quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Adubação e Calagem na Cultura da Manga


Nutrição, Calagem e Adubação

Efeitos e funções dos nutrientes na cultura

Nitrogênio (N) - O N é um dos nutrientes mais importantes para a mangueira e exerce um importante papel na produção e na qualidade dos frutos. Seus efeitos se manifestam principalmente na fase vegetativa da planta e, considerando a relação existente entre surtos vegetativos/emissão de gemas florais/frutificação, sua deficiência poderá afetar negativamente a produção. Mangueiras adequadamente nutridas com N poderão emitir regularmente brotações que, ao atingirem a maturidade, resultarão em panículas responsáveis pela frutificação. Em excesso, este nutriente pode aumentar a suscetibilidade da cultura a desordens fisiológicas, tais como colapso interno e doenças de pós-colheita, e se for aplicado no momento errado, pode prejudicar o florescimento. Altos teores de N podem, ainda, deixar os frutos verdes, ou manchados de verde, o que compromete a qualidade de produção e valor de mercado.
Fósforo (P) - O P é necessário na divisão e crescimento celular da planta. É especialmente importante no desenvolvimento radicular, comprimento da inflorescência, duração da floração, tamanho da folha e maturação do fruto. Influencia positivamente na coloração da casca, uma característica de grande importância para o mercado consumidor.
Potássio (K) - O K exerce um importante papel na fotossíntese e produção de amido, na atividade das enzimas e na resistência da planta a doenças. Ele está estreitamente relacionado com a qualidade dos frutos, em particular cor da casca, aroma, tamanho e brix. Influencia ainda a regulação de água na célula, controlando as perdas de água das folhas por meio da transpiração. É o nutriente mais importante em termos de produção e qualidade de frutos. No entanto, o excesso desse nutriente pode causar desbalanço nos teores de cálcio e magnésio, causando, ainda, queima nas margens e ápice das folhas velhas.
Cálcio (Ca) - O Ca, juntamente com o N, é um nutriente exigido em grandes quantidades pela mangueira. Contribui no desenvolvimento celular da planta e influencia na firmeza e na vida de prateleira dos frutos. Baixos teores de Ca estão associados com o colapso interno. Os períodos críticos para a sua absorção são durante o desenvolvimento inicial dos frutos e pós-colheita. É melhor absorvido pelo sistema radicular; assim, aplicações foliares não têm sido eficientes, uma vez que ele é praticamente imóvel na planta.
Magnésio (Mg) - Embora o Mg não seja exigido em grandes quantidades, sua deficiência poderá provocar redução no desenvolvimento, desfolha prematura e, em decorrência, diminuição da produção. Adubações com altas doses de Ca e de K diminuem a sua absorção, motivo pelo qual deve ser verificada, antecipadamente, a relação K/Ca/Mg.
Enxofre (S) - Sintomas de deficiência de S são raramente observados, uma vez que a disponibilidade deste nutriente nos solos geralmente é capaz de atender as necessidades das plantas. Além disso, a aplicação de fertilizantes minerais e orgânicos ao solo e de determinados defensivos agrícolas contendo enxofre, garantem um suprimento adicional de S à mangueira.
Boro (B) - O B é importante na fase de florescimento e desenvolvimento de frutos e essencial para a absorção e uso do Ca. A sua deficiência resulta em baixas taxas de florescimento, além de frutos de tamanho reduzido. Os sintomas de deficiência são mais visíveis durante o florescimento, produzindo inflorescências deformadas, brotações de tamanho reduzido, com folhas pequenas e coriáceas. Poderá ocorrer ainda redução significativa em termos de produção, uma vez que a gema terminal poderá morrer. A morte de gemas terminais resulta na perda da dominação apical, induzindo assim a emissão de grande número de brotos vegetativos, originados das gemas axilares dos ramos principais. Deve-se tomar cuidado com as quantidades de B aplicadas, uma vez que o limite entre deficiência e toxicidade é muito próximo. A toxidez de B causa queima das margens e queda das folhas, podendo causar grande prejuízo à produção.
