CLONAGEM DE ESPÉCIES DE ANNONACEAE
POTENCIAIS COMO PORTA-ENXERTOS
Dentre as anonáceas com destino de produção para mesa, ou seja, para consumo in natura, destacam-se no Estado de São Paulo a pinha (Annona squamosa L.) e mais recentemente a atemóia (A. cherimola x A. squamosa). Esta última vem despertando interesse ao cultivo, devido às qualidades de fruto e possibilidade de satisfatório retorno econômico, principalmente para pequenas propriedades, além de ser uma nova opção a mais, de uma frutífera adaptada às condições climáticas deste Estado.
A graviola é considerada a anonácea com maior potencial de industrialização, utilizada principalmente na produção de polpa, para diversas finalidades. É plantada em escala comercial principalmente nos Estado da região nordeste. Um dos principais motivos do uso de porta-enxertos nesta espécie é torná-la mais tolerante à broca do colo e propiciar melhoria da produção (VARGAS RAMOS, 1992).
As anonáceas, em geral, são muito suscetíveis às diversas podridões de raiz e colo (KAVATI, 1992), além de serem atacadas por coleobrocas (TOKUNAGA, 2000), o que exige a utilização de porta-enxertos na tentativa de amenizar os problemas decorrentes.
De acordo com CAMARGO & KAVATI (1996), a formação de mudas que possibilita a obtenção de pomares de anonáceas homogêneos, produtivos e com frutos de qualidade elevada, precisa evitar o uso da propagação sexuada em qualquer de suas fases.
Alguns problemas iniciais no cultivo de pinha, como instalação de pomares via semente (causando alta desuniformidade) e a ausência de um adequado porta-enxerto, posteriormente também para a atemóia, causaram intensificação em experimentações na busca de espécies compatíveis (TOKUNAGA, 2000).
A possibilidade da propagação de porta-enxertos via estaquia (HARTMANN & KESTER, 1968) permite uniformidade do material, além da redução do tempo de formação da muda. A estaquia pode ser influenciada por diversos fatores (CALABRESE, 1978; MENZEL, 1985), entre eles as características inerentes à própria planta e as condições do meio ambiente. Dentre os fatores que podem melhorar os resultados, destacam-se a presença de folhas na estaca, utilização de câmara com nebulização intermitente, reguladores de crescimento, estádio de desenvolvimento da planta e do próprio ramo, além da época do ano em que as estacas são coletadas.
REVISÃO DE LITERATURA
Na propagação por sementes em anonáceas, dada a polinização cruzada, ocorre uma grande segregação, o que reflete no aspecto das plantas e principalmente nas características de seus frutos (KAVATI, 1996).
A propagação das anonáceas pelo método de estaquia até o presente não tem apresentado resultados muito concretos (FRUTICULTURA..., 1994).
Citações de diversos autores indicam a A. reticulata e a A. montana como porta-enxertos para cherimóia, pois apresentam resistência tanto à seca como à umidade excessiva; enquanto que o uso de A. squamosa diminui a altura das plantas (FRUTICULTURA..., 1994).
PINTO & GENÚ (1984) citam como melhores porta-enxertos para a gravioleira, a Annona montana e Annona glabra, como também Annona reticulata. SÃO JOSÉ et al. (2000) recomendam para produção de mudas de gravioleira, a própria graviola ou biribá (Rollinia mucosa) como porta-enxertos.
Na Venezuela, os melhores resultados na enxertia de gravioleira foram obtidos com a utilização dos porta-enxertos de Annona glabra, Annona purpurea e da própria Annona muricata (FRUTICULTURA..., 1994).
A enxertia das anonáceas tem apresentado bons resultados quando realizada pelos métodos de borbulhia ou garfagem (KAVATI, 1992; TOKUNAGA, 2000).
Para aumentar a percentagem de pegamento no processo de enxertia tanto por borbulhia como por garfagem recomenda-se, cerca de duas semanas antes da retirada do material vegetativo, preparar os ramos terminais da planta-matriz fornecedora de borbulhas e garfos. Este preparo consiste em eliminar a gema apical e todas as folhas, porém deixando-se os pecíolos. Os ramos devem ser cortados da planta-matriz quando ocorrer a abscisão dos pecíolos e as gemas laterais estiverem começando a inchar. Com esta técnica é possível aumentar a percentagem de pegamento dos enxertos (FRUTICULTURA..., 1994).
