sexta-feira, 18 de maio de 2018

Produção de Mudas de Citros



Etapas da produção de mudas certificadas

A muda de citros, assim como de uma série de outras frutíferas, é composta pela combinação de uma cultivar porta-enxerto com uma cultivar copa, sendo exigidos critérios específicos em relação à formação dos porta-enxertos e das mudas propriamente ditas.

Formação de porta-enxertos

Em se tratando de mudas certificadas, os porta-enxertos devem ser produzidos no interior de ambiente protegido, nas condições descritas anteriormente, a partir de sementes de plantas matrizes ou de sementeiras certificadas. Carvalho et al. (2000) recomendam que sejam indexadas para viroses e declínio a cada cinco anos, e anualmente para CVC, antes da retirada das sementes.
Os porta-enxertos podem ser adquiridos de terceiros ou serem produzidos no próprio viveiro. Normalmente, os viveiristas têm optado por produzir seus próprios porta-enxertos. Nos casos de compra de porta-enxertos, o viveirista deve obter documento tipo nota fiscal ou fatura, que comprove a procedência do material, especificando a origem, cultivar e quantidade de porta-enxertos adquiridos (BRASIL, 2013).
Geralmente, a produção de porta-enxertos tem sido realizada no mesmo telado utilizado para a produção das mudas. Visando uniformizar os tratos culturais e utilizar condições de temperatura e de umidade mais favoráveis à germinação e ao desenvolvimento inicial das plântulas, alguns viveiristas têm produzido os porta-enxertos em telados separados das mudas enxertadas.
Cultivares de porta-enxerto
Os porta-enxertos recomendados para o Rio Grande do Sul são: Trifoliata, limoeiro ‘Cravo’, limoeiro ‘Volkameriano’, laranjeira ‘Caipira’, citrumeleiro ‘Swingle’, tangerineira ‘Cleópatra’, tangerineira ‘Sunki’, tangeleiro ‘Orlando’, citrangeiro ‘Troyer’, citrangeiro ‘Carrizo’ e laranjeira ‘Azeda’ (CESM, 1998). Segundo essas normas, a laranjeira ‘Azeda’ somente deve ser utilizada como porta-enxerto de limoeiros verdadeiros. Somente as cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), podem ser utilizadas como porta-enxerto. As recomendações de cultivares estabelecidas pelas secretarias estaduais de agricultura também devem ser seguidas.
O porta-enxerto mais utilizado no Rio Grande do Sul é o Trifoliata, principalmente por sua tolerância ao frio e à gomose de Phytophthora e por induzir a produção de frutas de ótima qualidade, embora apresente menor vigor em relação a outras cultivares, como o limoeiro ‘Cravo’, o que atrasa a formação das mudas e o início da produção de frutos (OLIVEIRA et al., 2008).
Recipientes para semeadura
Os porta-enxertos podem ser semeados em tubetes plásticos, bandejas ou embalagens definitivas. Os tubetes de 50 cm3, em forma cônica, com quatro a seis estrias longitudinais, são os recipientes mais utilizados (Figura 1), pela facilidade de manipulação, permitindo a distribuição das plântulas em lotes homogêneos, e por proporcionarem uma melhor circulação de ar entre as plântulas (JOAQUIM, 1997). Nesse tipo de recipiente, as raízes crescem em direção ao orifício basal, havendo a morte do meristema da raiz pivotante com consequente emissão de raízes secundárias. Os tubetes devem ser dispostos em bandejas plásticas perfuradas, as quais devem ser mantidas suspensas sobre cabos, com esticadores ou telas metálicas galvanizadas, fixados sobre mourões de madeira ou cimento (CARVALHO, 1998). Por outro lado, a formação de porta-enxertos em canteiros com seu posterior transplantio sob a forma de raiz nua podada permite melhor seleção de plantas sem defeito na formação das raízes.
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 1. Porta-enxertos de citros produzidos em tubetes cônicos de 50 cm3 dispostos em bandejas plásticas perfuradas.
Após o uso, os tubetes, as bandejas e os canteiros devem ser desinfestados via tratamento térmico ou com produtos químicos, como o hipoclorito de sódio a 1% (FEICHTENBERGER, 1998).
