terça-feira, 28 de novembro de 2017

Calagem e Adubação no Cajueiro


A prática de correção química do solo se faz pelas práticas da calagem e gessagem.

Calagem

          A necessidade de correção do solo de uma área que vai receber um novo pomar de cajueiro vai depender dos resultados da análise de solo da amostra retirada na profundidade de 0 cm a 20 cm, principalmente em relação aos teores de cálcio, magnésio, alumínio, saturação por bases e capacidade de troca catiônica. Quando necessária, a correção se faz por meio de calcário, aplicado em uma ou duas etapas, dependendo da quantidade necessária.
Geralmente, em doses acima de 1 t por hectare, recomenda-se a aplicação em duas parcelas iguais, sendo a primeira antes da aração, e a segunda, por ocasião da gradagem. As quantidades a serem aplicadas devem ser suficientes para elevar a saturação por bases (V2) a 60% e os teores de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) trocáveis para o mínimo de 6 mmolc/dme 3 mmolc/dm3, respectivamente (CRISOSTOMO et al., 2003; CRISOSTOMO, 2013).
A determinação da necessidade de calagem pode ser feita de acordo com diversas fórmulas, sendo a de Quaggio (2000) a mais usual:
em que:
NC é a necessidade de calagem, em t/ha por 0,20 m de profundidade.
T é a capacidade de troca de cátions a pH 7, em mmolc/dm(aferida na análise de solo).
V2 é a saturação por bases desejada, 60% para o cajueiro.
V1 é a saturação por bases atual, em % (aferida na análise de solo).
PRNT é o poder relativo de neutralização total do calcário, em % (encontrado na embalagem do produto).

Gessagem

O gesso agrícola também é um corretivo de solo, apesar de não corrigir a acidez como faz o calcário. A sua função principal é fazer com que os nutrientes atinjam maior profundidade no solo, beneficiando o aprofundamento do sistema radicular. A necessidade da aplicação de gesso também é verificada por meio da análise de solo, porém da camada subsuperficial (20 cm a 40 cm), sendo considerados como parâmetros para aplicação: menos de 3 mmolc/dm3 de cálcio (Ca2+) e/ou mais de 5 mmolc/dm3 de alumínio (Al3+) e/ou saturação por alumínio (m%) maior que 40% (LOPES, 1986). Nesses casos, a dose de gesso deve ser calculada em função do teor de argila do solo (determinado pela análise física do solo), sendo recomendado aplicar até 500 kg/ha em solo arenoso, 1.000 kg/ha em solo de textura média, 1.500 kg/ha em solo argiloso e 2.000 kg/ha em solo muito argiloso. Outro critério de recomendação é substituir 25% do calcário por gesso (CRISOSTOMO, 2013), isto é, por exemplo, se em um solo são necessários a aplicação de 1.000 kg/ha de calcário, o produtor poderá aplicar 750 kg/ha de calcário e 250 kg/ha de gesso agrícola.

Recomendação de adubação de fundação

Na cova de plantio indicada para o cajueiro (geralmente 40 cm de largura x 40 cm de comprimento x 40 cm de profundidade), recomenda-se aplicar calcário dolomítico em quantidade equivalente à recomendada na calagem para 1 m² de solo. Em seguida, encher a cova com mistura de terra superficial acrescida de superfosfato simples (quantidade definida de acordo com a análise do solo), 100 g de FTE BR12, e, se possível, 10 litros de esterco bovino bem curtido (coloração escura). Deixar a cova assim preparada por um período de 30 dias antes do transplantio da muda, quando do início do período chuvoso (CRISOSTOMO et al., 2009; CRISOSTOMO, 2013).

Recomendação de adubação para cultivo de sequeiro

Adubação de pós-plantio (primeiro ano): os fertilizantes nitrogenados (ureia, sulfato de amônio ou MAP) e potássico (cloreto de potássio) (Tabela 1) deverão ser aplicados no período das chuvas em três ou mais parcelas iguais, em sulco circular, com 10 cm a 15 cm de profundidade e 10 cm a 15 cm de largura, com distância entre 20 cm e 30 cm do caule da planta e cobertos com terra, para diminuir as perdas da amônia por volatilização (CRISOSTOMO, 2013).
Adubação de formação e produção: a adubação recomendada deverá seguir o mesmo sistema de aplicação para o primeiro ano; contudo, o fósforo (superfostato simples) deverá ser aplicado em uma única parcela. A profundidade e largura do sulco de adubação são as mesmas adotadas para o pós-plantio; porém, a distância do caule deverá ser aumentada de modo a situar-se no terço externo da projeção da copa (CRISOSTOMO, 2013).