Na Itália, estacas lenhosas de cherimóia (Annona cherimola Mill.) cv. Tardiva foram coletadas entre Dezembro e Fevereiro e tratadas com 4000 mg.L-1 de IBA; assim como estacas herbáces do mesmo cultivar foram coletadas em Junho, Julho e Outubro e postas a enraizar em substrato perlita. Estacas herbáceas coletadas em Junho apresentaram os melhores resultados, com 39% de enraizamento (TAZZARI et al., 1989). Todas as estacas retiradas do cv. Precoce falhou no enraizamento, mostrando a dependência não somente da espécie em questão, mas também do cultivar a ser utilizado, indicando que o enraizamento é variável dentro de seleções ou grupos de clones para uma mesma espécie.
FERREIRA & CEREDA (1999) realizaram experimento com estaquia de atemóia no final da primavera e obtiveram melhores resultados com estacas medianas. George & Nissen (1983), citados por a FERREIRA & CEREDA (1999) trabalharam com dois cultivares de atemóia (Pink’s Mammoth e African Pride), dois tipos de estacas (medianas e apicais), com ou sem tratamento de 2000mg.L-1 de IBA e obtiveram melhores resultados com estacas apicais tratadas com o regulador de crescimento.
Os melhores resultados de enraizamento de estacas de pinha (26%) foram obtidos com o tratamento com IBA (2500 a 3000 mg.L-1) sendo que a testemunha apresentou apenas 4% de enraizamento (BANKAR, 1989).
BLAT et al. (2002) enxertaram duas cultivares de atemóia em duas espécies do gênero Rollinia, sendo R. emarginata e R. sp. (araticum-de-terra-fria). Os porta-enxertos foram obtidos via semente e via estaquia. A estaquia foi realizada segundo metodologia proposta por MITRA & BOSE (1996), onde foram utilizados ramos semilenhosos tratados com 1000 mg.L-1 de IBA diluído em talco, substrato composto com 50% de areia e vermiculita, em câmara de nebulização. A germinação de RE e R. sp. foi de 70%, porém o descarte de plântulas com defeitos foi da ordem de 50%. Na estaquia, obteve-se 50% de enraizamento para RE e 60% para R. sp. O pegamento da enxertia (garfagem tipo inglês complicado) foi de 100% e após quatro meses as mudas foram plantadas no campo.
COSTA JUNIOR et al. (1998) utilizaram o IBA em estacas semilenhosas de atemóia cv. Pink, nas concentrações de 0 (testemunha), 1000, 2000 e 4000 mg.L-1 e obtiveram um enraizamento de 6,7, 11, 15,5 e 40%, respectivamente. Além de proporcionar o maior enraizamento, a concentração de 4000 mg.L-1 promoveu um maior número de raízes por estaca.
RESULTADOS DA DISSERTAÇÃO SOBRE CLONAGEM DE ANNONACEAE (SCALOPPI JR, 2003)
O trabalho objetivou o estudo da capacidade de enraizamento de quatro espécies de Annonaceae potenciais como porta-enxertos (Annona glabra L., Annona montana Macfad, Rollinia emarginata e Rollinia mucosa Baill.). O experimento foi realizado em três épocas, sendo a coleta de estacas realizada em 12/2000, 08/2001 e 04/2002, respectivamente para verão, inverno e outono. O experimento foi conduzido em câmara de nebulização intermitente pertencente à UNESP/FCAV, utilizando-se estacas apicais enfolhadas em tratamento rápido (5 segundos) com ácido indolbutírico (IBA) (0, 1000, 3000, 5000 e 7000 mg.L-1), em esquema fatorial. Após 90 dias avaliou-se a porcentagem de estacas enraizadas, sobrevivência, comprimento e número de raízes.
Para melhor entendimento, as espécies serão denominadas como AG, AM, RE e RM, conforme descritas acima, respectivamente.
A Tabela 1 apresenta o resumo da análise de variância com os valores e significância do teste F para as características avaliadas. Os fatores época e espécie, isolada ou sua interação, apresentaram significância ao nível de 1% de probabilidade para todas as características avaliadas, mostrando serem estas dependentes da espécie a ser propagada em função da época. O fator concentração apresentou significância ao nível de 5% de probabilidade apenas para o número de raízes. Todas as outras interações não foram significativas.
A Tabela 2 apresenta os valores de F do desdobramento da análise de variância para espécie dentro de época e época dentro de espécie. Com relação ao enraizamento, não houve diferença significativa somente para época dentro de RM, apresentando esta espécie baixos valores, independente da época do ano. As estacas desta espécie parecem sofrer oxidação e destruição dos tecidos da base, onde ficam em contato com a vermiculita, apesar deste substrato apresentar ótimas condições de aeração. Para sobrevivência verifica-se significância em todos os desdobramentos. Para número de raízes, o desdobramento espécie dentro de inverno não foi significativo, mostrando baixos valores para esta característica independente da espécie para esta época do ano; como também não foi significativo o desdobramento época dentro de RM. Para comprimento de raízes, não constatou-se significância para época dentro de RE e RM; no caso da primeira espécie nota-se que não houve influência da época no comprimento de raízes e para a última que apresentou valores quase nulos, independente da época (Tabela 5).
As espécies não diferiram entre si em relação ao número e comprimento de raízes no inverno (Tabela 3), indicando que esta época não é adequada, apresentando os piores resultados também, no geral, para as outras características das quatro espécies (Tabela 4).
O inverno mostrando-se desfavorável sobre a maioria dos valores apresentados em relação às outras épocas, indica que a falta de condições ambientais para estas espécies, além das condições fisiológicas, são mais importantes que o fornecimento da auxina exógena, o que leva a conclusão de que há espécies onde as substâncias endógenas são adequadas pelo suprimento principalmente através das folhas desde que haja condições externas adequadas e que há espécies onde mesmo sob condições favoráveis, não enraízam, por uma possível presença de inibidores endógenos e/ou pela estrutura morfológica que dificulte o enraizamento, tanto na formação dos primórdios radiculares, quanto no seu caminhamento em direção ao exterior.
O presente experimento contradiz a afirmação de Casas et al. (1984) citados por FERREIRA & CEREDA (1999), onde os autores afirmam que estacas de anonáceas são consideradas de difícil enraizamento; pois considerando a época de verão, o enraizamento em relação à sobrevivência para AG foi superior a 90% com sobrevivência de cerca de 50%; para AM encontra-se valores próximos a 50% com sobrevivência de cerca de 80%, sendo considerado baixo para RE e de difícil enraizamento portanto apenas para RM (Tabela 5). Do exposto, conclui-se que o sucesso no enraizamento de Annonaceae é dependente da espécie, não podendo-se generalizar a afirmação de Casas et al. (1984) para toda esta família.
Com os diferentes resultados obtidos em relação às épocas de estaqueamento, conclui-se que há um período do ano favorável à realização deste, devendo ser iniciado posteriormente ao inverno e com término anterior ao início do outono. O ideal seria realizar dentro deste período favorável do ano, experimentos mensais para a determinação precisa do período mais conveniente à propagação por estaquia, principalmente para AG e AM, assim como realizado em seleções de goiabeira por FELDBERG et al. (2000).
Em relação a época de verão, apesar do período inicial proposto de 90 dias para o enraizamento, verificou-se no momento da avaliação que raízes ocupavam o exterior das caixas, principalmente de AG e algumas de AM, que apresentavam bom enraizamento, porém estavam mortas. Diante disto, sugere-se que as estacas permaneçam sob nebulização no período de verão por um período de 60-70 dias, para que após, possam ser transplantadas, obtendo-se maiores índices de sobrevivência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As espécies AG e AM, em primeiro instante, comportam-se promissoras para a propagação vegetativa via estaquia, sendo o verão a época mais adequada.
Para AG, a época do ano é decisiva no enraizamento desta espécie.
As diferentes concentrações de IBA não apresentaram diferença estatística entre si em relação ao enraizamento no verão, para AM, porém justifica-se através da regressão, realizar experimentações para determinar se o número de raízes pode influenciar no pegamento das mudas, já que apresentou diferenças em relação à testemunha.
Para RE é clara a necessidade de se realizarem tratamentos alternativos que possam incrementar as atuais taxas de enraizamento obtidas, como retirada de estacas mais tenras, que visualmente apresentaram maior capacidade de enraizamento do que estacas lignificadas; tratamento na planta ou nas estacas com o elemento boro, pois este promove a translocação de carboidratos, o que facilitaria o enraizamento e com o elemento zinco que é precursor da auxina; estiolamento dos ramos; anelamento; etc. A obtenção de um protocolo para a propagação por estaquia desta espécie é em particular desejável, por apresentar boas características como porta-enxerto e devido o inconveniente da plântula levar 30 meses até a enxertia. No outono, a concentração de 5000 mg.L-1, que proporcionou os melhores resultados para o enraizamento, pode ser utilizada nesta espécie, nas condições de Jaboticabal, SP. Devido ser inúmeras as condições que levam ao enraizamento das espécies, fica difícil estabelecer ou sugerir um método geral estimulante, um indicador universal, que leve ao incremento da formação de raízes em estacas.
Os baixos índices de enraizamento e sobrevivência apresentados por RM, devido a queimadura e necrose de tecido existente na base das estacas no momento da avaliação, independente da concentração utilizada, experimentos devem ser realizados na tentativa de solucionar o problema.
Um outro ponto que merece ser melhor estudado, devido a baixa taxa final de sobrevivência das mudas, é o manejo pós-enraizamento, para determinar o período necessário de permanência sob nebulização até que o pegamento esteja garantido.
Very good!
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