terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Irrigação da Cultura do cajueiro


A irrigação do cajueiro-anão (também denominado cajueiro-anão-precoce) promove o desenvolvimento e o aumento da produção, em virtude, principalmente, do aumento do número de frutos colhidos e da melhoria da qualidade dos frutos. Além disso, no cultivo irrigado, o período de colheita do cajueiro pode ser ampliado em até cinco meses em relação ao cultivo de sequeiro. Para que a irrigação do cajueiro-anão seja economicamente viável, deve-se explorar comercialmente tanto a castanha quanto o pedúnculo, seja para a industrialização, seja para a comercialização de frutos de mesa para o consumo in natura.
Em regiões semiáridas (com pluviosidade abaixo de 800 mm por ano) a produtividade do cajueiro-anão irrigado (clone ‘CCP 09’) pode superar 4 t/ha de castanha e 40 t/ha de pedúnculo, utilizando-se boas práticas de manejo de irrigação, adubação e controle fitossanitário. Em regiões com maior precipitação pluviométrica, como a região litorânea do Nordeste, a produtividade do cajueiro-anão irrigado varia de 1,5 t/ha a 3,0 t/ha de castanha e de 15 t/ha a 30 t/ha de pedúnculo.
A resposta do cajueiro à irrigação varia dependendo do genótipo. Entre os clones de cajueiro-anão recomendados pela Embrapa e que foram testados sob condições irrigadas (‘CCP 09’, ‘CCP 76’ e ‘CCP 1001’), o clone ‘CCP 09’ é o que apresenta maior produtividade. No entanto, esse clone apresenta alta susceptibilidade à antracnose, exigindo o controle químico em regiões com condições favoráveis para essa enfermidade. O clone ‘CCP 76’, embora menos produtivo que o ‘CCP 09’, apresenta melhor distribuição da produção ao longo do ano. Outros genótipos com bom potencial para o cultivo irrigado são os clones ‘BRS 189’ e ‘BRS 226’, cuja produtividade sob irrigação ainda está sendo avaliada (Figuras 1 a 4).
Foto: Fábio Rodrigues de Miranda
Figura 1. Planta de cajueiro-anão, clone ‘CCP 09’, com 5 anos de idade, em plantio irrigado por gotejamento.
Fotos: Fábio R. Miranda
Figura 2. Planta de cajueiro-anão, clone ‘CCP 76’, com 2 anos de idade, em plantio de sequeiro (à esquerda) e irrigado por microaspersão (à direita).
Fotos: Fábio Rodrigues de Miranda
Figura 3. Planta de cajueiro-anão, clone ‘BRS 226’, com 2 anos de idade, em plantio de sequeiro (à esquerda) e irrigado por microaspersão (à direita).
Foto: Fábio Rodrigues de Miranda
Figura 4. Planta de cajueiro-anão, clone ‘BRS 189’, com 2 anos de idade, em plantio irrigado por microaspersão.

Métodos de irrigação

A irrigação localizada (microaspersão ou gotejamento) é o método mais adaptado no cultivo do cajueiro-anão, tendo em vista a economia de água, energia e mão de obra, a possibilidade de aplicação dos fertilizantes via água de irrigação (fertirrigação) e a redução da incidência de doenças e de plantas daninhas.
Em solos arenosos, os sistemas de irrigação por microaspersão são os mais recomendados na irrigação do cajueiro, por permitirem umedecer um maior volume de solo em relação ao gotejamento, favorecendo uma melhor distribuição do sistema radicular. Por outro lado, o gotejamento tem a vantagem de não molhar os frutos que caem no solo, permitindo colheitas menos frequentes caso o principal produto explorado seja a castanha.

