quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Cultivo da Framboesa



A framboeseira é uma espécie frutífera ainda pouco cultivada no Brasil, cuja produção anual é de apenas 150 toneladas em uma área que não ultrapassa 50 hectares. Esses dados foram levantados junto a produtores e extensionistas, já que não existem estatísticas oficiais.
Os fruticultores têm manifestado interesse no cultivo dessa espécie do grupo das pequenas frutas, cuja demanda tem aumentado significativamente no País e, principalmente, no exterior, motivada por suas propriedades nutracêuticas associadas à prevenção de doenças e à longevidade. Há mais de uma década, a Embrapa Clima Temperado vem introduzindo, multiplicando e avaliando o desempenho produtivo de cultivares de framboeseira. Mais recentemente, a Embrapa Uva e Vinho iniciou uma série de pesquisas sobre a cultura, atualmente destacando-se nas áreas de monitoramento de doenças e indexação de matrizes e de mudas. A muda é um dos principais insumos do sistema de produção, sendo o ponto de partida para a obtenção de melhor resposta a qualquer tecnologia empregada no processo produtivo. Nesse aspecto, as mudas certificadas são as que oferecem maior garantia de qualidade genética, fitossanitária e fitotécnica, aumentando as chances de sucesso do empreendimento agrícola.
A presente publicação aborda o conjunto de tecnologias disponíveis sobre a produção de mudas de framboeseira, as quais estão em consonância com as normas de certificação vigentes. Além disso, são apresentados dados sobre as principais cultivares recomendadas no Brasil, relativos às suas exigências edafoclimáticas, potencial de produção e qualidade dos frutos. Espera-se, com isso, potencializar a produção de framboesa no Brasil e, ao mesmo tempo, contribuir para a diversificação da matriz produtiva.

A framboeseira (Rubus ideaus L.) é uma espécie do grupo das pequenas frutas ainda pouco cultivada no Brasil, sendo considerada uma alternativa de renda, principalmente para a pequena propriedade familiar das regiões de clima temperado. Trata-se de uma cultura de baixo custo de implantação, grande demanda por mão de obra, facilmente conduzida em sistema orgânico de produção e que apresenta alta rentabilidade por hectare (POLTRONIERI, 2003).
A produção de framboesa pode ser destinada tanto ao mercado de frutas frescas quanto à fabricação de polpa congelada, purês, conservas, geleias, sucos e concentrados para sorvetes e iogurtes (VENDRÚSCULO, 2004). O mercado nacional e internacional encontra-se em expansão, motivado pelas propriedades nutracêuticas dessa fruta, que se enquadra no grupo dos alimentos funcionais, ou seja, aqueles que, além de nutrir, têm ação comprovada na prevenção e/ou na cura de doenças. Segundo Salgado (2003), a framboesa é rica em vitamina C, betacaroteno e compostos fenólicos. Dentre os compostos fenólicos presentes, destacam-se os flavonoides, os quais se ligam a açúcares, formando complexos chamados de glicosídeos, que apresentam ação antioxidante, anticancerígena e anti-inflamatória, além de atuarem como retardadores do envelhecimento.
A produção mundial de framboesa é de aproximadamente 415 mil toneladas, sendo a Rússia a maior produtora, seguida pela Sérvia, Montenegro, Estados Unidos e Polônia (UNIVERSITY OF GEORGIA, 2006). Na América Latina, segundo Plaza (2003), o Chile se destaca, com produção anual de 30 mil toneladas, cultivadas em cerca de 5 mil ha, possuindo alta tecnologia de produção e logística de exportação para os principais mercados mundiais. Nos últimos anos, os plantios de framboeseira têm aumentando significativamente na Argentina e no Uruguai. Não existem dados mais recentes.
A produção de framboesa no Brasil iniciou-se com a chegada dos imigrantes alemães, que a cultivavam nos quintais de suas colônias, visando consumo familiar (PAGOT, 2004). A produção comercial ocorreu pela primeira vez em Campos do Jordão, Estado de São Paulo, em função de, na década de 1950, o Barão e Baronesa Von Leithner, terem introduzido o material para cultivo em sua fazenda, onde constituíram a empresa agroindustrial Alto da Boa Vista, que fabricava geleias, xaropes e uma bebida destilada de framboesa (FARIA, 2010). Mais tarde, foram realizados plantios nas regiões de Vacaria e de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e no Sul de Minas Gerais (PAGOT, 2004). Não existem dados precisos e atuais sobre a cultura da framboeseira no Brasil, porém, com base nos dados divulgados porPagot e Hoffmann (2003), Faria (2010) e pelo IBGE (2012), estima-se que a área plantada seja de aproximadamente 50 ha, com produção anual de 150 toneladas e receita direta de R$ 500 mil. O mercado interno, assim como o internacional, tem se expandido nos últimos anos, sendo frequentes as importações de frutos de framboesa, principalmente do Chile, na forma congelada, para abastecimento das indústrias brasileiras.
Os principais fatores limitantes à expansão da cultura da framboeseira no Brasil referem-se à sensibilidade da planta e dos frutos à alta pluviometria e à alta umidade relativa do ar, alta suscetibilidade a fungos e a viroses, e exigência de frio hibernal para frutificação (PAGOT; HOFFMANN, 2003; INFOAGRO, 2006). Esses fatores restringem a área produtora a regiões de altitude elevada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais.
As produtividades dos plantios de framboeseira no País são extremamente variáveis, sendo as maiores obtidas na região de Vacaria (5,6 t ha-1) (EMATER, 2004). No entanto, segundo Plaza (2003), a produção de um pomar adequadamente manejado pode chegar a 16 t ha-1. Esses dados demonstram a necessidade de se aperfeiçoar o sistema de produção adotado no País, o que somente será possível mediante a realização de pesquisas nas áreas de seleção e melhoramento genético, otimização do sistema de produção de mudas e manejo fitotécnico da cultura.




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