A possibilidade de produção durante todo o ano é o diferencial de maior interesse na exploração da mangueira nas condições semiáridas. Assim, o manejo adequado da parte aérea sem alterar a atividade metabólica favorece a floração e é o que vem orientando os trabalhos de escalonamento da produção de manga, com o objetivo de atender todos os mercados disponíveis.
O frio e o estresse hídrico são condições naturais que induzem o repouso dos ramos, condição necessária à diferenciação das gemas vegetativas em florais, visando o florescimento, nas condições de clima subtropical e tropical, respectivamente. A ocorrência de temperaturas baixas, nas condições subtropicais, define o período de floração e produção da mangueira.
O primeiro passo no processo de indução floral da mangueira, nas condições semiáridas, é realizado com o objetivo de promover o repouso dos ramos. Nesta região, as práticas para alterar o período de floração e produção incluem o manejo da irrigação. O método consiste na redução gradual da quantidade de água, visando uma maturação mais rápida e uniforme dos ramos. Quando bem conduzido e dependendo do estado nutricional da planta, deve permitir o efeito desejado em 30 a 70 dias. O grande inconveniente deste método é a dependência das condições climáticas (precipitação), o que restringe a produção a um determinado período do ano.
Os trabalhos testando retardantes vegetais, como o paclobutrazol (PBZ), foram iniciados com o objetivo de desenvolver um manejo da floração da cultura, que permitisse a produção de manga em qualquer época do ano. O PBZ regula o crescimento vegetativo da mangueira, por meio da inibição da síntese das giberelinas e a forma de aplicação mais eficiente é feita com a diluição do produto em 1 L ou 2 L de água, que depois é despejado junto ao colo ou na projeção da copa. É importante que a solução seja aplicada uniformemente no solo, sob a copa, pois uma distribuição desuniforme pode trazer como consequência a floração somente em uma parte da copa (Figura 1). Depois da aplicação do regulador vegetal, é necessário que seja feita a irrigação das plantas, pois é a água que leva o produto até as raízes, para ser absorvido pelas plantas e inibir a brotação nas gemas apicais dos ramos. O PBZ deve ser aplicado à planta depois da emissão de, pelo menos, dois fluxos vegetativos, após a poda pós-colheita.
Fotos: Mouco, M. A.
Figura 1. Detalhe de uma mangueira (Mangifera indica L.) cv. Tommy Atkins onde o PBZ não foi distribuído uniformemente no solo.
A quantidade de PBZ a ser aplicada em um pomar deve considerar a cultivar, o tamanho das plantas, tipo de solo e método de irrigação, como também o clima durante o manejo da brotação vegetativa visando à floração. Normalmente, a recomendação de 1 g por metro linear de diâmetro de copa pode ser uma referência para plantas da cv. Tommy Atkins, com diâmetro de copa entre 3 m e 5 m. No entanto, esta dose é excessiva para plantas de diâmetro inferior e insuficiente para plantas maiores.
A dose de PBZ é dependente de alguns fatores: o vigor, que é o resultado de características que tornam a planta mais ou menos vegetativa, é favorecido também pelo teor de nitrogênio foliar e pela presença de umidade no solo; a cultivar, que está relacionada com a capacidade de brotação vegetativa, como a ‘Kent’ e a ‘Haden’, e que requerem uma dose de PBZ maior que a ‘Tommy Atkins’, considerada padrão. Por último, o fator resíduo, que pode persistir na planta; oriundo de aplicações anteriores. É comum, depois da poda pós-colheita, utilizar o aspecto dos fluxos vegetativos, para serem comparados com fluxos de plantas testemunhas, que não tiveram aplicação de PBZ. Assim, para o segundo ano de aplicação, dependendo do resultado na floração e do tipo de brotação vegetativa depois da poda pós-colheita (se normal ou compactada), pode-se usar 70% ou 50% da dose de PBZ utilizado na safra anterior.
