sábado, 26 de agosto de 2017

Instalação e manejo do pomar de Mirtilo


As mudas, antes de serem transplantadas para o campo, devem sofrer um processo de aclimatização (Figura 38), pois ventos e o sol direto podem provocar queimaduras nas mesmas. Se o transplante for realizado no verão, para as condições do Rio Grande do Sul, haverá necessidade de complementação de água no solo, na forma de irrigação, uma vez que neste a maior estiagem no Estado. Por este motivo, pode-se optar por plantar as mudas no campo, quando estas tiverem um ano e meio, no período de inverno, ou seja, junho e agosto, época de chuvas no Sul.
Foto: Luis E. C. Antunes
Figura 1.  Mudas de mirtilo com um ano de idade de `Briteblue`, já aclimatizadas.
Satisfeitas as exigências quanto à localização, clima e solo da área do pomar, e de posse de mudas de alta qualidade, podemos proceder a implantação do pomar.
Deve-se dar preferência a mudas vigorosas e bem enraizadas (Figura 39). Após a correção da fertilidade do solo em toda a área, de acordo com as recomendações para a cultura, devem ser abertas covas para plantio da muda, as quais devem ter no mínimo 30 x 30 x 30 cm. De acordo com a topografia da área, o pomar poderá ser implantado em camalhões dispostos em curvas com declividade variando de 0,6 a 0,8 % ou em linhas reta, se a declividade assim o permitir.
Foto: Luis E. C. Antunes
Figura 2.  Aspecto de uma muda de mirtilo vigorosa e com equilíbrio entre o sistema radicular e parte aérea.
Em função da polinização entomófila ser extremamente importante para a frutificação efetiva do mirtilo, áreas sujeitas à incidência de ventos devem ser evitadas. Se esta condição não pode ser atendida na propriedade, devem ser plantadas espécies de porte alto para formação de quebra-ventos no perímetro do pomar (Figura 40).
Foto: César B. Gomes
Figura 3. Pomar de mirtilo plantado em linhas retas sobre camalhão, e sob proteção de quebra-vento
O espaçamento para mirtilo varia de 3 a 4 metros entre as linhas de plantio e de 1 a 1,5 metro entre as plantas, variações estas em função da topografia, do tipo de terreno, do regime pluvial, da disponibilidade e do tipo de maquinário e do hábito de crescimento da cultivar a ser plantada (Figura 41).
Fotos: Luis E. C. Antunes
Figura 4. Porte de plantas de mirtilo, Clímax e Powderblue. (Embrapa EECascata).
Ao retirar a muda dos sacos plásticos, deve-se tomar o cuidado de não desfazer o torrão; entretanto, devem ser retiradas as raízes excedentes (poda de raízes) e fazer uma leve descompactação do torrão, para facilitar a emissão de novas raízes e a rápida colonização do solo. Nos dois primeiros anos, após o plantio da muda, se constrói a estrutura produtiva da planta. Nesse período, busca-se a formação de brotações vigorosas e de ramos (hastes lenhosas) suficiente para suportar as produções futuras. A planta de mirtilo possui uma fase juvenil extremamente curta, apresentando produção de flores e frutos desde a fase de muda. Entretanto, toda flor ou fruto, na planta jovem, devem ser eliminados, em detrimento das brotações, visando fortalecer os ramos em formação (Figura 42).
Foto: Luis E. C. Antunes
Figura 5. Eliminação de flores em plantas com idade inferior a 3 anos.
O princípio da poda de mirtilo consiste em equilibrar a parte área da planta, com o desenvolvimento das raízes e a produção de frutos. Grande quantidade de ramos resultará em grande produção de frutos, mas de qualidade inferior, e a médio prazo os ramos assim formados perderão a capacidade de emitir folhas, tornando-se débeis. Ramos fortes darão boas produções; ramos finos e mal formados, não produzirão frutos de qualidade. Portanto, a poda tem a função de redistribuir a carga da planta, visando regularizar a produção e também favorecer a emissão de brotações vigorosas. A poda também deve objetivar abertura do centro da planta. As plantas do tipo "rabbiteye" necessitam de menos poda que as do grupo "highbush", uma vez que são vigorosas e suportam grandes cargas de frutos (Santos e Raseira, 2002); entretanto, intervenções devem ser realizadas. Na poda de formação devem-se eliminar as ramificações finas e débeis abaixo dos 30 cm de altura da copa. Priorizam-se três a quatro ramos mais vigorosos na 1ª estação. No inverno seguinte esses ramos são podados a 40-50 cm de altura, para formação de 3 a 4 pernadas (ramos primários). Sobre estas se concentrará a produção do ano seguinte. Os ramos primários podem permanecer por até 6 anos, quando serão substituídos. Formada a estrutura da plantas, nos anos seguintes, a poda consiste em remover ramos doentes, fracos ou inseridos muito baixo nas hastes principais, Hastes muito altas podem ser cortadas em até 1/3 do seu tamanho. Ramos fracos devem ser despontados até um bom ramo lateral jovem. O número de hastes deve ser entre quatro e seis, sendo uma ou duas para substituição e as demais para produção. Após os dois primeiros anos de formação da estrutura da planta, inicia a fase de produção comercial dos frutos. As intervenções de poda serão realizadas no inverno (poda seca) e no verão (poda verde). Na poda de inverno prioriza-se a eliminação de galhos secos e de ramos mal localizados, principalmente aqueles que se desenvolvem para o interior da copa (Figura 43). Diferente de outras espécies, como por exemplo, o pessegueiro, não se deve despontar os ramos da planta nesta fase, uma vez que as gemas de flor se concentram nas ultimas seis a oito gemas terminais.
Fotos: Luis E. C. Antunes
Figura 6.  Plantas de mirtilo no período de dormência vegetativa, aptas a poda seca ou de inverno.
Nestas gemas há formação apenas de flores, sendo que gemas vegetativas estão concentradas abaixo destas. Durante a formação dos frutos, há também o desenvolvimento destas gemas (Figura 44). Na poda de verão, após a colheita, são eliminados os ramos que produziram frutos, pois os mesmos tendem a secar, e também são selecionadas as brotações mais vigorosas desenvolvidas durante a fase de crescimento (Figura 45 e 48). Portanto, faz-se uma poda de limpeza, de raleio de ramos e de varas oriundas de gemas das raízes ou da base do tronco das plantas, cuja finalidade é o arejamento da planta e fortalecimento de ramificações para próxima safra.
Foto: Luis E. C. Antunes
Figura 7. Gemas apicais em flor e gemas da base do ramo em
inicio de desenvolvimento vegetativo
Ramos envelhecidos, com mais de 5 anos, devem ser eliminados totalmente, a partir da base ou logo acima de uma brotação vigorosa. Durante o desenvolvimento da planta devem se formar, a partir de lançamentos novos, estruturas que irão substituir os ramos mais velhos.
Fotos: Luis E. C. Antunes
Figura 8. Planta com ramificações velhas e mal localizadas (Embrapa EECascata).
Foto: Luis E. C. Antunes
Figura 9.  Condução de plantas de `Bluebelle` com revigoramento de
lançamentos (Embrapa EECascata).
Foto: César B. Gomes
Figura 10.  Ramo terminal em produção.
Foto: César B. Gomes
Figura 11.  Eliminação do ramo de produção em pós-colheita, acima de um ramo vigoroso da estação de crescimento vigente.


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