Tabela 1. Recomendações de adubação mineral para cajueiro-anão sob sequeiro, de acordo com os teores de fósforo (P) e potássio (K) determinados na análise química de solo.
Adubação
N
P resina (mg/dm3)
K solo (mmolc/dm3)

0 a 12
13 a 30
> 30
0 a 1,5
1,6 a 3,0
> 3,0
(g/planta)
P2O5 (g/planta)*
K2O5 (g/planta)
Plantio

0
180
140
90
0
0
0
Formação
0-1 ano
45
0
0
0
50
30
20

1-2 anos
70
160
140
90
90
50
30

2-3 anos
120
220
180
110
110
90
50

3-4 anos
150
290
230
140
170
130
70

4-5 anos
220
290
230
140
170
130
70
Produção:



< 1.200 kg/ha de castanhas
300
160
80
80
120
80
80
1.200 – 3.000 kg/ha de castanhas
520
240
160
120
240
160
120
> 3.000 kg/ha de castanhas
1.000
400
300
200
450
300
200
Fonte: Crisostomo (2009).
*Adicionar como fonte de fósforo o superfosfato simples, com o objetivo de fornecer enxofre às plantas. Adubação de produção baseada na produtividade esperada

Recomendação de adubação para cultivo irrigado

No cultivo irrigado, os fertilizantes nitrogenados (ureia, sulfato de amônio, nitrato de cálcio, nitrato de potássio, nitrato de amônio, MAP e DAP) e potássicos (cloreto de potássio, sulfato de potássio, nitrato de potássio e fosfato monopotássico) solúveis, sólidos ou líquidos são injetados na água de irrigação, possibilitando, dessa maneira, melhor distribuição e aproveitamento pelo sistema radicular. Por sua vez, os fosfatados (ácido fosfórico, MAP, DAP e fosfato monopotássico) também podem ser aplicados via água de irrigação, observando-se os cuidados necessários para evitar o entupimento dos emissores (microaspersores ou gotejadores). As doses recomendadas às diversas fases de crescimento da planta são apresentadas na Tabela 2 (CRISOSTOMO, 2013).

Tabela 2. Recomendações de adubação mineral para cajueiro-anão sob irrigação, de acordo com os teores de fósforo (P) e potássio (K) determinados na análise química de solo.
Adubação
N
P resina (mg/dm3)
K solo (mmolc/dm3)

0 a 12
13 a 30
> 30
0 a 1,5
1,6 a 3,0
> 3,0
(g/planta)
P2O5 (g/planta)
K2O5 (g/planta)
Plantio

0
200
150
100
0
0
0
Formação
0-1 ano
60
0
0
0
60
40
20

1-2 anos
80
200
150
100
100
60
40

2-3 anos
150
250
200
120
140
100
60

3-4 anos
200
300
250
150
180
140
80

4-5 anos
300
300
250
150
180
140
80
Produção:



< 1.200 kg/ha de castanhas
400
200
100
100
150
100
80
1.200 – 3.000 kg/ha de castanhas
700
300
200
150
300
200
150
> 3.000 kg/ha de castanhas
1.000
400
300
200
450
300
200
Fonte: Crisostomo (2009). Adubação de produção baseada na produtividade esperada.