Em casos nos quais a dose de PBZ utilizada na safra anterior for elevada, tendo provocado emissões de panículas e ramos vegetativos muito compactos, deve-se ter bastante cuidado no ciclo seguinte da planta, recomendando-se: evitar poda drástica da planta na pós-colheita, devendo-se quebrar apenas o ráquis floral; adubação com nitrogênio (pós-colheita); pulverização via foliar com nitrato de potássio + sulfato de zinco; no caso de brotação vegetativa de ramos muito compactos, aguardar a emissão do segundo fluxo, para reinício do manejo do ciclo produtivo.
Uma avaliação dos gastos com o manejo da floração na cultura da mangueira mostra que o PBZ é responsável por cerca de 70% do custo com os produtos utilizados (sem incluir custos com a aplicação). Ainda devem ser considerados os custos ambientais do excesso de PBZ aplicado no solo, e o efeito na compactação das panículas, que acaba onerando mais ainda o manejo com os tratos fitossanitários. É importante o cuidado na definição da dose a ser utilizada tanto no primeiro ano como nos anos subsequentes, sem desconsiderar o resíduo que fica da aplicação na safra anterior.
O sulfato de potássio, no manejo da floração também tem a função de conter a emissão de ramos vegetativos, devendo ser utilizado em duas ou três aplicações, em concentrações que variam de 2% a 2,5%.
Com relação à utilização do etephon no manejo da floração, o objetivo é a liberação de etileno nas plantas, que vai participar no processo de maturação das gemas e promover a floração. É um produto que tem eficiência quando combinado com o manejo da irrigação (estresse hídrico) e/ou PBZ. Deve ser aplicado por meio de pulverizações, em dosagens entre 200 ppm a 300 ppm.
Os nitratos no processo de indução floral têm a função de estimular a brotação depois do período de repouso dos ramos; são aplicados via foliar, por meio de pulverizações, e as doses comumente usadas variam de 2% a 4% para o nitrato de potássio (KNO3), de 1,5% a 2% para o nitrato de cálcio, Ca(NO3)2 e de 1% a 1,5% para o nitrato de amônia (NH4NO3). O número de pulverizações vai depender do índice de brotação que se for obtendo. As pulverizações com nitratos devem ser feitas no início da noite ou na madrugada, quando as condições ambientais favorecem a absorção e minimizam os danos à planta.
A resposta às pulverizações com nitrato vai depender do estado de maturação dos ramos (gemas), cujo processo é obtido por meio do estresse hídrico e/ou uso de reguladores vegetais. Outros fatores, como baixa temperatura na ocasião das pulverizações com nitratos, melhoram o índice de floração. Em período chuvoso, é recomendável um intervalo maior entre as pulverizações, em torno de 15 dias ou mais, pois chuvas intensas levam o produto das folhas para o solo próximo ao sistema radicular da planta, podendo provocar uma brotação vegetativa indesejável.
Floração da mangueira
A floração natural da mangueira no Semiárido brasileiro ocorre com maior intensidade entre junho e agosto. Nesta região, as condições climáticas (entre maio e agosto) são caracterizadas pela ocorrência de temperaturas noturnas inferior a 20 ºC e diurnas inferior a 30 ºC e, também, pela menor quantidade de precipitação pluviométrica.
Floração entre maio e setembro
O manejo artificial de floração da mangueira deve ser definido de acordo com a época do ano. Assim, quando as induções com nitrato estão programadas para o período de maio a setembro, pode-se utilizar tanto a aplicação do PBZ como o manejo da irrigação para induzir o repouso dos ramos vegetativos. No caso de se utilizar somente o manejo da irrigação, deve-se monitorar a lâmina de água, para que não haja amarelecimento e queda das folhas; deve ser iniciada após a emissão de dois fluxos vegetativos (quando o segundo ramo apresentar as folhas imaturas, mas com o limbo completamente expandido) depois da última poda de formação das plantas ou da poda de produção (anual, após a colheita).
