quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Cultivares de Abacaxi para o Cultivo Orgânco

 

Cultivares 

Antes de iniciar a produção de abacaxi sob sistema orgânico, o produtor deve considerar a cultivar a ser utilizada. Esta decisão leva em conta fatores como o destino da produção, a adaptabilidade à região produtora, a preferência do consumidor, a disponibilidade de mudas e as práticas fitotécnicas exigidas pela cultivar.

Deve-se dar preferência a cultivares resistentes ou tolerantes ao complexo de pragas e doenças do abacaxizeiro presente na região. No Brasil, há predomínio de cultivares tradicionais,como a Pérola e a Smooth Cayenne, todas suscetíveis à fusariose, principal limitante fitossanitário da abacaxicultura no país. As novas cultivares resistentes à fusariose são relativamente recentes e ainda pouco conhecidas do consumidor. Há que se considerar a importância da sua promoção junto ao mercado consumidor.

As cultivares descritas a seguir possuem grandes probabilidades de serem cultivadas em sistema orgânico de produção, tanto por sua aceitação comercial, quanto por apresentar resistência à fusariose:

BRS Imperial: Obtida do cruzamento entre as cultivares Perola e Smooth Cayenne. Seu ciclo é mais longo que o da cultivar Pérola, em decorrência do seu desenvolvimento mais lento. O tratamento de indução floral (TIF) deve ser feito a partir do 14 meses após o plantio. Após o TIF, demandam-se mais cinco a seis meses para a colheita dos frutos. Suas folhas são verde escuro, com faixa central arroxeada e sem espinhos nos bordos (inermes). O pedúnculo é curto (cerca de 20 cm), o que evita o tombamento dos frutos e reduz a queima solar dos mesmos.Produz elevado número de mudas tipo filhote, geralmente inseridas próximo à base do fruto, o que dificulta a sua colheita e exige do produtor o cultivo das mudas em viveiro antes do transplantio definitivo para um novo cultivo. Seus frutos são de tamanho pequeno a médio, com peso médio de 1.150 g, obtido no sistema orgânico de produção na Chapada Diamantina;com formato cilíndrico e casca de cor amarelo a laranja na maturação. A casca possui frutilhos salientes, que conferem grande resistência ao transporte. A polpa é de cor amarelo intenso,com elevados teores de açúcares (teores sólidos solúveis de 18 a 20o Brix), de acidez moderada (média de 0,54 mg ácido cítrico/100 g de polpa) e excelente sabor. O elevado teor de ácido ascórbico (vitamina C) confere à polpa resistência ao escurecimento interno, uma anomalia fisiológica pós-colheita que pode ocorrer em frutos de abacaxi de algumas outras cultivares.

BRS Vitória: Resultante de cruzamento entre as cultivares Primavera e Smooth Cayenne. Possui folhas sem espinhos e de coloração verde claro. Os frutos, com peso médio de 1.500 g,são cilíndricos, de casca amarelada na maturação, com polpa de cor branca, com elevado teor de sólidos solúveis (média de 15,8o Brix) e com acidez elevada (média de 0,80% de ácido cítrico). Possui cilindro central reduzido, maior rendimento de polpa e maior resistência mecânica na casca que a cultivar Pérola.

BRS Ajubá: De genealogia idêntica à BRS Imperial, a cultivar BRS Ajubá foi recomendado pela Embrapa para as regiões produtoras de abacaxi na Região Sul do Brasil. As plantas dessa cultivar possuem folhas completamente lisas, de coloração verde a verde-escuro com ápices arroxeados. O fruto tem a forma cilíndrica, de casca amarela na maturação, polpa de cor amarela, com médio a alto teor de sólidos solúveis (média de 14,5 º Brix) e acidez moderada (0,60 % de ácido cítrico).

IAC Fantástico: Resultante da polinização aberta de um híbrido obtido do cruzamento entre a variedade Tapiracanga e a Smooth Cayenne. É vigorosa, resistente à fusariose, e com folhas que possuem espinhos apenas nas extremidades, à semelhança da Smooth Cayenne. O fruto é de tamanho médio e de maturação tardia, formato intermediário entre o Pérola e o Smooth Cayenne, casca de coloração de verde amarela a alaranjada quando maduro, pedúnculo curto e grosso, polpa de cor amarelo intenso, doce (de 16,4 a 18,7oBrix) e acidez média a elevada(0,52 a 1,52% de ácido cítrico), indicada para consumo in natura, podendo também ser industrializado. 

A seguir, são apresentadas as características das cultivares tradicionais de abacaxi no Brasil e no exterior, com grande aceitação no mercado, porém, suscetíveis à fusariose, principal problema fitossanitário da abacaxicultura brasileira. O uso dessas cultivares demandará práticas de manejo para a exclusão e/ou a erradicação da doença, como uma rigorosa seleção demudas antes do plantio e o monitoramento constante das áreas sob cultivo, com eliminação de plantas sintomáticas. 

Pérola: É a cultivar mais encontrada em plantios no Brasil, principalmente nas regiões mais quentes e de menor latitude, pois é pouco tolerante ao florescimento natural. A planta possui porte médio, crescimento ereto e vigoroso, folhas longas, espinhosas e de coloração verde escuro Tem pedúnculo longo, comprimento em torno de 30 cm, e produz muitas mudas do tipo filhote (8 a 12 por planta). Os frutos são cônicos, de casca verde quando da maturação aparente. O peso médio obtido no sistema orgânico de produção na Chapada Diamantina foi de 2,0Kg, com 15o Brix de sólidos solúveis e baixa acidez (0,60 mg ácido cítrico/100 g de polpa). A polpa é branca e suculenta. É tolerante à murcha associada à cochonilha, mas altamente suscetível à fusariose.

Jupi: Similar à Pérola, diferindo desta por possuir folhas mais largas e produzir frutos cilíndricos e de polpa amarelada.

Smooth Cayenne: Até o final do século XX, foi a cultivar mais plantada no mundo, com finalidade industrial. Também chamada no Brasil de ‘Havaiano’, onde é mais plantada nas regiões Sul e Sudeste, pela sua maior tolerância ao frio e resistência ao florescimento precoce. As plantas são robustas, de porte ereto, folhas verde-escuro e com espinhos no ápice e, em menor intensidade, na base. Possui pedúnculo curto (cerca de 20 cm) e produz poucos filhotes (0 a 5 por planta). O fruto é ovoide, com peso entre 1,5 e 2,5 kg, de casca alaranjada quando da maturação aparente, polpa amarela, firme, rica em sólidos solúveis, porém, de maior acidez que o abacaxi Pérola, principalmente quando colhido no inverno. É suscetível às principais pragas e doenças do abacaxizeiro no Brasil, ou seja, a murcha associada à cochonilha e à fusariose.

Gold ou MD-2: Desenvolvida no Havaí para atender o consumo fresco, suplantou a cultivar Smooth Cayenne no mercado internacional de abacaxi. As folhas têm poucos espinhos nosbordos, concentrados no ápice e na base. O fruto é cilíndrico, com polpa de cor amarela mais intensa, e maior homogeneidade na maturação interna que o fruto da ‘Smooth Cayenne’. Tem teor de açúcares (15 a 17°Brix) e de ácido ascórbico elevados (56,4 mg/100 g de polpa), mas acidez total menor (0,5%) do que aquela cultivar (0,5 a 1,0%). É mais resistente ao armazenamento e ao transporte que a ‘Smooth Cayenne’, pois não apresenta suscetibilidade ao escurecimento interno, mas é mais suscetível à podridão de Phytophthora. É também suscetível à murcha associada à cochonilha e à fusariose.  


Figura 1
. Cultivares de abacaxi encontradas no Brasil: (A) BRS Imperial, (B) BRS Vitória, (C) BRS Ajubá, (D) IAC Fantástico, (E) Pérola, (F) Jupi, (G) Smooth Cayenne, (H) MD-2/Gold


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