terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Manejo do Solo na Cultura da Manga



Manejo do Solo

O principal propósito do manejo do solo na cultura da mangueira é proporcionar alternativas de produção que infiram a sustentabilidade e que minimizem o impacto ambiental, aproveitando conhecimentos, experiências e recursos locais, tendo como base a reciclagem da matéria orgânica e as técnicas de produção compatíveis com o ambiente, utilizando-se os recursos naturais tais como água, solo, energia e biodiversidade como forma de garantir o equilíbrio biológico.
Para estabelecer um sistema de manejo, a proteção e uso do solo devem se basear, primeiramente, no seu potencial produtivo. Para um manejo adequado do solo é necessário considerar suas propriedades físicas (aeração, retenção de água, compactação, estruturação), químicas (reação do solo, disponibilidade de nutrientes e interações entre estes) e biológicas (teor de matéria orgânica, respiração, carbono e nitrogênio da biomassa microbiana, taxa de colonização e tipo de microrganismos).
Independentemente do tipo do sistema de produção de manga, é importante observar os aspectos edafoambientais (insolação, altitude, precipitação e distribuição das chuvas). No Submédio do Vale do São Francisco, o cultivo da mangueira é realizado em áreas irrigadas e o período de frutificação é determinado pelo uso de indutores florais. As técnicas de manejo da cultura são altamente especializadas.
Em relação aos aspectos edáficos é importante levar em consideração a granulometria, estrutura, densidade, teor de matéria orgânica, drenagem, impedimentos à mecanização e profundidade do solo.
Para o desenvolvimento da mangueira, a profundidade do solo (horizontes A + B) é de grande importância. Esta é a profundidade efetiva que consiste na camada do solo que vai ser explorado pelo sistema radicular, traduzindo-se em volume de solo com água e/ou nutrientes que as raízes da mangueira terão disponíveis. Aliando à profundidade do solo, o sistema radicular das plantas deve ter condições de explorá-lo, significando que se houver algum impedimento químico ou físico, as raízes não conseguem explorar satisfatoriamente esse substrato. Alguns impedimentos podem ser eliminados por meio do manejo adequado do solo como promover a subsolagem, quando este estiver compactado; calagem no caso de solos ácidos; incorporação de leguminosas, quando o teor de matéria orgânica estiver muito baixo; a drenagem, quando apresentar restrições relativas à presença de sais, etc.
Com ênfase no manejo ecológico, algumas medidas de condução da área podem ser adotadas, tais como uso de rochas naturais moídas como calcário e o fosfato natural para melhorar a fertilidade. Plantio e incorporação de leguminosas (coquetéis vegetais) que aumentem o teor de matéria orgânica, melhorando a estrutura do solo e, também, contribuindo para o aumento de cargas dependentes de pH. Vale ressaltar que, como nos solos do Submédio do Vale do São Francisco são, na maioria, cauliniticos/oxídicos, o aumento de cargas provenientes da incorporação de matéria orgânica pode resultar em aumento nos pontos de carga para a retenção/troca de nutrientes com o sistema radicular da mangueira. A ausência de pontos de carga faz com que os nutrientes adicionados ao solo sejam lixiviados a grandes profundidades, principalmente em solos de textura arenosa, como alguns que ocorrem no Submédio do Vale o São Francisco.
A mangueira cresce bem em qualquer solo, desde que não sejam encharcados, alcalinos, rochosos, extremamente rasos ou demasiado pobre. Adapta-se melhor em solos profundos, moderadamente férteis e bem drenados. Prospera igualmente bem em solos leves e pesados se as outras condições forem favoráveis.
De modo geral, as exigências edáficas para o cultivo da mangueira são solos de fertilidade e textura média, profundos e permeáveis. Entretanto, no Submédio do Vale do São Francisco solos de textura arenosa até muito argilosa são bastante explorados com a cultura, tais como Neossolos Quartzarênicos, Argissolos, Latossolos e Vertissolos. Entre estes, os solos ligeiramente ácidos e com pH variando de 5,5 a 6,8 são os mais interessantes.
As áreas de solos arenosos cultivados com manga têm apresentado produtividade elevada e permitido um manejo eficiente da irrigação. Além disso, requerem menor custo de implantação do pomar, por não apresentarem problemas de drenagem. No entanto, por causa da textura arenosa, necessitam da adição de matéria orgânica para aumentar a capacidade de retenção de água e nutrientes, bem como melhorar a estabilidade estrutural do solo. Os solos com impedimentos físicos, tais como adensamentos genéticos, caso dos Argissolos, comuns na região do Submédio do Vale do São Francisco, devem ser trabalhados (escarificações, subsolagem, etc.) na época de implantação do pomar, pois influenciam na distribuição e absorção de água e dos nutrientes.
Em área cultivada com mangueira, estudos demonstraram que houve aumento nos teores de Ca (62% a 130%), Mg (50% a 250%), K (37% a 90%) e P (200% a 433%) e nos valores de pH (4% a 29%), CTC (13% a 25%) e V (31% a 102%), e redução nos teores de Al (40% a 83%) nas três camadas em relação aos do solo virgem, em decorrência das calagens e adubações realizadas. Em relação à matéria orgânica, também houve acréscimos nos seus teores nas três camadas do solo, na área sob a copa (9% a 35%) e nas duas primeiras camadas do solo da área entre as filas de plantas (11% a 21%). A Ds diminuiu apenas nas duas primeiras camadas do solo da área entre as mangueiras.
Constata-se que, nas áreas sob a copa, os incrementos foram maiores que na área entre as linhas de plantas. A melhoria observada nas características do solo nesta área sinaliza o aproveitamento de todo o material proveniente da poda para fazer uma cobertura morta entre as filas de plantas do pomar ou compostar.
Nas áreas com mangueiras cultivadas sobre Neossolos Quartzarênicos, verifica-se que praticamente todas as características químicas foram melhoradas com o cultivo, evidenciando a capacidade dos Neossolos serem melhorados quanto à sua fertilidade com o cultivo sustentável, como é o caso da agricultura orgânica.