Manejo da Irrigação

Na fase jovem, o cajueiro deve ser irrigado durante todo o período de seca, favorecendo o estabelecimento e o desenvolvimento vegetativo da cultura. Na fase adulta, o cajueiro pode ser irrigado apenas no período entre o início do florescimento e a colheita, sem causar redução na produção e com significativa economia de água, em contraste com a irrigação durante todo o período de seca.
A frequência de irrigação do cajueiro-anão varia de acordo com a capacidade de retenção de água do solo, o volume de solo molhado por planta, o consumo de água das plantas e a fase da cultura (floração, frutificação, etc.). Em média, quando se utiliza irrigação localizada, pode-se considerar um intervalo entre irrigações de 1 a 3 dias em solo arenoso e de 1 a 5 dias em solo argiloso.
A fim de reduzir as perdas de água por evaporação, recomenda-se ajustar o diâmetro molhado dos microaspersores em pomares jovens. No primeiro ano após o plantio, o diâmetro molhado deve ser de 1 m (Figura 5). A partir do segundo ano de cultivo, a área molhada dos microaspersores deve aumentar de acordo com o diâmetro da copa e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Em pomares adultos, a porcentagem da superfície do solo molhada deve ser de, no mínimo, 30%, ou seja, o diâmetro molhado dos microaspersores deve ser de, no mínimo, 4,5 m.
Foto: Fábio R. Miranda
Figura 5. Planta de cajueiro-anão, clone ‘CCP 76’, com 6 meses de idade, em plantio irrigado por microaspersão.
Para o cálculo da lâmina de irrigação a ser aplicada no cajueiro-anão, podem-se utilizar valores de coeficiente de cultivo (Kc) de 0,55 na fase de crescimento vegetativo e de 0,65 na fase de florescimento e frutificação. Deve-se considerar ainda o coeficiente de redução da evapotranspiração (Kr) em função da fração da superfície do solo coberta pela cultura ou molhada na irrigação. O Kr pode ser calculado dividindo-se a fração da superfície do solo coberta pela cultura ou molhada na irrigação (o que for maior) por 0,85.
A título de exemplo, é mostrado abaixo o cálculo do volume e do tempo de irrigação diária para plantas de cajueiro-anão irrigadas por microaspersão, no 3º ano de cultivo:
-      Espaçamento entre cajueiros: 7 m x 7 m
-      Vazão do microaspersor: 50 L/h
-      Eficiência do sistema de irrigação: 90%
-      Evapotranspiração de referência (ET0): 4,5 mm/d
-      Coeficiente de cultivo (Kc) na fase de frutificação: 0,65
-      Diâmetro médio de copa dos cajueiros: 4 m (área sombreada: 12,6 m2)
-      Fator de cobertura do solo: 12,6 m/ (7 m x 7 m) = 0,26
-      Diâmetro molhado do microaspersor: 3 m (área molhada: 7,1 m2)
-      Fração de área molhada: 7,1 m/ (7 m x 7 m) = 0,14
-      Coeficiente de redução da evapotranspiração (Kr): 0,26 / 0,85 = 0,31
-      Evapotranspiração do cajueiro (ETc): 4,5 mm/d x 0,65 x 0,31 = 0,91 mm/d
-      Volume de irrigação diário: 0,91 mm/d x 7 m x 7 m = 44 L/planta dia
-      Tempo de irrigação diário: 44 L / 50 L/h = 0,88 hora ou 53 minutos
 Tabela 1. Recomendação de irrigação do cajueiro-anão (em litros por planta, por dia) nas regiões produtoras do Ceará e Rio Grande do Norte(1).
Idade do pomar
Volume de água recomendado
(L/planta dia)
1º ano
10 a 20
2º ano
23 a 35
3º ano
35 a 53
4º ano
62 a 90
5º ano
100 a 120
(1) Considerando-se uma evapotranspiração de referência média de 4,5 mm/dia.
Na Tabela 1, são apresentadas recomendações para a irrigação do cajueiro-anão, sob condições climáticas médias das regiões produtoras do Ceará e Rio Grande do Norte, utilizando sistemas de gotejamento ou microaspersão. Os valores apresentados na Tabela 1 são para a irrigação do cajueiro-anão nas fases de crescimento vegetativo (1º ano de cultivo) e de florescimento e frutificação (2º ano em diante), considerando-se que a área molhada pelos emissores é semelhante à área sombreada pela cultura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário