quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Solos e Clima para Açaí


Clima

O estuário amazônico, pela sua posição geográfica, baixa latitude e clima quente, é considerado como região tipicamente tropical. As temperaturas médias anuais oscilam entre 22 oC e 27 oC, com as máximas variando de 28 oC a 33 oC e as mínimas de 17 oC a 23 oC. O total de brilho solar anual é de 1.400 a 2.500 horas que, com a alta nebulosidade, os períodos de insolação correspondem de 35% a 60% do total de horas. A umidade relativa do ar varia entre 70% e 91%, e está estreitamente relacionada aos períodos pluviométricos. A região se beneficia com índices pluviométricos de 1.300 a 3.000 mm anuais, distribuídos em 2 períodos, o mais chuvoso e o menos chuvoso (Bastos, 1972; Bastos et al. 1986).
De acordo com a classificação de Köppen, a Região Amazônica está situada no grupo de clima tropical chuvoso A, onde as temperaturas médias dos meses não são inferiores a 18 oC, com oscilações inferiores a 5 oC, exceto a cidade de Cárceres, MT, que apresenta amplitude anual um pouco acima desse limite. Segundo Bastos (1972), a variedade climática i se caracteriza por não ter verão ou inverno estacional. Os tipos climáticos, Afi, Ami e Awi se diferenciam a partir do total pluviométrico do mês com menor precipitação em relação ao total anual (Fig. 1).
A definição das possibilidades ou limitações do cultivo do açaizeiro, em áreas da Região Amazônica, exige o conhecimento da disponibilidade de água no solo, de acordo com o balanço hídrico que se baseia, além da precipitação pluviométrica, nas perdas de água pelo processo de evapotranspiração. O açaizeiro encontra condições satisfatórias de cultivo nas faixas climáticas com regular distribuição de chuvas e em áreas que, mesmo com período seco definido, disponham de umidade satisfatória no solo, como nas várzeas.

O tipo Afi apresenta abundância de chuvas durante todo o ano (acima de 2.500 mm anuais) e, no mês de menor precipitação, as chuvas alcançam mais de 60 mm, condições adequadas para o cultivo do açaizeiro. O Ami, intermediário entre Afi e Awi, possui regime pluviométrico anual que define uma estação relativamente seca, mas com precipitação total acima de 2.500 mm anuais. O tipo climático Awi se caracteriza por ter índice pluviométrico anual entre 1.000 e 2.500 mm, com nítida estação seca. Quando cultivado em áreas de terra firme, com tipo climático Ami e Awi, com vistas a evitar a redução ou paralisação do crescimento, floração e frutificação do açaizeiro, é importante planejar, nos períodos menos chuvosos, a utilização de sistema de irrigação, que garanta a suplementação hídrica às plantas (Bastos, 1972; Calzavara, 1972).

Solos

Os solos são originados da decomposição de rochas superficiais e resultam de processos destrutivos, relacionados com a decomposição e desintegração (física e química) dos minerais e de restos orgânicos (vegetais e animais); e construtivos, com a formação de novos corpos químicos, orgânicos e inorgânicos. Desse modo, os solos apresentam textura, estrutura e composição química que irão influir no desenvolvimento das plantas, pois neles se fixam e extraem parte dos elementos necessários à sua sobrevivência e desenvolvimento (Falesi, 1972).
Na Amazônia brasileira predominam, pela superfície que ocupam, dois padrões de solos: os de terra firme (87%), com pH variando de 4,5 a 6,5 e, normalmente, pobres em cálcio; e os de várzea (13%), situados às margens dos rios com influência constante das marés (Nascimento & Homma, 1984). Os solos de terra firme, embora o açaizeiro seja espécie típica de áreas inundáveis, são opções importantes para o cultivo dessa palmácea, mas sob condições com baixa deficiência hídrica.

