quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Mercado e Comercialização do Açai





Mercado e comercialização


A exploração do açaí é de fundamental importância para as economias dos Estados do Pará, Maranhão, Amapá, Acre e Rondônia, especialmente para o primeiro e o terceiro, pois responde pela sustentação econômica das populações ribeirinhas. Tem sido estimado que as atividades de extração, transporte, comercialização e industrialização de frutos e palmito de açaizeiro são responsáveis pela geração de 25 mil empregos diretos e geram anualmente mais de R$ 40 milhões em receitas. A partir de 1992, quando foi atingido o ápice das exportações de palmito, a produção de frutos de açaizeiro experimentou crescimentos anuais significativos, em função do aumento da competitividade da coleta de frutos, motivado por melhorias nos preços, e do aumento da fiscalização, evitando a destruição maior dos açaizais. A produção de frutos de açaizeiro no Estado do Pará cresceu de 92.021 toneladas, em 1997, para 122.322 toneladas, em 2002, um aumento de quase 33%. Em 2003, a produção foi de 160.000 toneladas.

Com a expansão do consumo do açaí, os ribeirinhos, nos últimos anos, têm diminuído a extração e venda de palmito para as indústrias processadoras e concentraram as suas atividades na coleta e venda de frutos, cuja valorização teve efeito econômico e ecológico positivo sobre a conservação de açaizais.
A partir da década 1990, com o aumento da pressão internacional para a preservação da Amazônia, os produtos florestais não-madeireiros ganharam importância como alternativa para evitar desmatamentos e queimadas. Essa exposição da Amazônia, na mídia mundial, chamou a atenção para diversos frutos regionais, como o guaraná, cupuaçu, açaí, pupunha e o bacuri, entre os principais, que tiveram forte crescimento no mercado nacional e atraíram o interesse do mercado internacional.
A importância socioeconômica do açaizeiro decorre, portanto, do seu enorme potencial de aproveitamento integral de matéria-prima. O principal aproveitamento é a extração do açaí, mas as sementes (caroços) do açaizeiro são aproveitadas no artesanato e como adubo orgânico. A planta fornece ainda um ótimo palmito e as suas folhas são utilizadas para cobertura de casas dos habitantes do interior da região. Dos estipes adultos, 30% podem ser cortados de 5 em 5 anos e destinados à fabricação de pastas e polpa de celulose para papel.
Para a população ribeirinha, uma das mais rentáveis possibilidades comerciais proporcionadas pelo açaizeiro é a produção e comercialização de seu fruto "in natura". A produção de frutos para o mercado local é uma atividade de baixo custo e de excelente rentabilidade econômica.
A valorização do fruto do açaizeiro contribuiu, nos últimos anos, para consolidar o manejo de açaizais nativos como a principal atividade do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo (PRODEX), criado em junho de 1996, componente do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). Os grandes interesses pela cultura e por esses recursos, fizeram com que a área manejada e de cultivo passasse de 9.223 hectares, em 1996, para 18.816 hectares, em 2002, tanto para produção de frutos como para extração de palmito, atendendo mais de 5 mil produtores, dos quais 92,1% são do Estado do Pará. O forte crescimento do mercado de fruto de açaí tem sido o indutor dessa expansão.
A principal finalidade da utilização do açaizeiro ainda é para extração do açaí, embora nos últimos anos tenha surgido um grande leque de alternativas para a cultura, em face do interesse despertado, após estudos demonstrando excelentes oportunidades para o aproveitamento integral dessa palmeira pelas indústrias alimentícias, de corantes naturais, de cosméticos, de fármacos, de celulose e papel, entre outras (Melo et al. 1974; Melo et al. 1988; Nazaré, 1998; Rogez, 2000).
A concentração de açaizeiro no estuário amazônico, com a área estimada em 1 milhão de hectares, torna a espécie um componente da floresta nativa, formando maciços de açaizais naturais. Em decorrência da facilidade de extração de seus frutos, a espécie permite à indústria instalada na região o abastecimento seguro e fácil, com custo baixo da matéria-prima e do transporte. Ao mesmo tempo, possibilita o aproveitamento permanente das áreas de várzea e igapó, exploradas, anualmente, com o cultivo do arroz e cana-de-açúcar, evitando, dessa maneira, o abandono dessas áreas e a sua transformação em capoeira desprovida de espécies valorizadas, fato bastante comum na agricultura itinerante regional.
O açaizeiro é uma espécie vegetal com grande potencial de aproveitamento por pequenos produtores e populações ribeirinhas, desde que seja explorado de forma racional.
O fruto e o açaí possuem um mercado regional muito forte, por ser importante na alimentação diária das populações locais, pelos seus altos valores nutricionais e de unânime preferência popular por seu singular paladar. Em Belém é estimada a existência de mais de 3 mil pontos de venda de açaí, comercializando diariamente 120 mil litros, atendendo, basicamente, as populações de baixa renda.
No Estado do Pará, onde o açaí faz parte de sua cultura, o consumo vem aumentando no decorrer dos anos, como conseqüência do processo de congelamento utilizado pelo consumidor, que faz com que o produto seja consumido durante todo o ano. A imigração rural é outro fator relevante para a ampliação do consumo urbano, tendo em vista que pessoas oriundas do interior acostumadas a tomar açaí regularmente, mantêm esse hábito quando imigram para as grandes cidades do Estado.
Um dos grandes problemas do comércio do açaí é a sua característica de alta perecibilidade, mesmo sob refrigeração. Nas indústrias de sorvetes da região é comum submeter o açaí concentrado à temperatura de -40 oC, preservando grande parte de suas propriedades.
A demanda pelo açaí fora da região também está em alta, com o produto tendo boas possibilidades de mercado, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Goiás e na Região Nordeste. No Rio de Janeiro, o açaí é oferecido nas praias e se tornou muito popular entre os adeptos da "cultura da saúde" e entre os frequentadores de academias. É também vendido diretamente ao consumidor, onde a demanda pelo produto, antes considerado exótico, é crescente e começa a ganhar popularidade entre os nativos e turistas. É estimado que no Rio de Janeiro sejam consumidas 500 toneladas/mês, em São Paulo 150 toneladas/mês e outros Estados somam 200 toneladas/mês. Nesses locais, em alguns pontos de venda, o que se consome é o açaí fino que, misturado com outros produtos, perde o gosto, o odor e até o valor calórico da fruta. Além da mistura com outros produtos, é freqüente o aumento da dosagem de água, adequando de acordo com o preço oferecido. Este aspecto realça a importância de se estabelecer critérios mais rígidos quanto ao teor de água em mistura com o açaí comercializado, sob risco de infringir danos à saúde dos consumidores e a perda de mercados no futuro.
Em 2000, foi iniciada a exportação de polpa congelada de açaí para os Estados Unidos e para a Itália. Esse mercado externo vem crescendo 20% ao ano nos últimos 3 anos, com a comercialização do açaí concentrado em latas e com a popularização da mistura com diversas outras frutas feitas em academias de ginástica. Futuramente, poderá haver problemas com o registro da marca "açaí", registrado em março de 2001, tanto na União Européia como nos Estados Unidos da América do Norte, que motivará pendengas judiciais e entraves à comercialização.
Como todo produto extrativo, é difícil quantificar o volume ofertado de açaí. A oferta brasileira está concentrada na Amazônia, especialmente no Estado do Pará _ seu principal produtor, com 92% da oferta _ vindo em seguida o Maranhão, Amapá, Acre e Rondônia. A abertura de novos mercados tem contribuído para o aumento do déficit de matéria-prima, principalmente na época da entressafra.
No Pará, as microrregiões Furos de Breves, Arari, Belém, Salgado, Cametá e Guamá, respondem por 97% da produção estadual, ou 119 mil toneladas. Em 2002, a microrregião Cametá contribuiu com 77 mil toneladas. Por se tratar de um produto, cujo crescimento do mercado concorreu para o aumento dos níveis de preços, há necessidade de políticas públicas que ampliem a oferta para atender os consumidores locais.
Quanto aos preços do fruto na região, há variações importantes em função, principalmente, da oferta local, da distância do mercado consumidor e do tamanho desse mercado. A formação do preço se dá no momento da chegada do intermediário no local de comercialização. O preço de "abertura", o primeiro preço do dia, é sempre o último praticado no dia anterior. Com a chegada de barcos carregados de frutos esse preço começa a cair, dado o aumento da oferta. No Município de Igarapé-Miri, no Pará, em 2004, uma rasa de 28 kg custava R$ 12,00, mas poderia chegar a R$ 45,00 ou até R$ 60,00, na entressafra. O produtor tem um maior ou menor retorno financeiro de acordo com a distância entre a sua propriedade e o mercado consumidor, em face do custo de transporte do produto até esse mercado.




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