Cobre (Cu) - O Cu é necessário para a ativação de várias enzimas. As exigências da mangueira por Cu são pequenas, assim, raramente ocorrem deficiências. Em alguns casos pode-se observar concentrações elevadas nas folhas, em consequência da aplicação de fungicidas e caldas à base de Cu, usados no controle de doenças. Esses produtos podem se acumular no solo, aumentando a disponibilidade desse nutriente para a planta.
Zinco (Zn) - Plantas deficientes em Zn apresentam encurtamento dos entrenós e, além disso, o limbo foliar tem sua espessura ampliada e torna-se quebradiço. Os distúrbios denominados malformação floral ou “embonecamento” e malformação vegetativa ou vassoura-de-bruxa podem, em parte, ser confundidos com a deficiência de Zn, uma vez que as plantas emitem panículas pequenas, de forma irregular, múltiplas e deformadas.
Ferro (Fe) - A disponibilidade de Fe normalmente é alta em solos tropicais. A carência de Fe pode ocorrer em solos ácidos, por causa do excesso de manganês, bem como em solos que apresentem pH elevado.
Manganês (Mn) - A disponibilidade de Mn, normalmente alta em solos tropicais, é reduzida quando se realiza calagem e quando se aplicam altas doses de P.
Amostragem e análise de solo
O resultado da análise química do solo é essencial na recomendação de adubação, no entanto, é necessário que se faça uma amostragem de solo criteriosa, de modo que represente as condições reais do campo.
Inicialmente, separam-se as áreas com solos diferentes no que se refere à cor, à textura, ao relevo e ao uso (virgem ou cultivado, adubado ou não adubado, etc.). Feita a separação, em cada área homogênea realiza-se a amostragem em 20 pontos ao acaso, para se obter uma amostra composta, nas profundidades de 0-20 cm e de 20-40 cm. A terra retirada na amostragem em cada profundidade deve ser colocada em um recipiente limpo (balde plástico). Completado o número de amostras simples, mistura-se bem a terra, retirando-se depois, aproximadamente, meio quilo de solo, que deve ser colocado num saco plástico, que representará a referida amostra composta. As amostras não devem ser coletadas em locais de formigueiro, monturo e coivara ou próximos a currais e estradas. Antes da coleta, deve-se limpar a superfície do terreno, caso haja mato ou resto vegetal. A amostragem é facilitada quando o solo está ligeiramente úmido.
Em pomares já estabelecidos as amostras de solo devem ser coletadas na projeção da copa das árvores, nos locais nos quais se faz a adubação, evitando-se a coleta em faixas de terra recém-adubadas. As amostras devem ser retiradas nas profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm. Em áreas com sistemas de irrigação localizada, a maior concentração de raízes da mangueira limita-se ao bulbo molhado. Portanto, a amostragem e a adubação deverão ser realizadas nestes locais. Nos pomares já estabelecidos a amostragem deverá ser realizada após a colheita, no período de repouso da mangueira, e antes de efetuar a adubação de base.
Amostragem e análise de planta
A análise mineral de planta é importante para se fazer a recomendação de adubação mas, para isso, é necessária uma amostragem adequada. Deve-se separar talhões ou conjunto de talhões (não ultrapassar 10 ha) com a mesma idade, variedade e produtividade, em áreas de solos homogêneos. Manter o mesmo agrupamento usado na amostragem de solo. Escolher para a coleta apenas as folhas inteiras e sadias. As folhas devem ser coletadas na parte mediana da copa, nos quatro pontos cardeais, em ramos normais e recém-maduros. Coletar as folhas na parte mediana do penúltimo fluxo do ramo ou do fluxo terminal, com, pelo menos, 4 meses de idade. Retirar quatro folhas por planta, em 20 plantas selecionadas ao acaso.
Realizar a coleta antes da aplicação de nitratos ou outro fertilizante foliar para a quebra de dormência das gemas florais. Não amostrar plantas que tenham sido adubadas, pulverizadas ou após períodos intensos de chuvas. Após a coleta, deve-se acondicionar as amostras em sacos de papel, identificando-as e enviando-as, imediatamente, para um laboratório. Se isto não for possível, armazená-las em ambiente refrigerado. A amostragem de folhas deve ser realizada anualmente, pois os teores foliares de N condicionam as doses de fertilizantes nitrogenados a serem aplicadas.
