Por se adaptar a diversas condições edafoclimáticas, com destaque para regiões semiáridas, o cajueiro é considerado uma planta rústica. Devido a essa aparente rusticidade, tradicionalmente, os produtores dispensam poucos tratos culturais à cultura, com o predomínio de plantios em sequeiro com mudas sem garantia de qualidade, plantadas em covas pequenas e quase sempre sem adubação. Como reflexo, a produtividade brasileira de castanha-de-caju é uma das mais baixas entre os principais países produtores.
Estudos técnicos realizados pela Embrapa definiram que a viabilidade econômica da exploração comercial do cajueiro se dá pela necessidade de intensificar o cultivo de genótipos (clones) com características agronômicas e comerciais de interesse, pois, desse modo, a cultura poderá expressar todo o seu potencial produtivo, tanto em relação à produção de castanha como à de pedúnculo. O aproveitamento de ambos os produtos para a comercialização resultarão em retorno econômico ao produtor.
O processo de intensificar o cultivo inicia-se com a obtenção de mudas de qualidade, as quais deverão ser adquiridas em viveiros credenciados e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A área onde será implantado o novo pomar deverá ser adequadamente preparada e, se necessário, seu solo deverá ser corrigido quimicamente. São de fundamental importância para o sucesso do cultivo a utilização correta das técnicas de plantio das mudas, a realização de podas, adubações, manejo racional das plantas espontâneas (mato), tratamentos fitossanitários (pragas e doenças) e a colheita especializada dos produtos (castanha e pedúnculo).
Frente à produtividade média brasileira de 172 kg por hectare de castanhas, em 2014, estudos realizados na região Nordeste do Brasil mostraram que as produtividades dos clones de cajueiro-anão (também denominado cajueiro-anão-precoce) sob sequeiro, com os devidos tratos culturais, podem atingir em torno de 1.000 kg por hectare de castanha e 10.000 kg por hectare de pedúnculo. Em cultivo irrigado, as produtividades podem alcançar mais de 2.000 kg por hectare de castanha e 30.000 kg por hectare de pedúnculo. Além do incremento na produtividade e na rentabilidade, os cajus produzidos em sistema de cultivo intensivo tendem a apresentar qualidade superior, além do fato de que plantas bem nutridas e conduzidas tendem a suportar ainda mais os efeitos dos estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (seca).
Destacaremos a seguir as principais práticas de manejo da cultura para a obtenção de um pomar produtivo de cajueiro.
Escolha da área
Para a obtenção de sucesso com a cultura, inicialmente é necessário avaliar as condições edafoclimáticas (solo e clima) da região e do local onde se deseja iniciar o cultivo. Estudos associando a produção da cultura com os tipos de solos e clima definiram o zoneamento agrícola para o cajueiro no Brasil. As regiões consideradas com alta aptidão para o cultivo do cajueiro são as que apresentam temperaturas médias anuais entre 22 oC e 32 oC, alta luminosidade (>1.800 horas de sol por ano), precipitação anual acima de 1.200 mm, período de estiagem máximo de 4 meses e altitudes inferiores a 600 metros. Regiões que apresentam valores próximos a esses são consideradas com aptidão intermediária, ou de médio risco. Não são indicadas para o cultivo áreas sujeitas ao encharcamento; com solos rasos em que a profundidade seja inferior a 50 cm; ou com solos pedregosos, nos quais pedras com diâmetro acima de 2 cm ocupem mais de 15% da massa e/ou da superfície do terreno.
Época de plantio
O período de plantio mais indicado para o cultivo do cajueiro em sequeiro é aquele que coincide com o início do período chuvoso. Para o cultivo irrigado, pode-se efetuar o plantio durante todo o ano.
De acordo com o zoneamento agrícola para a cultura do cajueiro, recomendam-se as seguintes épocas de plantio para os estados nordestinos:
Ceará: entre 1º de fevereiro e 31 de maio (região norte – incluindo os litorais leste e oeste) e entre 1º de janeiro e 30 de abril (região sul – Cariri). Piauí: entre 1º de janeiro e 31 de março (regiões sudeste, sudoeste e sul) e entre 1º de fevereiro e 30 de abril (região norte). Rio Grande do Norte: entre 1º de março e 30 de abril (regiões de Serra do Mel e Sertão do Seridó) e entre 1º de abril e 30 de junho (região leste potiguar). Pernambuco: entre 1º de abril e 30 de junho (regiões de Buíque e Garanhuns) e entre 1º de abril e 31 de maio (regiões de Igarassu e Goiana). Maranhão: entre 1º de janeiro e 31 de maio (região de Barreirinhas) e entre 1º de novembro e 30 de abril (região de Buriti Bravo). Bahia: entre 1º de março e 30 de junho (região de Ribeira do Pombal). Alagoas: entre 1º de maio e 30 de junho (região de Carneiros). Sergipe: entre 1º de abril e 31 de julho. Paraíba: entre 1º de abril e 30 de junho.
Preparo do terreno e correção do solo
Após a escolha da área do novo cajueiral, deve-se proceder à limpeza removendo toda a vegetação não desejada. Se a área escolhida for um pomar antigo de cajueiros, deverão ser retirados todos os tocos e raízes das plantas velhas, com posterior enleiramento da madeira cortada fora da área de plantio (Figura 1).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 1. Área com um cajueiral antigo recém-derrubado (A) e área limpa, pronta para as práticas de plantio (B). Os troncos e os ramos das plantas antigas devem ser removidos (C e D) e empilhados fora da área (E).
Após a limpeza da área, inicia-se o preparo do solo por meio das práticas de aração e gradagem. Normalmente, nas áreas cultivadas com cajueiro no Nordeste, os solos apresentam texturas arenosas e são profundos, dispensando a aração em alguns casos. Nas áreas de argissolos, que apresentam textura média ou argilosa nas camadas subsuperficiais, a prática da aração é recomendada, assim como, em alguns casos (camadas subsuperficiais adensadas), o uso de escarificador ou subsolador. Em relação à prática da gradagem, inicialmente, para nivelar o terreno, recomenda-se a passagem inicial de uma grade pesada (grade de arrasto), seguida de uma gradagem leve (grade hidráulica). Tais procedimentos de preparo do solo são de suma importância para a cultura, pois propiciarão um adequado ambiente para o desenvolvimento de um efetivo sistema radicular, o qual será responsável pela absorção de água e nutrientes por muito tempo.
Marcação das covas e espaçamentos
Após o preparo do solo, deverá ser marcada no terreno a posição das fileiras das plantas. Como o cajueiro é uma planta exigente em luminosidade, devem-se orientar as fileiras das plantas no sentido leste-oeste (sol nascente ao sol poente), de modo a favorecer, ao máximo, a incidência da radiação solar nas partes reprodutivas da planta.
A posição das fileiras das plantas é definida nas extremidades do terreno, de acordo com o espaçamento desejado, alinhando-as a partir do início de cada fileira marcada, por meio da utilização de cordas ou de correntes especiais segmentadas, tutores e trenas (Figura 2).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 2. Marcação das posições das fileiras utilizando corda (A) ou sulcador mecânico (B). Nota-se que o alinhamento é ajustado por meio de tutores de madeira.
Uma vez realizada a marcação das fileiras, procede-se à marcação das posições das covas, de acordo com o espaçamento escolhido. Os espaçamentos (entre linhas e entre plantas) tradicionalmente recomendados para o cajueiro-anão são:
Cultivo em sequeiro:
– 7 m x 7 m, em arranjo quadrangular, com estande de 204 plantas por hectare.
– 8 m x 6 m, em arranjo retangular, com estande de 208 plantas por hectare.
Cultivo irrigado:
– 8 m x 7 m, em arranjo retangular, com estande de 178 plantas por hectare.
– 8 m x 8 m, em arranjo quadrangular, com estande de 156 plantas por hectare.
Para o clone de cajueiro-comum BRS 274, por ter porte mais elevado e copa mais larga, os espaçamentos indicados são de 12 m x 10 m, em arranjo retangular, ou 11 m x 11 m, em arranjo quadrangular, ambos resultando em 83 plantas por hectare. Do mesmo modo, para o clone (híbrido) BRS 275, são recomendados os espaçamentos 11 m x 9 m e 10 m x 10 m.
Na definição do espaçamento, deve-se considerar o nível tecnológico do pomar, isto é, o quanto e como as técnicas recomendadas serão realizadas, como, por exemplo, adubação, irrigação, controle fitossanitário, manejo de plantas daninhas, entre outros. As condições edafoclimáticas locais também devem ser consideradas para a escolha do espaçamento a ser adotado. De modo geral, tem-se que quanto mais tecnificado for o pomar e quanto mais favorável for o clima da região para o cultivo do cajueiro, maior será o desenvolvimento das plantas, sendo recomendada para esse caso a utilização de espaçamentos mais amplos.
Por outro lado, dependendo do genótipo cultivado, e se a poda de manutenção for realizada anualmente, poderão ser adotados também espaçamentos mais adensados. Nesse caso, utilizam-se no plantio os espaçamentos de 4 m (entre fileiras) por 3 m (entre plantas) ou 8 m (entre fileiras) por 3 m a 4 m (entre plantas). A partir do terceiro ano, quando os ramos das plantas começam a se entrelaçar, iniciam-se os desbastes de plantas para que o espaçamento fique de acordo com os recomendados (8 m x 6 m; 8 m x 7 m e 8 m x 8 m).
Abertura das covas ou dos sulcos de plantio
Sendo o cajueiro uma planta perene, que vai explorar uma mesma faixa de solo por vários anos, recomenda-se a abertura de covas grandes nas dimensões mínimas de 40 cm de largura, 40 cm de comprimento e 40 cm de profundidade (Figura 3A). Em solos argilosos, recomenda-se a abertura de covas com dimensões entre 50 cm e 60 cm. Em cultivos de grandes áreas e com topografia plana ou pouco ondulada, a abertura de sulcos de plantio, com uma profundidade entre 30 cm e 40 cm, pode proporcionar menores custos com mão de obra, além de maior rendimento de serviço (Figura 3B). Para tal finalidade, utiliza-se o implemento agrícola chamado sulcador, que deve ser utilizado com o solo úmido. Outra alternativa mecânica para a abertura de covas é a utilização de um implemento agrícola chamado de broca, que abre covas profundas (≈ 70 cm de profundidade) e largas (≈ 50 cm de diâmetro) (Figura 3C). Recomenda-se que a abertura e o preparo das covas ou do sulco de plantio sejam realizados pelo menos 30 dias antes da data do plantio.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 3. Cova (A), sulco de plantio (B) e abertura mecânica de covas (C) para o plantio de mudas de cajueiro.
O preparo da cova ou do sulco de plantio consiste na aplicação dos fertilizantes nas quantidades indicadas pelos resultados da análise do solo. Após a abertura da cova, no solo retirado dela são aplicados o calcário (se necessário), o adubo fonte de fósforo (P2O5), o adubo fonte de micronutrientes (FTE) e, se possível, o adubo orgânico curtido, misturando-os com o solo retirado da cova ou do sulco. Por fim, o solo adubado é recolocado na cova, fechando-a (Figura 4).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 4. Cova com adubos recém-aplicados (A). Cova (B) e sulco de plantio (C) fechados após a aplicação e mistura dos adubos. Ambos estarão aptos para o plantio 30 dias após o fechamento.
Recomenda-se, então, que as covas preparadas sejam umedecidas regularmente no intuito de favorecer a reação dos fertilizantes aplicados ao solo. Além do objetivo de promover o início da reação química dos adubos, o fechamento das covas ou sulcos serve também para o solo se assentar na cova, evitando, assim, o posterior “afogamento” do colo da planta, fato que pode causar a morte das mudas.
Plantio
O plantio das mudas deverá ser realizado 30 dias após o preparo das covas. Devido ao prévio preparo (adubação), não há a necessidade de se abrir uma cova grande novamente. Desse modo, na hora do plantio, na parte central da cova ou no ponto determinado no sulco, basta abrir um buraco (coveta) com a mesma dimensão da embalagem que contém a muda (Figura 5A). Posteriormente, retira-se a embalagem e realiza-se o plantio da muda (Figura 5B). Em seguida, pressiona-se o solo ao redor da muda plantada para maximizar o contato entre ele e o substrato (torrão) da muda (Figura 5C). É válido lembrar que, se as mudas forem provindas de sacolas plásticas, é necessário que se faça um corte (≈ 3 cm) no fundo da sacola para a eliminação de possíveis raízes enoveladas.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 5. Abertura do buraco (“coveta”) no centro da cova previamente preparada (A), plantio da muda de cajueiro sem o recipiente (B), e muda de cajueiro-anão recém-plantada (C).
