sábado, 18 de novembro de 2017

Clima e solo para o cajueiro


O cajueiro é uma planta tropical adaptada às condições nordestinas, principalmente do litoral. As informações do clima e do solo da região, associadas às necessidades da planta, são fundamentais para o zoneamento agrícola do cajueiro, bem como para delimitar áreas e épocas favoráveis para a implantação da cultura, ampliando novas fronteiras agrícolas e definindo as linhas de financiamento rural aos agricultores (AGUIAR et al., 2001). Assim, o zoneamento agrícola é uma ferramenta que orienta os agricultores sobre os riscos de adversidades climáticas coincidentes com as fases mais sensíveis das culturas (SERRANO; OLIVEIRA, 2013).
O zoneamento agrícola da cultura do cajueiro, específico para cada estado da região Nordeste do Brasil, foi definido pela Secretaria de Política Agrícola, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio de publicações de Portarias:
Rio Grande do Norte: Portaria nº 35, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011a);
Paraíba: Portaria nº 36, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011b);
Pernambuco: Portaria nº 37, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011c);
Alagoas: Portaria nº 38, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011d);
Sergipe: Portaria nº 39, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011e);
Bahia: Portaria nº 40, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011f);
Piauí: Portaria nº 41, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011g);
Maranhão: Portaria nº 42, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011h);
Ceará: Portaria nº 43, de 10 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011i).

Para a identificação de áreas aptas ao cultivo do cajueiro, bem como os melhores períodos de plantio e, consequentemente, a minimização dos riscos climáticos, são consideradas as informações de solos e os seguintes parâmetros de risco:

Clima

  1.   Temperatura média anual (TM):
Entre 22 °C e 32 °C – ótimo/baixo risco.
Entre 32 °C e 40 °C ou entre 16 °C e 22 °C – regular/médio risco.
Abaixo de 16 °C ou acima de 40 °C – restrito/alto risco
  1.   Precipitação pluviométrica (chuvas), média anual (P):
Entre 800 mm a 1.500 mm (período seco de 4 a 5 meses) – ótimo/baixo risco.
Entre 600 mm a 800 mm (período seco de 5 a 7 meses) – regular/médio risco.
Entre 500 mm a 600 mm (período seco de 5 a 7 meses) – restrito/alto risco.
Menor que 500 mm (período seco maior do que 7 meses) – inapto.
  1.   Deficiência hídrica anual (DEF):
DEF = 350 mm – boas condições naturais para o cultivo.

  1.   Altitude (Alt):
Entre 0 m e 300 m – ótimo/baixo risco.
Entre 300 m e 600 m – regular/médio risco.
Entre 600 m e 900 m – restrito/alto risco.
Acima de 900 m – inapto.
Ademais, o cajueiro é uma planta que requer alta luminosidade. Em condições de sombra ou pouca luminosidade, não produz satisfatoriamente.
No Brasil, principalmente na região Nordeste, a maior produtora de caju do País, encontram-se alguns exemplos que valem ser destacados. Por exemplo, os maiores municípios produtores de caju do Brasil apresentam regime pluviométrico na faixa entre 600 mm a 1.200 mm anuais, distribuídos de 3 a 5 meses (janeiro a maio), e período seco acima de 6 meses, coincidindo com as fases de floração e frutificação. Muitas regiões produtoras, como o Sudeste do Piauí, apresentam precipitações anuais entre 400 mm e 800 mm, e, mesmo nessas condições, alguns genótipos de cajueiro apresentam boa produção. Do mesmo modo, alguns importantes municípios produtores de caju do Nordeste encontram-se entre 600 m e 800 m de altitude.
A faixa de umidade relativa do ar mais apropriada para a cultura situa-se entre 70% e 85%. No entanto, já foram constatadas produções satisfatórias em regiões com até 40% de umidade. Em regiões onde a umidade relativa do ar é superior a 85%, observa-se maior incidência de doenças fúngicas nas folhas, flores e frutos (CRISOSTOMO, 2013).
Em regiões onde se registram ventos frequentes, com velocidade superior a 7 m/s, relatam-se elevada queda de flores e frutos, além de tombamento de plantas (AGUIAR; COSTA, 2002). Nessas condições, aconselha-se o emprego de quebra-ventos.

