Atualmente, uma das frutas brasileiras que mais demanda estudos de mercados é a manga. Tanto no mercado doméstico como no mercado internacional, observam-se transformações que exigem dos produtores expressivas mudanças em suas estratégias de comercialização.
No tocante ao mercado externo, o acontecimento que mais atinge a manga brasileira, em decorrência da ampliação do período de oferta do produto pelos países sul-americanos que concorrem com o Brasil, como é o caso do Peru e do Equador, é a diminuição da sua janela de exportação. Considerando-se que tal mercado é extremamente competitivo, a tendência é de redução nos preços e aumento nas exigências de qualidade.
Com referência ao mercado interno, a necessidade de maiores estudos sobre o processo de comercialização da manga está associada ao fato do expressivo crescimento da oferta, que é consequência da entrada em produção de novas áreas de cultivos, tanto nos polos tradicionais de exploração da manga como em novos polos como é o do Norte de Minas.
Mercado Interno
A manga do Brasil tem o mercado interno como a principal fonte de escoamento da produção. Mesmo com o grande incremento observado atualmente, as exportações dessa fruta correspondem a apenas 10,49% do volume total produzido no País. Segundo o IBGE (2014), a produção de manga, em 2012, foi de 1.175.735 toneladas (t) e as exportações foram de 127.000 t. A região Nordeste tem uma participação de 67% nesta produção, com destaque para o Submédio do Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco) e, em menor escala, a mesorregião do Centro-Sul Baiano; o Vale do Rio Açu (Rio Grande do Norte) e o Platô de Neópolis, no Estado de Sergipe (Tabela 1). Outra região produtora de manga é o interior de São Paulo, envolvendo as regiões Oeste (Presidente Prudente), Noroeste (São José do Rio Preto) e Nordeste (Ribeirão Preto).
Tabela 1. Área
cultivada e produção de mangueira (Mangifera indica L.) no Brasil,
em cada região geográfica (2012).
Região
|
Área (ha)
|
Produção (t)
|
Participação (%)
|
Nordeste
|
50.160
|
782.365
|
66,54
|
Sudeste
|
21.826
|
377.819
|
32,14
|
Sul
|
687
|
9.674
|
0,82
|
Centro Oeste
|
311
|
3.745
|
0,32
|
Norte
|
317
|
2.132
|
0,18
|
Brasil
|
73.310
|
1.175.735
|
100,00
|
Fonte: IBGE (2014).
No mercado nacional, a manga é comercializada, preponderadamente, na forma in natura, embora também possa ser encontrada nas formas de suco integral e polpa congelada. A polpa pode ser empregada na elaboração de doces, geleias, sucos e néctares, além de poder ser adicionada a sorvetes, misturas de sucos, licores e outros produtos.
O principal objetivo dos produtores de manga no mercado interno é a regularidade na oferta. Para tanto, tem-se realizado a indução floral, principalmente, e da diversificação das variedades plantadas, entre precoces, de meia estação e tardias. O uso da indução floral tem como principal objetivo a comercialização da fruta no período de entressafra do mercado interno, época em que os preços da fruta são mais elevados. No mercado interno, a manga alcança as maiores cotações no primeiro semestre por causa da inexistência de safra na maioria dos polos de produção do País. No mercado do produtor de Juazeiro, BA, a maior central de comercialização de frutas do Nordeste, os preços da manga alcançam a cotação máxima em maio e a mínima em novembro.
Com relação ao desempenho comercial das principais variedades comercializadas no mercado interno, constata-se que, nos últimos anos, está havendo uma mudança significativa de comportamento, com uma ampliação de mercado para a variedade Palmer e consequente redução da variedade Tommy Atkins, que ainda é a líder de mercado. Isto é explicado pelo fato da manga ‘Palmer’ possuir um melhor sabor, mais sólidos solúveis e menor quantidade de fibra que a manga ‘Tommy Atkins’. De acordo com dados fornecidos pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que é a maior central de distribuição de frutas e hortaliças do Hemisfério Sul, de 2008 a 2013 a quantidade anual comercializada da variedade Palmer passou de 33.900 t para 43.500 t. Neste mesmo período, a variedade Tommy Atkins passou de 46.400 t para 51.140 t. Estes valores revelam que neste horizonte temporal, a manga ‘Palmer’ registrou no Ceagesp um incremento de vendas de 28%, enquanto a cultivar Tommy Atkins teve um aumento no volume de vendas de apenas 10% (Figura 1). Tal comportamento indica que, na maior central de distribuição de frutas do País, neste período em análise, a cultivar Palmer ampliou sua fatia de mercado passando de 40,31% para 44,60%, enquanto a cultivar Tommy Atkins reduziu sua participação, passando de 55,20% para 53,30%.
Figura 1. Desempenho comercial das principais cultivares de mangas comercializadas na Ceagesp, no período de 2008 a 2013.
Fonte: Ceagesp, 2014
No tocante aos preços, a variedade Palmer, em todos os meses do ano registra, no mercado interno, cotações de preços superiores às obtidas pela variedade Tommy Atkins. Ainda tomando-se como referência o mercado da Ceagesp, no horizonte temporal de 2008 a 2013, constata-se que em todos os meses do ano é bastante expressiva a diferença de preços entre as duas variedades em análise. Nesta central de distribuição de produtos hortifrutícolas, as menores diferenças de preços foram observadas nos meses de fevereiro e março e as maiores nos meses de julho e outubro (Figura 2). Esta situação de expressivo diferencial de preços, observada ao longo do segundo semestre, período em que a oferta do produto é maior, revela que a qualidade de mangas no mercado tem sido realmente um fator mais determinante que o preço no processo de escolha do produto.
Figura 2. Comportamento dos preços médios mensais das mangas `Tommy Atkins` e `Palmer` comercializadas na Ceasgesp, no período de 2008 a 2013.
Fonte: Ceagesp, 2014.
Mercado Externo
A manga é a fruta tropical mais comercializada no mundo, depois da banana e do abacaxi, ainda que somente se comercialize cerca de 3% da produção mundial. As variedades de maior importância no âmbito do mercado internacional se agrupam em três segmentos: variedades vermelhas – Haden, Tommy Atkins, Kent, Keitt, Edward, e Zill; variedades verdes - Alphonse, Julie e Amélie; variedades amarelas - Ataulfo e Manila.
O consumo mundial de manga vem apresentando um comportamento ascendente ante o incremento da demanda de frutas motivada pela maior preocupação com a saúde e também pelo acelerado processo de envelhecimento da população nos Estados Unidos e da Europa. No caso da União Europeia, o segundo maior mercado importador dessa fruta do mundo e o principal destino das exportações brasileiras, a tendência é de uma demanda crescente pelo produto. Um significativo indicativo deste comportamento pode ser constatado nas grandes redes de supermercados, onde a fruta deixou de ser comercializada no setor destinado a frutas exóticas e passou para o bloco das frutas de consumo correntes, como a maçã, a pera, a uva, a banana e o abacaxi, dentre outras, estando presente nas prateleiras em todos os meses do ano. Entre o período de 2002 a 2013, as importações realizadas pela União Europeia apresentaram um incremento de 81,70%, passando de 139.955 t para 248.868 t. Entretanto, é importante acrescentar que na Europa o consumo per capita da manga ainda é muito baixo.
Em termos de crescimento no comércio mundial de frutas e hortaliças, a manga ocupa o terceiro lugar. Os principais fluxos de comércio internacional de mangas são: América Latina, que abastece ao mercado dos Estados Unidos, Europa e Japão; Ásia, que exporta principalmente para países de sua própria região e para o Oriente Médio; África, que comercializa a maior parte de sua produção no mercado europeu. Cerca de 98% da manga é exportada na forma de fruta fresca, 1% como polpa e 1% como suco.
Com referência ao processo de estacionalidade da oferta de mangas nos grandes mercados internacionais, se constata que entre os meses de abril e setembro existe uma maior oferta do produto e, por consequência, menores preços. Neste período do ano, os países exportadores são os localizados no Hemisfério Norte (México, Paquistão, Índia, Israel, Filipinas, Costa Rica e Guatemala). A partir de setembro até março existe menor oferta e o produto alcança melhores preços. Neste horizonte temporal, o comércio internacional de manga é abastecido majoritariamente pelos países do Hemisfério Sul (África do Sul, Equador, Peru e Brasil). A exceção é Israel, que mesmo estando no Hemisfério Norte envia mangas até novembro (Figura 3).
Figura 3. Estacionalidade da oferta mundial de manga.
Fonte: IICA, 2012
Ainda com relação à sazonalidade da oferta é importante salientar que a região semiárida possui condições ideais de clima para o cultivo irrigado comercial da mangueira. Além disso, essa região também desenvolveu tecnologia que possibilita produzir e exportar manga durante todos os meses do ano. Os volumes exportados, contudo, são diferentes ao longo do ano. Para a União Europeia, o Brasil exporta manga em grandes quantidades entre outubro e dezembro. Entre janeiro e março essas exportações se reduzem e o comportamento decrescente segue até julho. A partir de agosto, as exportações voltam a crescer até atingir o topo entre outubro e dezembro.
Exportações
As exportações mundiais de mangas frescas, no ano de 2012, foram da ordem de 1.300.000 t, cifra que apresenta um incremento de 102%, quando se compara com as exportações do ano 2000. Os principais países exportadores são: Índia, México, Tailândia, Brasil, Paquistão, Peru e Equador (Figura 4).
A Índia, que hoje é o maior país exportador de manga, principalmente da variedade Alphonse, destina a maioria de suas vendas externas para os países de seu entorno, ainda que também envie mangas para as comunidades hindus na Europa e para o Médio Oriente. O México, cuja sazonalidade de oferta se situa entre os meses de abril a setembro (Figura 4), destina 80% de suas exportações para os Estados Unidos. As principais cultivares exportadas são: Tommy Atkins, Kent, Haden, Ataulfo e Keitt.
Figura 4. Distribuição porcentual da exportação mundial de manga em 2012.
Fonte: FAO, 2014
A Tailândia concentra suas exportações de manga entre os meses de junho e julho e da mesma forma que a Índia, tem como principais mercados externos os países do seu entorno, sendo a cultivar Alphonse a mais exportada. O Brasil é o maior produtor e exportador de mangas da América do Sul. A variedade Tommy Atkins responde aproximadamente por 90% das exportações brasileiras dessa fruta. Entretanto, nos principais polos de produção do País ocorre um processo de diversificação de variedades, com destaque para a ‘Palmer’. A manga brasileira tem como principais destinos os mercados da União Europeia e os Estados Unidos.
O Paquistão, que exporta manga entre os meses de junho a agosto, tem como principais clientes os países asiáticos e a União Europeia, onde seu produto é comercializado, principalmente, nos mercados do Reino Unido e da Alemanha, sendo ‘Alphonse’ e ‘Julie’ as principais cultivares comercializadas. O Peru tem como principal mercado importador os Estados Unidos. Exporta as variedades Kent (84%), Haden (11%) e Tommy Atkins (6%). A manga peruana entra no mercado internacional nos meses de novembro a março. O Equador também tem o mercado norte-americano como seu principal importador. As exportações equatorianas ocorrem nos meses de outubro a janeiro, comercializando as variedades Tommy Atkins (65%), Haden (20%) e Kent (15%).
Importações
Os Estados Unidos é o maior importador de mangas, sendo responsável por, aproximadamente, 33% do total das importações mundiais. Tem como principais provedores: México (abril a setembro), Brasil (agosto a dezembro), Peru (dezembro a março) e Equador (novembro a janeiro). O mercado norte-americano de produtos hortifrutícolas está concentrado nas grandes cadeias de supermercados. Estas cadeias, além de possuírem maior poder de negociação de preços, passam a exigir cada vez mais qualidade. O Japão é um mercado extremamente exigente em relação aos aspectos fitossanitários. Abastece-se principalmente pelas Filipinas e, em menor proporção, pelo México, no período de abril a setembro. Nos outros meses do ano, esse mercado fica pouco abastecido. Assim, existe possibilidade de outros países direcionarem suas exportações para o mercado japonês.
A União Europeia é o segundo maior mercado importador de manga. Seu principal país fornecedor é o Brasil (91.288 t), de acordo com dados fornecidos pela Comissão Europeia de Comércio Exterior, demonstrado na Figura 5. Peru (69.428 t), Israel (13.998 t.), Paquistão (11.743 t) e Costa do Marfim (9.768 t) formam o grupo dos cinco países que mais exportam para a União Europeia.
Nota: a exportação de manga norte americana é oriunda de Porto Rico.
Figura 5. Distribuição em toneladas dos principais países exportadores de manga para a União Europeia, em 2011.
Fonte: Comisión Europea de Comercio Exterior (2012).
O Peru e o Equador são os dois países da América do Sul que mais concorrem com o Brasil por parcelas deste mercado. No Brasil, Peru e Equador, ainda existe uma grande quantidade de área plantada de manga que não entraram na fase de produção plena. Como este mercado é regulado principalmente pela lei da oferta e demanda, o que se espera para o médio prazo é uma redução dos preços internacionais associado com maiores exigências em relação à qualidade dos frutos produzidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário