Produção e obtenção de mudas
Humberto Rollemberg Fontes
Grande parte do coqueiral atualmente existente no Brasil é constituído da variedade Gigante, o qual se encontra distribuído ao longo da faixa litorânea do Nordeste, onde os plantios foram realizados utilizando-se as sementes diretamente no solo, ou mesmo a partir de mudas germinadas no campo sem nenhum critério de seleção. Embora em alguns casos estas práticas ainda persistam, passou-se a adotar nos plantios mais novos o sistema de produção de mudas com a utilização de germinadouro e viveiro utilizando-se o método de raízes nuas. Outro método empregado é o de produção de mudas em sacos plásticos, restrito a alguns grandes produtores, em função dos seus maiores custos operacionais e de transporte. Atualmente, a produção de mudas de coqueiros no Brasil é realizada, predominantemente, em germinadouro, utilizando-se mudas mais jovens e produzidas em menor espaço de tempo, onde as sementes germinadas são repicadas diretamente para o campo, sem passar pela fase de viveiro. A descrição das práticas utilizadas, assim como as vantagens e desvantagens dos sistemas utilizados, serão apresentadas a seguir.
Sistema tradicional de produção de mudas
As mudas produzidas pelo sistema tradicional passam por duas fases: germinadouro e viveiro. O germinadouro tem como objetivo selecionar o material antes de ser transferido para o viveiro. Baseia-se, principalmente, no critério de velocidade de germinação das sementes, eliminando-se também mudas raquíticas e mal formadas. O viveiro constitui-se na fase posterior onde as plantas são selecionadas de acordo com o seu vigor e estado fitossanitário.
Germinadouro
Os canteiros devem ser preparados com 1,0 m a 1,5 m de largura com comprimento variável de acordo com o número de sementes, separados entre si por corredores de 0,5 m a 1,0 m de largura para facilitar a execução dos tratos culturais. Deve-se dar preferência à utilização de solos de textura franco-arenosa, que apresentem boa profundidade de forma a evitar acúmulo de água na superfície. Para cada m² de canteiro, podem ser colocadas, aproximadamente 20 a 25 sementes para coqueiro-gigante e 25 a 30 para o coqueiro-anão, distribuídas horizontalmente uma ao lado da outra e cobertas com solo até aproximadamente 2/3 da altura da semente. A opção pela distribuição das sementes na posição vertical, além de possibilitar aumento da densidade de plantio no germinadouro, pode diminuir as perdas observadas durante o arranquio e transporte das mudas, em função da redução do índice de quebra do coleto, normalmente observado nos sistemas em que se utilizam as sementes na posição horizontal.
A irrigação do germinadouro é de fundamental importância para acelerar a velocidade de germinação das sementes. A necessidade de água nesta fase é de seis a sete mm/dia, ou seja, seis a sete litros de água/m², que corresponde a, no mínimo, 60.000 a 70.000 litros/água/ha/dia. O material a ser transferido para o viveiro deve apresentar uma só brotação, com altura em torno de 15 a 20 cm. Devem-se eliminar plantas raquíticas com limbo reduzido, albinas, ou que apresentem poliembrionia (formação de mais de uma muda por semente). Após o arranquio das plântulas, procede-se à poda total das raízes antes da repicagem para o viveiro. É importante salientar que, sementes não germinadas até 120 dias, devem ser descartadas, uma vez que a velocidade de germinação está diretamente correlacionada com a precocidade de produção da planta.
A utilização de cobertura morta à base de fibras de cascas de coco e/ou palhada em geral, constitui-se numa prática recomendável uma vez que favorece o controle de plantas daninhas e aumenta a conservação de umidade do solo. Esta prática, protege também as plântulas em fase inicial de germinação, principalmente em se tratando de solos muito arenosos, onde é comum a ocorrência de queima da brotação da plântula em contato direto com a areia.
Viveiro
Na fase de viveiro, as mudas oriundas do germinadouro são plantadas obedecendo a um espaçamento de 60 cm x 60 cm x 60 cm em triângulo equilátero (31.944 mudas/ha). Recomenda-se o plantio de 80 cm x 80 cm x 80 cm (17.968 mudas/ha) se as mudas forem permanecer no viveiro por um período superior a seis meses, evitando-se, assim, problema de estiolamento (alongamento do caule em condições de sombreamento parcial ou não). A repicagem das sementes germinadas para o viveiro deve ser realizada quando as plantas apresentam em torno de 20 cm, sendo o plantio realizado mantendo-se o coleto da planta ao nível do solo. A irrigação do viveiro constitui-se em fator de fundamental importância para acelerar o desenvolvimento da muda, sendo a quantidade de água aplicada equivalente àquela recomendada para a fase de germinadouro, mantendo-se o turno de rega durante o início da manhã e final da tarde.
Um mês após a repicagem do germinadouro para o viveiro, as novas raízes emitidas estarão aptas para absorver os elementos nutritivos contidos no solo. Recomenda-se a utilização de 200 g por planta da formulação 15-10-15, fracionada, de acordo com a idade da planta. No primeiro mês, utiliza-se 30 g; no terceiro, 100 g e no quinto mês, 70 g da mistura por planta.
