terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Doenças da Goiabeira

 

Controle de Doenças

Entre as doenças que afetam a cultura da goiaba no Brasil, as mais importantes sob o aspecto econômico são: antracnose, ferrugem, antracnose-maculata, bacteriose e meloidoginose.

Antracnose ou mancha-chocolate (Colletotrichum gloeosporioides; Fase sexuada Glomerella cingulata)

Esta doença pode causar sérios prejuízos em pomares mal conduzidos, adensados e manejados inadequadamente. Os principais danos ocorrem no florescimento, principalmente em frutos protegidos com saco de papel ou plástico em campo, e também em pós-colheita. Os sintomas podem surgir em qualquer fase de desenvolvimento da planta. Manchas escuras, ligeiramente circulares, são observadas em folhas, ramos novos, flores e frutos (Figura 5). Essas lesões aumentam de tamanho, coalescem e tornam-se deprimidas, resultando em extensas áreas necrosadas.

 

 

Figura 5. Manchas deprimidas em goiaba, causadas por Colletotrichum gloeosporioides.

A penetração do fungo por meio do botão floral ocasiona o surgimento de podridão a partir do pedúnculo, podendo atingir todo o fruto, que fica escurecido e mumificado. Na fase de maturação dos frutos, principalmente na pós-colheita, podem ser observadas pequenas lesões que, posteriormente, podem ocasionar a podridão de todo o fruto.

A dispersão do fungo, por meio de conídios, é favorecida em períodos chuvosos. A penetração do fungo na planta pode ser direta ou por meio de danos mecânicos, principalmente nos frutos. Elas podem ser resultantes do manuseio ou causadas por insetos. Em geral, as infecções em frutos permanecem quiescentes até a colheita. Entretanto, durante o amadurecimento, o fungo desenvolve-se no fruto, acarretando perdas significativas durante o armazenamento.

Em períodos chuvosos e sob temperaturas entre 25 ºC e 30 ºC (SOARES et al., 2008), a infecção pode ser muito severa, principalmente durante o desenvolvimento vegetativo da planta, a floração e a maturação dos frutos.

Para controlar a doença, recomenda-se: adotar espaçamentos entre plantas que favoreçam o arejamento; realizar análise de solo e executar as adubações segundo as recomendações, evitando o excesso de adubos nitrogenados; podar a planta visando manter a copa aberta para reduzir a umidade, para aumentar a insolação e para propiciar a penetração de fungicidas; evitar cobrir os frutos com sacos de papel ou plástico; podar e queimar ramos doentes ou infestados por pragas e frutos mumificados; aplicar fungicidas cúpricos, preventivamente, visando reduzir a infecção e o potencial de inóculo do fungo na área. Essas pulverizações devem ser feitas até que os frutos atinjam o diâmetro de 3 cm, a partir do qual o cobre produz sintomas de fitotoxidez.

Ferrugem (Puccinia psidii)

é uma das principais doenças da goiabeira, principalmente quando em temperaturas e umidade relativa favoráveis ao desenvolvimento de infecções. Pode afetar plantas em qualquer estádio de desenvolvimento.

O fungo é nativo da América do Sul e pode infectar outras plantas da família da goiaba, tais como jabuticabeira, eucalipto, jambeiro, araçazeiro e pitangueira. Os sintomas surgem em folhas, frutos, gemas e flores, na forma de pontuações escurecidas e arredondadas. Pústulas que correspondem às massas de esporos de coloração amarelo-laranja (urediniósporos) surgem na face inferior das folhas e em ramos, botões florais e frutos (Figura 6). Com o desenvolvimento da infecção, as lesões aumentam de tamanho, resultando em extensas áreas lesionadas de aspecto corticoso.

Em frutos, os danos podem ser mais severos e as lesões são enegrecidas, porém, a polpa não é atingida.

 

Figura 6. Sintomas da ferrugem em frutos de goiabeira, caracterizados pela presença de lesões e massas pulverulentas de urediniósporos.

A dispersão do fungo ocorre, principalmente, por meio dos urediniósporos levados pelo vento e que podem provocar novas infecções em contato com tecidos jovens da planta. É essencial, para que ocorra a infecção, um período de escuro, umidade relativa maior ou igual a 90% e temperaturas entre 18 ºC e 25 ºC por 6 a 8 horas. Dessa maneira, vários surtos da doença podem ocorrer em um mesmo ano.

As recomendações para o manejo da doença consistem na utilização de práticas culturais e no controle químico, conforme se segue:

• Plantar cultivares resistentes à ferrugem (as cv. Paluma e Rica são consideradas tolerantes, enquanto as cv. Riverside Vermelha e Guanabara são moderadamente resistentes) (PICCININ et al., 2005).

• Proceder à análise de solo e adubar as plantas seguindo as recomendações e evitando utilizar adubos nitrogenados em excesso.

• Aumentar o espaçamento entre plantas e podá-las, visando favorecer o arejamento, a insolação e a penetração de fungicidas.

• Eliminar plantas da família Myrtaceae, hospedeiras do fungo, dentro e em áreas próximas ao pomar.

O controle químico deve ser feito apenas utilizando-se fungicidas registrados para a doença na cultura (Tabela 2), que devem ser aplicados segundo resultados de monitoramento. Esse controle deve ser feito desde a brotação até o momento em que os frutos ostentarem um diâmetro menor ou igual a 3 cm, 30 e 180 dias depois da poda, respectivamente (VENTURA; COSTA, 2003).

Os fungicidas cúpricos podem causar manchas quando aplicados em frutos com diâmetro superior a 3 cm.

Verrugose ou antracnose-maculada (Sphaceloma psidii)

A doença foi, inicialmente, identificada no Estado de São Paulo. A verrugose afeta plantas em qualquer fase de desenvolvimento.

Botões florais e frutos exibem lesões como resultado das infecções causadas pelo fungo, podendo ficar deformados no caso de severa infecção, quando os frutos ficam inviáveis para a comercialização. Em folhas, observa-se uma variação de sintomas, segundo a cultivar de goiaba afetada. Esses variam desde pequenas manchas até grandes lesões, distribuídas de maneira esparsa no limbo foliar.

As medidas de manejo da verrugose são: promover um bom arejamento do pomar, pela realização de medidas culturais como as podas de limpeza, e aplicar fungicidas para o controle da doença (Tabela 2).

Bacteriose (Erwinia psidii)

A seca-bacteriana ou seca-dos-ponteiros é uma doença de difícil controle e que se dissemina rapidamente no pomar.

Foi relatada, inicialmente, no Estado de São Paulo e, posteriormente, em Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Paraná e Rio e Janeiro. Perdas de até 70% na produção já foram registradas em pomares de Minas Gerais (ROMEIRO et al., 1994).

As plantas apresentam murcha rápida em brotações jovens e as folhas ficam avermelhadas.

Observa-se, também, escurecimento das folhas e dos ramos do ponteiro.

A infecção fica limitada aos ponteiros, não progredindo para os ramos mais velhos.

Folhas e frutos dos ramos afetados secam, mas ficam aderidos aos ramos secos. Flores e frutos novos infectados ficam enegrecidos, mumificados e também aderidos à planta

(Figuras 7A e 7B). Em corte longitudinal dos ramos afetados, observa-se descoloração dos vasos, além de exsudação de pus bacteriano. Plantas afetadas pela doença não morrem, entretanto, os danos causados são bastante significativos, considerando que a doença afeta a capacidade produtiva da planta.

 

Figura 7. Necrose em brotações jovens (A) e frutos mumificados (B) de goiabeiras infectadas pela bactéria Erwinia psidii

A bactéria penetra na planta através de aberturas naturais nos botões florais, de danos mecânicos e de ferimentos causados por insetos. O desenvolvimento da bactéria é favorecido por temperaturas de 18 ºC a 25 ºC e alta umidade relativa. As chuvas e a água de irrigação propiciam a disseminação da doença em viveiros ou dentro da área do pomar, enquanto o material propagativo e mudas infectadas são os meios de disseminação da doença a longas distâncias.

A infecção das mudas ocorre, principalmente, pela utilização de material propagativo contaminado nos processos de enxertia.

As medidas recomendadas para o controle da doença baseiam-se nos seguintes procedimentos:

• Adquirir mudas sadias em viveiros credenciados e que apresentem Certificado Fitossanitário de Origem.

• Evitar a aquisição de material propagativo de locais ou regiões de ocorrência da doença.

• Plantar cultivares mais tolerantes à doença, como aquelas de polpa branca, que são mais tolerantes que as de polpa vermelha (RIBEIRO et al., 1985).

• Fazer a análise de solo e a adubação segundo as recomendações.

• Evitar aplicar adubo nitrogenado em excesso.

• Estabelecer quebra-ventos em volta do pomar.

• Irrigar as plantas com água de boa qualidade.

• Desinfestar tesouras de poda em solução de hipoclorito de sódio (1:3) ou amônia quaternária.

• Podar ramos sintomáticos e/ou infestados com pragas e frutos mumificados.

• Podar as plantas nas horas mais quentes do dia, e apenas quando não estiverem expostas ao orvalho ou molhadas.

• Controlar o adensamento e propiciar o arejamento da copa, por meio das podas.

• Queimar o material resultante das podas em local distante da área de plantio.

A murcha-bacteriana causada pela bactéria Ralstonia solanacearum (= Pseudomonassolanacearum) foi identificada apenas em pomares de goiaba do Estado de São Paulo, em 1979. Em condições climáticas favoráveis à doença, plantas afetadas exibem lesões encharcadas nos ramos e enrolamento, amarelecimento e murcha nas folhas.

A doença é causada pela bactéria R.solanacearum.

Ela apresenta sintomas característicos, que podem ser observados por meio de um corte longitudinal nos ramos. A descoloração vascular ou o escurecimento dos vasos é um desses sintomas. Outro sinal característico da presença da bactéria nas plantas afetadas é a exsudação de pus bacteriano.

Alguns cuidados devem ser tomados no controle da doença: a) utilizar apenas plantas matrizes sadias na produção de material propagativo para a preparação de mudas, evitando, assim, a introdução da doença em áreas não infestadas; e b) utilizar solo apropriado e água de irrigação de qualidade, para evitar a contaminação de mudas produzidas em viveiros.

Nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.)

Até 2001, as únicas espécies de Meloidogyne identificadas em goiabeira eram M. incognita, M. arenaria, M. hapla e M. javanica. Naquele ano, porém, M. mayaguensis Rammah & Hirschmann foi detectado em goiabeiras sintomáticas (CARNEIRO et al., 2001). Atualmente, encontra-se disseminado em pomares de diversos estados brasileiros, sendo considerado agente limitante à produção. Os nematoides-das-galhas provocam engrossamento ou formação de galhas nas raízes das plantas afetadas, podendo destruir as camadas superficiais das raízes mais grossas (Figuras 8A, B, C). Seu ataque causa drástica redução no volume de raízes finas responsáveis pela absorção de água e nutrientes, acarretando o bronzeamento dos bordos das folhas e o amarelecimento da parte aérea das plantas afetadas.

 

Figura 8. Sintomas de meloidoginose em plantas de goiabeira: (A) galhas em raízes de mudas; (B) amarelecimento na copa; e (C) aprodrecimento das camadas superficiais das raízes mais grossas em planta adulta.       

Observa-se também queda de folhas e, na maioria dos casos, declínio e morte das plantas; consequentemente, redução na produção e na qualidade dos frutos. As perdas podem ser de até 100%, e implicam aumento nos custos de produção por conta dos gastos com medidas de manejo da doença. Os frutos são menores e em número reduzido, tornando- se endurecidos e podendo amadurecer precocemente. A infecção de goiabeiras por M. mayaguensis tem sido responsável pela eliminação de diversos pomares.

As galhas, que são os sítios onde as fêmeas se alimentam, formam-se a partir da secreção de substâncias produzidas pelo patógeno, e que induzem o aumento do tamanho e do número de células das raízes.

Os nematoides-das-galhas são parasitas sedentários, pois as fêmeas adultas permanecem imóveis nos sítios de alimentação.

Dentro das galhas, os nematoides completam o seu ciclo de vida em cerca de 28 dias, no intervalo de temperatura de 25 ºC a 30 ºC.

Quando os nematoides são introduzidos numa área por meio de mudas infestadas, a morte das plantas pode ocorrer em cerca de um ano depois do transplantio. Entretanto, quando as plantas são infectadas depois da instalação do pomar, dependendo do nível populacional do nematoide no solo, esse período pode se estender a 4 ou 5 anos.

As estratégias de manejo da doença consistem na adoção de medidas que devem ser utilizadas de forma integrada. Adquirir mudas sadias, em viveiristas credenciados, e plantar em áreas não infestadas pelo nematoide são as medidas mais importantes na implantação de pomares, pois previnem a introdução e/ou o estabelecimento do patógeno na área de plantio. Sugerem-se também outras medidas, como: não transportar solo de áreas  infestadas para áreas sadias; estabelecer pomares em áreas com  boa drenagem; eliminar plantas com sintoma da doença, incluindo as raízes; fazer o manejo adequado da irrigação, da matéria orgânica e da fertilidade do solo.

No manejo de áreas infestadas, algumas práticas podem ser adotadas visando à redução da população do nematoide no solo, a saber:

• Pousio, que consiste em deixar uma área em repouso por um período de 1 a 12 meses.

• Alqueive, com a eliminação de toda a vegetação da área, com o propósito de eliminar as fontes de alimento dos nematoides e, assim, causar a sua morte.

• Inundação do solo, com o objetivo de induzir a morte dos nematoides pela redução dos teores de oxigênio e pelo aquecimento da água no solo.

• Cultivo de plantas-armadilha suscetíveis ao nematoide, seguido da destruição dessas plantas antes de os nematoides se desenvolverem e iniciarem a postura de ovos.

• Rotação de culturas com espécies de plantas não hospedeiras do nematoide.

Com relação ao controle químico, não há produtos registrados para o controle desse nematoide em goiabeira. Também não há cultivares de goiaba resistentes ao nematoide das galhas, entretanto, pesquisas conduzidas pela Embrapa têm indicado que

alguns acessos de araçazeiro têm potencial para serem utilizados como porta-enxerto de goiabeira, visando à resistência ao nematoide M. mayagensis.


 

 

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