Solo

Embora apresente alta rusticidade, o cajueiro não se desenvolve bem em solos rasos e muito argilosos (>60% de argila). Preferencialmente, o cajueiro deve ser cultivado em solos de textura arenosa ou franco arenosa (menos de 15% de argila), relevo plano ou suave ondulado, não sujeitos a encharcamento, sem camadas impermeáveis e de profundidade superior a 1,5 m.
Solos salinos com condutividade elétrica (CE) entre 8 dS/m e 15 dS/m apresentam restrição ao cultivo de cajueiro (RAMOS et al., 1997). No caso de baixa ou média salinidade no terreno onde será implantado o pomar, é válido consultar qual o porta-enxerto a ser utilizado.
Segundo Ramos et al. (1997), os principais solos cultivados com cajueiro nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte são:
  • Latossolos amarelos.
  • Latossolos vermelho-amarelos.
  • Argissolos vermelho-amarelos.
  • Neossolos quartzarênicos.
No geral, esses solos são profundos e com baixo teor ou ausência de minerais primários facilmente intemperizáveis e diferem em relação ao teor de argila no perfil do solo. Os Latossolos apresentam teor de argila com pequena variação ao longo do perfil, ao contrário dos Argissolos, que possuem teor mais elevado na camada subsuperficial em relação à superficial, enquanto os Neossolos apresentam baixo teor de argila (menor que 15%) em todo o perfil do solo.
Os Latossolos e Argissolos apresentam boa aeração e drenagem, características favoráveis ao desenvolvimento e produção do cajueiro. Entretanto, em relação às características químicas, por serem altamente intemperizados, são ácidos, de baixa fertilidade natural e, com frequência, apresentam alta saturação por alumínio. Devido a essas restrições químicas, esses solos requerem a adição de corretivos (calcário e/ou gesso agrícola) e de fertilizantes para a diminuição da acidez, a neutralização do alumínio trocável e o fornecimento de nutrientes.
Os Neossolos, com maior ocorrência nas áreas litorâneas e em alguns planaltos sedimentares do Piauí, apresentam textura arenosa em todo o perfil, resultando em drenagem excessiva do solo, baixa retenção de água e alto potencial de lixiviação de nutrientes. Por serem altamente susceptíveis à erosão, práticas que mantenham ou aumentem os teores de matéria orgânica são fundamentais para a sustentabilidade do cultivo do cajueiro nesses solos.
A aptidão do solo para o cultivo do cajueiro segue as especificações e recomendações contidas na Instrução Normativa nº 2, de 9 de outubro de 2008 (BRASIL, 2008):
a)   Tipo 1: solos de textura arenosa, com teor mínimo de 10% de argila e menor que 15% ou com teor de argila maior ou igual a 15%, nos quais a diferença entre o percentual de areia e o percentual de argila seja maior ou igual a 50.
b)   Tipo 2: solos de textura média, com teor mínimo de 15% de argila e menor que 35%, nos quais diferença entre o percentual de areia e o percentual de argila seja menor que 50.
c)   Tipo 3: solos de textura argilosa, com teor de argila maior ou igual a 35%.
Por outro lado, áreas de preservação obrigatória (Lei 4.771/65 e alterações) e solos que apresentam profundidade inferior a 50 cm ou com solos muito pedregosos (presença de calhaus e matacões em mais de 15% da massa e/ou da superfície do terreno) não são indicados para o cultivo do cajueiro.
Para um novo plantio, o terreno deve estar limpo (desmatado ou destocado) e livre de raízes, principalmente na área ao redor do local onde vai ser preparada a cova. Isso assegura um ambiente livre de concorrência com as plantas daninhas (CRISOSTOMO, 2013). Recomenda-se, antes da abertura das covas, a coleta de amostra de solo para análise química de fertilidade.
As operações de preparo do solo favorecem o desenvolvimento das raízes por meio de diminuição dos impedimentos físicos, melhoram a aeração e a infiltração de água no solo e promovem a incorporação de corretivos e fertilizantes. As operações de aração e gradagem devem ser realizadas de modo a evitar a pulverização e compactação do solo, pois a pulverização promove o encrostamento da superfície, diminuindo a infiltração de água e aumentando o escorrimento superficial das águas provenientes das chuvas e da irrigação, enquanto a compactação dificulta a penetração das raízes, diminui a aeração e infiltração e facilita o acúmulo de água no perfil do solo, favorecendo o processo de erosão. A profundidade de aração deve ser de 30 cm, enquanto a da gradagem é de cerca de 20 cm. Nessas operações, é comum a incorporação do calcário: metade da quantidade recomendada antes da aração e a outra metade antes da gradagem.
É de extrema importância a realização prévia das análises químicas e físicas do solo antes da implantação do pomar. A análise química permite conhecer o estado da fertilidade da área, a fim de estabelecer o programa de correção e de adubação e o monitoramento do solo. Já a análise física permite conhecer a textura do solo, isto é, quanto de areia e argila o terreno possui.
A amostra de solo deve ser representativa da área, e erros na sua coleta não são corrigidos pelas análises laboratoriais. Assim, devem-se tomar cuidados na coleta da amostra de solo:
a)   Ferramentas: utilizar trado de rosca, trado de caneca, trado holandês ou sonda, baldes limpos e saquinhos de plástico (Figura 1). Alternativamente, pode-se utilizar enxadão ou pá de corte para a coleta de amostras (Figura 2).
b)   Dividir a propriedade em áreas homogêneas, de até 20 hectares, em relação ao relevo, cor e textura do solo, histórico (culturas, calagem e adubação anteriores), vegetação atual, produtividade, etc.
c)    As amostras de solo deverão ser coletadas com a maior antecedência possível à data de implantação do pomar, para a obtenção do resultado das análises, compra e aplicação dos insumos. Para pomares já implantados, a coleta das amostras deverá ser feita pelo menos 2 meses após a última adubação de cobertura.
d)   Retirar os detritos e restos de cultura da superfície do solo.
e)   Evitar locais próximos a formigueiros, residências, estradas, galpões e depósitos de fertilizante e calcário.
f)    Percorrer a área em zigue-zague e coletar 20 amostras simples.
g)   Coletar amostras na profundidade de 0 cm a 20 cm.
h)   Para pomares já implantados, a coleta das amostras será feita na projeção da copa (Figura 3). É desejável a coleta de amostra nas entrelinhas das plantas bem como na profundidade de 20 cm a 40 cm periodicamente.
i)     Misturar as amostras simples para a formação de amostra composta e colocar cerca de 500 g de solo em saco plástico limpo.
j)    Identificar as amostras: proprietário, nome da propriedade, endereço, profundidade de amostragem, cultura atual e cultura a ser implantada, número da amostra e data da coleta.
k)   Encaminhar ao laboratório de análise de solos para análise de rotina e de micronutrientes.

