Sul localiza-se no Planalto Sul-rio-grandense e está instalada em solos degradados física e quimicamente. São geralmente rasos e com baixa capacidade de armazenamento de água. Em anos com deficiência hídrica na primavera, a produtividade é baixa e há uma grande proporção de frutos pequenos. Assim, para a obtenção de frutos de qualidade, com bom tamanho e rendimento, é necessário o uso de irrigação complementar.
A região com o maior volume de chuvas no Rio Grande do Sul é a Serra Gaúcha, a qual oferece uma barreira física à entrada de frentes frias. Predominam zonas de altitude, com temperaturas amenas na primavera e no verão, que contribuem para reduzir as perdas de água do solo. Dificilmente ocorre déficit hídrico, exceto em anos mais secos e onde os solos são mais rasos. Essa situação muda gradativamente da Serra Gaúcha para a Fronteira Oeste, onde chove menos e as temperaturas geralmente são mais altas, às quais induzem a uma maior perda de água do solo por evaporação e pela transpiração das plantas.
A média de chuva na Serra Gaúcha é da ordem de 1700 mm acumulados anualmente, com déficit hídrico acumulado inferior a 10 mm na primavera e no verão.
Do ponto de vista hídrico, além dos elementos meteorológicos referidos, é importante salientar a importância da reserva hídrica do solo. Essa é uma função da capacidade de retenção de água do solo, do aporte de água pela chuva e irrigação, das perdas por escorrimento superficial e por percolação, e da evapotranspiração, que inclui a transpiração do pessegueiro e a evaporação do solo. As condições de disponibilidade hídrica do solo para o pessegueiro, nas diferentes fases da planta, são relevantes para o desenvolvimento vegetativo e para a qualidade da fruta destinada ao consumo in natura.
Cabe destacar que a ocorrência de granizo é um fenômeno prejudicial ao cultivo do pessegueiro, onde os maiores danos são causados durante o período do ciclo vegetativo, que vai da brotação à colheita.
Ventos: Ventos fortes podem causar danos à vegetação, inclusive com a quebra das pernadas. A propagação de doenças, em particular as bacterianas, também é incrementada pela ocorrência de ventos fortes.
Fatores geográficos do clima
Dentre os fatores geográficos do clima, a latitude é importante na definição das áreas de cultivo do pessegueiro no mundo. A latitude implica em efeito sobre a temperatura do ar, a qual diminui a partir do Equador à medida em que aumenta a latitude em direção aos Pólos. A Serra Gaúcha está situada em médias latitudes.
Quanto à altitude, o efeito mais importante para o cultivo do pessegueiro é determinado pelo efeito térmico, já que 100 metros de elevação representam uma diminuição ao redor de 0,6 ºC na temperatura média do ar.
Com relação ao relevo, a exposição e a declividade possibilitam a seleção de áreas para o cultivo do pessegueiro em um mesoclima particular. É o caso das encostas que privilegiam boa exposição solar, a qual possibilita colheitas com melhor qualidade, em áreas menos sujeitas à ocorrência de geadas. Nessa seleção de áreas também deve privilegiar-se os locais melhor protegidos da ocorrência de ventos frios e/ou fortes, o que auxilia no controle de doenças bacterianas e na redução de danos mecânicos à vegetação.
As condições de declividade do terreno vão definir, juntamente com a exposição, a incidência de maior ou menor insolação. Situações de alta declividade do terreno não são recomendadas, seja pelos riscos de erosão, seja pela dificuldade de mecanização. Da mesma forma, áreas com elevado risco de geadas durante o período vegetativo devem ser evitadas.
Modelos de brotação para o pessegueiro
A dormência é a suspensão temporária do crescimento visível de estruturas das plantas contendo um meristema. Esse período vai desde a paralisação do crescimento, no fim do verão, até o inicio da brotação, na primavera seguinte a dormência de uma gema é a última etapa de uma cascata de inibições correlativas na qual a fonte está cada vez mais próxima dela mesma.
O frio é considerado o principal fator exógeno para a indução à saída da dormência em gemas de espécies de frutíferas nas regiões temperadas.
A região sul do Brasil, apesar de ser de clima subtropical com algumas localidades temperadas, como é o caso da Serra Gaúcha, apresenta grandes variações entre anos, com invernos amenos, o que tem dificultado a adaptação de espécies e cultivares oriundas de regiões com invernos bem definidos, pois as mesmas geralmente apresentam respostas fisiológicas indesejáveis.
A dormência das frutíferas caducifólias, como o pessegueiro, em zonas de clima temperado envolve três estágios: paradormência, endodormência e ecodormência (Lang, 1987). A endodormência é induzida e eliminada pelo efeito de baixas temperaturas durante o inverno. Portanto, é importante conhecer-se a duração de tal fase, para poder intervir, quando ocorre insuficiência de frio, com algumas práticas como no caso do uso de substâncias químicas para induzir a brotação.
O efeito de baixas temperaturas em plantas frutíferas tem sido estudado por um grande número de pesquisadores. foi quem primeiro propôs um modelo para estimar a floração em pessegueiro. O autor baseou-se no efeito de temperaturas inferiores a 7,2ºC, como as mais eficientes para eliminar a endodormência de um grande número de cultivares de pessegueiro. O método consiste na contabilização de horas em que a temperatura permanece abaixo desse patamar, durante o período de repouso das frutíferas, sendo que cada cultivar necessita acumular um determinado número de horas abaixo desse nível, para satisfazer a necessidade de frio. O modelo tornou-se o mais difundido e utilizado pela simplicidade de cálculo.
Outros modelos foram propostos nestes últimos trinta anos, ressaltando o efeito de outros níveis de temperatura. Por exemplo verificaram que as temperaturas de 3 e 10ºC tem a metade da eficiência comparada à de 6ºC, na eliminação da dormência em pessegueiro. Mais tarde propuseram um modelo de Unidades de Frio (UF), onde cada temperatura tem efeito diferente na eliminação da dormência, podendo ser até mesmo negativo, quando a temperatura ultrapassa um determinado patamar.
Características econômicas e sociais da produção de pêssego no Rio Grande do Sul
O pessegueiro é uma espécie nativa da China, com registros que remontam a 20 séculos a C.. Estudos indicam que, provavelmente, teria sido levado da China para a Pérsia e de lá se espalhado pela Europa. No Brasil, segundo relatos históricos, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por Martim Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas em São Vicente (no atual estado de São Paulo).
Segundo dados da FAO (1998), a produção mundial de pêssegos é de aproximadamente 11 milhões de toneladas, sendo os principais produtores a China, a Itália, os EUA e a Espanha. Embora sendo o maior produtor mundial, a China não figura na relação dos países exportadores, o que provavelmente se deve ao grande consumo interno. Ainda com base nessas mesmas estatísticas, na América do Sul, o Chile e a Argentina aparecem na oitava e nona posição, respectivamente, com produção de aproximadamente 280 mil toneladas/ano e o Brasil na 13º, com uma produção anual de 146 mil toneladas.
Segundo o IBGE, no período entre 1970-1999, a produção brasileira de pêssego passou de 111 para 159 mil toneladas/ano, assim distribuídas entre os estados produtores: Rio Grande do Sul: 42%, São Paulo: 22%, Santa Catarina: 19%, Paraná: 11%, Minas Gerais: 5% e os demais estados: 1%. A área de pomares de pessegueiros, segundo essa mesma estatística, passou de 16,6 para 20,7 mil hectares, assim distribuídos: Rio Grande do Sul (51%), Santa Catarina (20%), São Paulo (15%), Paraná (9%), Minas Gerais (4%) e os outros estados (1%). Levantamentos mais recentes, efetuados pela Embrapa Clima Temperado, indicam que, no Rio Grande do Sul, nesse mesmo período, foram agregados mais de 5 mil ha de pomares, sendo que dois deles já se encontram em produção, embora ainda não incorporados às estatísticas oficiais.
Estimando-se, a partir dos dados acima, a produtividade média de cada estado produtor, verifica-se uma disparidade significativa pois, enquanto o maior estado produtor, o Rio Grande do Sul, apresenta uma produtividade de 6,4 ton./ha e Santa Catarina, também tradicional produtor, 7,2 ton./ha, nos estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo a produtividade é de 9,2; 10,6 e 10,7 ton./ha, respectivamente. Esse fato, provavelmente, está relacionado ao nível tecnológico empregado e à idade média dos pomares nas regiões tradicionais.
No Brasil, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm as melhores condições naturais para o produção comercial do pêssego. É possível, no entanto, produzi-lo em outros estados com cultivares menos exigentes de frio ou em estações microclimáticas adequadas às exigências mínimas viáveis, técnica e economicamente.
No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, é possível se encontrar plantas de pessegueiro em todas as regiões. Entretanto, a produção comercial está concentrada em três pólos que, juntos, segundo a Embrapa Clima Temperado, somam cerca de 13 mil hectares de pomares.
O primeiro dos três pólos mais importantes localiza-se na chamada "Metade Sul" do estado, que compreende 29 municípios e concentra mais de 90% da produção destinada ao processamento industrial de diversas formas, com destaque para a compota. Anualmente são produzidas, em média, 40 milhões de latas de 1kg de compota destinadas ao mercado interno. Mesmo com um consumo per capita de apenas 0,25 kg, o país tem importado anualmente cerca de 20 milhões de latas da Grécia, Espanha, Argentina e Chile. Entretanto, como resultado das taxações impostas pelo governo às importações, a partir de 1999 houve redução de cerca de 50% dessas importações, beneficiando e protegendo a cadeia produtiva.
Essa atividade, em expansão em todo o estado do Rio Grande do Sul, em função do apoio do Governo Federal com programas de financiamento a fundo perdido, tem-se apresentado como uma ótima alternativa aos agricultores da região (Metade Sul). Segundo Madail et al (2002), o sistema de produção atualmente adotado pelos agricultores de base familiar apresenta uma Taxa Interna de Retorno - TIR de 43,9% e o sistema empresarial 38%. Esses valores são superiores às taxas de juros no mercado financeiro ou qualquer outro ativo especulativo.
O segundo pólo, localizado na Grande Porto Alegre, é composto por nove municípios e produz, em média, segundo João et al (2001), 4.800 toneladas de pêssegos para o consumo in natura numa área de 312 ha, o que representa uma produtividade média de cerca de 15 toneladas/ha. Trata-se de uma região que apresenta uma importante vantagem competitiva, já que está próxima do principal mercado consumidor do estado (Grande Porto Alegre).
O terceiro pólo está localizado na Encosta Superior do Nordeste, na região também conhecida como Serra Gaúcha, mais especificamente nos municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê, Pinto Bandeira e Campestre da Serra. Na safra 2000/2001, a região produziu cerca de 46 mil toneladas de pêssego que, na sua totalidade, são destinadas ao mercado de consumo in natura, numa área de aproximadamente 3.200 ha, o que representa uma produtividade superior a 14 toneladas/ha.
Por se tratar de uma região produtora de frutas tradicional, com ênfase especial na viticultura, a ascensão do pêssego passa a ter, na seqüência, uma abordagem mais detalhada nos seus aspectos técnicos e econômicos.
A produção de pêssegos na Região da Serra Gaúcha
Esse pólo produtor de pêssego ocupa uma área de aproximadamente 3.200 hectares, envolve cerca de 1.860 famílias que exploram a atividade em pequenas áreas, que atingem, em média, 2 hectares.
A cultura de frutas de caroço é de grande importância econômica e social para essa região, pois com uma estrutura fundiária baseada em minifúndios e com disponibilidade de mão-de-obra familiar, esses produtores encontram na fruticultura uma ótima alternativa de diversificação da matriz produtiva, absorção da mão-de-obra familiar e geração de renda em pequenas áreas. Segundo pesquisa realizada pela Embrapa Uva e Vinho, no período entre 1985 e 1997, a contribuição da cultura do pessegueiro na formação do valor bruto da produção desses estabelecimentos evoluiu de cerca de R$ 62,20 para R$ 1.023,06 (valores deflacionados), o que equivale a um aumento de cerca de 1.600%. Entretanto, paralelamente ao crescimento da área e volume de produção, começaram a surgir os problemas tecnológicos e logísticos, típicos dos pólos produtores.
As cultivares de pêssego produzidas na região são todas de polpa branca, com destaque para a cultivar Chiripá, que representa 50%, e Marli, com 40% da área total em produção. Desse fato, surge uma característica marcante e limitante à competitividade desse pólo produtor que é a concentração da época de safra dessas duas cultivares, que ocorre entre meados de dezembro e meados de janeiro, num período de aproximadamente 25 dias. Essa concentração da produção, dada a precária estrutura de logística existente na região, principalmente na capacidade de armazenagem em câmaras frias, transforma-se, por um lado, em excesso de oferta que avilta os preços em nível do produtor e, por outro lado, provoca a queda da qualidade de grande parte do produto em nível do consumidor, já que as cultivares produzidas também apresentam problemas de perecibilidade, estimando-se que mantenham a qualidade para o consumo por, no máximo, 25 dias em boas condições de armazenamento e maturação das frutas.
Entretanto, os fatores de ordem tecnológica relacionados às cultivares de pêssego cultivadas comercialmente na região (Chiripá e Marli), não se limitam às questões da concentração da oferta e perecibilidade. Por serem de ciclo tardio, sofrem intensos ataques de pragas na fase de maturação, exigindo, conseqüentemente, ações de controle que, em muitos casos, são feitas através da intervenção com produtos químicos, o que, além dos aspectos ambientais e de saúde dos produtores, tem um impacto significativo nos custos de produção.
Esses, entre outros, são fatores que tem dificultado maiores avanços no esforço desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho no sentido de desenvolver um sistema de produção integrada de pêssego para a Região da Serra Gaúcha e que evidenciam a necessidade de uma elevação no patamar tecnológico disponível, a iniciar pela criação ou adaptação de cultivares às condições edafoclimáticas da região. Entretanto, a este esforço da pesquisa deverão ser agregados outros relativos à assistência técnica, políticas creditícias para custeio e investimentos na produção e em estruturas de logística, a partir do que, provavelmente, se estará criando as condições para uma maior organização dos produtores envolvidos com a cultura do pêssego na Serra Gaúcha.