A família Annonaceae possui 132 gêneros e 2300 espécies de acordo com JESSUP (1988). A maioria das plantas é de origem tropical, com exceção daquelas do gênero Asimira, nativas de clima temperado e que ocorrem na América do Norte e a espécie Annona cherimola Mill., de origem dos altiplanos andinos, cultivada em diversas regiões do mundo e considerada como a mais saborosa das frutas. Muitas das demais espécies são nativas do Brasil (KAVATI, 1992).
Na fruticultura são importantes dois gêneros de anonáceas, sendo Rollinia e Annona. MAHDEEN (1990), menciona mais de 100 espécies do gênero Annona e 65 em Rollinia.
Dentre Rollinia, destacam-se R. mucosa, R. jimenezii, R. rensoniana, R. sylvatica e R. emarginata, produtoras de frutos conhecidos genericamente por biribás e/ou araticuns. Uma das características das plantas deste gênero é de possuírem inflorescências trilobadas, na forma de uma hélice. Na exploração econômica, nenhuma das espécies é importante como produtora de frutos, porém regionalmente muitas são apreciadas, como na região amazônica (KAVATI, 1992).
O gênero Annona agrupa as principais espécies cultivadas, distribuindo-se em cinco grupos, sendo “Guanabani” (grupo das graviolas); “Bilaeflorae” (anonas com ceras); “Acutiflorae” (pétalas afiladas); “Annonellae” (anonas anãs) e as “Attae” (grupo das anonas comuns). Os grupos mais importantes são “Guanabani” e “Attae”.
O grupo “Guanabani” é caracterizado por fruteiras possuindo flores grandes, grossas com seis pétalas carnosas, sendo três externas sobrepostas em dois verticilos. São representantes deste grupo além da gravioleira (Annona muricata L.), a Annona montana Macfad, conhecida como falsa gravioleira e Annona glabra L., conhecida como anona do brejo, entre outras.
O grupo “Attae” é caracterizado por espécies produzindo flores com três pétalas, geralmente soltas, de coloração amarelo-esverdeadas, com manchas vermelho-purpúreas na base. Encontram-se neste grupo as principais anonáceas cultivadas, como exemplo a condessa (Annona reticulata L.), pinha (A. squamosa L.), cherimóia (A. cherimola Mill.) e atemóia (A. cherimola Mill. x A. squamosa L.).
ESPÉCIES COMERCIAIS MAIS IMPORTANTES
Destacam-se no Estado de São Paulo a pinha e mais recentemente a atemóia para consumo in natura. A cherimóia é cultivada em condições de clima muito específico, restrita a apenas algumas regiões no Estado de São Paulo. Seus frutos são considerados um dos mais saborosos do mundo.
A graviola é considerada a anonácea com maior potencial de industrialização, utilizada principalmente na produção de polpa, para diversas finalidades. É plantada em escala comercial principalmente nos Estados da região nordeste.
Outras espécies de menor importância ou restritas a mercados regionais no Brasil são: condessa, marolo (A. crassiflora) e biribá (Rollinia mucosa).
CARACTERÍSTICAS GERAIS EM ANNONACEAE
As flores das plantas da família Annonaceae apresentam uma clara dicogamia protogínica e também heterostilia. O fruto é um sincarpo procedente de uma única flor, formado pela fusão de muitos carpelos simples em torno de um receptáculo central, constituindo uma massa sólida.
PERSPECTIVAS DE MELHORAMENTO DO FRUTA-DO-CONDE
Seleção ou introdução de variedades; propagação vegetativa em porta-enxertos resistentes a pragas e doenças; desenvolvimento de técnicas culturais para o aumento produtividade e melhoria da conservação do fruto na pós-colheita.
ATEMÓIA
Introdução e avaliação de novas variedades; porta-enxertos; condução da planta; controle de pragas e doenças.
CHERIMÓIA
Introdução e avaliação de novas variedades (inexistem variedades comerciais selecionadas).
CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS
ATEMÓIA
As flores de atemóia são típicas do grupo Attae, caracterizando-se, segundo BLUMENFELD (1975), por terem três pétalas espessas e desenvolvidas, que representam cerca de 90% do peso das flores. O cálice é formado por 3 sépalas de formato triangular, unidas na base e envolvendo a corola. Esta é constituída por 3 pétalas grossas e bem desenvolvidas, largas na base e estreitas no ápice, originando uma estrutura piramidal, em cuja base se alojam os órgãos reprodutivos, constituídos por um cone de pistilos fundidos no receptáculo e rodeado por muitos estames.
CHERIMÓIA
O pecíolo das folhas oculta e protege as gemas que darão origem à próxima brotação, de maneira que elas não são visíveis sem a retirada das folhas que a recobrem. As gemas são compostas; na base de cada folha existem várias delas com brotos parcialmente desenvolvidos, no estádio latente. Cada gema composta pode emitir até quatro brotos, dando origem a somente ramos vegetativos, somente ramos floríferos ou então a ramos vegetativos e floríferos.
FRUTA-DO-CONDE
O botão floral eclode de uma gema subpeciolar após a queda do pecíolo foliar, 15 a 20 dias antes da antese.
GRAVIOLA
As flores são hermafroditas, apresentando estames numerosos circundando os carpelos, situadas em pedúnculos curtos axilares ou diretamente do tronco. Por apresentar dicogamia, heterostilia e lenta abertura de pétalas (antese), sua frutificação é pequena e irregular. A polinização artificial possibilita melhoria da produção.
FASES E TEMPO DE ABERTURA DAS FLORES
CHERIMÓIA
GUIRADO-SANCHES (1991) classificou as flores de cherimóia (A. cherimola) em quatro fases: estádio de flor fechada (10 a 15 dias); flor em pré-abertura (5 a 20 horas); flor em estádio feminino (26 horas) e flor em estádio masculino (ocorre à tarde do mesmo dia de abertura entre às 16 e 18 horas).
FRUTA-DO-CONDE
Na antese, as pétalas que inicialmente encontravam-se unidas, passam a ficar ligeiramente abertas, definindo o início da fase feminina, que duram entre 20 e 24 horas. Após esta fase, as pétalas começam a se separar completamente, eventualmente caindo e desprendendo-se pelas axilas florais. A fase masculina começa quando as anteras se encontram deiscentes, o que ocorre após as pétalas estarem totalmente abertas, 20 a 24 horas após o início da abertura floral. A germinação do grão de pólen na superfície do estigma só ocorre na fase feminina e dificilmente na deiscência das anteras.
POLINIZAÇÃO ARTIFICIAL
A polinização artificial constitui uma importante ferramenta no melhoramento genético em Annonaceae e são vários os fatores relacionados, descritos a seguir.
COMPATIBILIDADE
ATEMÓIA
MELO et al. (2002) estudaram a polinização da atemóia, visto que a polinização natural tem-se mostrado ineficiente nas condições de Lins, SP. Empregou-se polinização manual com pólen de (Annona squamosa L.); polinização manual com pólen de a cultivar instalada (Gefner); polinização manual (pólen da atemóia cultivar African Pride); polinização manual (pólen da atemóia cultivar PR-3) e polinização natural ou aberta. A polinização iniciou-se às 6h30min e encerrou-se às 10h do dia 1º/11/2000. Coletaram-se flores a partir das 15 h, as quais se encontravam em antese, no estádio fêmea. As flores colhidas foram colocadas em bandejas plásticas e cobertas com outra bandeja. Pela manhã seguinte, às 6h, as flores nos pratos foram transportadas para o campo e mantidas em caixa de papelão com tampa. Conforme a necessidade do pólen, ele era extraído das flores com os dedos. A seguir, com o auxílio de um pincel, o pólen era agrupado e colocado no aplicador de pólen, para ser aplicado nas flores que estivessem no estádio pré-fêmea. Os resultados são encontrados na tabela seguinte:
GRAVIOLA
CAVALCANTE et al. (2000) constataram através de polinizações manuais que A. muricata (graviola) é autocompatível e que os grãos de pólen apresentaram em média 86% de viabilidade. As flores apresentaram característica de cantarofilia (polinização por coleópteros), sendo Cycocephala vestita (Coleoptera: Scarabaeidae: Dynastinae) em Una (BA) e Cycocephala hirsuta em Visconde do Rio Branco (MG). As flores duraram quatro dias, sendo nos três primeiros dias funcionalmente femininas.