Figura 1. Equipamentos e procedimentos de coleta de amostras de solos.

Adaptado de Brasil (2009).
Figura 2. Coleta de amostras de solo utilizando enxadão e pá de corte.
Adaptado de Brasil (2009).
Figura 3. Coleta de amostras de solo em plantas perenes.
Adaptado de Brasil (2009).

O cajueiro (Anacardium occidentale L.) reúne características adequadas para ser cultivado em pequenas áreas, como chácaras, sítios e quintais de residências, principalmente em regiões de clima quente e seco, em que se desenvolve melhor. De manejo fácil e pouco exigente em cuidados especiais, a fruteira tem grande importância econômica pela capacidade de gerar renda e emprego. No nordeste brasileiro, especialmente na faixa litorânea, de onde a espécie é originária, o cajueiro é frequentemente cultivado durante a entressafra de culturas tradicionais, como milho, feijão e algodão, oferecendo uma opção de ganhos para a época em que os agricultores, em geral, têm remuneração mais baixa. Mandioca, soja, sorgo e amendoim são outros produtos que podem ser consorciados com a cajucultura, além da criação de abelhas, que colaboram para a polinização do cajueiro.

O Nordeste responde pelo maior volume de produção do fruto no país, principalmente nos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia. Mas a cajucultura também vem se espalhando por outras regiões do país com o caju-anão, cuja variedade produz precocemente quando são usadas mudas enxertadas. No Nordeste, o transplante deve ser feito de janeiro a abril, enquanto no Centro-Oeste, a melhor época é de setembro a dezembro. Para o plantio em pomares domésticos, não há necessidade de aplicar adubos químicos. A adubação orgânica, como esterco bem curtido, é suficiente para melhorar o solo após o primeiro ano de cultivo.

A castanha, comumente confundida com o "cabo" do caju, é de fato o fruto verdadeiro que gera a amêndoa. Alimento rico em proteína, lipídios, gordura insaturada, fibras e vários nutrientes, é consumido torrado e tem como principal destino as exportações. Norte-americanos e canadenses são grandes compradores do produto nacional.

