Cultivares de coqueiro
O gênero Cocos é constituído apenas pela espécie Cocos nucifera L., a qual é composta de algumas variedades, entre as quais, as mais importantes são Typica (coqueiro-gigante) e Nana (coqueiro-anão). Os híbridos de coqueiro mais utilizados são resultantes dos cruzamentos entre essas variedades (híbrido intervarietal).
No Brasil, existe uma área plantada de 257.157 ha, com produção superior a 2.820.468 toneladas de frutos por ano, se constituindo na quarta produção mundial, depois da Indonésia, Filipinas e Índia, com produções de frutos (toneladas/ano) de 18.300.000, 15.353.200 e 11.930.000, respectivamente (FAOSTAT, 2014). Segundo o Sindicato Nacional dos Produtores de Coco (Sindcoco), em torno de 70%, 20% e 10% dos plantios de coqueiro no país, são formados pelas cultivares gigante, anão e híbrido intervarital, respectivamente. Entretanto, as principais demandas de sementes para implantação de áreas com coqueiro, são do anão verde para água de coco e do híbrido intervarietal anão x gigante. Esta cultivar é considerada de múltiplo uso in natura e agroindustrial, principalmente, na produção de fibra, copra (albúmen sólido desidratado a 6% de umidade), óleo, ácido láurico, entre outros produtos e subprodutos do coco.
O coqueiro-gigante é ainda bastante explorado, principalmente pelos pequenos produtores de coco. É uma variedade rústica, mais adaptada que outras cultivares de coqueiro às condições de estresses bióticos e abióticos. De crescimento rápido e longa fase vegetativa, inicia o florescimento entre 5 e 7 anos em condições ecológicas ideais de exploração e atinge, na idade adulta, entre 20 m a 30 m de altura. Essa variedade pode produzir de 60 a 80 frutos/planta/ano, de tamanho variando de médio a grande, cuja colheita do coco seco, ocorre entre 11-12 meses após os fenômenos reprodutivos. A sua vida útil econômica é de 60 a 70 anos. No Brasil, é muito empregado, in natura para uso culinário (na produção de doces, bolos etc.), bem como na agroindústria de alimentos para leite de coco, farinha de coco, entre outros. A copra (albumen sólido desidratado a 6% de umidade) do fruto do coqueiro-gigante é rica em óleo, como os teores entre 68% e 70% determinados por Passos e Cardoso (2012), na do gigante-do-Brasil-da-Praia-do-Forte (GBrPF). A água de coco dessa variedade é pouco demanda para consumo in natura, devido a apresentar, em geral, um baixo valor sensorial de sabor, mas, tanto a produção (516,25 ml) segundo Passos et al., (2006) e Aragão et al., (2009) quanto o teor de potássio (353,9 mg/100 g) determinado por Chattopadhyay et al., (2013), na água dos frutos colhidos com 7 meses de idade, são bem superiores às do coqueiro-anão.
A variedade Nana (coqueiro-anão) é composta pelas cultivares amarela, verde, e vermelha. No Brasil, a principal demanda para plantio, é da cultivar verde. Essa variedade apresenta desenvolvimento vegetativo lento, estipe praticamente cilíndrico, folhas numerosas, porém curtas (4 m a 5 m de comprimento), atingindo na idade adulta 10 m a 12m de altura. É uma variedade precoce, cujo florescimento ocorre, em média, de 2,5 a 2,9 meses, significando que a produção e as primeiras colheitas de frutos para água de coco, ocorrem nas plantas com idade de 3 anos a 3 anos e 4 meses (ARAGÃO et al., 2004). Produz de 150 a 200 frutos/planta/ano de tamanho pequeno, e a planta tem vida útil em torno de 30 a 40 anos. É menos tolerante ao ataque de pragas, como ácaro, doenças foliares, anel vermelho, entre outras, sendo mais exigente ao clima e solo do que o coqueiro-gigante.
