sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Botânica do cajueiro


O cajueiro pertence à família Anacardiaceae, que é composta por cerca de 70 gêneros e 700 espécies. Quanto ao gênero, o cajueiro pertence ao Anacardium, constituído por aproximadamente 22 espécies, sendo 21 originárias das Américas do Sul e Central e uma da Malásia. Dessas 22 espécies de cajueiro já relatadas, apenas a espécie Anacardium occidentale L., de origem brasileira, é explorada comercialmente.
Outras espécies de cajueiros também são encontradas no Brasil, destacando-se plantas de porte alto (entre 25 m e 40 m de altura) e médio (entre 4 m e 20 m de altura) na região amazônica; plantas arbustivas de pequeno porte (entre 0,5 m e 12 m de altura) no Planalto Central; e plantas de porte intermediário (de até 20 m de altura) no Sertão nordestino.
Devido à sua dispersão, realizada pelos colonizadores desde o século 16 (entre 1563 e 1578), o cajueiro A. occidentale é encontrado em diversos locais do mundo (entre as latitudes 30°N e 31°S), vegetando e produzindo mesmo em condições ecológicas consideradas insatisfatórias, o que o caracteriza como planta com grande capacidade adaptativa. Apesar de o Brasil ser o seu local de origem, os maiores produtores mundiais de castanha são o Vietnã, a Nigéria e a Índia.
A seguir, serão descritas as principais características do cajueiro:

Sistema radicular

O cajueiro apresenta raízes laterais distribuídas horizontalmente em toda a sua periferia e uma raiz pivotante bifurcada logo abaixo da superfície. Raízes verticais são emitidas ao longo das raízes laterais, principalmente na profundidade entre 15 cm e 50 cm de profundidade. Tanto as raízes mais grossas quanto as mais finas apresentam radicelas (raízes pequenas, sensíveis e quebradiças) responsáveis pela absorção de água e nutrientes. A envergadura do sistema radicular é extensa e se projeta ao longo das linhas de plantio, podendo se entrelaçar com as das plantas vizinhas. No entanto, grande parte da área explorada pelo sistema radicular encontra-se na área de projeção da copa. Os resultados de um estudo, referente ao sistema radicular do cajueiro-anão ‘CCP 09’, com 10 anos de idade, em cultivos irrigado e de sequeiro, mostraram que as plantas irrigadas apresentavam profundidade efetiva das raízes até 60 cm num raio de 1,0 m a partir do caule, enquanto as plantas de sequeiro apresentaram raízes com até 1,0 m de profundidade, num raio de 1,6 m a partir do caule. Foi constatado, ainda, que a concentração preponderante de raízes, em ambos os cultivos, se localizou a uma profundidade de até 25 cm e a uma distância de até 50 cm do caule.

Parte aérea (copa)

O cajueiro é uma planta perene, de ramificação baixa (ramos próximos ao solo), apresentando porte variado. Em função do porte, o cajueiro é classificado em dois tipos, o comum (gigante) e o anão (também denominado como anão-precoce) (Figura 1).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 1. Cajueiros dos tipos comum (acima) e anão (abaixo) cultivados no Ceará e Piauí, respectivamente. Ambos pertencem à espécie Anacardium occidentale L.

Os cajueiros-comuns são os mais encontrados no Nordeste, pois, além de serem nativos, foram os primeiros a serem explorados comercialmente, sendo propagados quase exclusivamente por sementes. Já o cajueiro-anão é oriundo de seleções fenotípicas de cajueiros-comuns de porte baixo realizadas a partir da década de 1960.
A parte aérea do cajueiro-comum pode atingir até 20 m de altura, sendo, por isso, também chamado de gigante. No entanto, são mais comuns os cajueiros entre 8 m e 15 m de altura, com diâmetro (envergadura) proporcional ou superior à altura. Em regiões de clima seco e com solos arenosos de baixa fertilidade, as plantas tendem a apresentar porte inferior, de tronco atarracado, tortuoso e esgalhado a partir da base, com ramos longos e sinuosos, formando uma copa ampla e irregular.
O cajueiro-anão caracteriza-se pelo porte baixo, raramente ultrapassando os 5 m de altura e 8 m de diâmetro de copa. Possui copa mais compacta e homogênea do que o cajueiro-comum. A partir do segundo ano, a envergadura da copa supera a altura da planta. Os crescimentos vertical e lateral da planta ocorrem de forma contínua até o sexto ano após o plantio, quando, então, começa a ocorrer certa estabilidade em altura e envergadura.
Em ambos os tipos de cajueiro, por a envergadura ser relativamente maior que a altura, a copa natural e considerada adequada (mais produtiva) é aquela com formato de guarda-chuva ou meia-lua (Figura 2).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano

Figura 2. Cajueiros dos tipos comum (acima) e anão (abaixo) apresentando copas com o formato guarda-chuva.
Em Pacajus, CE, em cultivo de sequeiro em solo arenoso, cajueiros-anões com 6 anos de idade dos clones ‘CCP 06’, ‘CCP 09’, ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’ apresentaram, em média, alturas de 2,11 m, 2,15 m, 2,68 m e 2,78 m, respectivamente. Quanto ao diâmetro de copa, as respectivas médias foram de 4,52 m; 4,65 m; 4,98 m e 5,03 m.
Plantas de cajueiro com idade acima de 2 anos produzem um exsudado natural no tronco ou nos ramos, denominado goma ou resina. Essa resina, de coloração amarelada ou acastanhada, possui consistência dura e levemente perfumada, tem sabor acre (ácido) e, regularmente, é solúvel em água e insolúvel no álcool e nos demais solventes orgânicos. Essa goma do cajueiro vem apresentando potencial para inúmeras utilidades comerciais.
Folhas
As folhas do cajueiro são simples, inteiras, com pecíolos curtos e sem estípulas (Figura 3). Apresentam limbo coriáceo, espesso, glabro (sem pelos) e brilhante. Quanto à disposição nos ramos, as folhas do cajueiro são alternadas e se apresentam arqueadas, com ângulo externo com o pecíolo maior que 90 graus. Quanto ao formato, normalmente são ovais, apresentando nervuras salientes na face abaxial (página inferior). Entre as nervuras principais, são observados canais reticulados.
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 3. Folhas de cajueiro com pecíolo curto e limbo coriáceo e liso.
Após a emergência, as folhas novas apresentam consistência delicada, de coloração variável conforme o genótipo, podendo ser verde-claras ou roxo-avermelhadas, característica relacionada ao teor de tanino (Figura 4). Após duas a três semanas de sua emergência, as folhas maduras tornam-se verde-escuras, com possíveis variações no tom. O tamanho das folhas também varia de acordo com o genótipo.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 4. Folhas novas de diferentes genótipos de cajueiro apresentando as colorações verde (acima) e arroxeada (abaixo).
Ramos
No cajueiro, observam-se duas fases de crescimento dos ramos: um fluxo vegetativo e um reprodutivo. No fluxo vegetativo, ocorrem dois tipos de ramificações: uma intensiva e a outra extensiva.
A ramificação intensiva (produtiva) caracteriza-se por ramos que crescem entre 25 cm e 30 cm, apresentando uma inflorescência no ápice. Simultaneamente, na mesma ramificação, entre 10 cm e 15 cm do ápice do ramo principal, crescem de 3 a 8 ramos, que podem apresentar outras panículas.
A ramificação extensiva (vegetativa) caracteriza-se por ramos que crescem entre 20 cm e 30 cm, com posterior repouso da gema apical, sem emissão de panícula. Desses ramos, originam-se outros mais que, do mesmo modo, não emitem panículas num prazo de dois a três anos.
A predominância de ramos intensivos (produtivos) é o que caracteriza o formato da copa tipo guarda-chuva da planta de cajueiro, enquanto o inverso propicia plantas com copas esgalhadas e abertas, e com menor produção.

Inflorescência

O cajueiro apresenta inflorescência do tipo panícula, que surge no ápice dos ramos. Essa inflorescência é caracterizada por um cacho terminal com ramificações que vão decrescendo da base para o ápice, apresentando, assim, formato piramidal (Figura 5). O comprimento da panícula, o número de ramificações e a duração das panículas são variáveis tanto entre os tipos de cajueiro (comum e anão) como entre os genótipos de um mesmo tipo.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 5. Inflorescências de diferentes genótipos de cajueiro.
As panículas atingem o comprimento máximo cerca de 45 dias após seu surgimento, podendo chegar a aproximadamente 30 cm. Normalmente, são observadas de 7 a 9 ramificações.
O número de flores por panícula também varia entre e dentro dos tipos de cajueiro, podendo chegar a até 500 flores por panícula, embora seja mais comum a observância de cerca de 200 flores por panícula. Outro fato que merece destaque é que nem todas as flores da panícula se abrem.
Flores
O cajueiro é uma planta andromonoica, apresentando numa mesma panícula flores hermafroditas (completas) e masculinas (estaminadas) (Figura 6), em quantidades e proporções que variam entre genótipos, plantas e entre panículas de uma mesma planta. Independentemente do sexo, as flores do cajueiro são pentâmeras (com cinco sépalas e cinco pétalas).
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 6. Flores masculinas e hermafroditas de cajueiro.
Dos estames presentes na flor, um deles é mais desenvolvido que os demais. As flores masculinas apresentam, além do estame mais desenvolvido, outros estames menores, todos com uma antera e um filete curto. Já as flores hermafroditas possuem, além dos estames menores e de um estame maior, uma estrutura denominada pistilo, geralmente mais comprido que o estame mais desenvolvido. Desse modo, além do gameta masculino (grão de pólen), esse tipo de flor também apresenta o gameta feminino (óvulo), localizado no interior do ovário. Por isso, são essas flores que resultam em frutos.
Algumas variações e anomalias dos componentes florais são frequentemente observadas. Certas flores apresentam arranjo dos estames similar ao das flores masculinas e ao das flores hermafroditas; entretanto, não apresentam o estame mais desenvolvido ou o pistilo, sendo, assim, denominadas anômalas.
A porcentagem de flores hermafroditas numa panícula pode variar de 0,5% até próximo de 25%, mas, normalmente, tanto no cajueiro-comum como no cajueiro-anão, são observados baixos índices de flores perfeitas (inferiores a 10%).
Quando a flor hermafrodita (que origina o fruto) é fecundada, seu pedicelo fica mais largo e com coloração arroxeada (Figura 7). No caso do cajueiro (A. occidentale), esse pedicelo se desenvolve – processo denominado hipertrofia – formando o pedúnculo do caju. Também após a fecundação dos óvulos, o ovário inicia o crescimento, dando origem à castanha, o fruto verdadeiro do cajueiro.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano

Figura 7. Pedicelo da flor hermafrodita arroxeado e mais largo que os demais (acima), indicando a ocorrência da fecundação. Após a fecundação, o ovário inicia seu desenvolvimento (ao centro) dando origem à castanha-de-caju (abaixo), o fruto verdadeiro.
Em geral, o percentual de frutos formados em relação à quantidade de flores hermafroditas produzidas é considerado muito baixo, em ambos os tipos de cajueiro.

Fruto

O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, um aquênio reniforme de cor marrom-acinzentada, composto pelo pericarpo (casca) e pela amêndoa (semente). O pericarpo é constituído por três camadas: epicarpo, mesocarpo e endocarpo (Figura 8).
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 8. Castanha-de-caju formada pelo pericarpo (casca) e pela amêndoa (semente).
O pericarpo é constituído pelo endocarpo, mesocarpo e epicarpo.
O epicarpo é a camada mais externa da casca da castanha, enquanto o endocarpo é a camada mais interna. Já o mesocarpo é a camada intermediária da casca, apresentando aspecto esponjoso, cujos alvéolos são preenchidos pelo líquido da casca da castanha (LCC), produto utilizado pelas indústrias químicas.
As castanhas dos clones de cajueiro-anão da Embrapa apresentam peso variando entre 6,7 g (‘CCP 06’) e 12,5 g (‘BRS 265’), enquanto as amêndoas pesam, em média, entre 1,8 g (‘CCP 76’) e 2,7 g (‘BRS 226’). Já o clone de cajueiro-comum ‘BRS 274’, produz castanhas e amêndoas com pesos médios de 16 g e 3,5 g, respectivamente.
O caju, tão popularmente conhecido como fruto, na verdade é o conjunto entre a castanha (fruto verdadeiro) e o pedúnculo (pedicelo da flor que se desenvolveu) (Figura 9).
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano

Figura 9. O popular caju é formado pela castanha (fruto verdadeiro) e pelo pedúnculo (fruto falso).

As plantas de cajueiro-anão tendem a produzir cajus que apresentam pedúnculo grande e castanha pequena, sendo essa relação, em média, de 9:1, isto é, o peso do caju é constituído por, aproximadamente, 90% de pedúnculo e 10% de castanha. Já nas plantas de cajueiro-comum, essa relação é muito variável. O peso médio dos cajus produzidos pelos clones de cajueiro-anão da Embrapa varia entre 87 g (‘CCP 09’) e 155 g (‘BRS 189’).
A coloração dos pedúnculos pode ser nos tons amarelo, laranja ou vermelho, característica variável entre os clones de cajueiro (Figura 10).
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 10. O pedúnculo do caju pode apresentar coloração vermelha, amarela ou alaranjada.
Do ponto de vista nutritivo, o caju é considerado fonte de vitamina C, vitaminas do Complexo B e Ferro, e pode ser considerado fonte relevante de compostos antioxidantes, que são necessários para a saúde humana. Por exemplo, pedúnculos maduros dos cajus ‘BRS 265’ e ‘CCP 76’ podem apresentar, em média, teor de vitamina C em torno de 280 mg/100 g de polpa.

Semente

A semente do cajueiro consiste no óvulo da flor desenvolvido após a fecundação, estando localizada no interior da castanha. A semente é dividida em três partes: tegumento (película), embrião e amêndoa. A amêndoa da castanha-de-caju (ACC) é o principal produto econômico do cajueiro em todo o mundo.
A película é um envoltório pouco rígido de tonalidade avermelhada, que tem a função de proteger a semente (amêndoa).
O embrião é formado por duas partes extremas: a radícula, que originará o sistema radicular da nova planta, e o caulículo, responsável por formar as primeiras folhas embrionárias.
A amêndoa é um tecido de reserva, apresentando a função primordial de armazenar nutrientes para serem utilizados no crescimento inicial da nova planta. É composta por dois cotilédones de coloração branco-amarelada, carnosos e ricos em óleo (ácidos graxos insaturados). Durante a germinação da semente, os cotilédones darão origem às duas primeiras folhas da nova planta, cumprindo a função especial de fornecer nutrientes para o desenvolvimento inicial dela.

Um comentário:

  1. Gostaria de saber se esse tipo de raiz( do anão) pode plantar próximo de piscina e da minha residência?

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