Por aqui, o que mais se aproveita é o chamado pedúnculo, ou falso fruto, a parte carnosa de cor alaranjada ou avermelhada. Além de ser consumida in natura, dela podem-se fazer sucos, cajuína - suco de caju clarificado, como a sidra da macieira -, sorvetes, doces cristalizados, compotas, licor, mel, geleias e até cachaça. Fonte de vitamina C, cálcio, fósforo e ferro, o pedúnculo é considerado diurético e anti-inflamatório.

*José Emilson Cardoso é pesquisador do Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita, 2270, Campus do Pici, Fortaleza, CE, CEP 60511-110, tel. (85) 3391-7292, emilson@cnpat.embrapa.br
Onde comprar: a Embrapa Agroindústria Tropical dispõe de mudas para pequenos sitiantes e sob encomenda para demandas de grandes volumes. Há também no mercado viveiristas credenciados pelo Mapa
Mais informações: Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Castanha de Caju e Amêndoas Vegetais do Estado do Ceará (Sindicaju), Av. Barão de Studart, 2360, 4o andar, salas 404/405, CEP 60120-002, Fortaleza, CE, tel. (85) 3246-7062, sindicaju@sindicaju.org.br

MÃOS À OBRA
>>> INÍCIO As mudas enxertadas são a melhor opção para plantar o cajueiro, pois as sementes geram plantas com crescimento e produção desuniformes. Podem ser adquiridas em viveiristas, mas certifique-se de que eles sejam credenciados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). As variedades mais indicadas para o plantio são clones de CCP 76, BRS 226, CCP 09, Embrapa 51, BRS 265, BRS 274 e BRS 275.
>>> AMBIENTE Como é uma planta de clima tropical, o cajueiro se dá bem em regiões onde a temperatura média é de 27 graus célsius. Se no local há incidência de ventos frequentes, recomenda-se o uso de quebra-ventos para proteger as árvores.
>>> PLANTIO Embora desenvolva-se em qualquer tipo de solo, o leve é o mais adequado para o cultivo de cajueiro. A planta também tolera solos mais argilosos, mas nesse caso é importante que o terreno tenha boa drenagem. Para controlar o ataque de ervas daninhas e manter a umidade do solo, aplique cobertura morta no local do plantio.
>>> TRANSPLANTE É essencial que seja realizado em solo que tenha umidade para a muda se aclimatar, mas não pode ser muito frio, pois o cajueiro é muito sensível a temperaturas baixas. Retire a muda do recipiente (saco ou tubete plástico) onde ela foi formada para o local do plantio definitivo. Esse processo deve ser feito com cuidado, a fim de não danificar o sistema radicular da planta. Acomode a muda no centro da cova e, para direcionar o crescimento do cajueiro, faça o tutoramento. Amarre a muda a uma estaca de um metro de altura enterrada junto ao caule.
>>> ESPAÇAMENTO Recomenda-se distância mínima de sete metros entre as covas, cujas medidas devem ser de 40 x 40 x 40 centímetros. No plantio de cajueiro comum, o espaçamento indicado é de dez metros.
>>> CUIDADOS Faça poda de formação no cajueiro. Retire todas as brotações laterais no caule até 50 centímetros do solo. Evite a concorrência com ervas daninhas limpando a área de projeção da copa. Se o clima do plantio for seco, a cada semana ou de 15 em 15 dias, no primeiro ano, irrigue com dez a 15 litros de água por planta.
>>> PRODUÇÃO O caju está pronto para ser colhido quando a parte carnosa apresenta textura firme e coloração intensa. Dê preferência aos períodos do dia com temperaturas amenas para retirar os frutos das árvores. Para não danificar o caju, faça uma leve torção para que o pedúnculo se solte do ramo facilmente. Se houver resistência para soltar, o fruto ainda não está maduro o suficiente para consumo.

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RAIO X
>>> SOLO: leve, mas, se bem drenado, pode ser argiloso
>>> CLIMA: tropical, com temperatura média de 27 ºC
>>> ÁREA MÍNIMA: pode ser plantado em quintais
>>> COLHEITA: um ano após o plantio
>>> CUSTO: o preço da muda enxertada varia de R$ 1,50 a R$ 3



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