Com a redução da irrigação, também é recomendado que sejam feitas duas a três pulverizações, com sulfato de potássio (2% a 2,5%), com intervalo de 12 dias; uma a duas pulverizações com etephon (200 ppm a 300 ppm), com intervalo de 12 dias, devendo-se iniciar após a última pulverização do sulfato de potássio. O tempo entre as pulverizações, tanto do sulfato de potássio como do etephon, vai depender do aspecto das plantas em resposta aos produtos.
Os sinais de produção de etileno pelas plantas são a exsudação de látex das gemas terminais, que ocorre na época de iniciação da inflorescência, e a epinastia das folhas maduras localizadas perto do ápice (Figura 2).
Foto: Medina, V. D.
Figura 2. Mangueiras (Mangifera indica L.) com ramos/ folhas em epinastia (produção de etileno).
Entre as várias funções do etileno, estão a promoção da floração em plantas lenhosas e aceleração de maturação de órgãos das plantas. O uso do etephon como amadurecedor de gemas, quando se trabalha em condições ambientais inadequadas à floração, tem sido uma das principais ferramentas do produtor. Quando as gemas/ramos se apresentarem maduros, as pulverizações com nitrato de potássio, cálcio ou amônio podem ser iniciadas, para o estímulo (indução) de brotação das gemas (Figura 3).
No caso de se utilizar o PBZ, a aplicação deve ser feita na dose de 0,5 g ingrediente ativo por metro de diâmetro de copa, no primeiro ano; a irrigação das plantas deve ser mantida por 30 dias. A partir dos 30 a 40 dias da aplicação do PBZ, são recomendadas duas a três pulverizações com sulfato de potássio, no intervalo de 12 dias. A redução da lâmina de água pode ser iniciada aos 70 dias da aplicação do PBZ. As pulverizações com os nitratos de potássio (3% a 4%), cálcio ou amônio devem começar quando as plantas apresentarem os ramos já maduros, normalmente em epinastia.
Figura 3. Esquema para o manejo da floração da mangueira (Mangifera indica L.) em diferentes épocas do ano (diferentes condições climáticas, temperatura e precipitação).
Floração entre outubro e abril
O manejo da floração de um pomar, quando a indução (quebra do repouso das gemas) está programada para o período mais quente, onde há a ocorrência de temperaturas noturnas e diurnas superiores a 25 °C e 35 °C, respectivamente, e que corresponde ao período de outubro a abril, pode ser conduzido somente com o uso de regulador vegetal, o PBZ.
Depois da aplicação do PBZ (0,7 g ingrediente ativo por metro de diâmetro de copa, em caso de primeiro ano de uso na cultivar Tommy Atkins), a irrigação deve ser mantida por 30 dias, quando se pode iniciar as pulverizações (em torno de três) com sulfato de potássio (intervalo de 12 dias). A redução da lâmina de água pode ser feita depois de 80 dias da aplicação do PBZ. Após a última aplicação com sulfato de potássio, iniciar as pulverizações com o etephon (em torno de duas), com intervalo de 12 dias (Figura 3). As pulverizações com uma das fontes de nitrato devem ser iniciadas quando os ramos se apresentarem maduros e nunca em ramos com menos de 90 dias.
A eficiência dos modelos para o manejo da floração da mangueira vai depender do estado nutricional e fitossanitário do pomar.
Na Figura 4, são apresentadas as diferentes fases no manejo da produção de plantas de mangueira ‘Kent’. O manejo é iniciado com a poda de produção para a retirada de partes atacadas por doenças e pragas além dos restos de colheita, como também, para estimular a brotação vegetativa dos novos ramos que serão preparados para a produção na safra seguinte. Depois da brotação de dois fluxos vegetativos, o PBZ é aplicado; depois de 3 a 4 meses, quando os ramos se encontrarem maduros, as induções com nitrato podem ser realizadas para dar início ao florescimento dos ramos e à produção de frutos.
Fotos: Mouco, M. A.
Figura 4. a) Fases do manejo da produção em mangueira (Mangifera indica L.) `Kent`. Poda de produção; b) brotação vegetativa (momento de aplicação do PBZ); c) ramos maduros; d) planta em floração; e) planta em produção.
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