quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Fertirrigação da cultura da goiabeira

 

Introdução

A Irrigação teve avanço considerável nas últimas décadas, tanto no que diz respeito ao aprimoramento de novos métodos, quanto no incremento de novas áreas irrigadas. Dentre as vantagens da irrigação está aquela que possibilita utilizar este sistema como meio condutor e distribuidor de produtos químicos, como fertilizantes, inseticidas, herbicidas, nematicidas, reguladores de crescimento, simultanamente com a água de irrigação, prática conhecida como quimigação.

A fertirrigação é o mais eficiente meio de fertilização e combina dois fatores essenciais no crescimento e desenvolvimento das plantas: água e nutrientes. É definida como sendo a aplicação dos fertilizantes via água de irrigação. Sua introdução agrega vantagens como melhoria da eficiência e uniformidade de aplicação de adubo, desde que o sistema de irrigação também tenha boa uniformidade, possibilidade de redução na dosagem de nutrientes com a aplicação dos nutrientes no momento e na quantidade exatos requeridos pelas plantas, maior aproveitamento do equipamento de irrigação, menor compactação e redução dos danos físicos às plantas com a redução do tráfego de máquinas dentro da área, redução de contaminação do meio ambiente devido ao melhor aproveitamento dos nutrientes móveis no solo quando aplicados via irrigação localizada, diminuição da utilização de mão-de-obra, dentre outras. Esta técnica, quando utilizada racionalmente, pode proporcionar melhor desenvolvimento das goiabeiras e qualidade dos frutos, proporcionando aumento na competitividade do fruticultor.

Inserida no contexto da agricultura sustentável, a fertirrigação é o sistema mais racional de aplicação de fertilizantes. A possibilidade de distribuir os nutrientes em cada fase do desenvolvimento fenológico permite sincronizar o suporte nutricional no solo com a exportação realizada pela planta. Na fertirrigação, tanto a irrigação quanto a fertilização afetam o comportamento do vegetal, podendo os ajustes em um dos fatores determinar limites impostos pelo outro. Para se obter o desempenho vegetativo e reprodutivo ideal nas plantas via fertirrigação, todos os fatores que contribuem para o incremento da irrigação-fertilização devem ser balanceados de modo que nenhum deles imponha limite significativo.

Em contrapartida, há limitações ao emprego da fertirrigação, como a necessidade de conhecimentos técnicos dos adubos e cálculos das dosagens, treinamento de pessoal para manuseio dos adubos e injetores, danos ambientais com procedimentos inadequados, corrosão dos equipamentos de irrigação, toxidez ao agricultor, toxidade e queima das folhas das plantas, custo inicial elevado do sistema de irrigação e aumento das perdas de carga no sistema de irrigação.

Alguns fatores devem ser considerados para se ter uma fertirrigação adequada, como seleção adequada dos adubos e o seu parcelamento, a nutrição e a classificação das plantas, o tipo de solo, a qualidade da água, o tipo de injetor, a sua posição e a taxa de injeção, o tempo, a quantidade e a uniformidade de aplicação dos produtos na água de irrigação. Deve ser observada a relação custo/benefício em função da adoção desta técnica.

 Levantamento de informações para planejamento da fertirrigação

 Dados gerais da propriedade e históricos

Para o início do planejamento da fertirrigação, é fundamental a aquisição de todos os detalhes que possam ser fornecidos pelo proprietário ou pelo gerente agrícola da propriedade, como localização, área, identificação das culturas, localização das fontes de água e dados históricos de cultivos anteriores. Essas informações são de extrema importância para o engenheiro agrícola ou agrônomo delinear a execução do projeto.

Características químicas e físicas do solo

O conhecimento das condições químicas e físicas do solo, atuais e anteriores, orienta o engenheiro responsável sobre a evolução da estruturação do solo sob intensa prática agrícola e sua fertilidade. Com esta informação, é possível utilizar a fertirrigação para corrigir ou manter as condições atuais do solo, oferecendo ao cultivo, ambiente mais propício ao desenvolvimento.