Solos de terra firme

Os solos latossólicos, que ocorrem nas áreas não-inundáveis do estuário amazônico, são bem drenados, porosos, fortemente ácidos e de baixa fertilidade. Dentre esses, a unidade pedogenética de maior importância é constituída pelos Latossolos Amarelo, Vermelho-amarelo e Vermelho-escuro (Latossolo Vermelho), que são solos profundos, fortemente desgastados, bem drenados, com textura variando de leve (arenosa) a muito pesada (argilosa). Apesar da baixa fertilidade natural, baixa soma de bases, baixa capacidade de troca de cátions e baixo índice de saturação, respondem muito bem à adubação, o que faz com que os atributos físicos desses solos sejam mais importantes do que os químicos (Falesi, 1972).
Na implantação de açaizais em solos de terra firme, em sistemas de cultivo solteiro e consorciado, é recomendável a utilização de áreas exploradas com plantios sucessivos. As áreas de pastagens degradadas ou as capoeiras finas (macegas) permitem menores custos de implantação do açaizal.

As áreas desmatadas para uso agrícola, no Estado do Pará, ultrapassam os 200.000 km2, muitas das quais são passíveis de serem utilizadas com sistemas produtivos, tais como os de açaizeiro. Por ser espécie florestal típica da região, com características de cultura permanente, é indicado para as condições tropicais de grande precipitação pluviométrica e elevada temperatura, onde exerce proteção permanente do solo. 

A grande intensidade e freqüência de chuvas ocorrentes na região podem causar a desagregação das partículas dos solos provocando a sua erosão. Por isso, é dada preferência aos solos planos e com baixa declividade, bem como utilizar coberturas viva ou morta nas áreas de plantio.

Os solos concrecionários não são recomendáveis para o cultivo do açaizeiro, pois são obstáculos à penetração das raízes superficiais dessa espécie e concorrem para a redução do número de brotações, crescimento lento dos estipes e redução do diâmetro, com reflexos na produção (Calzavara, 1972).

Solos de várzea e igapó

Esses solos hidromórficos ocupam áreas planas, baixas, de formação sedimentar recente, que margeiam os rios e apresentam extensões de alguns quilômetros de largura. Essas áreas, ao longo do Rio Amazonas e seus afluentes, são distinguidas em várzea alta, várzea baixa e igapó (Falesi, 1972).
Os principais solos hidromórficos encontrados na Região Amazônica, segundo Falesi (1986) são:
- Plintossolos ou Lateritas Hidromórficas: normalmente de baixa fertilidade;
- Gleissolos háplicos, Gley Pouco Húmico ou Gley Húmico: resultante do acúmulo de sedimentos e, por isso, tem fertilidade de média a alta. Esses devem ser os preferidos quando da aplicação do manejo de açaizais ou enriquecimento de ecotipos produtivos dessa palmácea, ou com outras espécies de área inundável, que tenham valor econômico;
- Espodossolos ou Podzol Hidromórfico: são de baixa fertilidade e excessivamente ácidos.
O regime de inundações periódicas nas áreas de várzea provocou a adaptação de algumas espécies vegetais, como o açaizeiro que desenvolveu mecanismos de adaptações morfológica e anatômica, representadas por raízes aéreas com lenticelas e aerênquimas. As estratégias fisiológicas desenvolvidas pelas plantas desta palmácea, permitem manter as sementes viáveis e as plântulas vivas, por períodos superiores a 15 dias, em ambiente anóxico da várzea baixa. A redução do teor de oxigênio em solo de igapó, explica a menor freqüência de espécies arbóreas e de açaizeiro, pois a germinação de sementes é limitada e o crescimento das plântulas é prejudicado. Quando o suprimento de oxigênio é normalizado, as sementes germinam e as plântulas retomam o seu desenvolvimento.
Os solos de várzea não apresentam boas propriedades físicas, mas têm elevada fertilidade, por causa das sucessivas deposições de sedimentos, e pH de 4,5 a 5,5. As oscilações do lençol freático determinam a maior ou menor disponibilidade de água e oxigênio, provocando os processos de oxidação e redução do ferro, responsáveis pelo aparecimento de mosqueados, que caracterizam esses solos de terras inundáveis.
Em condições naturais, a densidade de açaizeiro nas populações nativas é maior nos solos de várzea alta, seguida das de várzea baixa. Nos igapós, as populações de açaizeiro são menos densas, havendo também considerável redução no número de perfilhos. Por isso, devem ser priorizados a implantação de cultivos racionais e o manejo de populações nativas nas áreas de várzeas, sem excluir as de igapó, que requerem práticas de manejos específicas e maior volume de investimento.



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