Seleção da área e preparo do solo

Levando-se em consideração as práticas agronômicas e a necessidade de escoamento da produção, as áreas onde serão implantados os pomares devem ser selecionadas considerando-se o relevo e as vias de acesso. No Submédio do Vale do São Francisco, em solos de textura arenosa, como os Neossolos Quartzarênicos, faz-se a limpeza da área por meio do destocamento e roçagem da vegetação, 3 a 4 meses antes do plantio, sem o uso da aração e da gradagem. Normalmente, são abertos berços que são adubados com fertilização química ou orgânica, onde são plantadas as mudas.
Após a limpeza, deve-se realizar uma amostragem do solo para a avaliação da fertilidade, que pode ser coletada na profundidade de 0-20 cm e 20-40 cm, ou ainda em maiores profundidades, quando necessário. Em solos de textura argilosa ou muito argilosa executa-se, após o destocamento e roçagem, a gradagem a uma profundidade variável de 20 cm a 30 cm, dependendo do tipo de disco utilizado. Nos solos que apresentam adensamento genético como no caso dos Argissolos do Submédio do Vale do São Francisco, pode-se realizar subsolagem para romper a camada adensada.
As operações de aração, gradagem leve e/ou pesada, ou qualquer outra com o objetivo de preparar o solo, deverão ser definidas em função das condições da área a ser preparada.
Aração - Caso seja necessário, fazer uma aração a uma profundidade de 30-40 cm, objetivando, principalmente, a incorporação dos restos culturais, rompimento da camada de impedimento, eliminação de ervas daninhas, entre outras.
Gradagem - É recomendada uma gradagem leve, gradagem pesada ou subsolagem. Após a aração, no caso de haver sido aplicado calcário, deve ser feita uma gradagem cruzada com a operação anterior (aração, gradagem pesada ou subsolagem).

