quinta-feira, 15 de junho de 2017

Manejo de plantas daninhas nos Coqueiros

Prejuízos causados pelas plantas daninhas aos coqueiros

As plantas daninhas são responsáveis por perdas consideráveis durante a fase de crescimento e produção do coqueiro. Entre os prejuízos causados destacam-se: aumento da competição por água e nutrientes; redução da produtividade (número e tamanho dos frutos); liberação de aleloquímicos tóxicos no solo a depender da planta infestante; dificuldade na colheita e localização de frutos; dificuldade na distribuição de água pelos microaspersores (Figura 1); aumento da probabilidade da ocorrência de acidentes de trabalho na colheita, devido a presença de animais peçonhentos; algumas espécies podem ser hospedeiras alternativas de pragas e doenças; e depreciação do valor da terra a depender do grau de dificuldade de controle dessas espécies.
É importante ressaltar que em áreas não irrigadas, e/ou regiões que apresentam déficit hídrico elevado, situação comumente observada na maior parte da região produtora de coco do Nordeste do Brasil, o efeito exercido pelas plantas infestantes passa a ser mais nocivo durante o período mais seco do ano, decorrente da elevada competição por água que se estabelece nessa época.

Foto: Sérgio de Oliveira Procópio
Figura 1. Plantas de trapoeraba (Commelina benghalensis) prejudicando a efetividade de microaspersores na distribuição de água em coqueiral.

Diversidade de espécies de plantas infestantes em coqueirais

A comunidade infestante presente nos coqueirais é extremamente diversificada ao longo das diferentes regiões produtoras de coco do Brasil. Na Tabela 1, é apresentada uma lista de espécies frequentemente presentes nas áreas de produção de coco localizadas nos estados de Sergipe e Bahia.
Tabela 1. Plantas daninhas comumente encontradas em áreas de produção de coco nos estados da Bahia e Sergipe.
Nome vulgar
Nome científico
Família
Buva
Conyza sp.
Asteraceae
Falsa-serralha
Emilia fosbergii
Asteraceae
Erva-de-touro
Tridax procumbens
Asteraceae
Picão-preto
Bidens sp.
Asteraceae
Perpétua-roxa
Centratherum punctatum
Asteraceae
Mentrasto
Ageratum conyzoides
Asteraceae
Mussambê
Cleome affinis
Brassicaceae
Trapoeraba
Commelina diffusa
Commelinaceae
Trapoeraba
Commelina benghalensis
Commelinaceae
Junquinho
Cyperus flavus
Cyperaceae
Junquinho
Cyperus diffusus
Cyperaceae
Junquinho
Cyperus iria
Cyperaceae
Erva-de-santa-luzia
Chamaesyce hirta
Euphorbiaceae
Erva-andorinha
Euphorbia hyssopifolia
Euphorbiaceae
Malícia
Mimosa pudica
Fabaceae
Mata-pasto
Senna obtusifolia
Fabaceae
Sensitiva
Chamaecrista sp.
Fabaceae
Malva-rasteira
Pavonia cancellata
Malvaceae
Capim-colchão
Digitaria sp.
Poaceae
Capim-braquiária
Brachiaria sp.
Poaceae
Capim-carrapicho
Cenchrus echinatus
Poaceae
Capim-gengibre
Paspalum maritimum
Poaceae
Erva-botão
Spermacoce verticillata
Rubiace
Jurubeba
Solanum paniculatum
Solanaceae
Cansanção
Laportea aestuans
Urticaceae