Interpretação dos resultados de análise de folhas
Partindo de uma amostra padronizada, colhida como foi explicado anteriormente, é realizada a análise total dos elementos no material vegetal. A interpretação pode ser feita com base na faixa de teores considerados adequados. Na Tabela 1, são apresentadas essas faixas, sem especificação da cultivar de manga.
Tabela 1. Teores de nutrientes adequados em folhas de mangueira (Mangifera indica L).
Nutrientes
Faixas de Teores

Deficiente
Adequado
Excessivo
N (g/kg)
< 8,0
12,0 a 14,0
> 16,0
P (g/kg)
< 0,5
0,8 a 1,6
> 2,5
K (g/kg)
< 2,5
5,0 a 10,0
> 12,0
Ca (g/kg)
< 15,0
20,0 a 35,0
> 50,0
Mg (g/kg)
< 1,0
2,5 a 5,0
> 8,0
S (g/kg)
< 0,5
0,8 a 1,8
> 2,5
B (mg/kg)
< 10
50 a 100
> 150
Cu (mg/kg)
< 5
10 a 50
-
Fe (mg/kg)
< 15
50 a 200
-
Cl (mg/kg)
-
100 a 900
> 1600
Mn (mg/kg)
< 10
50 a 100
-
Zn (mg/kg)
< 10
20 a 40
> 100
Fonte: Quaggio (1996).
Calagem
A calagem tem a finalidade de corrigir a acidez do solo, elevando o pH e neutralizando os efeitos tóxicos do alumínio (Al) e Mn, concorrendo, assim, para que haja um melhor aproveitamento dos nutrientes pelas culturas. Além da correção da acidez, a calagem eleva os teores de Ca e Mg do solo, porque o calcário, que é o corretivo normalmente usado, contém altos teores desses nutrientes.
A mangueira é uma das culturas mais exigentes em Ca, pois possui quase sempre o dobro desse nutriente nas folhas em relação ao N, que é o nutriente predominante nas folhas da maioria das espécies cultivadas. No campo, também são frequentes os sintomas de deficiência de Mg, considerado o quarto nutriente mais importante para a mangueira. Em solos ácidos, os problemas de deficiência de Mg são facilmente corrigidos mediante a aplicação de calcário dolomítico, que é uma fonte eficiente e a mais econômica do nutriente. Entretanto, em solos alcalinos, a deficiência de Mg só é corrigida pela aplicação de sais solúveis de Mg, como sulfato, cloreto ou nitrato, os quais normalmente têm custo elevado, principalmente quando comparados com o calcário dolomítico.
Em pomares corrigidos com calcário ou naqueles em que o pH elevado não permite a sua utilização, a concentração de Ca nas folhas pode ficar abaixo do nível crítico, predispondo as plantas a distúrbios fisiológicos, como o colapso interno (soft nose). Uma fonte alternativa de Ca é o gesso ou o fosfogesso. Nestas situações, o gesso é um material que vem sendo usado para aumentar os teores de Ca, sem alterar o pH do solo. Existem, também, os produtos quelatizados com ácidos orgânicos (polihidroxicarboxílicos) como fonte de Ca. Em condições de pH elevado e baixa disponibilidade de Ca no solo, deve-se empregar, como fonte de P, fertilizantes também ricos em Ca como é o caso dos superfosfatos, termofosfatos e fosfatos naturais.
A calagem deverá promover a elevação da saturação por bases (V) a 80% e/ou o teor de Ca2+ a 2 cmolc dm-3 e o de Mg2+ a 0,8 cmolc dm-3. A quantidade dos corretivos deve ser determinada pelo técnico especialista, com base nos resultados da análise de solo.
Adubação
O manejo de adubação da mangueira envolve três fases: 1) adubação de plantio; 2) adubação de formação; e 3) adubação de produção.
Adubação de plantio - Depende, essencialmente, da análise do solo. Os fertilizantes minerais e orgânicos são colocados na cova e misturados com a terra da própria cova, antes de se fazer o transplantio das mudas (Tabela 2).