Cobertura do solo e adubação verde

Outra prática que vem sendo estudada para a região é a utilização de várias espécies vegetais consorciadas entre as mangueiras. Essa mistura é conhecida como coquetel vegetal (leguminosas, gramíneas e oleaginosas) e tem a finalidade de servir como adubo verde e cobertura morta. As espécies vegetais são semeadas em conjunto (misturadas) e quando atingem o estádio de pleno florescimento são cortadas para a produção de material orgânico para manejo de solo.
Na tentativa de fornecer informações sobre as espécies vegetais que podem ser utilizadas para a cobertura do solo e adubação verde nos Perímetros Irrigados, a Embrapa Semiárido vem conduzindo, desde 2004, estudos com coquetéis vegetais para o manejo de solo em sistema de cultivo orgânico de manga (Figura 1). Os coquetéis vegetais são constituídos pelas seguintes espécies em diferentes proporções: leguminosas - calopogônio (Calopogonium mucunoide), Crotalaria junceaCrotalaria spectabilis, feijão-de-porco (Canavalia ensiformes (L.) DC.), guandu (Cajanus cajan L.), lab-lab (Dolichos lablab L.), mucuna-preta (Mucuna aterrima Piper & Tracy), mucuna-cinza (Mucuna conchinchinensis (Lour.) A. Chev.); não-leguminosas: gergelim (Sesamum indicum L.), girassol (Helianthus annuus L.), mamona (Ricinus communis L.), milheto (Penissetum americanum L.) e sorgo (Sorghum vulgare Pers.). Neste estudo, concluiu-se que todas as espécies estudadas apresentaram desenvolvimento vegetativo e nutricional favorável às condições ambientais do Semiárido.
Fotos: Petrere V. G.


Figura 1. Leguminosas cultivadas na entrelinha.
A utilização de coquetéis vegetais associados ao não revolvimento do solo pode ser uma estratégia de manejo de solo viável para o Semiárido brasileiro. Para monitorar a evolução dos sistemas de manejo, procura-se estabelecer indicadores de qualidade do solo. A matéria orgânica do solo, considerada como um dos indicadores de sua qualidade e, consequentemente, dos sistemas de manejo empregados, tem sido muito utilizada nos estudos desenvolvidos com o objetivo de avaliar, direta ou indiretamente, as condições químicas, biológicas e físicas do sistema solo. A matéria orgânica do solo é sensível às diferentes práticas de manejo agrícola.
Comprovando a melhoria da qualidade do solo em sistemas que empregam coquetéis vegetais, observou-se que a utilização destes nas entrelinhas da mangueira aumenta teor de matéria orgânica, nitrogênio e fósforo, além de diminuir a densidade e a resistência à penetração das raízes. Essas alterações podem se deslocar em profundidade promovendo melhorias nas características físicas químicas e biológicas do solo.
A utilização de compostos orgânicos na adubação da cultura da mangueira também pode trazer benefícios nas características físicas, químicas e biológicas do solo. O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia de resíduos vegetais e animais. Para a produção do composto, utiliza-se uma fonte de matéria-prima rica em carbono (resto de poda de mangueira, capins, bagaço de coco e outros) e uma outra fonte rica em nitrogênio como estercos de animais (caprinos, ovinos e bovinos) e restos de leguminosas.
O processo de compostagem permite a ciclagem desses resíduos e sua desinfecção contra insetos, fungos, bactérias, plantas espontâneas e compostos indesejáveis. A escolha da combinação das matérias-primas é importante para a maior eficiência da compostagem. A relação carbono/nitrogênio (C/N) inicial ótima é de 25-35:1 e pode ser atingida por meio do uso aproximado de 75% de restos vegetais variados e 25% de esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são dispostos em camadas alternadas formando uma leira ou monte de dimensões e formatos variados (Figura 2). O composto orgânico altera as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, fornecendo nutrientes e carbono mais estabilizado. O composto pode ser feito com diferentes matérias-primas, porém, após estabilizado, deve-se fazer uma análise química, utilizando-se como extratores água e ácido, e, assim, verificar as concentrações de nutrientes prontamente e potencialmente disponíveis.
Na formação dos berços para receber as mudas de mangueira podem ser adicionados até 5 L de composto. Após o plantio, distribui-se o composto na área correspondente à projeção da copa de acordo com a recomendação do programa de adubação.
Foto: Petrere V. G.
Figura 2. Elaboração da pilha de composto.



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