terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Produção de mudas de abacaxi para cultivo orgânico

 

Mudas 

O abacaxizeiro produz naturalmente quatro tipos de mudas: rebentões, filhotes rebentões, filhotes e coroas. A opção quanto ao tipo a ser utilizado depende da variedade cultivada, da disponibilidade de mudas e da preferência do produtor. Vale destacar que o ciclo do abacaxizeiro é influenciado pelo tipo de muda, sendo os rebentões os mais precoces, as coroas as mais tardias, com os filhotes apresentando comportamento intermediário. Além do ciclo mais longo, as mudas tipo coroa apresentam algumas outras desvantagens, tais como: são mais sujeitas à incidência de doenças, como a podridão do olho em condições de campo; cada planta só produz uma coroa; só estão disponíveis em regiões onde os frutos são destinados ao processamento industrial, uma vez que o abacaxi é comercializado com a coroa no mercado de frutas frescas.

Considerando o papel importante do material propagativo como transmissor de pragas e doenças, as mudas devem ser colhidas apenas em plantios onde a incidência de pragas e doenças foi nula. Além disto, as mudas só podem ser obtidas de plantios conduzidos em sistema orgânico, ou de plantio convencional após dois anos de conversão para o sistema de produção orgânico. Não havendo disponibilidade de mudas oriundas de sistema orgânico, de acordo com a IN 17 de 2014, pode-se obter autorização para utilização de outros materiais desde que não tratados com produtos não permitidos pela referida IN (Brasil, 2014). Para o sucesso do cultivo do abacaxizeiro em sistema orgânico de produção, é essencial realizar uma seleção criteriosa de mudas para evitar ou reduzir a introdução de agentes patogênico uma vez que, nesse sistema, poucos produtos podem ser utilizados para o controle de pragas e doenças da cultura.

Nesse sentido, a produção de mudas não convencionais pelo método melhorado de seccionamento de talo utilizando plantas matrizes oriundas de plantios orgânicos pode ser vista como uma tecnologia a mais para reduzir os riscos de infestação de novas áreas uma vez que permite um aprimoramento na seleção do material propagativo identificando com maior precisão sintomas de doenças como a fusariose e a murcha associadas à cochonilha (Figura 1). As mudas produzidas em viveiros, além da qualidade, permitem também a rastreabilidade, uma vez que é mantido registro de todo o processo de produção, procedimento importante para a certificação orgânica da atividade. Após a seleção de plantas matrizes no campo, os talos das plantas são seccionados tanto no sentido longitudinal como no sentido transversal, sendo tratados em solução de dióxido de cloro (5 ml/L de água) ou calda bordalesa (10 ml/L) por umperíodo de cinco minutos. Em seguida, as secções são secas à sombra e posteriormente encaminhadas para canteiros em local sombreado. Após a disposição dos talos nos canteiros, eles devem ser cobertos com uma fina camada de substrato como casca de pinus, coco, serragem, vermiculita ou outro resíduo de origem vegetal capaz de reter umidade. Entre os 30 e 45 dias iniciais, começam a surgir as primeiras brotações e, com 90 dias após o seccionamento, as mudas alcançam tamanho para serem transplantadas para os tubetes e canteiros onde se desenvolvem por 4 a 6 meses até atingirem tamanho ideal para campo (30-40 cm).

Além desses métodos de produção, outra possibilidade é a utilização de mudas obtidas em laboratórios ou biofábricas certificados, conhecidas como mudas micropropagadas ou de cultura de tecidos, contendo garantia da estabilidade genética.

Figura 1. (A) Seccionamento de talo de abacaxizeiro; (B) talos dispostos em canteiros cobertos com camada de substrato; (C) mudas de abacaxizeiro com 7-8 cm transplantas para tubetes; (D) mudas transplantadas para canteiros  

Seleção e tratamento das mudas

A qualidade do material de plantio merece uma atenção muito especial do produtor. As mudas precisam ser sadias, ter vigor e tamanho não inferior a 30 cm, sem a presença de sintomas da fusariose e da murcha, esta devido ao vírus transmitido pela cochonilha. É essencial realizar uma seleção visual rigorosa, descartando-se toda e qualquer muda com sintomas de ataque de pragas. Com o objetivo de controlar pragas, sobretudo cochonilhas e ácaros, pode-se realizar o processo de cura que consiste em colocar as mudas com a base voltada para cima, para secar ao sol, o que permite acelerar a cicatrização das lesões resultantes da colheita, além de eliminar o excesso de água presente nas mesmas. Após o período de cura, as mudas devem ser classificadas e plantadas em talhões por faixa de peso, de maneira a permitir melhor uniformidade no desenvolvimento das plantas, facilitando os tratos culturais e ensejando uma maior uniformidade no tamanho dos frutos ao final do ciclo. Em caso de morte de mudas nos primeiros três meses de cultivo, pode ser feito o replantio com mudas do mesmo tamanho das plantas em fase de crescimento.  




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