O coqueiro-anão é a variedade mais empregada no Brasil para usos in natura e industrial da água de coco, inclusive, com qualidade sensorial superior às demais cultivares. As maiores produções médias de água de coco (média de 6 anões avaliados na Baixada Litorânea e nos Tabuleiros Costeiros), ocorrem entre os meses 6 (347,99 ml) e 7 (331,73 ml), após os fenômenos reprodutivos. As composições químicas médias (média dos meses 6 e 7) da água do anão-verde-do-Brasil-de-Jiqui (AVeBrJ), anão-amarelo-do-brasil-de-gramame (AABrG) e anão-vermelho-de-camarões (AVC), são respectivamente, as seguintes: pH – 5,17, 5,22 e 5,24; ºBrix – 5,95, 6,4 e 6,1; teor de glicose (g/100 g) – 3,17, 1,98 e 2,21; teor de frutose (g/100 g) – 3,15, 2,37 e 2,49; e teor de sacarose (g/100 g) – 0,40; 0,67 e 0,65. Observa-se que, independentemente da cultivar de anão, o pH da água é sempre ácido, e o teor de sacarose baixo, enquanto o ºBrix é relativamente maior no AABrG e os teores de açucares redutores glicose e frutose, maiores, principalmente no AVeBrJ. É conveniente salientar ainda, que é nesses meses de maiores produções de água que o °Brix e os teores dos açúcares redutores glicose e frutose, coincidentemente, são também maiores, e como esses constituintes são os responsáveis pela maior qualidade sensorial de sabor, significa que é nessas idades que os frutos do coqueiro-anão devem ser colhidos para consumo in natura e agroindustrial de água de coco verde (TAVARES, et al., 1988, ARAGÃO et al., 2001a, ARAGÃO et al., 2001b e ARAGÃO, 2002). Além disso, segundo esses autores, a água de coco das cultivares de anão é rica em potássio, praticamente independente da idade do fruto, variando em média de 179,2 mg/100g na água dos frutos com 6 meses de idade a 211,9 mg/100 g na água dos frutos com 10 meses de idade.
Já nas agroindústrias de alimentos, o coqueiro-anão é pouco utilizado, devido, segundo Cardoso e Passos (2010), a menor produção de albúmen sólido no AVeBrJ, anão-vermelho-da-Malásia (AVM) e principalmente no anão-amarelo-da-Malásia (AAM) e AVC. Apesar disso, os teores de óleo são relativamente altos, sendo superiores a 60%, especialmente no AVeBrJ e AVM, em torno de 60% no AVC e abaixo desse valor no AAM, sendo necessária uma quantidade de frutos para se produzir uma tonelada de óleo, da ordem de 9.400, 11.100, 11.600 e 13.800, respectivamente (CARDOSO e PASSOS, 2010). Também, os teores de ácido láurico nos anões AVC (54,2%) e (AVM (54,6%), são altos (ARAGÃO et al., 2003).
O coqueiro híbrido intervarietal anão x gigante, é uma cultivar de ampla utilidade comercial, podendo ser empregada para produções de água de coco e de fibras, e principalmente para produção de albúmen sólido, óleo, ácido láurico, entre outas utilidades. A grande dificuldade a curto e médio prazos, é a baixa disponibilidade de sementes híbridas no mercado, para implantação de extensas áreas com essa cultivar. Ultimamente, os híbridos mais plantados no Brasil foram os BRS 001 – AVeBrJ x GBrPF (híbrido Praia do Forte), BRS 002 – AABrG x GBrPF (híbrido Sementeira) e BRS 003 – anão-vermelho-do-brasil-de-gramame (AVBrG) x GBrPF (híbrido Miranda Júnior), que foram desenvolvidos pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Apesar desses registros, atualmente, a Embrapa só tem capacidade técnica e de infraestrutura para produzir sementes comerciais do BRS 001. Para produzir sementes dos BRS 002 e 003, essa empresa, necessariamente, tem que implantar campos de plantas com os AABrG e AVBrG, ou talvez o mais recomendado, fazer parcerias com instituições privadas que contenham campos de plantas com esses anões. A Sococo, apesar de ter também as mesmas capacidades da Embrapa para produzir sementes desses híbridos, só produz sementes para atender a sua própria demanda.
Os híbridos BRS 001, BRS 002 e BRS 003 florescem em média com 3,1 anos após o plantio definitivo, significando que as primeiras colheitas de frutos verdes para consumo de água e de frutos secos para produção de copra, ocorrem entre 3,8 a 3,9 anos e 4,0 a 4,1 anos, respectivamente (ARAGÃO et al., 2004). As produções de frutos/planta nas primeiras colheitas , foram de 105 no BRS 001 e de 110 nos BRS 002 e 003 (FERRAZ, et al., 2006). Nos frutos colhidos com 7 e 8 meses, as produções de água (ml) foram respectivamente nos BRS 001 - 487,72 e 524,85, BRS 002 - 392,75 e 493,85 e BRS 003 - 422,85 e 400,52 (ARAGÃO et al., 2009). A produtividade de albúmen sólido do BRS 001 foi de 5,58 t/ha, BRS 002 de 5,72t/ha e BRS 003 de 4,99 t/ha (FERRAZ et al., 2006).
Os híbridos apresentam na copra, altos teores de óleo e ácido láurico. Esses teores avaliados por Tavares et al., (1988) no híbrido PB 111 - AVC x GOA (66,78% e 52,9%) são maiores que os do PB 121 (65,24% e 48,4%). Também, o teor de óleo no híbrido AABrG x GOA determinado por Abreu et al., (2013), na Cohibra em Amontada/CE, foi de 66,83%, portanto, bem próximo dos teores dos dois PB’s. Passos e Cardoso (2008), comparando os teores de óleo do GBrPF (70,1%), híbrido BRS 001 – AVeBrJ x GBrPF (68,4%) e do AVeBrJ (66,2%) no platô de Neópolis/SE, determinaram que são altos e iguais pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O número de frutos para se produzir uma tonelada de óleo no híbrido PB 121 (AAM x GOA), estimados por Sangaré e Rognon (1980), é menor que o do AVeBrJ, isto é, 8.000 frutos.
Vantagens do coqueiro híbrido em relação aos parentais anão e gigante em condições agroecológicas ideais de exploração
Maior estabilidade de produção quando submetidos a diferentes condições ambientais.
Ampla utilidade do fruto – uso in natura (culinária e água de coco) e emprego agroindustrial (alimentos, água de coco, óleo, ácido láurico, saboaria, detergentes, fibras para estofados e ração animal, entre outros).
Fruto de tamanho médio de acordo com a exigência do mercado.
Maior produtividade de copra – pode produzir em média entre 4,0 e 5,0 t/ha, enquanto o gigante entre 2,0 e 2,5 t/ha e o anão entre 3,0 e 4,0 t/ha.
Teor médio de óleo (66,01%) praticamente igual ao do gigante (67,02%) e maior que o do anão (60,0%).
Maior produtividade de óleo - pode produzir em média entre 2,6 e 3,3 t/ha, enquanto o gigante, entre 1,3 e 1,7 t/ha e o anão, entre 1,8 e 2,4 t/ha.
Teor médio de ácido láurico (50,65%) praticamente igual ao do anão (50,16%) e relativamente menor que o do gigante (52,04%).
Maior produtividade de água que o gigante – produz cerca de 10.000 a 12.000 L/ha, enquanto o gigante 5.000 a 7.000 L/ha.
Produtividade de água igual ao dos anões.
Maior estabilidade de preço no ano, devido a sua ampla utilidade comercial.
Outras vantagens do coqueiro híbrido intervarietal em relação ao coqueiro-gigante
Germinação das sementes mais rápida – germina entre 70 e 90 dias, enquanto o gigante, entre 100 e 150 dias.
Crescimento e desenvolvimento da planta mais lento.
Menor porte – atinge até 20 m.
Florescimento mais precoce – floresce em média entre 3,0 e 3,2 anos.
Maior produção de frutos por planta - produz em média entre 130 e 150 frutos.
Maior produtividade de frutos - produz em média entre 20.000 e 24.000 frutos/ha, enquanto o gigante, 8.500 a 11.500 frutos/ha.
Água mais saborosa.
Outras vantagens do coqueiro híbrido intervarietal em relação ao coqueiro-anão
Planta mais vigorosa.
Fruto maior, consequentemente, mais aceito tanto para consumo in natura quanto agroindustrial.
Maior produção de água/fruto - produz em média 500ml/fruto, enquanto o anão 300 mL/fruto.
Maior produção de polpa – produz em média 350 a 400 g/fruto, enquanto o anão nas mesmas condições apresenta em média 200 g.
Vida útil econômica - entre 50 e 60 anos, portanto, maior que a do anão.
Desvantagens do coqueiro híbrido intervarietal
Apesar de uma série de vantagens, não se recomenda colher e plantar as sementes dos híbridos F1(sementes F2), devido ao fenômeno da segregação genética. O plantio originado dessas sementes, além de apresentar uma produção média de frutos menor que a das plantas híbridas, essas plantas F2serão muito desuniformes para as diversas características de interesse agronômico e econômico, como início de florescimento, produção de frutos, porte, tolerância ou resistência a pragas e estresse ambiental, entre outras. Estes aspectos não interessam ao produtor de coco.
Tabela 1: Características físico-química de frutos de coqueiro anão no ponto ideal de colheita para uso da água de coco. Aracaju, SE, 2011.
Características
|
Idade (meses)
| |
6
|
7
| |
Peso do fruto (g) |
1358,9
|
1558,9
|
Volume de água (mL) |
324,08
|
289,0
|
Frutose (g/100 g) |
3,25
|
2,09
|
Glicose (g/100 g) |
2,96
|
1,95
|
Grau Brix |
6,16
|
6,13
|
Potássio (mg/100 mL) |
102 a 192
|
143 a 191
|
Fonte: Aragão (2002).
Tabela 2: Características das cultivares de coqueiro.
Características/Cultivar
|
Anão
|
Híbrido
|
Gigante
|
Início da floração (anos)
|
2 a 3
|
3 a 4
|
5 a 7
|
Vida útil (anos)
|
30 a 40
|
50 a 60
|
60 a 70
|
Tamanho do fruto
|
Pequeno
|
Médio/Grande
|
Grande
|
Crescimento
|
Lento
|
Intermediário
|
Rápido
|
Porte (altura)
|
10 a 12 m
|
20 m
|
20 a 30 m
|
Produção (frutos/ano)
|
150 a 200
|
130 a 150
|
60 a 80
|
Peso médio de fruto
|
900 g
|
1200 g
|
1400 g
|
Peso médio de noz
|
550 g
|
800 g
|
700 g
|
Peso médio de albúmen
|
200 g
|
400 g
|
350 g
|
Exigência
|
Alta
|
Intermediária
|
Baixa
|
Destino da produção
|
Água
|
Água/Agroindústria/
Culinária
|
Agroindústria/
Culinária
|
Outras desvantagens do coqueiro híbrido em relação ao coqueiro-gigante
Planta menos rústica.
Menor produção de polpa – produz em média 350 a 400 g/fruto de polpa enquanto o coqueiro-gigante entre 400 e 500 g/fruto.
Menor produção de água – produz em média 500 mL/fruto, enquanto o coqueiro-gigante 600 mL/fruto.
Vida útil econômica entre 50 e 60 anos; portanto, menor que a do coqueiro-gigante.
Outras desvantagens do coqueiro híbrido em relação ao coqueiro-anão:
Germinação da semente mais lenta – germina entre 70 e 90 dias, enquanto o anão entre 40 e 60 dias.
Crescimento e desenvolvimento da planta mais rápido.
Maior porte – atinge 20 m de altura, enquanto o anão atinge até 12 m.
Florescimento mais tardio – floresce em média entre 3,0 e 3,2 anos, enquanto o anão floresce em média entre 2,5 e 2,9 anos.
Menor produção de frutos – produz em média entre 130 e 150 frutos/planta/ano, enquanto o anão entre 150 e 200 frutos/planta/ano.
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