Substratos para semeadura
O substrato deve apresentar propriedades físicas e químicas adequadas para o desenvolvimento das plantas, sendo as físicas determinantes por serem de difícil correção. O substrato deve ser leve para facilitar o manuseio e o transporte, apresentar boa porosidade, drenagem e capacidade de retenção de água, ser suficientemente consistente para fixar as plantas, isento de patógenos de solo, não conter sementes ou propágulos de plantas daninhas, não conter componentes de fácil decomposição, possuir composição uniforme para facilitar o manejo das plantas e apresentar um custo compatível com a atividade (OLIVEIRA et al., 2011a).
Segundo as normas e padrões da CESM (1998), o substrato deve estar isento dos fungos Armillaria sp., Phytophthora spp., Rhizoctonia solaniRosellinea sp. e Sclerotinia sp. e dos nematoides Meloidogyne spp., Pratylenchus spp. e Tylenchulus semipenetrans, devendo ser analisado em laboratório credenciado pela entidade certificadora e fiscalizadora estadual.
Conhecendo as propriedades de um substrato ideal, o viveirista pode optar pela produção própria ou aquisição junto a empresas especializadas, analisando sempre a qualidade, o custo e a facilidade de obtenção. Deve-se acrescentar que a Instrução Normativa no 48, de 24 de setembro de 2013, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, proíbe o uso de solo na composição do substrato (BRASIL, 2013).
A desinfestação dos componentes do substrato pode ser feita por solarização em coletor solar ou em sacos plásticos transparentes. A desinfestação química com fumigantes e a térmica por autoclavagem (110-120ºC) não são recomendadas por prejudicarem o desenvolvimento da microflora benéfica do substrato (FEICHTENBERGER, 1998).
A maioria dos viveiros de citros tem utilizado substratos comerciais à base de casca de pínus, palha de arroz, serragem, bagacilho de cana, vermiculita, perlita, argila expandida, húmus ou turfa (JOAQUIM, 1997; GRAF, 1999; OLIVEIRA et al., 2011a).
Cada substrato exige um manejo diferente, desde a fertilização até a irrigação, em função de propriedades específicas. Por isso, é muito importante trabalhar com um mesmo substrato, o qual, obrigatoriamente, tem que apresentar lotes uniformes.
Antes da distribuição nos recipientes, recomenda-se que seja realizada a análise de fertilidade do substrato, seguida de correção química. Esta é essencial para maximizar o desenvolvimento das plantas. Nessa fase, normalmente, é necessário acrescentar nitrogênio, fósforo e cálcio ao substrato. O fósforo deve ser adicionado antes da semeadura, enquanto que os demais nutrientes podem ser aplicados em cobertura, por meio de formulações de liberação lenta, ou semanalmente via fertirrigação.
A salinização do substrato é um dos problemas mais frequentes no cultivo de plantas em recipientes. Por isso, deve-se tomar bastante cuidado com a aplicação de fertilizantes em excesso. A toxidez por sais provoca necrose de folhas, desidratação, redução do crescimento e até mesmo a morte de plantas (JOAQUIM, 1997). A correção do nível de sais pode ser feita lixiviando-os por meio de irrigação ligeiramente acima da quantidade necessária.
Semeadura
Primeiramente, as sementes devem ser submetidas a tratamento térmico a 52 ºC por 10 minutos (CESM, 1998). Alguns viveiristas têm retirado o tegumento externo das sementes com a finalidade de melhorar a sanidade, acelerar e uniformizar a germinação (Figura 2), embora seja uma atividade bastante trabalhosa (OLIVEIRA; SCIVITTARO, 2007). A semeadura pode ser feita utilizando-se de uma a três sementes por tubete, dependendo da cultivar e da porcentagem de germinação do lote de sementes. Recomenda-se utilizar a profundidade de 2 cm a 3 cm.
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 2. Remoção do tegumento externo de sementes do porta-enxerto de citros Poncirus trifoliata.
Irrigação
Durante a germinação e o desenvolvimento inicial dos porta-enxertos, a irrigação deve ser feita manualmente ou por meio de aspersores, de forma a não descobrir as sementes.
A água de irrigação deve ser tratada com cloro ativo ou ser proveniente de poço artesiano. No caso de tratamento da água, recomenda-se a adição de cloro na concentração de 3 a 5 mg L-1 (CARVALHO, 1998). Nessa concentração, ocorre a inativação dos zoósporos de Phytophthora (FEICHTENBERGER, 1998). Deve-se tomar cuidado para não utilizar uma concentração excessiva de cloro, o que pode causar toxidez às plantas. No caso da utilização de água de poço artesiano, deve-se avaliar a presença e a quantidade de sais.
Condução dos porta-enxertos
A área do viveiro deve ser livre de detritos vegetais, inclusive aqueles decorrentes do processo de produção das próprias mudas. Os porta-enxertos devem ser conduzidos em haste única, sendo realizada desbrota semanal. Normalmente, as plantas atípicas e de crescimento debilitado apresentam natureza híbrida, devendo ser eliminadas. A taxa de ocorrência destes híbridos depende da espécie do porta-enxerto, sendo inversamente proporcional a sua taxa de poliembrionia. Para facilitar o manejo, as plantas de cada cultivar devem ser separadas em lotes mais homogêneos, normalmente aos 70-80 dias da semeadura (OLIVEIRA et al., 2001).
Recipiente definitivo
O recipiente definitivo das mudas deve apresentar dimensões mínimas de 10 cm de largura por 30 cm de altura (CESM, 1998). Esse recipiente desempenha um papel determinante no desenvolvimento do sistema radicular das mudas, influindo na formação e na configuração das raízes.
No caso de mudas de citros, os recipientes podem ser de plástico rígido ou de polietileno. Os vasos de plástico rígido são comercialmente denominados de citrovasos ou citropotes. Possuem a vantagem de apresentar estrias longitudinais, como os tubetes, para direcionar o crescimento das raízes para o fundo do recipiente, evitando o seu enovelamento. A suspensão dos vasos em bancadas é essencial para esse comportamento das raízes. Os vasos de plástico rígido apresentam um custo maior do que os de polietileno; porém, são reutilizáveis.
Os recipientes de polietileno, também chamados de sacos plásticos, apresentam um custo menor, não ocupam espaço quando vazios e são descartáveis, não havendo necessidade de retorno, realização de lavagens e riscos de contaminação com patógenos de outras áreas. Porém, podem rasgar com certa facilidade e estão sujeitos à ocorrência de enovelamento de raízes, devido às superfícies lisas do recipiente, principalmente se houver atraso no plantio das mudas (CARVALHO, 1998; GRAF, 1999).
Com relação ao substrato, valem as mesmas observações efetuadas na fase de semeadura e de desenvolvimento inicial dos porta-enxertos.
Transplantio
Dependendo da cultivar, do substrato e das condições de cultivo, os porta-enxertos apresentam 10 cm a 15 cm de altura, após três a cinco meses de cultivo, estando aptos a ser transplantados para os recipientes definitivos, onde será completada a formação das mudas.
Por ocasião do transplantio, deve-se evitar o enovelamento de raízes na região do colo das plantas, o que diminui o vigor dos porta-enxertos. O transplantio das plantas pode ser feito com o torrão, de forma a não lesionar o sistema radicular, evitando a interrupção do crescimento dos porta-enxertos, ou por meio de raiz nua, o que permite podar as raízes e eliminar as enoveladas.

Formação das mudas

Enxertia
Dependendo da cultivar e das condições de cultivo, os porta-enxertos estão aptos para a enxertia entre três e seis meses após o transplantio.
Para a produção de mudas certificadas, as borbulhas devem ser obtidas de plantas matrizes ou de borbulheiras certificadas, cultivadas em ambiente protegido e inspecionadas, periodicamente, com relação a mutações e à sanidade, principalmente quanto à clorose variegada dos citros, cancro cítrico, HLB, tristeza e outras viroses. O viveirista deve possuir um comprovante de origem das borbulhas, que pode ser uma nota fiscal ou fatura, que especifique a origem, a espécie, a cultivar e a quantidade de material adquirido.
As borbulhas são fornecidas em ramos chamados de porta-borbulhas. Trata-se de ramos desfolhados de aproximadamente 30 cm a 40 cm, contendo borbulhas maduras (Figura 3).
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 3. Ramos porta-borbulhas de citros.
A enxertia deve ser realizada à altura de 10 cm a 20 cm a partir do colo da planta para a maioria das cultivares. Somente para os limoeiros verdadeiros e para a limeira ácida ‘Tahiti’, e quando a muda for destinada a plantio com colheita mecanizada, a altura da enxertia deve ser entre 20 cm e 40 cm (BRASIL, 2013). Para a enxertia, devem ser retiradas as folhas e os espinhos do colo do porta-enxerto. Esta operação deve ser realizada no dia da enxertia, pois, caso realizada anteriormente, dificulta o desprendimento da casca. O aumento progressivo da irrigação nos dias que antecedem a enxertia é recomendado para melhorar o desprendimento da casca. A enxertia deve ser feita por borbulhia, em ‘T’ normal ou invertido, sendo fixada com fita plástica normal ou degradável (Figura 4).
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 4. Mudas enxertadas de citros.
Cultivares-copa
Desde 1998, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul elegeu as seguintes cultivares-copa de citros para plantio no estado: laranjeiras ‘Bahia’, ‘Baianinha’, ‘do Céu’ (‘Lima’), ‘Folha Murcha’, ‘Franck’, ‘Hamlin’, ‘Monte Parnaso’, ‘Natal’, ‘Pêra’, ‘Tobias’, ‘Caiana’, ‘Valência’ e ‘Westin’; tangerineiras ‘Clementina’, ‘Cravo’, ‘Comum’ (‘Mexeriqueira do Rio’ ou ‘Caí’), ‘Satsuma Okitsu’, ‘Montenegrina’ e ‘Ponkan’; limoeiro verdadeiro ‘Siciliano’; limeira ácida ‘Tahiti’; limeira verde ‘Piracicaba’; e híbridos ‘Murcott’, ‘Lee’ e ‘Ellendale’. Além dessas cultivares, a Embrapa Clima Temperado recomenda, atualmente, as laranjeiras ‘Navelina’, ‘Navelate’, ‘Lane Late’, ‘Cara Cara’, ‘Salustiana’, ‘Valência Late’, ‘Midknight’, ‘Delta Seedless’, ‘Newhall’, ‘Lue Gim Gong’, ‘Shamouti’ e ‘BRS Tarocco do Pampa’; as tangerineiras ‘Owari’, ‘Rainha’, ‘Marisol’ e ‘Clemenules’; o limoeiro verdadeiro ‘Fino’; o limoeiro híbrido ‘Meyer’; os pomeleiros ‘Marsh Seedless’, ‘Star Ruby’, ‘Ruby Red’ e ‘Flame’; e os híbridos ‘Nova’, ‘Minneola’, ‘Fremont’ e ‘Ortanique’. Outras cultivares estão em fase de avaliação e recomendação para o estado.
Adubação e irrigação
A formulação dos adubos e a frequência de adubação variam em função da cultivar e da composição do substrato. De uma forma geral, Carvalho (1998) recomenda a aplicação semanal, via água de irrigação, de nitrato de potássio, nitrocálcio ou de fosfato monoamônico, na proporção de 2 g a 4 g por planta, e a aplicação foliar de nitrogênio, zinco, manganês, boro e ferro quinzenalmente, juntamente com os tratamentos fitossanitários. No entanto, para uma adubação equilibrada, recomenda-se o monitoramento do estado nutricional das plantas por meio de análise foliar e do substrato, procedendo-se às correções em cobertura, via água de irrigação ou da forma convencional, de acordo com a necessidade de nutrientes.
A irrigação pode ser feita manualmente, por aspersão ou de forma localizada em cada recipiente. A irrigação localizada por gotejo, vaso a vaso, é vantajosa para a produção de mudas sadias, por evitar a umidade excessiva no tronco, ramos e folhas e a lavagem de defensivos, além de possibilitar a adição de fertilizantes solúveis. As desvantagens desse sistema referem-se ao maior custo e ao encharcamento de alguns recipientes, devido ao consumo diferenciado de água pelas plantas em diferentes fases de desenvolvimento e em função da espécie de porta-enxerto.
Controle de pragas e de doenças
O manejo de pragas e de doenças deve ser preventivo e rigoroso, evitando prejuízos à qualidade e ao desenvolvimento das mudas. Devem-se realizar pulverizações com combinações de produtos de ação inseticida, acaricida e fungicida, alternando os princípios ativos para evitar a proliferação de patógenos e de pragas resistentes (OLIVEIRA et al., 2001).
A tela do ambiente protegido controla a entrada da maioria dos insetos-praga e dos vetores de doenças. Porém, fungos e ácaros podem entrar pelos orifícios da tela e algumas espécies de cigarrinhas, pulgões, cochonilhas e insetos adultos de minador pela própria porta do telado. Por isso, além das pulverizações preventivas, o viveiro deve ser inspecionado permanentemente, procedendo-se, caso necessário, ao controle químico adicional com produtos específicos para a praga ou patógeno encontrado.
O uso de armadilhas amarelas com cola adesiva na antecâmara e no interior do telado é essencial para o monitoramento e controle de insetos, principalmente de cigarrinhas, que são atraídas por essa coloração.
Condução do enxerto e formação da muda
A remoção do fitilho não degradável deve ser realizada 15 a 20 dias após a enxertia, quando se verifica o pegamento. Caso este não ocorra, pode-se enxertar novamente no lado oposto do caule, cinco dias após o corte do fitilho. Para forçar a brotação, pode ser feito o encurvamento do porta-enxerto, segurando com uma das mãos a 10 cm acima do enxerto e curvando com a outra a parte superior da planta até prender na base da muda (Figura 5). Outra técnica utilizada para forçar a brotação consiste em efetuar o corte do porta-enxerto 5 cm acima da enxertia, no momento da retirada do fitilho. O pedaço de ramo remanescente deve ser cortado 15 dias antes da expedição das mudas (SEMPIONATO et al., 1997). A região do corte deve ser tratada com pasta cúprica. Uma única brotação deve ser conduzida de forma tutorada até o amadurecimento do ramo. O tutoramento pode ser feito com material galvanizado ou não. O tutor deve ser fino, firme e estreito, para evitar lesões no sistema radicular das mudas no momento em que é introduzido no substrato.
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 5. Encurvamento do porta-enxerto para forçar a brotação do enxerto.
Em função de redução de custo, no sistema de produção de mudas certificadas em ambiente protegido não são formadas “pernadas” ou ramos laterais, como no sistema a “céu aberto”. Por isso, as plantas permanecem por menos tempo nos recipientes, minimizando o risco de enovelamento do sistema radicular. Desta forma, as mudas são produzidas e comercializadas em haste única, sendo chamadas de muda vareta, pavio ou palito (Figura 6).
A haste principal da muda vareta deve ser podada a 30-50 cm de altura para as tangerineiras e a 50-60 cm para as laranjeiras, limeiras ácidas e limoeiros verdadeiros, medidos a partir do colo da planta, devendo apresentar tecido já amadurecido.
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 6. Muda de citros tipo vareta, pavio ou palito, sem pernadas.
Para facilitar a identificação e evitar a troca de materiais, recomenda-se a utilização de um código de cores para as cultivares-copa e porta-enxerto, com aplicação de tinta na região abaixo e acima do ponto de enxertia (CATI, 1998).
Nas condições climáticas do Estado de São Paulo, utilizando o porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’, a muda de haste única fica pronta para o plantio em 10-12 meses após a semeadura (CARVALHO, 1998). Considerando a ocorrência de temperaturas médias menores no Rio Grande do Sul e o uso do porta-enxerto ‘Trifoliata’, espera-se um atraso de até 12 meses no processo de formação das mudas, dependendo do nível de climatização do telado.
A idade máxima das mudas de haste única para plantio é de 24 meses após a semeadura dos porta-enxertos quando se tratar de mudas com interenxertia ou oriundas do porta-enxerto ‘Trifoliata’ e de seus híbridos (BRASIL, 2013). Nos demais casos, a idade máxima das mudas é de 18 meses. Este critério é fundamental para evitar o enovelamento das raízes.
De forma geral, as mudas tipo palito, produzidas em ambiente protegido, apresentam pegamento e vigor superiores às mudas produzidas em viveiros a “céu aberto”, em virtude principalmente da qualidade do sistema radicular (Figura 7).
Foto: Roberto Pedroso de Oliveira.
Figura 7. Qualidade do sistema radicular de muda de citros produzida em citrovasos.
Após a retirada de cada lote de mudas do viveiro, deve-se realizar a desinfestação dos pisos, paredes e bancadas com hipoclorito de sódio a 5% ou formaldeído a 1% (FEICHTENBERGER, 1998).
Condenação de viveiros
Determinados patógenos e plantas daninhas são extremamente danosos aos citros, muitas vezes inviabilizando a produção. Por isso, as mudas devem ser isentas desses organismos.
O viveiro deve ser condenado pela simples ocorrência, em qualquer uma das mudas, dos fungos Phytophthora spp., Rhizoctonia solaniSclerotinia sp. e Armillaria sp., dos procariotos Xanthomonas campetris pv. citriXylella fastidiosaCandidatus liberobacter e Spiroplasma citri, dos nematoides Meloidogyne spp., Pratylenchus spp. e Tylenchulus semipenetrans, das plantas daninhas Cyperus rotundus(tiririca) e Cynodon dactilon (grama-seda) e dos vírus, viroides e micoplasmas patogênicos aos citros (CESM, 1998). O diagnóstico de infecções por bactérias, fungos, nematoides, vírus, viroides e micoplasmas deve ser feito por laboratório credenciado.
Padrão de qualidade das mudas certificadas
O enxerto e o porta-enxerto devem constituir uma haste única, ereta e vertical, tolerando-se um desvio de, no máximo, 15 graus. A diferença entre os diâmetros do enxerto e do porta-enxerto deve ser menor ou igual a 5 mm, medidos 5 cm acima e abaixo do ponto de enxertia para todas as cultivares, exceto de tangerineiras, quando a tolerância é de 1 cm. As mudas certificadas devem apresentar um diâmetro mínimo de 0,5 cm, 5 cm acima do ponto de enxertia, devendo a haste ser podada com 30 cm a 60 cm a partir do colo da planta (BRASIL, 2013).
As mudas devem apresentar sistema radicular bem desenvolvido, com raiz principal reta com pelo menos 20 cm de comprimento, sem raízes enoveladas, retorcidas ou quebradas. As mudas não devem apresentar ramos quebrados ou lascados, devendo possuir tecido amadurecido, ramos íntegros e corte cicatrizado do porta-enxerto (CESM, 1998). Tolera-se apenas 5% das mudas com raízes defeituosas (BRASIL, 2013); caso contrário, o lote deve ser condenado.
Após o recebimento de parecer favorável nas inspeções de pós-semeadura, pós-transplantio, pós-enxertia e de liberação, e das análises laboratoriais, a muda ou lote de mudas aprovados pela entidade certificadora receberão as etiquetas e o certificado de garantia, podendo ser comercializadas.
As mudas devem receber etiquetas, nas quais devem constar o nome e o número de registro do produtor, o endereço do viveiro e a identificação das cultivares porta-enxerto e copa utilizadas.
Armazenamento e transporte
As mudas certificadas poderão ser armazenadas fora do viveiro, em bancadas com altura mínima de 30 cm do solo, por um período não superior a 15 dias, devendo permanecer protegidas do ataque de insetos vetores em áreas de incidência de CVC e de tristeza (CESM, 1998).
Os caminhões utilizados para o transporte das mudas devem ser lavados e desinfestados com amônia quaternária antes do carregamento. Estes devem ser preferencialmente fechados ou cobertos com tela com malha antiafídica.
Controle de qualidade
Independentemente das inspeções oficiais, os viveiristas devem realizar um controle próprio para aprimorar a qualidade das mudas. É aconselhável a realização de inspeções visuais e de análises laboratoriais periódicas para os principais patógenos durante todo o processo de produção, para que, no caso de ser encontrado algum patógeno, o lote seja eliminado antes do final do ciclo e de forma a não contaminar os demais.
Para o diagnóstico de patógenos do gênero Phytophthora e de nematoides nocivos aos citros, deve-se amostrar pelo menos 10 mudas por lote de mil plantas. As amostras devem ser retiradas em fases distintas de desenvolvimento das mudas. Na primeira, antes do transplantio dos porta-enxertos, deve-se coletar amostras do substrato, que será utilizado no enchimento dos recipientes definitivos, e amostras de substrato e de radicelas dos tubetes onde se encontram os porta-enxertos prontos para transplantio. Caso seja detectado algum patógeno, o lote de substrato ou de porta-enxertos deve ser eliminado, evitando os custos de enchimento dos recipientes definitivos. Na fase final, 20 dias antes da expedição das mudas, devem-se coletar amostras de substrato e radicelas a uma profundidade de 20 cm do colo das plantas. Para isto, pode-se utilizar amostradores semelhantes aos utilizados para a amostragem de sementes ou de solo, porém de tamanho menor. Durante a coleta das amostras, deve-se evitar lesões nas radicelas, devendo o equipamento amostrador ser desinfestado com álcool hidratado a cada mudança de lote. O viveirista também pode realizar amostragens intermediárias caso deseje maior segurança.
Para o diagnóstico da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros, devem ser amostrados lotes de mil plantas, coletando-se, no mínimo, 20 folhas de cada lote. Deve-se retirar uma folha por muda, escolhida aleatoriamente dentro do lote. Esta amostragem deve ser realizada somente na fase final de produção das mudas, sendo escolhidas as folhas maduras de coloração verde-oliva.
A realização de testes para o cancro cítrico e para a mancha-preta em laboratórios credenciados também é recomendada (BORGES et al., 2000), enquanto que para a bactéria causadora do HLB é obrigatória.


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