quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Importância da cultura do mirtilo


A cultura do mirtilo é recente e pouco conhecida no Brasil. Embora se tenha pouca observação deste cultivo no País, e a pesquisa ainda seja restrita a algumas regiões, optou-se por apresentar a técnicos, produtores e viveiristas as observações que se tem no Rio Grande do Sul, acrescidas de experiências de outros países, para que esta publicação possa servir aos interessados como mais uma opção de melhor utilização da propriedade e de diversificação de produtos.
A obra aborda, de forma sucinta e em linguagem simples, os diversos aspectos da cultura, incluindo a classificação botânica das espécies, condições de clima, cultivares, tratos culturais, aspectos fitossanitários e comercialização.
A Embrapa Clima Temperado introduziu, em 1983, cultivares de mirtilo do grupo rabbiteye e, mais recentemente, tem intensificado as ações de pesquisa com a cultura. Assim, espera-se que em pouco tempo se tenham informações mais específicas para as demais regiões de clima temperado do Brasil.
Esperamos com isto estar contribuindo para o desenvolvimento do Sul do Brasil e demais regiões com microclimas adequados ao mirtilo e para melhoria da qualidade de vida dos usuários da pesquisa, o que, em última instância, é a função da Embrapa.
O mirtilo (Vaccinium spp) é uma espécie frutífera originária de algumas regiões da Europa e América do Norte, onde é muito apreciada por seu sabor exótico, pelo valor econômico e por seus poderes medicinais, sendo considerada como “fonte de longevidade”, devendo-se especialmente ao alto conteúdo de antocianidinas contidas nos pigmentos de cor azul-púrpura. Esta substância favorece a visão, oferece enormes benefícios à pele, aos vasos sangüíneos, aos casos de varizes, hemorróidas, problemas circulatórios, transtornos cardíacos, feridas externas e internas, edema, artritis e artroses. Por suas propriedades nutraceuticas e principalmente pelas oportunidades de negócio que a fruta apresenta, tem despertado a atenção de técnicos e produtores de frutas do Brasil.
De acordo com Zheng & Wang (2003), o alto nível de capacidade antioxidante encontrado no mirtilo, medido pelo método ‘ORAC’(Oxygen radical absorbance capacity), ajuda a neutralizar os radicais livres, os quais são moléculas instáveis que estão ligadas ao aparecimento de um grande número de doenças degenerativas e condições que predispõem ao surgimento de doenças cardiovasculares, câncer, deficiência cognitiva, disfunção imunológica, cataratas e degeneração macular. Segundo Salapam et al (2002), a combinação das 11 antocianinas presentes no mirtilo respondem por 56,3 % do valor total de capacidade antioxidante medido pelo método ‘ORAC’. Recentemente em estudos semelhantes, realizados no Brasil, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por Ramirez et al (2005), observou-se que os polifenois encontrados no mirtilo são capazes de reverter declínios na tradução de sinal neuronais bem como deficits no sistema motor e cognitivo, além de que a suplementação da dieta com mirtilo ser capaz de aumentar a plasticidade Hipocampal. Sendo assim, dietas contenham mirtilo podem prevenir problemas relacionados a doenças neurodegenerativas que incluem o Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e esclerose lateral. Além disso, esta frutífera apresenta excelentes oportunidades de negócio pelo valor alcançado na época de safra, porém a cultura do mirtilo no Brasil, ainda encontra-se em fase de desenvolvimento, ocasião em que se busca um sistema de produção eficiente e competitivo, para inserir o País no rol dos grandes produtores mundiais.
Os primeiros experimentos com mirtilo no Brasil datam de 1983, e foram realizados pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas – RS), com a introdução da coleção de cultivares de baixa exigência em frio, variedades do grupo rabbiteye (Olho de Coelho), oriundas da Universidade da Flórida (Estados Unidos), o plantio comercial iniciou em 1990 na cidade de Vacaria (RS).

O quadro produtivo atual, no país, está estimado em cerca de 60 toneladas, concentradas nas cidades de Vacaria, Caxias do Sul (RS), Barbacena (MG) e Campos do Jordão (SP), totalizando uma área de aproximadamente 35 ha. No Rio Grande do Sul, a região de Vacaria é a pioneira no cultivo desta fruta azul e a grande referência na produção.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Fruticultura (IBRAF), em 2002 o Brasil exportou cerca de quatro toneladas de mirtilo, o que representou uma receita de US$ 24.000,00 aos produtores e divisas para o Brasil. Trata-se de um número pouco significativo, face ao potencial natural que o País oferece para a produção comercial.

A grande questão deste negócio diz respeito a que tipo de fruta o mercado esta disposto a comprar e pagar. As principais variedades cultivadas pertencem ao grupo dos mirtilos altos (southern highbush). Variedades como Misty, O’neil, Jewel, Santa Fé, Bluecrisp, Millenia e Star, estão sendo plantadas devido às excelentes características de seus frutos e pela exigência do consumidor. Variedades que exigem de 150 a 400 horas de frio são perfeitamente adaptáveis às condições de clima presentes no Sul e em algumas áreas do Sudeste do Brasil. Com produções de 6 a 20 toneladas por hectare, dependendo do nível tecnológico adotado, é uma das melhores oportunidades para nossos produtores.

Assim, o cultivo do mirtilo deve ser visto com uma visão mais estratégica, pois os produtores mais organizados já possuem e conhecem a logística de exportação e as oportunidades aí estão apresentadas.

A demanda mundial exige variedades de melhor qualidade do que as inicialmente introduzidas. Introdução e melhoramento de variedades do grupo ‘Southern Highbush’, produção de mudas, técnicas de implantação de pomares, nutrição e fertilidade de plantas, manejo de plantas, manejo integrado de pragas, colheita e pós-colheita, são linhas de pesquisa que precisarão ser implementadas na Empresa, no sentido de apoiar o setor produtivo que deverá entrar rapidamente neste novo negócio.

O sistema de produção do mirtilo, ora apresentado, procura levar ao produtor de frutas, e interessados em geral, informações básicas sobre a cultura.



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