terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Cultivo da Mangueira (Manga)



A mangicultura irrigada no Semiárido brasileiro responde por 77% da produção de mangas do Brasil e por mais de 90% da exportação nacional da fruta. É importante mencionar que o potencial de aumento para as exportações de manga do País, nos próximos 10 anos, é estimado em 80%, segundo estudos recentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Socioeconomia

Introdução

A exploração da manga no Brasil, historicamente, foi feita em moldes extensivos, sendo comum o plantio em áreas esparsas, nos quintais e fundos de vales das pequenas propriedades, formando bosques subespontâneos, e tradicionalmente cultivados nas diversas localidades. O cultivo da mangueira no Brasil pode ser dividido em duas fases: a primeira, com os plantios de forma extensiva, com variedades locais e poucas tecnologias; e a segunda caracterizada pelo elevado nível tecnológico como irrigação, indução floral e uso variedades melhoradas.
A expansão da mangicultura ocorreu inicialmente no Estado de São Paulo, de onde foram difundidas as novas variedades para o restante do País, e nos polos de agricultura irrigada do Nordeste, onde a incorporação de plantios tecnificados, principalmente no Vale do Submédio do Vale do São Francisco (Bahia, Pernambuco) e outras áreas irrigadas como as dos vales do Jaguaribe, Açu-Mossoró, Parnaíba e Platô de Neópolis (Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe, respectivamente), além da região do Norte de Minas Gerais. Portanto, é na região semiárida onde foram instalados vários empreendimentos, com plantios comerciais de variedades demandadas pelo mercado externo. Em todas essas áreas, o cultivo da manga chamada “tipo exportação” entrou em fase de franca expansão, tendo como base as cultivares Tommy Atkins, Palmer, Kent, Haden, Keitt, entre outras.
A mangicultura na região semiárida se destaca no cenário nacional, não apenas pela expansão da área cultivada e do volume de produção, mas, principalmente, pelos altos rendimentos alcançados e qualidade da manga produzida. Seguindo as tendências de consumo do mercado mundial de suprimento de frutas frescas, os agricultores da região focam, atualmente, a produção de manga de acordo com as normas de controle de segurança preconizadas pelas legislações nacional e internacional.
Os atuais requerimentos dos mercados impõem um novo padrão de qualidade dos alimentos. Assim, os fornecedores estão considerando, cada vez mais, a preocupação dos consumidores com a procedência dos produtos, o que engloba formas de produção e certificação, além de aspectos como ética e responsabilidade social e ambiental. Nesse sentido, há uma tendência para o crescimento da produção de manga certificada e de regulação da cadeia de produção.

O cultivo da manga no Brasil e no Semiárido

No Brasil, a manga é cultivada em todas as regiões fisiográficas. O processo de expansão dessa cultura no País se intensificou nos anos 1980 e 1990, continuando a partir dos anos 2000, entretanto, em um ritmo bem menor que nas décadas anteriores, com alguns anos, inclusive, apontando decremento de produção.
Na Tabela 1 observa-se o desempenho da mangicultura no País entre os anos 2004 e 2013, e verifica-se que o incremento da área colhida é atribuído ao crescimento da cultura na região Nordeste. No período em questão, as demais regiões apresentaram redução da área colhida, notadamente o Norte e o Centro-Oeste, enquanto no Nordeste foi observado um crescimento de, aproximadamente, 21,5% (IBGE, 2014).
Quanto ao desempenho produtivo da mangicultura no Nordeste, ainda é importante ressaltar que a mesma é realizada em todos os estados da região, principalmente em áreas irrigadas do Semiárido, que apresentam excelentes condições para o desenvolvimento da cultura e a obtenção de elevada produtividade e qualidade de frutos. As principais áreas produtoras de manga estão localizadas nos estados da Bahia e Pernambuco que, em conjunto, respondem por mais de 72% da área cultivada de manga na região Nordeste.
A produção brasileira de manga, segundo os dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, apresentou um crescimento da produção da ordem de 9,50% no período de 2004 a 2013. De 2004, ano em que foram colhidas 949.610 toneladas de manga, até 2007, houve tendência crescente de aumento de produção dessa fruta no País. Entretanto, em 2008, a produção brasileira de manga sofreu um recuo da ordem 9,2% e entre 2009 até 2010, um período de estagnação da oferta, que somente voltou a registrar resultados crescentes em 2011. No ano de 2012, a produção sofreu um pequeno declínio e, em 2013, já se observa um leve crescimento da quantidade colhida e comercializada dessa fruta (IBGE, 2014).
No Nordeste, destacam-se duas áreas produtoras, a Mesorregião do Sudoeste Baiano, onde fica o Município de Livramento do Brumado, e o Submédio do Vale do São Francisco, onde estão localizados os municípios de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia. A última é considerada o mais importante polo de produção de frutas irrigada no Brasil, onde a manga é a mais importante cultura em termos de área cultivada, com grande parte da produção voltada ao mercado externo e ao interno mais exigente. Favorecida pela potencialidade dos recursos naturais e pelos investimentos públicos e privados nos projetos de irrigação, nessa região houve uma grande expansão no plantio e na produção de manga. Para se ter uma ideia do bom desempenho produtivo da mangicultura no Submédio do Vale do São Francisco, basta observar que, no período de 2004 a 2013, tanto em área de produção quanto em volume comercializado de fruto, essa zona de produção registrou um comportamento muito superior ao observado no País, com a área colhida apresentando um incremento de 49% e a quantidade de fruto comercializado um aumento de 70%.

