domingo, 18 de março de 2018

Poda na Mangueira (Manga)


A poda na fruticultura é realizada com o objetivo de melhorar a sanidade das plantas, nas práticas culturais, produtividade, qualidade dos frutos e, também, permitir a condução da planta e adequar o formato da copa ao espaçamento escolhido para o pomar. A poda é importante porque melhora a aeração e a entrada de luz no interior da copa e por possibilitar a retirada de partes da planta atacadas por pragas e doenças. Com a poda, é possível, também, controlar a produção, podendo programar a colheita para períodos mais favoráveis à comercialização ou menos favoráveis à incidência de pragas.
Na decisão de uma poda, o vigor e a fertilidade devem ser considerados. O vigor varia em função da posição e inclinação de um ramo na planta; brotos verticais são principalmente lenhosos e não produtivos. Quanto mais severa for a poda de um ramo, maior será seu vigor na brotação. Por isso, a poda curta é indicada para ramos debilitados, e a longa para as vigorosas. A fertilidade está relacionada à tendência das plantas para produzirem flores e frutos, e varia entre cultivares da mesma espécie e entre indivíduos da mesma cultivar. Em geral, observa-se que quanto maior o vigor, menor a fertilidade dos ramos.
O manejo da copa da mangueira é feito pela prática de podas durante a formação do pomar, como também pelas anuais, realizadas durante a fase produtiva da planta (normalmente após a colheita). São práticas nas quais estão incluídas as atividades de limpeza e adequação da copa das plantas ao que foi planejado no estabelecimento do pomar. O material oriundo das podas, no caso de ramos que não tenham apresentado problemas fitossanitários, pode ser colocado nas ruas (entrelinhas do pomar), e depois de secos, serem triturados para uso como cobertura do solo (Figura 1).
Fotos: Mouco, M. A.


Figura 1. a) Restos de poda depositados nas ruas em pomar de mangueira (Mangifera indica L.) cv. Kent; b) como cobertura do solo.
As podas de formação são realizadas com o objetivo de orientar o crescimento dos ramos, quanto ao número, distribuição e tamanho das plantas que deve ser adequado à densidade escolhida para o pomar. Assim, significa formar uma planta com uma arquitetura caracterizada por uma copa com a parte interna aberta e um número adequado de ramos laterais produtivos. Essas características trazem vantagens como a maior iluminação e aeração da copa, facilidade nos tratamentos fitossanitários e obtenção de plantas menos vulneráveis aos ventos fortes.
A poda de formação proporciona à planta uma conformação compatível com o método de exploração e, pela redução do porte da árvore, facilita os tratos culturais, do solo, a proteção contra queimaduras do sol, além de facilitar a colheita dos frutos e possibilitar o aumento da densidade de plantio.                            
Para acelerar a maturação dos ramos das mangueiras, é necessário produzir uma estrutura bem ramificada, o que é possível por meio da poda de formação, despontando os brotos vegetativos no primeiro ou segundo entrenó. A poda de formação consiste em cinco a seis operações para formar uma planta com esqueleto equilibrado e robusto. A primeira poda é feita a uma altura de 60 cm a 80 cm do solo; o corte deve ser feito abaixo do nó, para induzir uma brotação em pontos alternados e proporcionar uma base da copa mais equilibrada. As podas sempre devem ser feitas em local com tecido já lignificado (maduro). Após a brotação, devem ser selecionados três ramos, que formarão a base da copa; os demais ramos devem ser eliminados. Os cortes deverão ser tratados com uma pasta à base de fungicida.
A partir da quarta poda, o corte deverá ser feito acima do nó, em tecido lignificado, quando devem ser selecionados três ramos direcionados para a parte externa da copa; os locais de corte e os ramos devem ser protegidos com tinta látex e fungicida. A poda acima do nó aumenta a possibilidade de brotação de novos ramos em posição adequada à floração, produção e qualidade de frutos, mas a decisão deve considerar, também, o vigor da variedade/planta. Essa fase é atingida pela planta entre 2,5 e 3 anos de idade.

Podas anuais ou de produção

As podas de produção referem-se às realizadas durante a fase produtiva da planta e normalmente são feitas depois da colheita. Nesta prática estão incluídas as atividades de limpeza, levantamento de copa, abertura central, equilíbrio, correção da arquitetura, além da poda lateral e de topo.
Poda de limpeza: Consiste na remoção dos ramos secos e doentes da planta, como também, daqueles com frutificação tardia, e dos restos de colheita. Deve ser realizada rigorosamente uma vez ao ano e tem como objetivos: eliminar material doente ou infectado, especialmente com Fusarium e Lasiodiploidia; obter material produtivo, ou seja, gemas apicais, homogêneas em idade e capacidade produtiva, para produção no ano seguinte, além de material bem localizado em relação à exposição ao sol (necessário para o amadurecimento das gemas e para o colorido dos frutos), como também, dispor de árvores mais baixas e com copa mais adequada aos diversos manejos. Quando a poda pós-colheita/limpeza não é feita, deve-se esperar a brotação espontânea da planta, o que pode atrasar ou inviabilizar a produção do ano seguinte.
Levantamento da copa: Consiste na eliminação dos ramos que estiverem até 0,70 m de altura do solo (Figura 2a). Essa operação ajuda no controle das ervas daninhas e na melhor distribuição da água de irrigação por aspersão; também evita a produção em ramos que possam expor os frutos ao contato com o solo (perda de qualidade).
Abertura central da planta (poda central de iluminação): A poda de abertura central da mangueira consiste em eliminar ramos que tenham um ângulo de inserção com o tronco menor que 45º (Figura 2b). Com isso, consegue-se uma maior iluminação na parte interna da copa. Os ramos de maior diâmetro da planta, que tenham uma parte direcionada para o sol poente, devem ser pincelados com uma solução de água: cal (1:2) logo após a poda, para se evitar rachaduras provocadas pelo sol.
Fotos: Mouco, M. A.



Figura 2. a) Práticas de levantamento de copa e, b) abertura central.
Poda lateral: É a poda que se efetua para manter um espaçamento adequado entre as fileiras de plantas e que vai permitir a passagem de máquinas e veículos, facilitando as pulverizações, tratos culturais, colheita, etc. É comum deixar que a rua entre plantas corresponda a 45% do espaçamento entre fileiras (Figura 3a). Exemplo: um espaçamento de 8 m x 5 m deve ter uma rua com largura de 3,6 m (45%).
Poda de topo: É a poda efetuada para manter a altura da planta num limite adequado à condução do pomar (Figura 3b). Normalmente, considera-se como ideal, uma altura máxima igual a 55% do espaçamento entre fileiras da planta, ou seja, num espaçamento de 8 m x 5 m, a altura máxima da planta deve ser de 4,4 m (55%).
Fotos: Mouco, M. A.



Figura 3. a) Poda lateral. b) poda de topo.
Poda de equilíbrio: É realizada em plantas que já estabilizaram a produção, com a finalidade de balancear o equilíbrio entre a produção de frutos e a folhagem. A estreita relação entre o incremento da folhagem e a produção de frutos, nos primeiros anos da mangueira, vai se modificando com os anos até o ponto em que os novos incrementos da folhagem não contribuem para aumentar a produção de frutos, podendo até comprometê-la. Essas perdas da eficiência produtiva da planta podem ser minimizadas por meio da poda da folhagem.
No primeiro ano, a poda da folhagem limita-se ao raleio de ramos que se localizam ao redor e no centro da copa da planta, e que comprometem a adequada aeração e iluminação (na abertura central da copa, normalmente, esta prática já é feita); o momento mais adequado para esta prática é também imediatamente após a colheita dos frutos. A vegetação dos ramos e os brotos de folhas jovens, que normalmente contêm de três a cinco folhas, também devem ser raleados até ficarem com uma ou duas folhas sadias. Nos anos seguintes, a poda de equilíbrio limita-se ao raleio de folhas que se localizam nos brotos novos, entre 4 e 5 meses antes da floração. Também devem ser eliminados os ramos que afetam o balanço do desenvolvimento da copa das árvores.
Correção da arquitetura
O formato da copa é definido em função do vigor da copa e da densidade escolhida na implantação do pomar. As copas mais comuns têm as formas piramidal ou vaso aberto (taça).
Forma piramidal - Uma vez que a árvore tenha alcançado o espaço disponível, é necessário realizar uma poda de manutenção, que permita conservar o máximo da superfície produtiva. Este tipo de poda é recomendado principalmente para espaçamentos menores e deve ser realizada logo após a colheita, seletivamente, cortando-se os brotos situados na parte alta da árvore até o primeiro nó (abaixo) e eliminando-se todos os brotos verticais.
Forma em vaso aberto - Consiste em abrir espaços no centro da copa, eliminando-se os ramos que tenham um ângulo de inserção menor que 45º com o tronco. Com isso, consegue-se uma melhor iluminação interna e um maior número de ramos na parte mediana da copa.
Intensidade da poda
A intensidade da poda não deve ser a mesma durante o ano, sendo realizada em função da época em que será feita a indução floral. A poda mais severa da mangueira não deve ser praticada quando se deseja a floração da planta fora do período normal, e que coincide com a ocorrência de altas temperaturas e altos índices de precipitação pluvial. Nessa época, são recomendadas podas menos severas e, ainda, aguardar a emissão de dois a três fluxos vegetativos, antes de se aplicar o regulador vegetal para o início do manejo da produção da mangueira.
Desfolha
A desfolha na mangueira é praticada com a finalidade de melhorar a capacidade produtiva da planta e a coloração dos frutos.
Quando a folhagem é abundante, o sombreamento traz como consequência a existência de um material vegetal que atua de forma parasitária e que reduz a possibilidade de acumular reservas para a produção de frutos. A remoção de 15% a 20% da vegetação velha, incluindo ramos, contribui para a melhora significativa na eficiência produtiva. Essa desfolha é feita por meio da poda praticada logo após a colheita. Após a segunda queda de frutos, é conveniente fazer uma desfolha nos ramos produtivos, deixando-se apenas os dois fluxos de folhagem mais próximos da infrutescência.
A desfolha, para melhorar a coloração dos frutos, deve ser feita próxima à fase final da maturação, eliminando-se as folhas que os sombreiam (Figura 4). Essa prática deve ser realizada com bastante cuidado, principalmente na parte da copa direcionada para o poente, pois frutos muito expostos em época de temperaturas elevadas e baixa umidade do ar acabam necessitando de proteção para evitar a queima causada pelo sol, principalmente nos ‘ombros’ dos frutos.
Fotos: Mouco, M. A.



Figura 4. a) Desfolha em mangueira (Mangifera indica L.) `Kent` e, b) `Palmer`, aos 30 dias da colheita. 

Podas para manejo da floração

Eliminação da brotação vegetativa - Quando há ocorrência de brotação vegetativa (Figura 5), próximo à época de aplicação do nitrato para quebrar a dormência da gema, pode-se manter o estresse hídrico para aumentar o grau de maturação do fluxo vegetativo inferior (folhas quebradiças) e, em seguida, podar a vegetação nova e iniciar as pulverizações com nitrato (potássio, cálcio ou amônio) para estimular a brotação das gemas axilares.
Foto: Mouco, M. A.
Figura 5. Brotação vegetativa em mangueiras (Mangifera indica L.) com ramos em fase de maturação e antes do início das induções com nitrato.
Eliminação da inflorescência - Quando se quer eliminar a inflorescência de um ramo sem que haja a imediata emissão de novos brotos florais, deve-se cortá-la, pelo menos, aos 5 cm do nó terminal, no estádio de chumbinho (após a fertilização). Essa prática deve estimular a emissão de brotos vegetativos vigorosos.
A eliminação da floração terminal em algumas cultivares provoca uma segunda emissão de inflorescência axilar, que deve produzir um número menor de frutos abortados. Essa eliminação deve ser feita acima do nó terminal (na base da inflorescência), no início da floração. Essa prática permite retardar a floração por um período curto, até 30 dias.

Poda de renovação e rejuvenescimento

O objetivo das podas de renovação e rejuvenescimento é revitalizar as árvores velhas ou descuidadas, que não apresentam produção abundante, mas com troncos e ramos principais estão sadios. Consiste na eliminação da folhagem e de ramos secundários, deixando-se apenas o esqueleto dos ramos principais. Com isso, brotações vegetativas que formarão a nova copa são estimuladas.

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