Estado nutricional do cajueiro

A análise química do tecido vegetal é uma ferramenta que permite a avaliação do estado nutricional das plantas por meio de comparação de um padrão preestabelecido. As folhas refletem o estado nutricional das plantas, pois nelas ocorrem os processos fisiológicos. Assim, a diagnose foliar é utilizada para a identificação da deficiência ou da toxicidade de nutrientes, bem como para complementar as informações da análise química do solo visando à recomendação da adubação. No caso das culturas perenes, as informações das análises químicas do solo e da planta são mais relevantes, pois permitem a correção de uma possível deficiência ainda no mesmo ano agrícola (OLIVEIRA et al., 2013).
A concentração de nutrientes no cajueiro pode ser influenciada por fatores como idade das folhas, tipo de ramo amostrado, época de amostragem, etc. Entretanto, nos trabalhos envolvendo a diagnose foliar, não existe a padronização desse tipo de informação, o que dificulta a comparação dos resultados. Na Austrália, Kernot (1998) recomenda a coleta de quatro folhas maduras por planta no início do florescimento, em pelo menos 16 plantas por hectare, enquanto, no Brasil, Malavolta et al. (1997) sugerem a coleta de 40 folhas recém-maduras do ano no verão (OLIVEIRA et al., 2013).

Coleta de amostras foliares

A amostragem das folhas é uma etapa crítica, pois, se feita de forma incorreta, a análise resultante não refletirá o estado nutricional da planta, ocasionando a sub ou superestimativa da adubação (OLIVEIRA et al., 2013). Assim, para evitar transtornos que venham mascarar os resultados da análise, recomenda-se:
a)   Separar a área com cajueiros homogêneos, quanto ao clone e idade.
b)   Retirar folhas (amostras) de plantas selecionadas em caminhamento em zigue-zague.
c)    Evitar a coleta de folhas danificadas por insetos, doenças ou fenômenos ambientais.
d)   Separar as folhas dos pecíolos para evitar uma eventual translocação de nutrientes.
e)   Amostrar as plantas separadamente em casos de sintomas de deficiência ou em manchas de solos.
f)    Não se amostrar folhas após a aplicação de fertilizantes e defensivos ou após períodos intensos de chuvas.
As folhas coletadas devem ser acondicionadas em sacos de papel, identificadas e enviadas ao laboratório preferencialmente no mesmo dia. Caso contrário, acondicioná-las em refrigerador (não no congelador) até o envio.

Interpretação dos resultados

Na Tabela 3, estão apresentadas as concentrações de macro e micronutrientes obtidas em folhas maduras de cajueiro do tipo comum. A comparação dos resultados torna-se difícil devido às diferenças do tipo de cajueiro, época de coleta das folhas e idade das plantas. Assim, os valores apresentados devem ser utilizados apenas como referência.

Tabela 3. Concentração de macro e micronutrientes em folhas de cajueiro.
Nutriente
Haag et al. (1975)*
Kernot (1998)**
N (g/kg)
22,9
14,0 – 18,0
P (g/kg)
1,4
1,2 – 1,4
K (g/kg)
8,9
7,2 – 11,0
Ca (g/kg)
2,1
2,4 – 7,5
Mg (g/kg)
3,4
2,2 – 3,1
S (g/kg)
1,8
1,1 – 1,4
B (mg/kg)
51,7
56 – 67
Cu (mg/kg)
12,7
> 7
Fe (mg/kg)
83,1
148 – 165
Mn (mg/kg)
139,0
91 – 204
Zn (mg/kg)
25,0
> 20
* Folhas de plantas com 10 anos.
** Folhas maduras de ramos sem flores

Sintomas de deficiências

De acordo com Malavolta (2006), para a distinção entre os sintomas de deficiências minerais e aqueles causados por pragas e doenças, deve-se considerar que:
a)   A desordem nutricional é homogênea no campo.
b)   É necessário um gradiente: para os elementos móveis (N, P, K, Mg, Cl e Mo), que são redistribuídos nas plantas, a severidade dos sintomas ocorre das folhas mais velhas (ou órgãos) para as mais novas. No caso dos elementos pouco móveis (S, Cu, Fe, Mn e Zn) ou quase imóveis (Ca e B), os sintomas são mais acentuados nas folhas mais novas.
c)    Os sintomas devem ser simétricos: a desordem nutricional ocorre no par de folhas ou em duas folhas consecutivas.

Nitrogênio

Os sintomas são os primeiros a se manifestarem, com as folhas mais velhas tornando-se cloróticas da região apical para o limbo (Figura 1). Em face da mobilidade do nitrogênio, a carência começa nas folhas mais velhas, com as mais novas mantendo-se verdes em consequência da redistribuição, que é um processo relativamente rápido no caso do N.
Foto: Rovira (1971).
Figura 1. Folha normal à esquerda. Folhas no centro e à direita com deficiência de nitrogênio.