FRUTA-DO-CONDE
KAVATI et al. (2000) verificaram não haver problema quanto a ocorrência de auto-incompatibilidade em um material de fruta-do-conde (Annona squamosa L.) selecionado no Estado de São Paulo denominado Tang 18/20, pois os resultados não indicaram diferença entre a autopolinização e polinização cruzada.
COLETA DE FLORES PARA POLINIZAÇÃO ARTIFICIAL
FRUTA-DO-CONDE
SAVAZAKI et al. (2000) avaliaram o número de flores a ser coletada para a polinização artificial em fruta-do-conde através do uso de um aparelho de fabricação japonesa. A proporção de flores colhidas para flores polinizadas é superior a 1:4, com o equipamento utilizado. A coleta de 1,25 litro de flores ou 600 flores possibilita a polinização artificial de 1800 flores no período das 7 às 10:00 horas, aplicando o tratamento em 12 a 15 flores por planta.
ARMAZENAMENTO DE MATERIAL POLINIZANTE
FRUTA-DO-CONDE
KAGUEAMA et al. (2000) determinaram o período de armazenamento de material polinizante para polinização artificial em fruta-do-conde e constataram melhores resultados com pólen de flores coletadas no dia anterior; sendo possível utilizar o pólen armazenado por um período de 2 dias, embora sua eficiência diminua. Não é recomendado o armazenamento de pólen por mais de 2 dias.
EFEITO DO ESTÁDIO DA FLOR NA POLINIZAÇÃO ARTIFICIAL
FRUTA-DO-CONDE
SILVA & SÃO JOSÉ (2000) verificaram não haver diferença entre polinização artificial de fruta-do-conde com pincel, utilizando pólen de flores em estádio masculino ou feminino.
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
CHERIMÓIA
Para obter boa fecundação em cherimóia, a temperatura não deve ser inferior a 16ºC e a umidade relativa do ar superior a 50%, sendo que melhores resultados são obtidos quando a umidade do ar está em torno de 80% (CALABRESE et al, 1984).
SCHROEDER (1943) citado por KAVATI (1992) comprova que o pegamento dos frutos em condições de temperaturas amenas (27ºC) e alta umidade relativa do ar (80%), é melhor que em altas temperaturas (31ºC) com baixa umidade relativa do ar (30%).
ESTERILIDADE DO PÓLEN
ATEMÓIA
KISHIRSAGAR et al. (1976) atribuem o baixo pegamento das flores de atemóia a uma alta taxa de esterilidade do pólen, que é maior que 58% em maio.
INFLUÊNCIA DE PORTA-ENXERTOS NA PRODUÇÃO
ATEMÓIA
GEORGE & NISSEN (1986) observaram que a produção de duas cultivares de atemóia foi significativamente influenciada por diferentes porta-enxertos. A cv. African Pride, produziu 203% a mais quando enxertada sobre cherimóia, do que quando sobre a pinha. Na cv. Pink’s Mammoth estas diferenças foram bem menores com a produção de 7,2 t/ha. quando enxertada em cherimóia e 6,2 t/ha. quando o porta-enxerto era a pinha.
PRAGAS E DOENÇAS
Várias pragas e doenças atacam a planta e os frutos em Annonaceae, devendo ser combatidos para manter a sanidade do germoplasma e a integridade dos trabalhos de cruzamento. As principais doenças são: Antracnose (Glomerella cingulata); podridão das raízes (Phytophthora e Pythium) e podridão seca dos ramos (Botryodiplodia theobromae). As principais pragas são: broca dos frutos (Cerconota anonella); broca da semente (Bephratelloides maculicolis); broca do tronco (Cratosomus spp.) e broca do coleto (Heilipus catagraphus).
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