É importante que, ao término do plantio, as mudas estejam com o colo um pouco acima da superfície do solo. Como os tutores de madeira, utilizados para marcar as posições da cova, estão no local, eles poderão ser utilizados para o amarrio das mudas, evitando o tombamento delas por ventos fortes.
Após o plantio das mudas, é feita uma “bacia”, de aproximadamente 60 cm de raio, em volta da planta, com o intuito de reter a água aplicada nos primeiros dias após o plantio. Nessa bacia, recomenda-se, também, utilizar algum tipo de cobertura morta (mulching), que pode ser obtida a partir de materiais vegetais disponíveis na região, como a bagana de carnaúba, palhada de capins ou sobras do roço (Figura 6). Essa prática apresenta as vantagens de diminuir a perda da água do solo por evaporação, manter a temperatura do solo amena e realizar o controle físico das plantas daninhas.
Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 6. Muda de cajueiro-anão recém-plantada, irrigada e amarrada no tutor. Em torno da muda, foi feita uma “bacia” para a retenção de água, a qual foi coberta por uma palhada seca para conservação da umidade.
Replantio
Quando necessário, o replantio deverá ser realizado o mais breve possível, pois, se realizado após o término da estação chuvosa, pode não ser eficiente. Devem ser substituídas as mudas mortas e aquelas com desenvolvimento lento (fracas) ou anormal (defeituosas). Normalmente, para a cultura do cajueiro, a taxa de replantio de mudas em cultivo de sequeiro fica em torno de 20%. Quando o plantio é realizado no início do período chuvoso e/ou quando se pratica a irrigação no primeiro ano de plantio, a taxa de replantio pode ser menor que 10%.
Quebra-ventos
O uso de quebra-ventos é recomendável tanto para regiões que apresentam constância anual de ventos quanto para regiões que apresentam ventos contínuos e fortes (> 7 m/s). Ventos fortes provocam quebra de galhos das plantas, queda de botões florais, flores e frutos novos (maturis), além do tombamento de mudas. Ventos em épocas de baixa umidade do ar também podem provocar a desidratação dos grãos de pólen e/ou da flor inteira, prejudicando a produção de frutos. Na escolha de espécies a serem utilizadas como quebra-ventos, deve-se ter o cuidado para que o plantio delas não seja muito próximo às plantas de cajueiro, pois, além de o cajueiro necessitar de intensa radiação solar para produzir, a distância também evita possível competição por água e nutrientes.
Adubações
O cajueiro apresenta resposta positiva tanto à aplicação dos adubos minerais quanto à dos adubos orgânicos, apresentando incrementos no número de frutos produzidos por planta, no peso da castanha e no peso do pedúnculo.
A partir do plantio no campo, quando já foram realizadas a correção da acidez do solo e a adubação de plantio (na cova ou sulco), inicia-se a adubação de formação da planta, que se estende até o quinto ano. No primeiro ano após o plantio, são aplicados em cobertura os adubos fontes de nitrogênio (ureia ou sulfato de amônio) e de potássio (cloreto de potássio). Nos demais anos, logo no início do período chuvoso, deverão ser aplicados o calcário (se necessário) e, posteriormente, os adubos fontes de fósforo, nitrogênio, potássio e micronutrientes.
A partir do quinto ano, época em que a planta começa a estabilizar o crescimento e a expressar todo o seu potencial produtivo, é realizada a adubação de produção. Os adubos a serem aplicados são os mesmos recomendados para a adubação de formação, contudo em maiores quantidades.
As quantidades de adubos a serem aplicadas são definidas de acordo com os resultados das análises química e física do solo, e também da produtividade esperada. Mais detalhes são apresentados no tópico seguinte (Adubação do cajueiro) .