Fósforo

As folhas mais velhas apresentam inicialmente uma coloração verde-escura e, em estágio mais avançado, tornam-se verde-opacas e caem. Observa-se, também, menor porte das folhas (Figura 2).
Foto: Kernot (1998).
Figura 2. Folhas maduras (oldest) e recém-maduras (YML) normais à direita. Folhas maduras com sintomas de deficiência de fósforo (-P) à esquerda.

Potássio

Inicia-se também nas folhas mais velhas, que apresentam uma leve clorose nas bordas. Ao contrário do N, os sintomas desenvolvem-se lentamente. Em estágio desenvolvido, a clorose avança para o limbo da folha, permanecendo verde apenas a base, numa espécie de V invertido (Figura 3).
Foto: Kernot (1998).
Figura 3. Folha madura em estágio inicial (acima) e avançado de deficiência de potássio (abaixo).

Cálcio

Os sintomas manifestam-se precocemente, embora com progressão lenta. As folhas mais novas desenvolvem ondulações nas margens, que se curvam para dentro e entre as nervuras (Figura 4). Por ser um elemento quase imóvel na planta, em condições de deficiência, os sintomas aparecem em órgãos ou partes mais novas. Assim, o seu fornecimento deve ser durante todo o ciclo de crescimento.
Foto: Rovira (1971).
Figura 4. Folha normal à direita. Folha à esquerda com deficiência de cálcio.

Magnésio

Verifica-se um amarelecimento internervural que começa na nervura principal e evolui para as bordas nas folhas mais velhas (Figura 5).
Foto: Rovira (1971).
Figura 5. Folha normal à esquerda. Folha à direita com deficiência de magnésio.

Enxofre

As folhas mais novas tornam-se cloróticas e ficam com consistência mais rígida, apresentando no ápice necroses acompanhadas de enrolamento das pontas afetadas e bordas rompidas (Figura 6). Além desses sintomas, as folhas terminais mais novas, enquanto se desenvolvem, ficam mais estreitas, diminuindo consideravelmente a superfície do limbo.
Foto: Rovira (1971).
Figura 6. Folha normal à esquerda. Folhas no centro e à direita com deficiência de enxofre.

Manganês

Inicialmente, as folhas mais novas apresentam uma coloração verde-pálida, que evolui posteriormente para verde-amarelada, com as partes próximas às nervuras permanecendo verdes. Em algumas folhas, as margens apresentam uma coloração marrom. As plantas produzem pequeno número de folhas, e o crescimento torna-se bastante lento, apesar de desenvolverem grande número de ramos laterais. É comum ocorrerem agrupamentos de pequenas folhas em forma de roseta, além de secamento e queda prematura das folhas.

Boro

Os principais sintomas são a morte das gemas e das folhas mais novas, com as adjacentes tomando um aspecto coriáceo. Ocorre superbrotamento e repetição dos sintomas nos novos brotos emitidos.

Zinco

As plantas apresentam-se com internódios curtos e poucos ramos laterais. As folhas mais novas mostram-se pequenas, alongadas, com a coloração variando gradualmente do verde até o verde-pálido, com as nervuras permanecendo verde (Figura 7). As folhas maduras inferiores desenvolvem-se normalmente.
Foto: Kernot (1998).
Figura 7. Folha nova normal à esquerda. Folhas novas com deficiência de zinco.

Ferro

O crescimento do cajueiro é seriamente comprometido na ausência de ferro. Em apenas um mês, os sintomas de deficiência tornam-se visíveis, com uma severa clorose das folhas jovens que se tornam estreitas e delicadas ao tato. Com a progressão da carência, as folhas tornam-se translúcidas, permanecendo verde-claras somente as mais velhas.

Cobre

A carência do cobre traduz-se num ligeiro escurecimento na tonalidade verde. As folhas jovens apresentam-se mais alongadas e curvam-se para baixo, como se estivessem com estresse hídrico. O crescimento parece não ser afetado, pelo menos nos primeiros meses de vida da planta.

Molibdênio

Plantas apresentam as folhas terminais com uma coloração verde-clara e, posteriormente, verde-amarelada, com as nervuras esverdeadas. Nas folhas jovens, pode ocorrer uma coloração marrom-avermelhada.

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