Manejo de plantas infestantes em coqueirais

Controle Manual 
É realizado principalmente por pequenos produtores, utilizando-se capina com enxada na zona do coroamento do coqueiro e roçagem no restante da área. A área do coroamento corresponde a projeção da copa da planta, o que equivale a um raio de aproximadamente 2 m a 2,5 m a partir do estipe, onde se concentra a maior parte das raízes do coqueiro. Nessa operação, deve-se evitar o arrastamento da camada superficial do solo, assim como o corte das raízes do coqueiro.
Controle Mecânico
A roçagem mecânica da vegetação espontânea nas entrelinhas de plantio dos coqueiros (Figura 2) constitui-se em uma alternativa eficiente de controle das plantas infestantes, normalmente empregada em plantios irrigados e/ou regiões com baixo déficit hídrico. No entanto, o uso frequente desta prática poderá provocar a disseminação de algumas espécies de gramíneas, uma vez que apresentam pontos de crescimento abaixo do nível de corte do implemento em detrimento daquelas espécies de folhas largas. Como consequência, pode resultar em aumento significativo na população dessas espécies de invasoras, que são extremamente hábeis na competição por água e nutrientes, destacando-se a competição por nitrogênio presente no solo. Esta situação torna-se mais grave durante a fase jovem do coqueiro e/ou em condições de baixa densidade de plantio, em função da maior luminosidade disponível para o crescimento dessas gramíneas. Uma alternativa relevante para esse tipo de operação é a utilização de roçadora do tipo “ecológica”, que corta e lança lateralmente a fitomassa produzida pelas espécies presentes nas entrelinhas, posicionando esse material vegetal próximo à projeção da copa dos coqueiros. Isso promove, dentre outros benefícios, o controle físico de plantas daninhas na zona de coroamento devido à formação de uma camada de material vegetal sobre o solo.

Foto: Humberto Rollemberg Leite
Figura 2. Operação de roçagem realizada nas entrelinhas do coqueiro.
A gradagem do solo, realizada no final do período chuvoso, permite a eliminação da vegetação presente nas entrelinhas, reduzindo a evapotranspiração e beneficiando consequentemente o desenvolvimento do coqueiro. Deve-se ressaltar, no entanto, que esta é uma opção que somente deverá ser utilizada em situações específicas, considerando-se os aspectos relacionados com a conservação do solo, a integridade das raízes do coqueiro e o próprio incremento na multiplicação de algumas espécies invasoras que apresentam propagação vegetativa.
Controle físico
A utilização de diferentes materiais para o cobrimento do solo nas áreas de projeção da copa das plantas pode ser uma alternativa eficiente para integrar o manejo das plantas daninhas em coqueirais. O emprego das próprias folhas do coqueiro, organizadas de maneira a formar uma cobertura morta da região do coroamento (Figura 3), bem como a utilização de outros materiais, como a biomanta (Figura 4) podem proporcionar resultados satisfatórios, podendo diminuir a necessidade de capinas ou mesmo da aplicação de herbicidas. Em se tratando de plantios irrigados, ou mesmo em regiões onde ocorrem boa precipitação e distribuição de chuvas durante o ano, o excesso de umidade na zona de coroamento poderá causar superficialização das raízes, reduzindo seu aprofundamento e, consequentemente, diminuir a tolerância da planta à seca. Recomenda-se, portanto, que, quando utilizada, esta prática seja monitorada no sentido de que os benefícios obtidos sejam avaliados de forma integrada.

Foto: Sérgio de Oliveira Procópio
Figura 3. Controle físico de plantas daninhas utilizando-se as próprias folhas do coqueiro posicionadas sobre a projeção da copa das plantas.

Foto: Sérgio de Oliveira Procópio
Figura 4. Controle físico de plantas daninhas utilizando-se biomanta confeccionada a partir de fibra de coco.
Controle cultural
O plantio de leguminosas e/ou de outras espécies de cobertura, nas entrelinhas de plantio dos coqueiros, realizado no início das chuvas para posterior roçagem deste material no período de floração, constitui-se numa alternativa eficiente de manejo das plantas infestantes. Entre as espécies que podem ser cultivadas nas entrelinhas dos coqueirais destacam-se o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), a pueraria (Pueraria phaseoloides), a centrosema (Centrosema pubescens) e o calopogônio (Calopogonium muconoides)A utilização de leguminosas arbustivas perenes de enraizamento profundo em cultivos integrados constitui-se também em alternativa capaz de reduzir a infestação de plantas daninhas em coqueirais, podendo além de exercer esse efeito, proporcionar outros benefícios. Como exemplo desse sistema, tem-se o plantio intercalado de gliricídia (Gliricidia sepium), uma leguminosa arbórea, em coqueirais, que pode ser importante fonte de nitrogênio ao coqueiro.
Controle biológico
O pastejo com ovinos, caprinos e bovinos associado a coqueiros em fase de produção, pode se constituir numa interessante alternativa para manter as plantas invasoras, principalmente gramíneas, sob controle em áreas não irrigadas, podendo ser categorizada dentro da Ciência das Plantas Daninhas como um método de controle biológico. Um exemplo clássico verificado em regiões da baixada litorânea do Nordeste é a utilização de ovinos para o manejo do capim-gengibre (Paspalum maritimum), importante invasora dos coqueirais dessa região. Esta espécie apresenta bom valor forrageiro, podendo, portanto, ser utilizado para tal fim desde que devidamente manejada.
Controle químico
O controle químico, que compreende a utilização de herbicidas, tem como principais vantagens: 1) O rendimento operacional, ou seja, a rapidez na aplicação da técnica; 2) A menor necessidade de mão de obra; e 3) não causar danos mecânicos nas raízes dos coqueiros, causados por implementos mecânicos, como grades e escarificadores. Mesmo com as vantagens apresentadas, apenas o herbicida glifosato apresenta registro para uso na cultura do coqueiro. Em áreas de produção intensiva de coco, se realiza, em média, quatro aplicações anuais desse herbicida em pós-emergência. Vários motivos podem ser apontados para a grande preferência na escolha desse herbicida, como por exemplo: amplo espectro de ação (controle de espécies de plantas daninhas de folhas largas e folhas estreitas com única aplicação); ausência de atividade residual no solo (não causando riscos a novos plantios de mudas de coco ou mesmo a cultivos consorciados); não dependência do estádio da planta daninha para que o controle tenha sucesso; e translocação a longa distância (sistematicidade), que permite o controle de plantas daninhas perenes com propagação vegetativa.
Em plantios adultos, as pulverizações devem ser dirigidas para a zona de coroamento do coqueiro, num raio de 2 m a partir do estipe, que corresponderia a uma área de, aproximadamente, 12,56 m2/planta. Essa região é onde se concentra a maior densidade de raízes dos coqueiros. A aplicação poderá ser realizada também em faixas, acompanhando as linhas de plantio do coqueiro, observando-se uma largura média de 4 m. No cultivo de coqueiros anões, onde se utiliza um espaçamento, normalmente, de 7,5 m em triângulo, a área coberta pela pulverização na faixa de plantio é de 30 m2/planta (4,0 m x 7,5 m), o que corresponderia a mais que o dobro daquela utilizada na zona de coroamento. Tem-se observado ainda que alguns produtores estão utilizando a pulverização com herbicidas em área total, normalmente realizada no início do período seco, promovendo assim a dessecação de toda a vegetação de cobertura.
É importante ressaltar que para o bom funcionamento do herbicida glifosato aplicado em pós-emergência é necessário respeitar algumas regras: 1) realizar regulagem precisa dos pulverizadores, conferindo o desgaste dos bicos (pontas de pulverização), a pressão de trabalho, os filtros de linha e dos bicos, a velocidade de aplicação e a altura da barra de aplicação; 2) verificar a qualidade da água de pulverização, evitando água com presença de argila (barrenta) e abaixando o pH, caso a água tenda à alcalinidade; 3) evitar aplicar com umidade do ar baixa e temperatura elevada; 4) evitar aplicar com ventos acima de 10 km/hora, pois pode haver deriva do glifosato para as áreas adjacentes causando problemas em culturas sensíveis a esse herbicida; 5) evitar aplicar quando as plantas daninhas estiverem com sintomas de déficit hídrico, pois o produto terá problemas de translocação.

Resistência ao uso de glifosato

A utilização quase que exclusiva e repetitiva de glifosato em áreas de produção de coco, vem selecionando biótipos de plantas daninhas resistentes, principalmente de uma espécie conhecida, como buva ou voadeira (Conyza ssp.). Em visita a algumas áreas de produção de coco, visualizou-se a sobrevivência das plantas dessa espécie após aplicações de glifosato, o que vem causando sua multiplicação acentuada (Figura 5). No Brasil, foi registrada a ocorrência de três espécies de buva, sendo estas Conyza sumatrensisConyza bonariensis e Conyza canadenses. Também se tem verificado o aumento da infestação de trapoeraba (Commelina benghalensis) nos coqueirais (Figura 6). Essa espécie apresenta tolerância natural ao herbicida glifosato, diferentemente da buva, onde houve a seleção e a multiplicação de biótipos resistentes a esse herbicida.

Foto: Sérgio de Oliveira Procópio
Figura 5. Plantas de buva (Conyza sp.) resistentes ao herbicida glifosato presentes em coqueirais.

Foto: Sérgio de Oliveira Procópio
Figura 6. Coqueiral com alta infestação de trapoerada, em decorrência, principalmente, da aplicação repetitiva do herbicida glifosato.



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