A importância econômica e social do cultivo da mangueira no Submédio do Vale do São Francisco

A cultura da manga tem especial importância econômica e social, uma vez que envolve um grande volume anual de negócios voltados para os mercados interno e externo e se destaca entre as culturas irrigadas da região como a que, embora não apresente um elevado coeficiente de geração de empregos diretos, quando comparado com outras fruteiras, confere oportunidades de ocupação que se traduzem em empregos indiretos.
Das frutas produzidas no Submédio do Vale do São Francisco, a manga e a uva são as mais exportadas. O volume das exportações proporcionado pela mangicultura nessa região, no ano de 2013, foi da ordem de 115.044 toneladas, envolvendo cerca de 130 milhões de dólares que correspondem, respectivamente, a 94% e 89% do volume e do valor das exportações brasileira de manga (Tabela 3).
A especialização da região na produção de manga teve seu impulso inicial na perspectiva de ocupação do mercado externo, mas o mercado nacional ainda absorve a maior parcela da produção. O crescimento do mercado externo da manga não acompanhou o ritmo da rápida expansão das áreas cultivadas e o consequente crescimento da produção, com reflexo direto sobre a evolução dos seus preços no mercado internacional. A existência de um mercado interno de grande dimensão confere ao setor uma relativa autonomia na organização do processo de produção.
A complementaridade do mercado doméstico tem uma grande importância para as atividades exportadoras, seja como amortizador das instabilidades do mercado internacional, seja absorvendo os produtos que não atendem aos critérios de qualidade exigidos pelo mercado externo. Além da função complementar ao mercado externo, determinando, inclusive, a economia de escala que a atividade exportadora exige, estima-se que o mercado interno absorveu cerca de 1 milhão de toneladas de manga, cifra que corresponde a aproximadamente 60 % da produção do Submédio do Vale do São Francisco em 2013.
A produção de manga voltada para o mercado de produtos de qualidade passa a exigir, cada vez mais, novas tecnologias, mão de obra qualificada e serviços especializados, tanto no processo produtivo, quanto nas atividades pós-colheita (embalagem, empacotamento e classificação). Todo esse processo tem sido acompanhado por mudanças caracterizadas por um conjunto de inovações, na organização da produção e do trabalho, dando origem às diversas formas de relações contratuais, que se manifestam sob forma de prestação de serviços. Esta dinâmica passou a envolver um grande contingente de trabalhadores qualificados, um número significativo de técnicos e firmas, entre outros profissionais especializados, vinculados a essas empresas ou prestando serviços por conta própria. Trata-se de novos atores sociais, que ao lado dos fruticultores, devem ser considerados como essenciais ao setor produtivo.
Cabe ressaltar que a mangueira é cultivada por diferentes estratos de produtores, com uma participação significativa dos pequenos fruticultores dos projetos públicos de irrigação, que plantam as cultivares do “tipo exportação”, com grande capacidade de abastecimento do mercado doméstico e baixo potencial de inserção no mercado externo.
A participação da pequena produção na cadeia produtiva da manga está intimamente relacionada ao abastecimento doméstico e à construção e ampliação de um circuito regional de produção-distribuição-consumo de frutas, ligado ao pequeno varejo tradicional das feiras e quitandas das cidades do Nordeste e Norte do País. Trata-se de um circuito regido por acordos e contratos informais, que se desenvolve paralelamente aos formados por estruturas integradas, organizados em redes de caráter nacional, patrocinados pelas grandes empresas produtoras de frutas, cooperativas, atacadistas, quase sempre pautados em relações contratuais bem definidas, entre esses distintos agentes das cadeias produtivas.
No Submédio do Vale do São Francisco, de acordo com os dados do IBGE (2009), 75% dos estabelecimentos que declararam cultivar manga possuem áreas com até cinco 5 hectares e respondem por apenas 19,7% da produção. Aqueles que declararam produzir manga com área acima 20 hectares, representam apenas 6,7% dos estabelecimentos e são responsáveis por mais de 60% da produção. Portanto, são as médias e grandes empresas, com melhor inserção nos mercados nacional e internacional, que se lançam nos novos empreendimentos e dominam a produção de manga nesse território.

Organização e coordenação setorial

A organização dos interesses privados nos complexos de frutas tropicais do Nordeste exerceu um papel importante na construção de mecanismos de governança para solucionar alguns problemas do setor e para melhorar as condições de barganha de seus representados frente aos principais agentes que coordenam e regulam a cadeia de frutas frescas, principalmente, no mercado internacional.
Por sua capacidade de se articular com o Estado, participar e manter uma rede de relações com instituições dos setores públicos e privados, associações como Valexport, Profrutas, Sindifrutas, Associação dos Concessionários do Distrito de Irrigação Platô de Neópolis, constituídas nos principais polos frutícolas da região, passaram a ocupar espaços estratégicos nos campos políticos e de negócios, exercendo um papel importante de coordenação e organização dos interesses locais do setor.
A estratégia de organização dos interesses e de governança setorial sempre foi predominantemente voltada para a exportação, envolvendo um número reduzido de grandes produtores e empresários. Entretanto, recentemente, foi observado o surgimento de um grande número de pequenos e médios fruticultores profissionalizados que, além de cumprirem um papel significativo no abastecimento do mercado interno passaram a lutar por espaço no mercado externo. Com esses fruticultores, surgem novas formas de organizações em torno dos galpões de embalagem (packing house), que despontam como novas forças sociais no complexo frutícola do Nordeste.
Embora esses grupos nem sempre consigam desenvolver uma estrutura formal e sólida de representação de interesses, eles prestam relevantes serviços aos produtores associados, facilitando o acesso às inovações tecnológicas, às informações de mercado e às estruturas de comercialização. Trata-se de iniciativas que começam a tomar corpo na região, cumprindo de forma eficaz as funções comerciais e, também, se estruturando como verdadeiras redes de cooperação sociotécnica. Pressionados pela necessidade de obter escala de produção em épocas bem definidas, para cumprir os contratos com os compradores, a concorrência entre os produtores associados dão lugar ao espírito de cooperação e integração, pelo intercâmbio permanente de informações técnica e comercial.
Entre as estratégias comerciais para atender as novas exigências de mercado e agregação de valor ao produto, um procedimento importante é a consolidação das marcas nos mercados externo e interno. Nesse contexto, a aprovação do pedido de Indicação de Procedência (IP) para o Submédio do Vale do São Francisco para empresas e agricultores filiados à União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Manga e Uvas Finas de Mesa, pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), representou uma importante conquista para os produtores do Polo Petrolina-Juazeiro. A IP valoriza o vínculo da qualidade das frutas com o cultivo nas condições ambientais do Submédio do Vale do São Francisco e garante aos produtores um instrumento comercial importante para competir nos mercados do Brasil e do exterior.
Tabela 1. Evolução da área colhida de manga no Brasil, por região, em hectares, no período de 2004 a 2013.
Região Geográfica
Ano

2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Norte
1013
965
963
886
815
805
605
672
317
474
Nordeste
42.634
43.792
51.339
52.093
50.840
53.079
51.747
51.712
50.169
51.726
Sudeste
24.529
22.524
21.129
21.826
21.216
20.147
21.744
23.021
21.826
22.920
Sul
790
758
839
778
796
824
747
714
687
690
Centro-Oeste
651
572
512
328
336
323
336
262
311
398
Brasil
69.617
68.191
74.782
75.911
74.003
75.178
75.175
76.381
73.310
76.208
Fonte: IBGE    *Valores Estimados
Tabela 2. Evolução do desempenho produtivo da manga na região do Vale do Submédio São Francisco no período de 2004 a 2013

Ano
Área plantada (ha)
Área em produção (ha)
Volume (t)
2004
18.900
15.700
345.400
2005
19.800
16.500
396.000
2006
21.000
17.000
412.000
2007
23.300
19.400
462.000
2008
25630
21.340
508.200
2009
26.911
22.407
533.610
2010
26.911
22.407
540.000
2011
26.804
23.100
554.400
2012
27.100
23.306
582.650
2013
27.179
23.373
584.325
Fonte: CODEVASF (2014)

Tabela 3. Exportação de manga no Vale do Submédio São Francisco e Brasil (2004-2013).
ANO
Toneladas
US$1.000,00
Submédio do Vale do São Francisco
Brasil
Participação
Submédio do Vale do São Francisco
Brasil
Participação
2004
102.286
111.181
92%
59.189
64.303
92%
2005
104.657
113.758
92%
66.724
72.526
92%
2006
105.410
114.576
92%
78.992
85.861
92%
2007
107.812
116.047
93%
83.281
89.643
93%
2008
117.517
133.724
87%
101.123
118.703
85%
2009
92.628
110.202
84%
77.429
97.388
79%
2010
99.002
124.694
79%
108.238
119.929
90%
2011
105.856
126.430
83%
114.985
140.910
81%
2012
121.334
127.002
96%
123.592
137.589
96%
2013
115.044
122.009
94%
130.665
147.481
89%
Fonte: Secex/Datafruta-IBRAF, apud Valexport (2014).








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