Adubação de formação - As adubações minerais devem ser iniciadas a partir de 30 dias após o plantio, distribuindo-se os fertilizantes na área correspondente à projeção da copa, mantendo-se uma distância mínima de 20 cm do tronco da planta. Deve-se fazer uma leve incorporação e irrigar logo em seguida. O raio da área de aplicação deverá ser ampliado em função do crescimento da planta (Tabela 2).
Tabela 2. Quantidades de N, P2O5;e K2O indicadas para a adubação de plantio e formação da mangueira (Mangifera indica L) irrigada no Semiárido.
Adubação
N
P Mehlich-1, mg dm-3
K solo, cmolc dm-3

< 10
10 - 20
21 - 40
> 40
< 0,16
0,16 - 0,30
0,31 - 0,45
> 0,45
g/cova
P2O5, g/cova
K2O, g/cova
Plantio
-
250
150
120
80
-
-
-
-
Formação
0-12 meses
150
-
-
-
-
80
60
40
20
13-24 meses
210
160
120
80
40
120
100
80
60
25-30 meses
150
-
-
-
-
80
60
40
20
Fonte: Silva et al. (2004).
Adubação de produção - A partir de 3 anos ou quando as plantas entrarem na fase de produção, os fertilizantes deverão ser aplicados em sulcos, abertos ao lado da planta. A cada ano, o lado adubado deve ser alternado. A localização destes sulcos deve ser limitada pela projeção da copa e pelo bulbo molhado, por ser esta a região com maior concentração de raízes (Tabela 3). A distribuição dos fertilizantes nesta fase poderá ser realizada da seguinte maneira: após a colheita, aplica-se 50% do N, de 60% a 100% de P e 25% do K. Antes da indução floral, deve ser adicionado 20% do K. Na floração, aplica-se mais 15% do K e, se houver, a dose complementar de P. Após o pegamento dos frutos, aplica-se 30% do N e 15% do K. Cinquenta dias após o pegamento dos frutos, devem ser adicionados 20% do N e 15% do K. As doses desses nutrientes devem ser definidas de acordo com os resultados de análise foliar e do solo.
Adubação orgânica - Aplicar 20 L a 30 L de esterco por cova no plantio e pelo menos uma vez por ano.
Adubação com micronutrientes - As deficiências mais comuns de micronutrientes que ocorrem na mangueira são de Zn e B. A correção dessas deficiências poderá ser realizada por meio da aplicação de fertilizantes ao solo ou via foliar, de acordo com os resultados de análise foliar e do solo.
Fornecimento de cálcio – Considerando-se a elevada exigência da mangueira por Ca, recomenda-se associar a calagem com a aplicação de gesso. A quantidade de gesso a ser aplicada deve ser definida de acordo com os resultados da análise química e a textura do solo, e associada à quantidade de calcário, que fica em torno de 0,5 t/ha em solos de textura arenosa e 2,5 t/ha em solos de textura argilosa. Aplicar o gesso na superfície, sem incorporação, após a calagem e antes da adubação, para se evitar perda excessiva de K.
Tabela 3. Quantidades de N, P2O55 e K2O indicadas para a adubação de produção da mangueira (Mangifera indica L) em função da produtividade e da disponibilidade de nutrientes.
Produtividade esperada
N nas folhas, g kg-1
P Mehlich-1, mg dm-3
K solo, cmolc dm-3
< 12
12 - 14
14 - 16
> 16
< 10
10 - 20
21 - 40
> 40
< 0,16
0,16 - 0,30
0,31 - 0,45
> 0,45
t/ha
N, kg/ha
P2O5, kg/ha
K2O, kg/ha
< 10
30
20
10
0
20
15
8
0
30
20
10
0
10 – 15
45
30
15
0
30
20
10
0
50
30
15
0
15 – 20
60
40
20
0
45
30
15
0
80
40
20
0
20 – 30
75
50
25
0
65
45
20
0
120
60
30
0
30 – 40
90
60
30
0
85
60
30
0
160
80
45
0
40 – 50
105
70
35
0
110
75
40
0
200
120
60
0
> 50
120
80
40
0
150
100
50
0
250
150
75
0
Fonte: Silva et al. (2004).



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