O processo de fertirrigação é complexo, por envolver aspectos físicos, químicos e, principalmente, biológicos (Carrijo et al., 1999). Portanto, é necessário entendimento dos componentes que envolvem o processo para o aproveitamento de todos os benefícios da prática da fertirrigação.

Entre as análises requeridas para o solo, destaca-se a de fertilidade do solo, sendo que os fatores mais considerados são o pH, a condutividade elétrica, os teores de cálcio e magnésio trocáveis, a matéria orgânica e a CTC total.

De grande importância para a definição do sistema de irrigação, são a adubação de base, o tamanho da cova e o manejo da irrigação e fertirrigação. Deve ser feita também a análise textural do solo, com a determinação dos teores de argila, areia e silte. A determinação da curva de retenção de água no solo e a densidade determinam a capacidade de armazenamento de água, importante para fins de projeto e manejo.

Características químicas e biológicas da água de irrigação

A avaliação da qualidade da água a ser utilizada na irrigação das culturas é indispensável e de primordial importância, sobretudo quando se trata de projetos de irrigação ou exploração das áreas em regiões áridas e semi-áridas, visto que, na falta de informações relevantes para a qualidade da água e o manejo adequado, essas áreas podem se tornar improdutivas devido à salinização e sodificação, causando enormes prejuízos sócio-econômicos (Gheyi et al., 1995).

A qualidade da água influencia o processo de fertirrigação. A solubilidade dos fertilizantes altera-se em função de variações de pH e alguns nutrientes podem até se precipitar, quando combinados aos sais naturalmente presentes na água, exigindo controle da lâmina de irrigação e da concentração de nutrientes na calda de fertirrigação (Nielsen et al., 1995).

A amostragem da água para fins de irrigação deve ser representativa e observar alguns detalhes: se a fonte é poço, a amostra deve ser coletada depois da bomba e 30 minutos após seu funcionamento; no caso de lagos, rios ou reservatórios, as amostras deverão ser coletadaspróximas da sucção e abaixo da lâmina d’água. A qualidade das fontes de água está sujeita a variação sazonal. Portanto, deve ser analisada periodicamente (ao menos duas vezes no ano) (Campos, 2001).

Para a goiaba, a condutividade elétrica tolerável na solução do solo é de até 2,1 dS/m e de até 1,5 dS/m na água. Acima destes valores, pode haver decréscimo na produtividade (Ayers e Westcot, 1991).

Sistema de irrigação

A implantação e manutenção corretas dos sistemas de irrigação são condições básicas para o adequado fornecimento de fertilizantes via água de irrigação, aliadas ao dimensionamento preciso e à uniformidade de aplicação de água, respeitando-se condições específicas para melhor aproveitamento dos sistemas, como textura, densidade, permeabilidade, pH e condutividade elétrica do solo. A desuniformidade no fornecimento de água resulta em enormes variações na quantidade aplicada de fertilizantes na área com menor vazão de água, colocando a uniformidade de aplicação de fertilizantes como dependente direta da correta e uniforme aplicação de água.

Segundo Antunes & Bueno (2003), atualmente a fertirrigação é mais freqüentemente utilizada nos sistemas de irrigação localizada, como o gotejamento e microaspersão (Quadro 6).

A fertirrigação localizada é a que melhor distribui os adubos, contemplando maior número de raízes absorventes sob a copa, o que não se obtém com quaisquer outros sistemas de aplicação, exceto o LEPA e o de área total sob pivô (Antunes et al., 2001).

Quadro 6 – Diferenças entre sistemas de irrigação com relação à aplicação de fertilizantes

Características Localizada Aspersão Superfície

Uso da água Maior eficiência Maior eficiência Menor eficiência

Freqüência de aplicação Maior Menor Menor

Distribuição de água Homogênea Homogênea1 Não homogênea

Distribuição de adubo Próxima Às raízes Área total Varia na área

Variações climáticas Menor limitação Maior limitação Maior limitação

Qualidade da água Maior limitação Menor limitação Menor limitação

Solubilidade dos produtos Maior limitação Menor limitação Menor limitação

Desenvolvimento das raízes restrito Sem restrição Sem restrição

Caracterização da cultura da goiabeira e aspectos agronômicos

Para uma adequada programação da fertirrigação, são necessárias informações técnicas como variedade utilizada, profundidade média do sistema radicular na condição de cultivo, data de plantio, espaçamento e densidade de plantio, duração total do ciclo produtivo, duração média das fases da cultura e períodos de maior exigência nutricional, porcentagem de área sombreada por fase de desenvolvimento da cultura, época ou data da colheita, taxa de absorção de macro e micronutrientes e potencial de produtividade. Todas essas observações são importantes para o planejamento da fertirrigação.

A goiabeira (Psidium guajava L.), que pertence à família Myrtaceae, é um arbusto que pode chegar de 3 a 6 m de altura, quando conduzida sem poda. As folhas caem após a maturação.

O sistema radicular apresenta raízes adventícias primárias, que se concentram a uma profundidade de 30 cm do solo. Das raízes primárias, saem as adventícias secundárias, que podem chegar até 4 ou 5m, quando propagadas por semente, apresentando também raiz pivotante. Nas plantas propagadas por mudas de estaca, ocorrem apenas raízes secundárias, que não atingem grandes profundidades. Freqüentemente, a frutificação começa no 2° ou 3° ano após o plantio em local definitivo, quando o pomar é implantado por mudas propagadas por semente.Quando as mudas são feitas por enxerto ou estacas, as florações começam até 7 ou 8 meses após transplantio, devendo ser essa primeira florada eliminada, para não sacrificar as plantas neste estágio juvenil. Num trabalho realizado na Índia por Rathore, citado por Gonzaga Neto (2001), o fruto da goiabeira apresentou 3 períodos de crescimento distintos. O primeiro, de crescimento acelerado, inicia-se após a abertura das flores e prossegue por 45 a 60 dias, dependendo das condições climáticas. O segundo, mais lento, dura de 30 a 60 dias, quando ocorreu o amadurecimento e o endurecimento das sementes. No terceiro ocorre um crescimento exponencial do fruto, durando em torno de 30 dias. Para a variedade Paluma, no Vale do Submédio do São Francisco, 120 a 130 dias após a florada, colheu-se o fruto de vez. O tempo entre a poda e a colheita varia de 6 a 8 meses, dependendo do sistema de manejo adotado no pomar.

As variedades diferem entre si pelo formato da copa (eretas ou esparramadas), produtividade, época de produção (precoce, meia estação e tardia), número, tamanho e formatodo fruto, coloração da polpa (branca, rosada ou vermelha) e destino da produção (consumo in natura, doces, suco, etc., para mercado interno ou externo). Entre as variedades para consumo in natura de polpa branca, destacam-se as seguintes: 

Kumagai, Ogawa n° 1 branca, Iwao, White Selection of Florida e Pentecoste. De polpa vermelha: Ogawa n° 1, Ogawa n° 3, Rica, Paluma, Pedro Sato e Sassaoka. Para o mercado interno: Paluma, Rica, Pedro Sato e Sassaoka. Para exportação: Kumagai, Ogawa n° 1 branca, Iwao, White Selection of Florida e Banaras.

Os espaçamentos usados no Nordeste são retangulares de 8 x 5 m ou 6 x 5 m e quadrados de 5 x 5 m ou 4 x 4. Para frutas in natura, é comum usarem-se espaçamentos menores como 4 x 4 m e até 3 x 3 m. Para isso, o produtor tem que dominar bem as técnicas da poda de formação e frutificação, visando maior quantidade de árvores por área, menor quantidade de frutos e melhor qualidade.

Pomares não irrigados, quando bem conduzidos, produzem em média, a partir do 6° ano, de 20 a 60 kg/planta/ano. A média histórica de produção irrigada está acima de 120 kg/planta/ano. No Nordeste, a produção da goiabeira conduzida com poda e irrigação, além de apresentar uma elevada produtividade inicial, 10 t/ha após a primeira poda e 40 t/ha em produção plena, produz durante todo o ano.



Nenhum comentário:

Postar um comentário