No viveiro, as sementes germinadas devem ser plantadas obedecendo ao método de raízes nuas, ou utilizando-se a técnica de produção de mudas em sacos plásticos. Em ambos os casos, as mudas passam aproximadamente 6 a 8 meses no viveiro, período este que somado à fase de germinadouro (4 meses) corresponderia a aproximadamente um ano para produção da muda. As vantagens do uso do saco plástico em relação ao sistema em raízes nuas, são atribuídas ao aumento da precocidade de produção, à supressão do choque durante o transplante para o campo, melhor utilização da adubação mineral e a possibilidade de transporte das mudas com maior antecedência para o local de plantio. A grande desvantagem deste método diz respeito à elevação dos custos de produção, principalmente em relação às necessidades de irrigação e limpeza do viveiro. O custo de transporte das mudas eleva-se substancialmente, sendo recomendada a sua utilização apenas quando o viveiro está localizado próximo ao local de plantio definitivo. Deve-se observar ainda que, em áreas não irrigadas e que apresentam déficit hídrico elevado, o plantio de mudas mais desenvolvidas obtidas quando se utiliza as fase de germinadouro e viveiro, apresentam maior índice de perda em campo, principalmente quando há ocorrência de déficits hídricos ou mesmo redução e/ou atraso do período chuvoso.
Os sacos plásticos devem ser de polietileno preto, com 0,2 mm de espessura e dimensões de 40 cm x 40 cm x 40 cm para sementes do coqueiro-anão e dos híbridos, e 60 cm x 60 cm x 60 cm para o coqueiro-gigante, perfurados na metade inferior, para permitir a drenagem da água em excesso. Devem ser cheios até 2/3 com solo de superfície, devidamente peneirado e enriquecido com matéria orgânica. As plântulas são colocadas nos sacos e distribuídas no viveiro ao lado de cada piquete, obedecendo ao mesmo sentido e posicionamento.
Sistema alternativo de produção de mudas
O sistema alternativo utiliza apenas a fase de germinadouro, onde as mudas produzidas são transplantadas diretamente para o campo sem passar pela fase de viveiro. Quando se utiliza a disposição horizontal das sementes no germinadouro, a recomendação é que seja reduzida a densidade de plantio de 30 para 15 a 20 sementes/m2, possibilitando assim que as sementes germinadas permaneçam no germinadouro até, aproximadamente, seis meses de idade, quando apresentam em média três a quatro folhas vivas, sem comprometimento do seu desenvolvimento. Diferentemente do sistema tradicional, em que as sementes germinadas são repicadas para o viveiro à medida que as plântulas alcançam desenvolvimento adequado, neste caso, as sementes germinadas são transplantadas diretamente para o campo sem passar, portanto, pela fase de viveiro. Além do menor custo em função do menor tempo para a obtenção da muda, o sistema alternativo apresenta as seguintes vantagens: maior índice de pega no campo, em função da maior disponibilidade de reservas no endosperma da semente; menor transpiração decorrente da redução da área foliar; maior facilidade de transporte; eliminação da fase de viveiro e, consequentemente, redução do estresse da planta causado pela poda das raízes. Quando se utiliza as sementes na posição vertical, além do aumento da densidade de plantio, pode-se reduzir ainda os custos de abertura dos germinadouros. Neste caso, a abertura das covas para colocação de cada semente, utilizando-se um cavador manual obedecendo à densidade de plantio previamente estabelecida. A grande desvantagem deste método está relacionada com a limitação do tempo de permanência das mudas no germinadouro/viveiro, uma vez que poderá ocorrer autossombreamento e, consequentemente, estiolamento das mudas quando estas ultrapassam a fase ideal de plantio. Nesse caso, seria recomendável transplantar todo o material para um viveiro, sob pena de comprometer a qualidade final da muda. O maior sombreamento e a umidade poderão também, propiciar condições favoráveis para o aparecimento da Helmintosporiose.
A área do viveiro deve ser mantida livre de ervas daninhas principalmente gramíneas, por serem consideradas plantas hospedeiras de insetos vetores de doenças como podridão-seca-do-olho do coqueiro. A limpeza da área deve ser realizada regularmente inclusive na área externa, abrangendo uma faixa mínima de 10 m. Devem ser observados os mesmos cuidados recomendados para o sistema tradicional relacionados com a irrigação e conservação de umidade, como a cobertura morta, a eliminação das plantas daninhas e a realização de tratos fitossanitários. A adubação recomendada neste caso é de, aproximadamente, 80 g da formulação 15-10-15 por planta, fracionada em duas a três aplicações, entre o terceiro e quinto mês após a instalação do germinadouro. Em função do pouco tempo de permanência das mudas no germinadouro e a depender do estágio de desenvolvimento das mudas, pode-se dispensar a adubação nesta fase, compensando a mesma na fase de campo após a realização do transplantio.
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