Podas
O cajueiro necessita de intervenções em seu crescimento já no primeiro ano pós-plantio no campo. As plantas jovens devem ser podadas de modo a formar uma copa compacta, com ampla superfície produtiva e livre de entrelaçamento. Geralmente, a poda ocorre em função do porte da planta (anão ou comum), do hábito de crescimento da copa (esgalhada ou compacta), da forma de condução dos pomares (uso ou não de máquinas agrícolas), e do tipo de colheita (na planta ou no solo) a ser praticada.
As principais podas recomendadas para a cultura do cajueiro são: a desbrota, a retirada de panículas, a poda de formação, a poda de limpeza e a poda de manutenção.
A desbrota consiste na retirada de brotações indesejáveis da planta, iniciando-se nas plantas jovens por meio da retirada de ramos oriundos do porta-enxerto, localizados na base da planta (abaixo do ponto de enxertia). Nos anos posteriores, a desbrota, normalmente, é realizada após o período chuvoso, consistindo na eliminação das brotações surgidas na base do tronco da planta (abaixo das inserções dos ramos laterais) (Figura 7).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 7. Brotações localizadas na base das plantas que devem ser retiradas.
A retirada de panículas em plantas novas deverá ser realizada constantemente até a planta completar entre 12 e 18 meses de idade no campo (Figura 8). As partes reprodutivas da planta (panículas, flores e frutos) são o dreno principal de nutrientes, logo as partes vegetativas (ramos, folhas, raízes) receberão menores quantidades, o que poderá acarretar em atraso no desenvolvimento (crescimento) da planta.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 8. Cajueiro jovem com (à esquerda) e sem a panícula, após a remoção (à direita).
A poda de formação é realizada nas plantas ainda jovens, tendo como objetivo formar uma copa compacta, bem iluminada e arejada, com ampla superfície produtiva e livre de entrelaçamento (Figura 9). Desse modo, facilitará a mecanização dos cultivos, as operações de adubação e pulverização, a roçagem do mato e, no caso de cultivo irrigado, a inspeção do sistema de irrigação. Os jovens cajueiros devem ser mantidos em haste única até pelo menos os primeiros 50 cm de altura. A partir dessa altura, deixa-se a planta emitir de forma natural suas ramificações laterais. Após o surgimento dessas ramificações, procede-se, quando necessário, à eliminação de ramos com crescimento anormal e ramos vigorosos que crescem na vertical com poucas ramificações (improdutivos) denominados de “ladrões” ou “chupões”. Geralmente, selecionam-se de 3 a 4 ramos laterais distribuídos em diferentes pontos, tanto na posição (altura) quanto no lado (ponto cardeal) da planta para a formação de uma boa copa. Recomenda-se um ramo por ponto cardeal, distribuídos em forma de espiral na planta.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 9. Muda de cajueiro-anão aos 90 dias após o plantio no campo, conduzida em haste única (A). A mesma planta no 1º ano (B), 2º ano (C) e 3º ano (D) após o plantio no campo, em Pacajus, CE.
As podas de manutenção e limpeza são coincidentes, pois ambas visam à eliminação de ramos indesejáveis. No cajueiro adulto, a poda de manutenção visa evitar os entrelaçamentos de ramos de plantas vizinhas, o excesso de ramos no interior da copa e ramos com crescimento direcionados ou próximos ao solo (Figuras 10A e 10B). Já a poda de limpeza consiste em eliminar os ramos ladrões ou chupões (Figura 10C), doentes e praguejados (Figura 10D).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 10. Cajueiro adulto sem condução da copa (A), com excesso de ramos voltado para o interior da copa, com ramos tocando o solo, e ramos esgalhados. O mesmo cajueiro após uma poda de manutenção (B). Cajueiro com ramo ladrão (C) com crescimento excessivo na vertical, sombreando os ramos produtivos. Ramos doentes e praguejados no interior da copa de uma cajueiro (D).
Recomenda-se que a poda de manutenção seja realizada cerca de 1 mês após o fim da colheita dos frutos. A retirada de ramos improdutivos (praguejados, secos, quebrados, lascados, entre outros), propiciará um maior arejamento e maior penetração de raios solares no interior da planta, favorecendo a obtenção de uma boa produção de frutos com qualidade.
A poda drástica ou de rejuvenescimento (Figura 11), caracterizada pelo encurtamento de todos os ramos, é realizada apenas nas plantas matrizes de cajueiro, pois almeja-se aumentar a disponibilidade de estruturas vegetativas a serem utilizadas na prática da enxertia das mudas. Essa poda também poderá ser realizada em pomares mais velhos em que as plantas não são conduzidas de forma racional por longo período.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 11. Poda de rejuvenescimento em um pomar de cajueiro-anão ‘CCP 76’ adensado, o qual não era conduzido por mais de três anos. A poda foi realizada alternadamente em linha (à esquerda), e já no primeiro ano a planta recém-podada apresentou boa intensidade de floração (à direita).
Recomenda-se, logo após a prática de qualquer uma das podas mencionadas, a aplicação de um fungicida à base de cobre (oxicloreto de cobre: 60 g do produto comercial em 20 litros de água) nas partes cortadas, para proteção dos ferimentos contra a ação de patógenos.
Manejo de plantas daninhas
Uma planta pode ser considerada daninha se, em determinado momento, estiver interferindo negativamente nos objetivos do produtor rural. Entretanto, essas plantas podem ser úteis em outras situações, pois, se bem manejadas, podem trazer benefícios ao pomar, evitando a incidência direta dos raios solares no solo, diminuindo os efeitos da erosão, aumentando a matéria orgânica e reciclando nutrientes.
As plantas daninhas competem com as culturas por água, nutrientes, luz e gás carbônico, sendo as competições pelos dois primeiros fatores as mais importantes na cultura do cajueiro, pois elas apresentam alta capacidade de extração de água e nutrientes do solo, sendo, geralmente, mais eficientes que as espécies cultivadas. A competição por luz é mais importante na fase inicial, uma vez que algumas espécies de plantas daninhas podem crescer mais que as mudas de cajueiro, sombreando-o, fato que pode prejudicar e atrasar o normal desenvolvimento da planta. Indiretamente, as plantas daninhas podem, ainda, comprometer a cultura por hospedarem pragas e doenças, bem como dificultar os tratos culturais, como, por exemplo, a irrigação e a adubação.
Quanto ao manejo de plantas daninhas na cultura do cajueiro, o controle nos primeiros meses após o plantio é uma prática indispensável para o rápido crescimento do sistema radicular e normal desenvolvimento das mudas recém plantadas. No primeiro ano após o plantio, o sistema radicular do cajueiro possivelmente não se expandirá lateralmente a uma faixa superior ao da área da bacia feita para aplicação de água por ocasião do plantio. Assim, o controle de plantas daninhas deverá ser realizado principalmente nessa região, por meio do “coroamento” da planta (Figura 12). É importante frisar que a competição por água e nutrientes ocorre principalmente no local de exploração das raízes do cajueiro. Assim, durante todo o primeiro ano, a área em torno da muda deverá ser mantida limpa.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 12. Plantas de cajueiro-anão mantidas no limpo durante o primeiro ano após o plantio. O importante é manter a área ao redor da planta limpa (coroamento), isto é, sem a competição com plantas daninhas.
Em pomares adultos, deve-se continuar com o controle de plantas daninhas na área de projeção da copa, local onde está a grande maioria das raízes responsáveis por absorver água e nutrientes. A utilização de máquinas, como a grade de disco, para o controle de plantas daninhas nas entrelinhas do pomar apresenta como vantagem a eficiência do serviço; no entanto, resulta em efeitos negativos sobre as propriedades e características do solo. A exposição direta do solo à irradiação solar favorece a perda de água do solo para a atmosfera (evaporação), tornando-o mais seco (Figura 13). Do mesmo modo, também ocorre a elevação de sua temperatura, resultando em aumento da velocidade de decomposição da matéria orgânica, com consequente decréscimo na atividade biológica do solo. Além disso, como a maioria dos solos cultivados com cajueiro apresenta textura arenosa, baixa agregação de suas partículas e baixo teor de matéria orgânica, a exposição direta da superfície à ação das chuvas e ventos também pode provocar a erosão, com consequente diminuição da biodiversidade local.
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 13. Pomares de cajueiro com diferentes manejos de plantas daninhas. À esquerda, o controle é realizado mediante gradagem, deixando o solo exposto à incidência direta dos raios solares e ao vento, prejudiciais à conservação do solo. À direita, o mato dessecado é mantido, favorecendo a conservação da umidade do solo e minimizando os riscos de erosão.
No sistema racional de cultivo, é recomendado o uso de roçadeiras nas entrelinhas, mantendo a cobertura vegetal com pelo menos 5 cm de altura (Figuras 14A e 14B). Com essa prática, o solo da entrelinha estará protegido, evitando sua rápida degradação. Já as linhas de plantas devem ser mantidas limpas (sem competição), ou, como alternativa, que seja realizado apenas o coroamento das plantas, que consiste na limpeza da área sob a copa (Figuras 14C e 14D).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 14. Manejo de plantas daninhas no cajueiral: nas entrelinhas do pomar, recomenda-se o uso de roçadeira (A), deixando o mato rasteiro (B); e em volta das plantas (sob a projeção da copa) recomenda-se o coroamento, realizado por capina manual (C) ou por herbicidas (D).
Consorciação
A prática de cultivos intercalares ou consorciação do cajueiro com outras culturas é uma alternativa interessante para o cajucultor nos três primeiros anos do pomar, pois, como as plantas são pequenas e estão bem espaçadas umas das outras, há a possibilidade do aproveitamento da área não ocupada com os cajueiros. Essa prática apresenta inúmeras vantagens, como: gerar alimento, gerar renda paralela, ser ocupadora de mão de obra na época de entressafra do caju, auxiliar o manejo de plantas daninhas, melhorar a estrutura do solo, aumentar o conteúdo de matéria orgânica no solo e, no caso das leguminosas, contribuir para a fixação do nitrogênio. Ademais, o sistema de consórcio faculta ao cajueiro o aproveitamento de resíduos de fertilizantes aplicados nas culturas consorciadas.
No Nordeste, tradicionalmente as culturas mais utilizadas para o consórcio com o cajueiro são aquelas de subsistência, destacando-se o feijão-caupi (Vigna unguiculata) e a mandioca/macaxeira (Manihot esculenta) (Figura 15). Também são comuns os consórcios com o milho (Zea mays), melancia (Citrullus lanatus) e outras cucurbitáceas (abóbora, maxixe e melão).
Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano
Figura 15. Principais consorciações com a cultura do cajueiro no Nordeste brasileiro: feijão-caupi (A, B e C), mandioca (D) e milho (E).
O número de linhas da cultura intercalar, nas entrelinhas do cajueiral, depende basicamente da espécie a ser utilizada no consórcio e do espaçamento entre os cajueiros. Deve-se sempre deixar uma faixa lateral aos cajueiros, livre de plantio, de, no mínimo, um metro, para evitar qualquer possibilidade de sombreamento ou concorrência por água e nutrientes.
No fim do cultivo da espécie em consórcio com o cajueiro, recomenda-se que os restos culturais sejam incorporados ao solo. A incorporação de leguminosas, por exemplo, promove boa cobertura do solo, protegendo-o de processos erosivos, bem como dificulta o estabelecimento de plantas daninhas. Além disso, ocorre a incorporação da matéria orgânica ao solo e a reciclagem de nutrientes.
A apicultura é outra atividade geralmente explorada em associação com o cajueiro, gerando uma importante renda adicional aos pequenos produtores. No caso das abelhas, além da produção de mel, elas atuam como agentes polinizadores, propiciando um possível incremento na produção de frutos.
Irrigação
Historicamente, o cajueiro é considerado uma planta resistente e adaptada à seca. Entretanto, estudos revelaram que cajueiros do tipo anão sob irrigação apresentaram produções de castanha e pedúnculo superiores aos de suas plantas cultivadas em sequeiro. Do mesmo modo, durante o primeiro ano após o plantio, pomares em que as mudas recebem água em intervalos curtos (diários, semanais ou quinzenais), apresentam grande redução no índice de mortalidade.
É importante ressaltar que nem todos os genótipos (clones) de cajueiros respondem à irrigação quanto ao aumento da produção, sendo necessário que o produtor procure um especialista na área antes da tomada de decisão.
Maiores detalhes são encontrados no capítulo Irrigação do cajueiro.
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